quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

OSMAR JÚNIOR E AMADEU CAVALCANTE

osmar_amadeu Foi um sucesso o show musical que comemorou os 20 anos do CD Sentinela Nortente no dia 29.12, no Teatro das Bacabeiras.

CLARICE

EXIF_IMGNosso presente de natal. Clarice, ninha neta, chegou no dia 24.12 trazendo alegria e festa para nossa família. Que Deua a ilumine.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CARTA DO NATAL


Escrevi este texto no final de 2001, três meses depois do ataque ao World Trade Center (New York, 11 de setembro de 2001). Republico-o para desejar a você que acessa este blog votos de paz e harmonia, de serenidade e de responsabilidade para com a cultura brasileira e com o meio ambiente. Felicidades em 2010. É só trazer o 1 (de 2001) para que fique entre os zeros. Some 2+1e o resultado vai ser 3 ou .: (Fé, Esperança e Caridade). Ou qualquer conjunto ternário, desde que seja bacana para você.

QUERIDO NATAL

Eu quis tanto entender as coisas que cercavam o meu olhar
Mas me disseram que eu não era mais um bebê perguntador

Procurei uma bola de cristal que um dia vi num desenho de gibi
Para poder visualizar o futuro do mundo
Mas também me desestimularam a insistir

E eu fiquei durante horas imerso num tempo estático e infeliz
Imaginando o que se pode destruir pelo fogo e pela força da paixão

Depois passei a indagar a todos de onde vim, para onde ia...
Chamaram-me de chato e fuçador no adolescer da vida
(Espinha-pus-explosão-espelho)
E que o tempo – bem diziam - se encarregaria
De tudo esclarecer
Bastava que estudasse e não faltasse com atenção
Aos movimentos circulares das tardes calorentas

E eu cresci com a vista olhando níveis diferentes
E ângulos de equiláteras saudades
Vendo ao meu redor cada detalhe e além dele

Pulsava em mim por esse tempo, preso,
Um jaguar feroz longe do seu habitat
Eu não sabia, mas já desconfiava que fosse um bicho
Denominado amor
Inscrito pelos mapas como um sinuoso réptil
Um rio em meandros banhando praias astrais

Então amei sem ter limites
Assim como quem sorve a fruta toda
Onívoro, alimentado até de brisa

Mais tarde, consciente de meus atos e proventos
Fiz a prole inevitável e esbravejei contra opressores
Cada palavra era um latido de um discurso inútil na pobreza
E desprezada pelos que não sofrem
Mesmo assim acreditei no gênero que faço parte
E me enriqueci de seu arroubo e ousadia

Em outras partes do planeta eu vi - atônito,
O que é capaz de conceber o ser humano
Em qualquer dia onze de setembro
Quando a máquina avoante era um bólido de lágrima
Antecedendo chuvas de morte e desespero
Nas cavernas dos desertos em ebulição

Foi um ano duro e triste
Como todos, aliás, para os que sofrem
O eterno esquecimento dos que podem

Aqui mesmo na Amazônia onde me chuvo e me desenho
Ainda me dizem o que diziam os que não respondiam
Como se fosse fácil descobrir a cada instante e por si só
A dor debaixo dos sapatos e um vácuo atrás do sol

Foi duro procurar a bola de cristal, a pedra, o Graal
E encontrá-los antes de veleiros tristes que partiram
E velá-los por um tempo que se esvai agora no rumo do horizonte

Assim mesmo e antes que se esgote a força
Um passo deve ser cruzado além do fosso do milênio
Para que as perguntas das crianças
Tenham o eco da esperança
E os adultos o gesto nobre de ofertar a flor

Foi um ano duro e triste sim, natal querido
Para muitos mais que isso
E aqui, embora eu saiba que ainda tenha o rio e a mata
Quero me encantar sem prantos, me aguar quebrantos
E dividir a gota, o brilho e o verde desta paisagem
Entre todos os que acreditam num mundo melhor.

FELIZ NATAL DA SÔNIA, DO FERNANDO CANTO E FAMÍLIA PARA VOCÊ QUE É DO CORAÇÃO
Foto: Rosa do nosso jardim

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O CASULO EXPOSTO

lançamento casulo

O VELHO DAS LATAS

Publicado no jornal “A Gazeta”, de domingo 27/12/09.

