terça-feira, 16 de outubro de 2012

PRÊMIO DE POESIA VER-O-PESO 300 ANOS


            Em 1988 fui agraciado em 1º lugar do concurso de Monografia e Poesia, instituído pela Prefeitura Municipal de Belém, que então comemorava os 300 anos do mercado municipal do Ver-O-Peso. O poema abaixo empatou com o texto “Ver-O-Peso manhã”, de Alfredo Garcia e ambos foram considerados vencedores. Obtive ainda uma menção honrosa com “Avivar com Abanos”.
            Na ocasião, o coordenador do concurso, Antonio Juraci Siqueira, assim se manifestou, [...] “Agora é embarcar no sonho dos poetas e viajar nas palavras, que “tudo é translúcido – sal, suor e mar -/ nesta manhã desfraldada por sobre o Ver-O-Peso” (Alfredo Garcia).
            “É volver os olhos para a velha feira e com o peito prenhe de emoção entoar em uníssono o Canto do Fernando como quem reza: “Despacho meu olhar como mercadoria/ Na tua “Casa de Balanço” peso o coração/ Não ligo à percentagem dos impostos/ Ou para o rigor desses fiscais de sonhos”. É deixar o verbo descrever-o-peso deste amor despachado em verso & prosa”.



PELAS FRESTAS QUE TE VEJO
Fernando Canto

Aporto em ti para vender meus sonhos
Venho te ver pelas frestas que só eu conheço
Pois não quero a pieguice de cantar ufano
Nem o bairrismo exacerbado dos poetas sem paixão

É lógica a existência de mil tramas
O rondar de dramas, de mistérios...
Mas mesmo assim tu continuas ileso
À exceção da natural tragédia
Que é o envelhecer de tua candura

Eu só te vejo em burburinho por outra janela
Na dialética incessante que move teu destino:
Uma foto
            remember
Uma faca
            carniça
Uma fome
            amordaça
Uma fala
            ameaça
Uma fossa
            Dissipa

Despacho meu olhar como mercadoria
Na tua “Casa de Balança” peso o coração
Não ligo à percentagem dos impostos
Ou para o rigor desses fiscais de sonhos.
Estou aqui contigo novamente
Observando a festa das canoas embandeiradas
Nos quintais deitados para o rio
E tu, do alto de três séculos de história
Sustentas o fardo de locupletar Belém
Mesmo com a ferrugem de tuas tortas torres
Onde urubus espreitam a paisagem.

Eu te queria uma só fragrância
Mas és assim, mistura de odores
És frutas tropicais/putas/mendigos
Cães sarnentos/sortilégio/embarcações
És decibéis poluidores
O riso e o choro
            Dos amores

Tua história é a sincronia
De fortuitos raios luminosos
Refletidos na lama que conduz
O suor e o grito que o trabalho exige

E eu aqui vendendo sonhos...
- Olha o sonho bom!

Ah, te vejo mais:
Um lado lírico
Outro indefeso
Cartão postal de cor plural
E o nítido desprezo
No teu olhar coloquial

- Olha o sonho bommm!
- Olha o sonho bommm!

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