sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Será que esse curso é bom?

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Faixa exposta na Rua Sanos Dumont, esquina com a Avenida 13 de Setembro.

CARTA DO NATAL

Amanhecer (Foto de Juvenal Canto)

Escrevi este texto no final de 2001, três meses depois do ataque ao World Trade Center (New York, 11 de setembro de 2001). Republico-o novamente, pois o republiquei em 2009, para desejar a você que acessa este blog votos de paz e harmonia, de serenidade e de responsabilidade para com a cultura brasileira e com o meio ambiente. Felicidades em 2012.

QUERIDO NATAL


Eu quis tanto entender as coisas que cercavam o meu olhar
Mas me disseram que eu não era mais um bebê perguntador

Procurei uma bola de cristal que um dia vi num desenho de gibi
Para poder visualizar o futuro do mundo
Mas também me desestimularam a insistir

E eu fiquei durante horas imerso num tempo estático e infeliz
Imaginando o que se pode destruir pelo fogo e pela força da paixão

Depois passei a indagar a todos de onde vim, para onde ia...
Chamaram-me de chato e fuçador no adolescer da vida
(Espinha-pus-explosão-espelho)
E que o tempo – bem diziam - se encarregaria
De tudo esclarecer
Bastava que estudasse e não faltasse com atenção
Aos movimentos circulares das tardes calorentas

E eu cresci com a vista olhando níveis diferentes
E ângulos de equiláteras saudades
Vendo ao meu redor cada detalhe e além dele

Pulsava em mim por esse tempo, preso,
Um jaguar feroz longe do seu habitat
Eu não sabia, mas já desconfiava que fosse um bicho
Denominado amor
Inscrito pelos mapas como um sinuoso réptil
Um rio em meandros banhando praias astrais

Então amei sem ter limites
Assim como quem sorve a fruta toda
Onívoro, alimentado até de brisa

Mais tarde, consciente de meus atos e proventos
Fiz a prole inevitável e esbravejei contra opressores
Cada palavra era um latido de um discurso inútil na pobreza
E desprezada pelos que não sofrem
Mesmo assim acreditei no gênero que faço parte
E me enriqueci de seu arroubo e ousadia

Em outras partes do planeta eu vi - atônito,
O que é capaz de conceber o ser humano
Em qualquer dia onze de setembro
Quando a máquina avoante era um bólido de lágrima
Antecedendo chuvas de morte e desespero
Nas cavernas dos desertos em ebulição

Foi um ano duro e triste
Como todos, aliás, para os que sofrem
O eterno esquecimento dos que podem

Aqui mesmo na Amazônia onde me chuvo e me desenho
Ainda me dizem o que diziam os que não respondiam
Como se fosse fácil descobrir a cada instante e por si só
A dor debaixo dos sapatos e um vácuo atrás do sol

Foi duro procurar a bola de cristal, a pedra, o Graal
E encontrá-los antes de veleiros tristes que partiram
E velá-los por um tempo que se esvai agora no rumo do horizonte

Assim mesmo e antes que se esgote a força
Um passo deve ser cruzado além do fosso do milênio
Para que as perguntas das crianças

Tenham o eco da esperança

E os adultos o gesto nobre de ofertar a flor

Foi um ano duro e triste sim, natal querido
Para muitos mais que isso
E aqui, embora eu saiba que ainda tenha o rio e a mata
Quero me encantar sem prantos, me aguar quebrantos
E dividir a gota, o brilho e o verde desta paisagem
Entre todos os que acreditam num mundo melhor.

FELIZ NATAL DA SÔNIA, DO FERNANDO CANTO E FAMÍLIA PARA VOCÊ QUE É DO CORAÇÃO

Zunidor - HERUNDINO

O jogador de futebol Bira do Espírito Santo, o Bira Burro, que jogou no Macapá Esporte Clube, no Remo e Payssadu (PA), no Internacional (RS) e no Atlético Mineiro, entre outros, me conta que o seu pai, o seu Herundino do Espírito Santo, às vezes era comparado ao famoso seu Lunga, do Ceará. Certa vez ele chegou em casa e sua mulher perguntou: - Vem chuva aí, Herundino? E ele respondeu: - Eu não vim do céu... Como vou saber?

INDERÊ! Volto zunindo na semana que vem.