desenho fernando_velho_latas 
Desenho de Fernando Canto
Aquelas barbas espessas no rosto do homem, brancas, brancas, se esvoaçavam com o vento da Beira-rio. Eram barbas longas que chamavam a atenção de qualquer um, mas que logo, logo, provocavam uma sensação de desprezo pela figura. As pessoas nas mesas ao meu redor comentavam sobre ela e após constatarem que era um mendigo se desinteressavam. 
            Que era um velho o dono das barbas parecia óbvio. Jamais vira aquela pessoa na praça e creio que ninguém a conhecia também.  Era um ser estranho. Não fossem as barbas longas diria que era um ancião indígena há muito tempo expulso da vida selvagem e degradado na cidade. Talvez tivesse vindo lá do sul do Pará ou do Maranhão, onde se vê tanto índio mendigando, bêbados, pelas rodoviárias
            Acompanhei seus gestos. De vez em quando ele apanhava uma lata de alumínio do chão, ajeitava-a e pisava nela com força, até achatá-la. Depois a punha num saco que carregava às costas e ia e vinha embalando seu cansaço. Calculei que ele se aproximara dos quiosques no finzinho da tarde quando os freqüentadores dos bares surgiam para suas confabulações habituais. Certa hora ele se aproximou de uma mesa onde estava um casal bebendo cervejas em lata. Muitas delas já haviam sido consumidas e, amontoadas, tomavam a forma de pirâmide.  Ele chegou devagar e pediu as latas vazias com os olhos. O rapaz o encarou e jogou uma lata no chão. O velho abaixou-se para pegá-la, mas o rapaz o empurrou sobre umas cadeiras de plástico, rindo de um jeito antipático e covarde.  A moça que acompanhava o valentão repreendeu-lhe nervosamente, pagou a conta e foi embora na frente. Tentei ajudar o velho a se levantar, mas ele se desvencilhou de mim, atravessou a pista e sumiu.
            A lua minguante surgiu como um imenso olho de cachorro dentro de uma nuvem negra e a maré subia, subia, arrebentando o muro de arrimo, o último anteparo de uma enchente ameaçadora. O vento intenso parecia orquestrar o bailado das águas, vigoroso e circular, provocando frio. Eu não duvidei que naquele momento e naquele pedacinho da cidade a natureza estava conspirando contra mim. Havia muitas luzes em toda parte, e eu estava ali ensimesmado, viajando em desilusões e lembranças amargas, esperando um tempo novo para mim. Sentia-me como uma roupa lavada e posta para secar no varal em dias de inesperados chuviscos.
            De repente tomei um susto ao erguer os olhos. O velho surgiu na minha frente me encarando como se eu lhe devesse alguma coisa. Tinha o olhar severo e desafiador. Intrigado, pedi que sentasse e resolvi lhe encarar do mesmo jeito. Seu semblante foi mudando devagar até que sorriu. Então pude ver que seus dentes eram de uma brancura inquietante, mas ele tentava mesmo era falar com os olhos, numa comunicação inusitada que surpreendentemente eu compreendia. E foi “falando, falando em silêncio”. Pelos seus olhos dizia dos fenômenos das marés e dos ventos como um mestre em Geografia; falou do céu e das constelações como um velho astrônomo egípcio; dos homens como um santo e do coração como um deus que abre todas as portas para o amor. Enquanto “falava”, percebi que manuseava uma lata de alumínio com movimentos suaves, assim como quem modela uma peça de argila. E após tantas viagens imaginadas, que quase fizeram esquecer minha tristeza, o estranho homem se despediu e foi caminhando com sua sabedoria em direção à fortaleza de Macapá.
              Ficou em mim uma momentânea sensação de felicidade e a boca seca de vento e vinho. Mas logo voltaria aquele estado de amargura, de ter o coração fechado e um gosto de desamor e de abandono. Meus olhos apenas contemplavam o infinito. Foi então que ouvi o espocar de fogos de artifício e caí na realidade. Sobre a mesa estava uma chave retorcida feita de lata. Olhei ao redor, as mesas vazias. Um casal de garçons me acenava sorridente. Pensei no velho das latas, apertei a chave com força e uma sensação de paz abriu em meu coração para nunca mais se fechar para o amor. Olhei novamente em volta. O relógio do trapiche marcava meia-noite. Era natal e as luzes piscavam como meus olhos cheios de marés lançantes.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta”, de 24/12/2009

MANOBRA DE VALSALSA

Quem viaja de avião por esta época de inverno está sempre sujeito ao sobe e desce das turbulências e de forças acelerativas diferentes da força da gravidade. Mas é na descida que o corpo sofre mais.

Aquele friozinho na barriga, segundo o dr. Demerato, da Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial, se dá porque quanto maior é a intensidade e o tempo de aceleração, maiores são os efeitos, que podem ir desde alterações visuais, arritmias cardíacas até aerocinetose, que é o enjoo causado pelo movimento.

Para diminuir os sintomas, principalmente na descida, deve-se utilizar a Manobra de Valsalsa, ou seja, tampar o nariz com os dedos e forçar a expulsão do ar pela tuba auditiva, equilibrando a pressão da cabine com o corpo.

