quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CARTA DO NATAL


Escrevi este texto no final de 2001, três meses depois do ataque ao World Trade Center (New York, 11 de setembro de 2001). Republico-o para desejar a você que acessa este blog votos de paz e harmonia, de serenidade e de responsabilidade para com a cultura brasileira e com o meio ambiente. Felicidades em 2010. É só trazer o 1 (de 2001) para que fique entre os zeros. Some 2+1e o resultado vai ser 3 ou .: (Fé, Esperança e Caridade). Ou qualquer conjunto ternário, desde que seja bacana para você.

QUERIDO NATAL

Eu quis tanto entender as coisas que cercavam o meu olhar
Mas me disseram que eu não era mais um bebê perguntador

Procurei uma bola de cristal que um dia vi num desenho de gibi
Para poder visualizar o futuro do mundo
Mas também me desestimularam a insistir

E eu fiquei durante horas imerso num tempo estático e infeliz
Imaginando o que se pode destruir pelo fogo e pela força da paixão

Depois passei a indagar a todos de onde vim, para onde ia...
Chamaram-me de chato e fuçador no adolescer da vida
(Espinha-pus-explosão-espelho)
E que o tempo – bem diziam - se encarregaria
De tudo esclarecer
Bastava que estudasse e não faltasse com atenção
Aos movimentos circulares das tardes calorentas

E eu cresci com a vista olhando níveis diferentes
E ângulos de equiláteras saudades
Vendo ao meu redor cada detalhe e além dele

Pulsava em mim por esse tempo, preso,
Um jaguar feroz longe do seu habitat
Eu não sabia, mas já desconfiava que fosse um bicho
Denominado amor
Inscrito pelos mapas como um sinuoso réptil
Um rio em meandros banhando praias astrais

Então amei sem ter limites
Assim como quem sorve a fruta toda
Onívoro, alimentado até de brisa

Mais tarde, consciente de meus atos e proventos
Fiz a prole inevitável e esbravejei contra opressores
Cada palavra era um latido de um discurso inútil na pobreza
E desprezada pelos que não sofrem
Mesmo assim acreditei no gênero que faço parte
E me enriqueci de seu arroubo e ousadia

Em outras partes do planeta eu vi - atônito,
O que é capaz de conceber o ser humano
Em qualquer dia onze de setembro
Quando a máquina avoante era um bólido de lágrima
Antecedendo chuvas de morte e desespero
Nas cavernas dos desertos em ebulição

Foi um ano duro e triste
Como todos, aliás, para os que sofrem
O eterno esquecimento dos que podem

Aqui mesmo na Amazônia onde me chuvo e me desenho
Ainda me dizem o que diziam os que não respondiam
Como se fosse fácil descobrir a cada instante e por si só
A dor debaixo dos sapatos e um vácuo atrás do sol

Foi duro procurar a bola de cristal, a pedra, o Graal
E encontrá-los antes de veleiros tristes que partiram
E velá-los por um tempo que se esvai agora no rumo do horizonte

Assim mesmo e antes que se esgote a força
Um passo deve ser cruzado além do fosso do milênio
Para que as perguntas das crianças
Tenham o eco da esperança
E os adultos o gesto nobre de ofertar a flor

Foi um ano duro e triste sim, natal querido
Para muitos mais que isso
E aqui, embora eu saiba que ainda tenha o rio e a mata
Quero me encantar sem prantos, me aguar quebrantos
E dividir a gota, o brilho e o verde desta paisagem
Entre todos os que acreditam num mundo melhor.

FELIZ NATAL DA SÔNIA, DO FERNANDO CANTO E FAMÍLIA PARA VOCÊ QUE É DO CORAÇÃO
Foto: Rosa do nosso jardim

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