Zunidor - NATAL ILUMINADO

Igreja de São José


Igreja de São Benedito
 A cidade está muito bonita à noite. Não foram só as instituições políticas que enfeitaram os prédios públicos (Por sinal alguns deles com uma decoração de gosto duvidoso). As igrejas estão iluminadas e muitas residências particulares fizeram sua parte para com nossa Macapá. Há dez anos coordenei na PMM o primeiro concurso de decoração natalina residencial e de vitrines de lojas da cidade. Tempos mais iluminados.

Zunidor - BANCO DA AMIZADE



Frequentadores do Banco da Amizade
Boto Malhado

Osvaldo Simões e Sr. Marinho

Eu a a dançarina de marabaixo

Dançarina de Marabaixo
Eu e o velho Bené


Família Piquinha

Osvaldo e Isabel.

Todos os anos os moradores do bairro do Laguinho realizam a festa do banco da Amizade ali na Rua General Rondon. E já se vão cerca de 40 anos. Tradicionalmente é feita no dia 26 de dezembro, com muito churrasco, caldo e bebida à vontade. Quando iniciou os frequentadores do banco pediam contribuições aos passantes e penduravam garrafões de vinho nos galhos da mangueira. Agora tem apoio financeiro de instituições e políticos. Muito show de samba, pagode, batuque e marabaixo rolou por lá.

Zunidor - ANDRÉ MONT'ALVERNE

Vai um GRANDE PARABÉNS ao André Mont’Alverne que varou no Vestibular em 9º lugar no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFAP, com o mérito de não ter feito cursinho pré.

Zunidor - VESTIBULAR

 Saiu no dia 29 pela manhã o resultado do Processo Seletivo da UNIFAP para 2012. 1040 vagas foram preenchidas em diversos cursos, sedo que 50% das vagas foram preenchidas pelos estudantes que optaram concorrer pelo Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. O reitor Tavares informou que 129 treineiros também passaram que a UNIFAP se prepara para realizar outro PS no meio do ano e para o campus Binacional do Oiapoque. 

Zunidor - BALÉ DE LUZ

Foi um sucesso o novo show da cantora Juliele no Teatro das Bacabeiras no dia 23 de dezembro. Foi um presente de natal para o público que gosta da música regional e de dançar. Em que pese alguns pequenos erros, o espetáculo fez vibrar os espectadores que lotaram o TB, principalmente pelas performances dos dançarinos que acompanharam a cantora em várias das músicas interpretadas. Dê-se um valor especial às crianças que representaram meninos de rua, ao Yuri, tataraneto de Julião Ramos, dançando Marabaixo; aos dançarinos portadores de síndrome de Down e ao Gessandro, um bailarino de muito talento. A música que dá título ao CD e ao show, Balé de Luz, é de minha autoria e de Manoel Cordeiro.  O espetáculo agigantou a cantora com seu novo estilo de cantar, uma proposta muito boa de releitura de clássicos populares da Amazônia e um repertório bastante variado de ritmos e vertentes musicais da região, com a especial atenção de que a maioria das composições foram produzidas por compositores amapaenses.

Zunidor - MAIS SEIS MILHÕES EM OBRAS

 Depois de uma leva de críticas sobre as obras da UNIFAP, feitas pela imprensa, o reitor José Carlos Tavares anuncia que o MEC empenhou mais seis milhões de reais para obras do Câmpus Marco Zero. Os recursos advêm de uma emenda parlamentar de bancada capitaneada pelo ex-senador Papaléo Paes, reconhecidamente um parlamentar que direcionou muitas de suas emendas para a educação do Estado do Amapá.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Zunidor - GUAIRACÁ NUNES

22122011634 Guairacá Nunes,Filocreão e Leo Platon Encontrei o Guairacá Nunes, que é assessor do Senador Randolfe Rodrigues, durante a festa de aniversário do professor José Carlos Tavares, na reitoria da UNIFAP. Guairacá está de volta para morar em Macapá. É ligado a área do meio ambiente e é um dos filhos mais novos de Janary Nunes, primeiro Governador do Território do Amapá. Na foto com o Vice-Reitor Filocreão e o empresário Leo Platon.

Zunidor - SABATIÃO

03122011427 Dia 23 foi a vez do cantor/compositor Sabatião realizar seu show na Casa de Choro do Ceará da Cuíca. Foi muito legal e bastante prestigiado pela galera que gosta de samba com sabor regional. Na foto com a esposa Eunice Pereira.

Zunidor - GABRIEL PENHA

27122011710 Jornalista Olha aí o jornalista Gabriel Penha se empenhando em acabar com o estoque do Abreu.

Zunidor - CALIXTO

27122011709 Calixto e eu Foi um prazer encontrar com o amigo Calixto no bar do Abreu. Veio passar as festas de fim de ano após longa estada em Natal-RN.