MORTE DO POETA

O poeta Rui Lobato nos deixou para sempre na última segunda-feira, dia 21 de dezembro. Há exatamente um mês Rui completara 51 anos e há alguns anos vinha fazendo tratamento contra a esquizofrenia.

Iniciou sua carreira musical sob a orientação de Mestre Oscar e depois com Walquíria Lima e Nonato Leal. Aos nove anos iniciou seu universo poético. Escreveu artigos em vários jornais locais, venceu festivais de música e pertenceu ao Grupo Troama, grupo que fundou e foi editor e redator do seu jornal informativo. Seu primeiro livro publicado foi “Campos Mortos Vivos”, de 1984.

TEIA CULTURAL

milhomen O monumento Marco Zero do Equador foi pequeno dia 21 para abrigar artistas de todos os segmentos que foram assistir ao lançamento do projeto Teia Cultural da Secult.

O projeto “contempla ações de difusão para o estímulo à formação de plateia e à capacitação, visando o fortalecimento de diversificadas formas de expressão artistico-cultural”.

Dezenas de artistas foram contemplados no edital, que também “consiste em promover ações aos bairros afastados do centro das cidades de Macapá e Santana, carentes deste tipo de atendimento”. O custo operacional do Teia vai pra mais de 1 milhão de reais, emenda parlamentar do deputado federal Evandro Milhomen.

PLANALTO CENTRAL

airton_medeiros

Independentemente da minha participação na Confecom, em Brasília, que para muitos observadores foi um fiasco pela desorganização e impossibilidade de realização de centenas de propostas utópicas, fiz visitas seguidas nas instalações da Empresa Brasil de Comunicações – EBC.

A EBC é a empresa que substituiu a Radiobras e que agora realiza todos os programas de rádio e TV do Governo Federal, inclusive os das Universidades. Entre os que conheci estavam o engenheiro Toshihiro e o apresentador do programa “Rádio Nacional Amazônia”, Ailton Medeiros.

PLANALTO CENTRAL 2

raycunha_edson Encontrei com os escritores amapaenses Ray Cunha e José Edson dos Santos, amigos de longa data. Muita conversa e chopp para diminuir a saudade. Ray publicou recentemente o livro “O Casulo Exposto” pela L.G.E. e Edson pode ser visto na antologia “Deste Planalto Central – Poetas de Brasília (Câmara do Livro do Distrito Federal-2008). E os dois constam da coletânea ”Todas as Gerações – O conto brasiliense contemporâneo”(L.G.E. Brasília, 2006), onde também aparecem contistas como Ronaldo Costa Couto, José Sarney e Cristovam Buarque.

PREGADOR

Quem vai à Feira do Pescado aos sábados pode encontrar o ex-deputado estadual e mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade da Costa Rica, Maurício, fazendo a sua pregação evangélica.

Humilde e sábio como um bom teólogo e pastor, Maurício faz o seu trabalho e depois pede desculpas pela “poluição sonora”. Em seguida desmonta a caixa de som e o microfone e vai embora. Na realidade ele não polui nada e faz a diferença de outros pastores que até agridem os ouvidos dos passantes.

FAMÍLIA RAMOS

familia_ramos Muito contente com a homenagem que os Piratas Estilizados farão aos velhos patriarcas Alceu e Joaquina, a família Ramos retribuiu gentilmente os brincantes da escola em uma ação para angariar fundos para o desfile. O evento aconteceu em frente à velha casa da família na Avenida Coriolano Jucá no domingo passado. Rolou, como era de se esperar, muito samba e muita gelada.

ZUNIDOR

A coluna deseja um Natal Feliz a todos os seus leitores e votos de muita paz e sucesso com suas famílias.

joaquim_franca ana_amoras Encontrei em Brasília a professora de violoncelo da Escola de Música do DF, a amapaense Ana Amoras. No pedaço também estava o maestro Joaquim França, que vem passar as férias de janeiro em Macapá.

emanoel_oliveira Parabéns ao amigo Emanoel Oliveira pelo seu aniversário.

 prof_tavares Quem também mudou de idade foi o professor Tavares, reitor da UNIFAP, dia 22.

autodenatal

O grupo de teatro Marco Zero apresentou pela 8ª vez consecutiva a peça “O Auto do Menestrel”, de minha autoria, em frente ao teatro das Bacabeiras. Foto: Paulo Gil, primeira apresentação em 2001.

enrico_joaozinho Parabéns ao Joãozinho Gomes e ao Enrico Di Micelli pelo desempenho musical neste ano.

prego_roberto_haroldo Foi bacana o Reveillon do Abreu. Só o Prego, o Roberto Souza e o Haroldo Vitor somam mais de 200 anos.

isadoracanto Enfim foi Inaugurada a iluminação do Eduardo Canto. Isadora Canto, sua filha, estava produzida para a “balada”.

edson_fernando_machado clube do choro Muito bom o show de encerramento da escola do Clube do Choro de Brasília, dirigida pelo clarinetista e saxofonista Fernando Machado, que já esteve em Macapá ministrando Cursos.

“Adoradores do Sol” vem aí. * Inderê. Volto Zunindo na Sexta.

TEXTINHO?


TEXTINHO?
Recebi do amigo Ruben Bemerguy o texto abaixo que ele chama modestamente de “Textinho”. Vejam só a riqueza da sua escritura e o desenho de sua memória em relação a pessoas que viveram a velha e romântica Macapá. E o Flip? Quem, como eu, não provou desse refrigerante genuinamente amapaense na década de 1960 e início dos anos 70? Provem, então, desse sabor borbulhante do Ruben.


FLIP NÃO DÁ OUTRO

“Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa”.
*Chico Buarque de Hollanda


Muito embora se possa pensar, e não sem alguma razão, que me decidi por uma literatura lúgubre, digo sempre que não. Também digo não ser essa uma expressão de meu luto. Não. Não escrevo sobre os mortos porque morreram simplesmente. O faço como quem ora, sempre ao nascer e ao pôr-do-sol, em uma sinagoga feita à mão, desenhada n’alma da mais imensa saudade. Escrevo também para que os meus mortos permaneçam vivos em mim. Morreria mais apressadamente sem a memória dos que amei tanto. É só por isso que escrevo. Porque os amei e ainda os amo.
E quando esses meus amores partem e com eles já não posso mais falar, passo, insistentemente, a dialogar comigo. É um diálogo franco e, de fato, inexistente. Sempre que tento assumir a função de meu próprio interlocutor, uma súbita impressão de escárnio de mim mesmo me faz parar, e aí calo. Toco a metade de meu dedo indicador direito, verticalmente fixo, na metade de meus lábios, como a pedir silêncio a minha insensatez. Taciturno, faço vir à memória de um tudo.
É por isso, e tanto mais, que ando sempre atrasado. Demoro a escrever e quando decido o faço tão pausadamente que chego a aprender de cor todo o texto. Por exemplo, se medido o amor que tinha por meu tio Moisés Zagury, há muito me obrigava a ter escrito. Mas minha inércia não é voluntária e, por isso, não a criminalizo. Não há relação entre o tempo da morte e o tempo de escrever. A relação é de amor e é eterna. A morte e a palavra, ao contrário de mim, não se atrasam. Além disso, em minha vida andam juntas, nem que seja só em minha vida. Isso já aprendi, porque as sinto frequentemente, desde criança, tanto a morte quanto a palavra.
E é desde criança que lembro do tio Moisés. Lá, estive muitas vezes no colo. Pensei que adulto isso não mais aconteceria, mas aconteceu até a última vez que o vi. No aeroporto, quieto em uma cadeira de rodas, ele ia. Tinha um olhar paciente, de contemplação, de reverência a Macapá e, sem que ele percebesse, eu em seu colo observava obcecadamente cada movimento dos olhos, queria traduzir e imortalizar aquele momento. Não consegui e até hoje tento imaginar o que o tio Moisés dizia pra cidade. Acho que tudo, menos adeus. Macapá e o tio eram inseparáveis. Essa era a terra dele e ele o homem dela. Isso é inegável. Por baixo das anáguas de Macapá ainda velejam o líquido de ambos: do tio e da cidade.
O tio conheceu a cidade cedo. Ele, moço. Ela, moça. Daí, foi um passo para ser o abre-alas dela. Tinha dom. Rascunhavam-se incessantemente um ao outro. Eu os vi várias vezes passeando, trocando carícias. Ela costumava cantar para ele, enquanto ele fabricava um xarope de guaraná. O Flip. Flip guaraná. Dentro de cada garrafa havia um arco-íris. A fórmula era segredo do tio e da cidade, e até hoje o é. Por isso, só o tio conseguia pôr arco-íris em uma garrafa de guaraná. Acho mesmo que o Flip era feito da seiva da cidade. Eu o Tomava gut gut.
O Flip não foi só o primeiro guaraná produzido aqui. Não foi também só a primeira indústria. O Flip, me conta a memória, foi o cenário auditivo mais preciso de minha lembrança. Era a propaganda que anunciava promoção de prêmios a quem encontrasse no guaraná, além do arco-íris, o desenho de um copo no interior da tampinha da garrafa. O copo, sinceramente, não era minha grande ambição. O sabor estava mesmo na propaganda que vinha pelas ondas das rádios Difusora e Educadora, se bem lembro. Era o som de um copo quebrando, esquadrinhado por uma indagação seguida da solução: “Quebrou?. Flip dá outro”. E dava mesmo.
Não sei se por ingenuidade da infância ou ignorância, o que aquele sorteio me fixou é que tudo era substituível. Se o copo quebra, Flip dá outro. Se a bola fura, Flip dá outra. Se a moda não pega, Flip dá outra. Se o tempo passa, Flip dá outro. Se o ar falta, Flip dá outro. Se o amor acaba, Flip dá outro.
Não me cabe agora eleger um culpado pela singeleza de minha compreensão da vida. Fico cá a suspeitar do arco-íris, e nem por isso me zango. Se me fosse permitido optar entre a idade madura e o arco-íris, escolheria o arco-íris sem piscar. Mas isso não é possível, agora eu sei. A bola fura, a moda pega, o tempo passa, o ar falta e o amor acaba. Tudo, é claro, por falta do Flip.
É um desconforto viver sem Flip. Todas as vezes que a vida me recusa, eu lembro do Flip. Mesmo assim, não digo nada a ninguém. Chamo num canto os arco-íris que conservo desde tanto, faço mimos, beijo os olhos, o rosto, e sossego. Vem sempre uma chuva fina. Eu me molho e a guardo. Guardo muitas chuvas. Quando se guarda bem guardadinha, a chuva não dói. Só dói é saber que Flip não dá outro. Poxa, quanta saudade do meu tio.