Zunidor -NONATO

27122011705 Nonato_famíla Vai um É BIG! Para o meu amigo Nonato Monteiro, que comemorou esta semana o seu ingresso na casa dos SEXagenários. Na foto com a família.

Zunidor - DISPUTAS CARNAVALESCAS

Com a aproximação do carnaval começam a se acirrar as disputas entre os membros das escolas de samba. As polêmicas normalmente giram em coisas que nem se ligam ao samba propriamente dito, como as gozações pela falta de sedes-próprias, transporte, e outras coisas. O palco das disputas são sempre os estúdios de emissoras de rádios. Ainda bem que têm programas muito bons feitos por quem conhece o metier, como o Armstrong, o Heraldo Almeida, o Ivo Canutti, o Azevedo Picanço, o J. Ney e outros.

Zunidor - Bi

16122011541_bi O cantor Bi trindade, que agora integra a equipe do Zé Miguel na Secretaria de Cultura informa que vai realizar um show solo neste fim de ano, reunindo músicas inéditas de sua autoria e outras já gravadas do Grupo Pilão, com novos arranjos. Bi é fundador do Grupo, mas sempre que dá faz show individual. Ele costuma dizer para o Sandoval (foto): “- Já fiz a minha parte, né?”

CIDADE DO SAMBA

cidade do samba Foi na semana passada a inauguração da Cidade do Samba, que leva o nome oficial de “Alice Gorda”, a Maria de Lourdes de Azevedo, uma homenagem à Rainha Momo do Carnaval, que reinou por longos anos ao lado do Rei Sacaca. Abaixo as fotos do cantor e compositor Arlindo Cruz, personalidades carnavalescas e os grandes barracões que abrigarão as dez escolas de samba participantes do carnaval.

21122011626 Nega Vânia no palco Nega Vânia, Rainha da bateria dos Boêmios do Laguinho e os intérpretes do samba-enredo

20122011624Cruz, Lino e eu Vicente Cruz, Francisco Lino e eu.

20122011621Vicente, Vânia, Macunaíma e lino Cruz, Vânia, Macunaíma e Lino.

20122011619 Sucuriju Sua Majestade Sucuriju, o Rei Momo

20122011618 Arlindo Cruz Arlindo Cruz

20122011612 Nena Nena, percussionista

20122011610 João Capi e Durval Melo João Capiberibe (o Garimpeiro) e Durval Melo.

20122011605 Paulão_luis_JoãoSiva_Pereirinha Paulo Silva, Luis, João Siva e Pereirinha

Zunidor - PERIPÉCIAS

Recebi com muito carinho o livro “Peripécias da Natureza”, do poeta Jonas Diego Teles, publicado em 2008. O volume traz 74 poemas nascidos da experiência do autor como agricultor em seu contato com a natureza. O escritor Paulo Tarso Barros afirma: “Não se espere aqui encontrar os experimentos linguísticos de um expert, os vôos delirantes de um poeta angustiado, mas com certeza vamos nos deparar com as experiências de vida e com a imaginação de um ser humano que descobriu sua arte através dos olhos da alma, esse olhar que somente os artistas conseguem traduzir. Por isso, acredito que este início de jornada poética do Jonas Diego Teles, o leve a encontrar novos caminhos pra a sua poesia, uma poesia singela, com odores e sabores do nosso país, da nossa terra abençoada, onde cantam pássaros e um oceano de água doce tão poderoso e amado”.

Zunidor - BAR DA DONA NEUDA

 17122011545_bar neuda O bar da Dona Neuda, ali na Hamilton Silva com a Duque de Caxias, é palco de muitos encontros de amigos, sempre aos sábados, e principalmente nas festas de fim de ano. Um churrasco preparado pelo Anísio e pelo Fernando Cunha foi a razão da festa onde se encontraram respectivamente, João Gaúcho (sua esposa Deusa, que bateu a foto), Pedro, Japão, Fernando Canto, Fernando Cunha, Fernando Bedran e Anísio.

Zunidor - PIERRE

17122011547 pierre_alcolumbre

17122011552 Santa_Consola_pierre

17122011560 Tadeu e consola

O empresário e cantor Pierre Alcolumbre que sempre se apresenta na Casa de Choro do Ceará da Cuíca deu um show “à capela” na casa do César Bernardo em homenagem à geóloga Santa, que a ouve atentamente acompanhada da Consolação. Tadeu Pelaes, Viana e delegado Tito também ouviram o artista.

Zunidor - METRALHA

 17122011573 Jocelito marques Meu amigo Jocelito Marques não perde uma promoção do Abreu. Seu réveillon foi tão animado que ele resolveu desencantar um ícone dos quadrinhos que lhe marcou por toda a adolescência. Era um dos “Metralhas” do Igarapé das Mulheres (vejam a camisa que veste), juntamente com alguns dos seus irmãos, o terror daquela comunidade. Assim falam as más línguas. Diiiiz-que!

Zunidor - Munhoz

17122011569 Munhoz_CésarBernardo

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O professor Antonio Munhoz, que faz os seus oitenta anos em fevereiro, prepara-se para mais uma viagem à Europa. Na foto com o autor do livro “Mestre Açaizeiro”, lançado recentemente, César Bernardo de Souza. Na foto seguinte está com a socióloga Luíza Mont’Alverne. Na outra com o empresário Lindoval Peres.

Zunidor - BRILHANDO EM SÃO PAULO

wesley O flautista amapaense Wesley Sampaio, que é filho do maestro Elias Sampaio, tocou no dia 18.12.11 na Sala São Paulo como solista da Orquestra Sinfônica Bachiana, sob a regência do maestro João Carlos Martins. Wesley é um dos talentos amapaenses da música que brilham fora do Estado.

MORREU O PINTOR PANTALEÃO

 

27122011696Pantaleão_tela 27122011699 Pantaleão_maternidade 27122011698Pantaleão_escultura

 

27122011697Pantaleão_esculturas  27122011701Pantaleão_tela

 27122011700 Pantasleão_macapá_hotel

O artista plástico Pantaleão morreu na segunda-feira (26.12.11) de um fulminante infarto quando se encontrava na praia do Araxá, na orla de Macapá, coletando material para a feitura de seu trabalho. Pantaleão era pintor e escultor, e aproveitava troncos trazidos pela maré para realizar o seu trabalho, por sinal muito apreciado pela crítica local. Possivelmente o esforço físico feito para trazer os pesados troncos da beira do rio contribuiu para a sua morte. Tinha apenas 45 anos de vida e era formado em Artes Visuais pela UNIFAP.

Recentemente organizou uma exposição de telas e esculturas entalhadas na madeira, além de inúmeros objetos que caracterizavam a sua criação artística, tão diferenciada da maioria dos nossos pintores. Há muito o artista vinha navegando em um estilo próprio, que ganhava uma expressão bem característica quando aplicava as cores com uma técnica especial, desenvolvida por ele. Sua temática era sempre voltada para as coisas da Amazônia.

Pantaleão preparava-se para inaugurar uma desejada galeria de arte que conseguiu fazer em sua própria residência e se preparava para uma exposição no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília.

Com ele se vai mais uma esperança de se (e)levar o nome do Estado através de sua arte, que certamente seria apreciada por críticos especializados, dada a beleza das cores utilizadas e o seu estilo inconfundível.

Num lugar como o nosso, onde a cultura sempre se preocupou com eventos de massa, como shows musicais, carnaval e festas juninas, as artes plásticas, a literatura e outras artes são consideradas menores. E assim vem a pergunta: - Quando será que vão respeitar as outras expressões artísticas? Acho que agora deveriam pelo menos fazer um registro da sua obra em livro, para que as gerações vindouras tomem conhecimento da importância de Pantaleão como artista amapaense.

ONZE NATAIS

Texto de LUIZ JORGE FERREIRA

Quincas queria ser Papai Noel, mas Quincas era preto.

Luiz queria ser a grande rena-guia, mas Luiz era baixinho.

Bebeçudo queria ser o arauto, mas bebeçudo era gago.

Coló prontificou-se a arrumar os brinquedos, mas colo era sequelado de pólio e tinha dificuldades motoras.

Saçuca queria ser o guia, mas Saçuca era quase cego.

Rex, o grande cão, estava a postos: os pelos limpos, os dentes escovados.

Eles tinham usado a escova de Ângela, irmã maior do Bebeçudo.

O cachorro estava enfeitado de tiras de pano e sobras de purpurina. Tinha esmalte de unha nas patas e uma lista no dorso feita com tinta branca de sapato. Rex foi guardado no banheiro até a hora da partida.