RUBEN BEMERGUY

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

POEMA

Publicado no livro “Poesias do Grão-Pará”, seleção e notas de Olga Savary Graphia Editorial. Rio de Janeiro-RJ. 2001


Que seja palpável a mansidão da vida
Que seja leve o grande fardo dos dias
Que sejam tocáveis todas as estrelas
Que seja luzente e transponível
O horizonte das manhãs.
Assim como o sol ilumina os rostos oprimidos
Pela angústia crescente dos homens
Assim como a esperança permanece presa
No sagrado baú dos deuses
Que seja a vida a arte de equilibrar o medo
Pois o ofício de viver exige ter talento.
Que seja necessário apreciar os campos
Pois os olhos devem descansar no belo
Que as madrugadas sejam cândidas e nuas
Que a violência desapareça de todas as moradas.
Que a cidade seja um grande coração
Para acolher até o sibilo do vento
Que se cantem hinos esperançosos
Que se assobiem pensando na liberdade
Que não deverá tardar.
Que todos os homens olhem o sol nascer
E todos os dias imitem sua trajetória
Que as ruas sejam uma grande praça
E que se derrubem todos os muros
Porque assim todos poderão passear e se cumprimentar
Porque assim todos serão vizinhos
E se confraternizarão na Grande Festa.
Que se abram todos os cadeados
Que as lágrimas sirvam para lavar as almas
E não mais inundem as avenidas
E que o amor seja forte e belo
Que tenha ele a alegria da planta
Ao dar fruto pela primeira vez.
Texto publicado inicialmente no livro “Os Periquitos Comem Mangas na Avenida” (Macapá, 1984)

Viagem

Estou ausente de Macapá. Desde ontem estou em Brasília-DF para participar, como observador, da 1ª Conferência Nacional de Comunicação. Mando notícias de lá.

Sônia postará algumas coisinhas pro blog não parar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

MEUS CAMPEÕES

LINDO, LINDO, LINDO!

sao_jusa Depois da vitória de 3x0 sobre o Santana São José sagrou-se campeão amapaense de futebol profissional ontem no Glicério Marques. A diferença foi que a torcida – a maior de todos os clubes – fez uma festa inesquecível, tão certa que estava de ser campeã.

sao_jusa1 Gente que nunca mais foi ao estádio estava lá, se deliciando com a conquista do título. Até o Eduardo, o Tadeu e o vereador Luizinho, que só encontram em dia de eleição e dia de finados para contar causos, se confraternizaram longamente segurando o alambrado.

Vi todos os gols, inclusive aquele que o juiz não marcou. Vai um abraço de parabéns para o presidente Vicente Cruz, para o Heraldo Almeida e para toda a torcida tricolor.

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MEEEEENGO!

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Outra alegria que merece ser registrada é o Hexa do Flamengo. Hexa sim, viu dona Sônia. Mengo é mengo!

UM DIA DE ELLEN PAULA

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 13.12.2009.

Claro que não é a mesma coisa. Mas já me senti a própria miss da Expofeira deste ano que viu seu direito de ganhar o concurso ser usurpado (propositadamente ou não). Tudo por causa de um suposto erro de contagem do júri.

No meu caso a situação aconteceu nos fins de 1985, quando fui convidado para participar de um festival de samba-enredo da Associação Recreativa Piratas da Batucada, na sede do Trem Desportivo Clube. O tema era “O sonho de um rei”, e o regulamento dava margem para mudar o título, desde que o samba se encaixasse no que os carnavalescos da escola queriam.