A caixa de papelão em que a mãe de Quincas guardava a roupa limpa dos fregueses de “roupa lavada para fora” foi decorada com borboletas coloridas, presas nela com espinhos de laranjeiras.

Cheio de plumagem de galinha no rosto, Quincas estava simpático de brancas barbas e enormes bigodes.

Ensaiaram a música aprendida na escola pública.

E reuniram os presentes a serem ofertados.

Quincas doaria um chinelo feito com sobras de pneu de carro.

Bebeçudo um livro de Monteiro Lobato gasto de riscos de lápis e rasgões aqui e ali, que nunca conseguira ler.

Coló, dois dentes de leite presos a um sujo e puído fio de nylon que inutilmente tentara trocar com a tal Fada do Dente, por moedas.

Saçuca, meio a contragosto, doaria uma estória de poraquê que seu pai lhe contara em uma roda de pinga e pescaria.

Luiz ficou com a tarefa de conseguir sal para temperarem as mangas verdes que ofertariam como ceia.

Enquanto organizavam esta empreitada a noite foi avançando.

E de repente já era muito tarde para que cinco moleques descalços, vestidos apenas com calções encardidos e camisetas descosturadas, saíssem com fome de suas casas e andassem pelas ruas escuras e silenciosas da Vila, procurando crianças pobres para doar presentes.

Era perder tempo. Que crianças mais pobres iam encontrar que eles mesmos?

Depois de perambularem um pouco pelo quintal, tornaram a sentar e cada um apanhou o que mais lhe agradava dos presentes reunidos e em seguida comeram as mangas temperadas com sal. Estavam a sós na casa de Bebeçudo. Os pais haviam ido à fila da Prefeitura pegar a cesta básica.

Satisfeitos, abraçaram Quincas, “O Papai Noel” que havia distribuído os presentes. Abraçaram-no com tanta alegria que o derrubaram sobre a caixa de papelão, provocando um imenso barulho e sujando a roupa limpa.

E Quincas choramingou despregando a barba branca, descolando os bigodes. Pensou na surra que levaria de manhã por ter sujado a roupa limpa.

Cansados dormiram ali mesmo no chão de terra batido.

No quintal, Rex mergulhando na bacia cheia de água, latia e rosnava satisfeito de ver aquele monte de purpurina colorida flutuando, em meio a sua urina amarela. Parecia natal.

Quando os pais chegaram, os cinco estavam mortos, envenenados de manga com carbonato de sódio.

Rex continuava latindo. Agora bem mais devagar.

(*) Luiz Jorge Ferreira, médico e poeta, ex-morador do bairro do Laguinho em Macapá. Reside atualmente em São Paulo. Abaixo, trechos do e-mail encaminhado a mim, com este presente literário.

BROTHER (FERNANDO)  E SISTER (SONIA).  TERMINA 2011. LENDO COM ASSIDUIDADE AS NOTÍCIAS NO "CANTO DA AMAZÔNIA" E POR MUITAS VEZES VENDO OS RETRATOS (INCLUSIVE NO JOÃO LAZARO) TENHO UMA SENSAÇÃO DE "ESTAR" IMENSA QUE A MIM PERMITE CONSERVAR INTACTA.
O CORDÃO UMBILICAL COM MACAPÁ EXATAMENTE COMO ELE O ERA.
PARA SER SINCERO APENAS NÃO GOSTO DE VER (SEM EGOÍSMO) PRÉDIOS SURGINDO, MODIFICANDO MINHA MEMÓRIA... RUAS NOVAS APARECENDO...
POR ONDE NUNCA ANDEI, E SE ANDEI ERAM "CAMINHOS" COMO O DO PACOVAL, QUE AGORA JÁ NÃO O SÃO COMO ERAM. E MUITO MAIS QUANDO SÃO RUAS E AVENIDAS BATIZADAS COM NOME DE AMIGOS E CONHECIDOS. TENHO ENTÃO A SENSAÇÃO DO ARRANCAR DE PEDAÇOS.
MAS ISTO É A VIDA E SE ACEITEI VIVER, ACEITEI O JOGO, ACEITEI AS REGRAS.
PARTICULARMENTE FAÇO USO DESTE TEU ENDEREÇO E MANDO A VOCÊS UM GRANDISSIMO ABRAÇO. DAQUELES QUE SÓ A GRANDE SAUDADE CRIA. LUIZ JORGE.