Como na época eu pertencia à ala de compositores dos Piratas Estilizados, que era do segundo grupo, resolvi participar. Então convidei o Neck para defender a música “O Rei da Brincadeira”, para a qual fiz os arranjos e acompanhei no cavaquinho. Aconteceu, porém, que o Jeconias Alves de Araújo também estava inscrito no festival, mas não havia encontrado quem interpretasse seu samba. Pediu-me para cuidar disso. Cuidei. Ensaiamos os dois sambas na sede dos escoteiros do Laguinho com uma turma de batuqueiros dos Piratinhas.

No dia anunciado para realizar a escolha do melhor samba – um, sábado - havia seis inscritos. O primeiro a ser cantado, por sorteio, foi o do Jeconias, denominado “Sonho de um Rei”, cantado pelo Neck e acompanhado por mim no cavaco. Os intérpretes do samba seguinte – “O sonho de um pirata”, de Leonardo Trindade - não apareceram. O próximo foi o meu samba, que o Neck interpretou magnífica e profissionalmente, sendo bastante aplaudido. A quanta composição, intitulada “O sonho de um rei no carnaval”, de Alcy Araújo, também não concorreu. Mas as duas seguintes, “Sonho de um rei fantasiado de pirata”, de Venilton Leal, e “Sonho em forma de samba”, de Zoth e Antoney Lima eram muito boas e também foram bastante aplaudidas pela galera do Piratão.

Após uma longa e nervosa espera – um sofrimento para quem participa de festivais – finalmente o presidente do júri anunciou o resultado, favorável ao Jeconias Araújo, que por sinal era compositor dos Piratas da Batucada desde a sua fundação. Jeconias recebeu o cheque no valor de dois mil cruzados novos, contente da vida, enquanto eu e o nosso intérprete nos perguntávamos onde foi que erramos. Mais tarde, tomando uma gelada no badalado bar Balaio, na Praça Nossa Senhora da Conceição, o Jeconias, que depois viria se tornar um grande amigo meu, me esnobou balançando o cheque na minha frente. E nem agradeceu o favor.

Como essas coisas aconteciam nos festivais não liguei muito. Na segunda-feira o Manoel Torres, que fora secretário do júri do festival e pertencia à diretoria da escola, chamou-me na reprografia da Secretaria de Planejamento do Governo do Território, repartição que trabalhávamos. Ele queria me mostrar que o festival tinha sido feito com lisura e honestidade. Para tanto me deu uma planilha com os resultados.

Na ocasião eu estava acompanhado do Rui Lima, que como eu também era técnico da SEPLAN. De posse da planilha o Rui somou rapidamente os resultados com olhos de economista e detectou que o mesmo estava alterado. Em vez de 59 pontos o samba de Jeconias aparecia com 69: 10 pontos a mais. O meu samba havia alcançado 65,5 pontos, portanto eu ganhara o festival.

Não devolvi a cópia da planilha. Guardo-a até hoje. Fui atrás dos meus direitos e os consegui: o samba foi gravado (pelo Neck) e cantado na Avenida FAB no carnaval de 1986.

O ruim disso foi que o Jeconias não recebeu o dinheiro do prêmio e por isso nunca mais fez samba para a sua escola. Por outro lado, no ano seguinte fui convidado pelo Monteiro para fazer o samba que homenagearia o Biroba, espécie de ícone do bairro do Trem. Então o samba ajudou o Piratão a ser campeão pela primeira vez, na FAB. Coisas do carnaval.

Compreendi a intenção do Manoel Torres, que não foi ingênuo, mas honesto; a de Jeconias, um vencedor que não levou o prêmio; e agora a da jovem miss Ellen Paula, que como eu fez seu trabalho, mas que por causa de um erro (intencional ou não) se viu impedida de comemorar a vitória. Mesmo assim eu acredito que sempre há um tempo para corrigir injustiças.

planilha_festival

A prova do erro.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta” de sexta-feira, 11.12.2009

NOVA EXPOSIÇÃO

quadro_tiago O grupo de artistas plásticos Tumuc-Humac realizará uma exposição de pinturas no próximo dia 16 de dezembro, na sala de exposições do Marco Zero do Equador.

O grupo é composto por artistas locais de grande conceito no meio, como Hernandes Mello, Herivelto, Manoel Bispo, Grimualdo, Luís Porto, M. Silva, Limeira, Simone Oliveira, Miguel Arcanjo e pelo estreante Juca. A amostra vai até o dia 20 de janeiro.