SAIU O CD COM OS SAMBAS DE ENREDO DO CARNAVAL 2012

Os presidentes das 10 escolas de samba do Amapá já têm em mãos os CDs do carnaval 2012. Orles Braga, presidente da Liga das escolas, fez a entrega dos discos com os sambas de enredo que serão desenvolvidos durante os desfiles, em fevereiro. Cada escola recebeu cem CDs com encarte de letras e detalhes relacionados a cada  agremiação. As escolas irão comercializar os discos e transformá-los em renda para deixar o desfile mais aperfeiçoado.

O CD começou  a ser produzido em 2010 em Macapá e foi masterizado no Rio de Janeiro. Ele seria para o carnaval deste ano que não foi realizado por decisão do Conselho da LIESA. Algumas alterações foram feitas este ano, mas a maioria decidiu manter o que estava gravado. Maracatu da Favela, Piratas Estilizados e Piratas da Batucada mudaram o enredo, e a Jardim Felicidade mudou a nomeação para Império da Zona Norte.

Além de gerarem  renda para as escolas e LIESA, os CDs são importante para a divulgação dos sambas, que precisam ser popularizados antes do carnaval. Após muitos anos é novidade o CD chegar antecipadamente, o que era considerado prejuízo. “É preciso que os sambas estejam na boca do povo, da torcida, por isso o esforço foi positivo. Agora temos chance de vender os discos e melhorar o caixa até fevereiro. É um bom presente de fim de ano”, disse presidente Orles Braga.    

Hoje foram repassados pela Cannuty Comunicação, que produziu o CD, 1.100 discos. Os cem discos excedentes ficam com a LIESA Até a primeira quinzena de janeiro os 5 mil CDs estarão disponíveis nas escolas de samba e na LIESA e serão comercializados a R$ 10,00. Na ficha técnica a presença de experientes ritmistas e intérpretes, como Aldo, Claudete, Pelé, Maniçoba, Mexicano, Alan Gomes e outros, e os mestres da bateria Carlinhos Bababá, Renatinho, Mistura Fina, Riba, Meia-Noite  e Irlan. (Fonte: Assessoria de Comunicação-LIESA)

VIAGEM PARA MUDAR (*)

Fernando Canto

Na cachaça do ano novo é muito comum fazermos resoluções e promessas de mudança no comportamento, no trabalho e nas relações sociais. Planejamos novas ações e juramos mudar, custe o que custar. E temos poder para isso. Se quisermos mudar para melhor porque não tentar? O problema é sair da nossa zona de conforto e experimentar algo que pode ser ruim ou bom. No entanto resistimos às mudanças.

Um famoso psiquiatra austríaco, Viktor Franki, disse que a coisa mais importante que a psicologia pode e deve fazer é nos impressionar com nossos próprios poderes, principalmente nosso poder de mudar e crescer. Porém não é sempre que nos esforçamos se estamos no nosso conforto e nem sempre desejamos mergulhar em águas desconhecidas, correr esses riscos...

Assistindo ao mundo em movimento é que podemos perceber que estamos indo junto com ele, em uma viagem sem volta, num trem galáctico, rumo às estrelas do infinito. Daí é possível entender que consciente ou inconscientemente somos empurrados a estados e condições diversos, pois os processos de mudança são inexoráveis e inerentes à dinâmica da vida. E assim também as organizações sociais.

Desta forma, ao pensarmos as mudanças que querermos por necessidade, certamente tomamos consciência dos eventos a nossa volta e seus efeitos em relação às nossas escolhas. E é então que alimentamos nossas expectativas sobre a nossa atuação no passado recente. Nessa expectativa é melhor fazer um sobrevôo sobre nós mesmos e olhar os sinais e sintomas de mudança que precisamos, para que possamos mudar.

Lá fora nossas esperanças ainda não morreram. Há sinais de troca e de mudanças estruturais. Novos sonhos são acalentados diariamente pelas pessoas e muitas delas que exercem ou que exercerão cargos de decisão indubitavelmente terão de fazer surgir, pelo trabalho, mudanças em todos os níveis, que serão acompanhadas pelas pessoas que os escolheram numa dialética constante, praticada cotidianamente, principalmente pela imprensa

Transformar, modificar, revolucionar não é apenas mais uma necessidade dos seres humanos. As organizações aprendem muito rapidamente que suas fronteiras mudam a cada minuto, e por isso se voltam para o enfrentamento de novos desafios e buscam nos seus servidores graus maiores de eficiência que podem evoluir e acompanhar suas novas necessidades com pragmatismo e equilíbrio. No entanto nem sempre os debates, cursos, palestras e ensinamentos sensibilizam os atores sociais, notadamente no serviço público, onde se percebe claramente que a empolgação das pessoas é efêmera, e que elas oferecem mais suas próprias críticas e medos que suas habilidades, conhecimentos e capacidades analíticas. Quase em nada contribuem para a totalidade e missão das instituições pelo conformismo e conforto que estão aninhadas com suas limitações em se adaptarem às novas tecnologias, na tensão infindável da luta diária.

Nem tudo, porém, está perdido. Apesar de sempre haver resistência ao novo, a História está aí para dar seu testemunho de sucesso àqueles que ousaram acreditar em si mesmos e conseguiram mudar o mundo. Para transformar, e para transformar-se é necessário ter suporte emocional e equilíbrio, algo que estabeleça a harmonia e desperte o potencial interior que todos os seres humanos possuem para mudar.

Nesse sentido podemos aprender que falar em mudança não requer se basear em livros de auto-ajuda, nem sequer na espiritualidade. Na viagem do trem rumo às estrelas começamos a nos conscientizar dos impactos que causamos quando decidimos fazer mudanças e o que elas provocam nas dimensões físicas de um órgão ou nos conteúdos culturais das pessoas e nas suas emoções.

(*) Publicado no Jornal do Dia em dezembro de 2008.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

CORNUCÓPIA DE DESEJOS

Fernando Canto

Por querer expressar meu pensamento sobre as coisas em meu idioma, às vezes arrebato o próprio coração em sofridas angustiosidades e dissentimentos infaláveis.

É o caso do amor ensolarado que sinto agora, neste mirífico momento. Um assunto ressoante, uma prosa-cornucópia (onde abundância reina) a refratar-se sem a culpa do inexpressável parlar.

Não vejo como não ensopar-me de enluação nesta crônica de candura quase irrevelável, posto que o meu amor possa entender-me ou espumar-se para sempre para o inevitável espanto que a declaração enseja. Paresque um salto com a vara achada (depois de perdida) numa olimpíada de sonhos.

Assim eu declaro: a cobra norato, o m’boitatá e as luzes do fogo-fátuo se expiram na noite. Teus olhos não! Teus olhos ternuram a medida do dia, solfejam histórias e cantam paisagens inescrutáveis para os sonostortos dos mortais. Eu sou o arauto deste cenário-testamento a castigar retumbantemente o couro dos tambores; eu anuncio a sublime compreensão do “amooor” que ecoa em gargalhadas sobre as ondas do rio. Eu declaro ainda: a pedra em sua bruta forma tem dentro de si os elementos primordiais que suprem tua sede de amar. Balance a pedra e sinta o gutigúti da sua oferenda. Lapide-a, pois ela provém da terra, e então perceberá o calor do fogo da paixão libertadora e o ar morno que movimentará o sangue pelas entranhas.

Num átimo, um áugure qualquer (que são muitos e banais) lerá tua sorte: dirá augúrios, claro. Um aúspice (que estão cada vez mais raros) dirá tua sina no vôo dos louva-deuses. E te auspiciará de boas-novas e de valores inequívocos.

Ora, dizendo isso afirmo que sou aquele que nem sabe discursar suas dores, inda que saiba do futuro, pois habito o limiar do tempo. Eu sou a timidez em prosa e verso, aluno de poesia, mas prenhe de pecados, porque ingiro virtudes nos bares da noite e não sei segredar projetos inexequíveis. Não sei, juro pueril e ludicamente (mas com toda a sinceridade de uma parlenda) pela fé da mucura, torno a jurar pela fé do guará, torno a repetir pela fé do jabuti, que não sei mentir ao sabor do vento dos ventiladores que me sopram fumaça de cigarro. Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua ternura. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas.

Mas é de ti que quero o conteúdo dessa bilha onde Ianejar e seus pareceiros se abrigaram do fogo ardente e do dilúvio. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra.

Por isso eu sei que te amo.

Por isso vago ainda em fluidos imemoriais sempre presentes, antes do esquecimento das vitórias que juntos comemoramos. Por isso a ternura há de ser o mais farto elemento da imensa cornucópia de desejos que realizamos juntos.

O ASSALTO NO CÂMPUS MARCO ZERO

Conto de Fernando Canto

Um ar de tranquilidade pairava na Universidade no entardecer daquela quinta-feira, véspera de feriado. Eu precisava retirar mil reais do caixa eletrônico instalado no prédio da reitoria para poder viajar com a família ao terreno que temos em Ferreira Gomes.