“São Tiago de Mazagão Velho”. Pirogravura de Ernandes Melo. Acervo: Fernando Canto

20 ANOS DE SENTINELA

Sentinela Nortente Nos dias 29 e 30 de dezembro os cantores e compositores Amadeu Cavalcante e Osmar Júnior vão realizar um show comemorativo aos vinte anos do disco “Sentinela Nortente”.

O LP de Amadeu foi o primeiro disco produzido pelo Movimento Costa Norte, nos idos de 1989, e traz algumas músicas, de autoria de Osmar agora antológicas do nosso cancioneiro regional como “Coração Tropical”, “Quizomba” e “Tajá”, aliás, nossa primeira parceria.

Desde lá muita houve muitas produções significativas na área musical, que cresceu paralela em qualidade, principalmente com as novas formas de ensino da música e pela facilidade de gravar.

PRISÃO RETROATIVA

bombadagua No tempo em que a polícia prendia todo mundo só para fazer relatório, cercava estrategicamente o alvo. Numa dessas batidas a uma festa de carnaval dos Boêmios, fecharam a General Osório para que ninguém pudesse sair pela Eliezer Levy ou pela General Rondon. Com menos de dezoito anos e sem carteira de identidade, o José Isaías, popularmente conhecido por “Bomba D’água” conseguiu furar o cerco pelo quintal do seu Sarambá.

Quase um mês depois, um guarda o reconheceu passeando no arraial do padroeiro segurando a mão de uma pequena no “cabocal” da praça onde hoje está o teatro das Bacabeiras. E veio a voz inevitável: - Teje preso. - Mas o que eu fiz? Perguntou nosso herói. – Agora nada, mas é porque naquele dia tu fugiste da gente lá na frente dos Boêmios.

REVEILLON DO MERCADO

luis_sandim Luís Sandim Nery, proprietário do “Bar Du Pedro”, está organizando o 2º Reveillon do Mercado Central em conjunto com a diretoria do bloco carnavalesco Unidos do Pau Grande.

A previsão da festa é para o dia 27, com uma extensa programação cultural, inclusive com a participação de uma bandinha para tocar só marchinhas do carnaval.

Luís fez uma bela reforma no tradicional bar que herdou do pai, e o mesmo continua sendo freqüentado por antigos fregueses do Trem e do bairro Central.

mercado Mercado Municipal enfeitado para as festas de fim de ano.

ARTES VISUAIS

marcos_brava O curso de Artes Visuais da UNIFAP terá novo coordenador a partir da próxima segunda-feira. Quem vai assumir é Marcos Brava, professor de Teoria da Arte e de Arte e Novas Tecnologias I e II, no lugar da professora Claudete.

Marcos, que também é expert em cinema, planeja realizar no próximo ano uma série de eventos entre projeções, debates e palestras sobre a sétima arte para estudantes daquela instituição e o público interessado.

KUBALANÇA

kubalanca Demorou um pouco, mas saiu a gravação da música-tema do carnaval 2010 do bloco mais irreverente do Amapá. O Kubalança, oriundo do Morro do Sapo, no Laguinho, traz em seu enredo mais uma história maluca de uns extraterrestres que habitavam Macapá e tinham como base a fortaleza de São José, que era uma nave espacial enterrada no meio do mundo.

Os ETs tinham que viajar, porém resolveram ficar na Terra após verem o Bloco e aprenderem a dançar. Tinham uns nomes semelhantes aos nossos. Gostaram do que viram e ficaram.

Agora é esperar para ver a criatividade dos nossos carnavalescos siderais na Avenida Ivaldo Veras, no desfile dos blocos.

BAILE DO HAVAÍ

O bloco Pererê vai promover no dia 15 de janeiro o Baile do Havaí no Macapá Hotel. Será primeira grande promoção da agremiação que volta ao carnaval depois de um ano ausente.

Gude Lacerda, coordenador do evento, informa que será uma big festa comandada pela Banda Fuzaka, que tem como líder o excelente músico Finéias. Gude informa ainda que sabe do trabalho que terá pela frente e por isso precisa do apoio dos associados do Pererê para a decoração, logística e outros babados que um evento desses exige.

ZUNIDOR

O radialista Mário Lopes contesta veementemente a história do “homem sexual” contada pelo jornalista Humberto Moreira para o Carlos Lobato na coluna diária deste. Diz que simplesmente leu o livro de ocorrência do PS Osvaldo Cruz escrito pelos policiais de plantão, na época.

São José, o tricolor do Laguinho venceu o segundo turno do campeonato e agora parte para ser o campeão contra o Santana Esporte Clube, que vem fervendo de amarelo. Torço que a taça venha para o bairro moreno.

Ocorreu com grande sucesso no dia 08 a confraternização dos Amigos do Abreu, com futebol e muita gelada.

Polícia de Brasília vive clima da ditadura. Cavalaria nas ruas e violência.

valente_ze Zê Valente, figura super-simpática do Bar Du Pedro é sempre um bom papo.

Abra o olho. Não se descuide do seu carro nos arredores do circo que está instalado no Marco Zero. Muito ladrãozinho de som e estepe ronda por ali pra lhe deixar um prejuízo natalino.

Está chegando em janeiro 2010 o livro Adoradores do Sol.

Inderê. Volto zunindo na sexta.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O homem curvo

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Fernando Canto

Meus olhos infantis ainda enxergam o homem sentado na ponta do trapiche; a trouxa ao lado e a calça escura balançando ao vento. Sua silhueta lembra um soldado descansando da campanha e o jeito magro e curvo parece mostrar mais lassidão, assim como um cavalo magro e velho pastando em campo infértil.

Há três dias aquele homem está sentado no mesmo lugar como se estivesse pescando sem linha, sem caniço ou anzol na maré seca de ondas ralas. Isso é motivo de preocupação. Mas a minha preocupação infantil é jogar meu futebol na praia lamacenta da frente da cidade. Não consigo, porém, me concentrar. A bola é chutada para dentro do rio que já vem enchendo. É lateral. Vou pegá-la adiante e vejo o homem mais perto. Ele está lá. Impassível. É uma estátua viva. “Joga a bola G.”, meus amigos gritam. Eu deixo a pelada de praia, me visto, apanho os jornais que me restam para vender e resolvo ir onde o homem está.

Um sol de equinócio racha meus cabelos escorridos e o solado dos meus pés acostumados que são a andar descalços sobre a enorme ponte de madeira. Ando quase 500 metros, encontrando pessoas e vou vendendo jornais. Ainda bem que o vento espanta esse sol abrasador. Barco chega, barco parte, ancora, aporta e descarrega. E o homem lá. Seu modo esquisito de se comportar dá a impressão que compartilha um segredo com as águas ondeantes do rio, pois elas chegam e varam os pilares do ancorandouro associando uma música estranha aos meus ouvidos.

Aproximo hesitante do homem curvo e ele não dá a mínima. Nem diz, como os outros adultos “Sai daí menino, é perigoso ficar na beira do trapiche”. Ofereço-lhe o último exemplar do jornal e ele fala “Não sei ler”. Mas eu respondo “Eu leio pro senhor”. “Não precisa, ele diz, eu sei de tudo o que se passou aí atrás, por isso estou aqui olhando as águas.”

Sento ao lado dele e fico horas jogando conversa fora. Parece que agora sei tudo sobre ele e entendo porque ele está ali há tanto tempo sem dormir, sem se alimentar e sem fazer as necessidades fisiológicas. Compreendo sua sede de olhar o rio que vem e que vai, assim como se apresenta o destino no meu entendimento de menino trabalhador. No calor da empatia lhe pergunto tudo. Ele me diz que só não pode dizer o que traz na sua trouxa. Fico aflito, mas ele me conforta, passando as mãos nos meus cabelos.

A manhã passa e um dia inteiro fica no passado. Eu ainda estou ao lado do homem contemplando o rio e os pássaros que flecham com seus voos o céu do poente e da nascente. Não sei quantos dias já se passaram. Sei apenas que num certo momento, na hora em que nascem os raios de sol, ele me fita e diz: “Vou embora. Mas vou deixar minha trouxa aqui neste trapiche. Por favor não abra. Adeus”.

Como se suas pernas fossem de pau, compridas, iguais às dos palhaços do Circo Garcia, ele levanta e segue para dentro do rio até desaparecer no canal.

Lembro que chorei muito. Ao chegar em casa a febre inevitável do encantamento me fez delirar por tantos dias que quase fui internado no Hospital Geral. Mas nada como um chá de ervas e outros esforços familiares para eu ficar bom. Até benzeção e banho de cheiro me ajudaram na retirada do quebranto.

Ao olhar, hoje, o rio e as ondas se quebrarem no trapiche, na emoção de pisar no baluarte de Nossa Senhora da Conceição, sobre a Fortaleza de São José de Macapá, não vejo mais a silhueta do homem curvo. Mas tenho a ligeira impressão que ele ainda está lá. Não sumiu no canal. Todavia, creio que se ele não estiver, está a sua trouxa de sarrapilha encostada num pau de amarração dos barcos. E nela, intuo, reside algo bom, tão bom quanto a esperança que precisa ser guardada numa trouxa qualquer, sob pena de homens e crianças perderem o encantamento que mora no barro e emerge sempre do fundo do rio.

Publicado no livro “Trapiche – Ancoradouro de Sonhos”. Edição comemorativa à reconstrução do Trapiche Eliezer Levy. Org. Marcia Correa. Desenho de Manoel Bispo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009