Pensando nisso fiquei na fila aguardando a minha vez, enquanto colegas de trabalho, sorridentes, desejavam bom feriadão uns aos outros.

Ao chegar minha vez fui surpreendido com um objeto frio na nuca antes de colocar o cartão na máquina. Eu me voltei e um sujeito corpulento me empurrou e disse:

- Não me olha, filho da puta. Encosta ali no canto que a gente vai explodir essa porra.

Tive que me deitar no corredor onde a vigilante jazia com a garganta cortada, ainda em convulsão. Ouvi ruídos e em seguida uma explosão que rebentou toda a máquina. Quatro bandidos apanharam o dinheiro rapidamente e saíram correndo para um carro que os esperava. Atiraram na cabeça do vigilante instalado na guarita do portão de entrada e feriram dois estudantes que chegavam para o turno da noite com tiros a esmo. Fugiram na direção de Fazendinha pela Rodovia JK, perseguidos pelo carro de Operações Especiais da Polícia Militar que havia sido informada do roubo e das mortes.

Mais tarde, quando depunha na Delegacia de Roubos e Furtos, ainda surdo com o barulho da explosão, soube pela TV que na fuga desesperada eles foram atropelados por uma carreta da AMCEL carregada de eucalipto, lá em Santana. Os cinco bandidos morreram na hora. Viraram farelo dentro de uma lata.

Mesmo refeito do susto eu não quis mais ir para o terreno, no interior. Mas no domingo.... No domingo não resisti e fui ao bar do Abreu. Tomei todas e vibrei com a vitória do Flamengo sobre o Vasco, com gol do Ronaldinho e tudo o mais que os assaltantes não chegaram a assistir. Mas o barulho de cada foguete soltado lá fora me lembrava a porra do assalto e o campari no copo era igual ao sangue esvaído da vigilante estrebuchando ao meu lado.

Textos literários

A coluna apresenta hoje alguns contos de significativos escritores do Amapá. Todos os textos foram publicados primeiramente na revista Latitude Zero (1969) e no Jornal Amapá Literário (1998).

 

A VIAGEM DOS CIGANOS NUMA ARCA DE FLANDRE

Conto de Maria Benigna (Maria Bê)

DE AMOR E DE FÉ

Texto de Ângela Nunes

SINFONIA EM QUINTAIS

Texto de José Edson dos Santos

O DESFILE

Conto de Ezequias Ribeiro de Assis

O JULGAMENTO

Conto de Alcy Araújo

A CARTA

Texto de Ray Cunha

COMO A CURIOSIDADE DA MULHER FEZ NASCER A LENDA DA SERRA DO NAVIO

Por Adálvaro Cavalcanti

COMO A CURIOSIDADE DA MULHER FEZ NASCER A LENDA DA SERRA DO NAVIO

Por Adálvaro Cavalcanti

Há muitos e muitos anos, quando a face do mundo era diferente de hoje, existia um grande canal lacustre que cortava o círculo máximo da esfera terrestre. Era um canal encantado.

Os navegantes daqueles tempos tão distantes que a história não conheceu seus nomes, jamais ousaram penetrar no mistério de suas águas.

Um dia, no mar que fica para o lado do nascente navegava um majestoso navio, conduzindo, de mares distantes, um casal de príncipes, de pele negra como ébano.

Era uma viagem de núpcias e, por isto, a guarnição da belonave era constituída de fidalgos daquela raça que se perdeu nos tempos. Após muitas luas de viagem o comandante da nau nupcial constatou que se encontrava na foz do canal proibido, cujas águas negras refletiam em prata os raios do luar. Imediatamente, ordenou a manobra de afastamento do canal tabu. O desusado movimento foi pressentido pela jovem nubente. Em breve relato ela tomou conhecimento de ser aquele canal encantado e que os que nele ousassem penetrar seriam petrificados.

Mas, deslumbrada pela beleza das águas e pela iridescência do luar, a princesa insistiu que a nau entrasse naquelas águas de extraordinário mistério. E tanto pediu, tanto implorou, com lágrimas que resplandeciam como pérolas em sua face núbia, que acabou por comover o enamorado príncipe, seu esposo, que não pôde resistir às súplicas da amada. Assim, a nau entrou no canal proibido pelos deuses, para satisfazer a curiosidade da mulher.

Tudo era encantamento: as águas... as margens magníficas... o perfume das flores... o temor da vingança dos deuses foi dissipado pela fascinante beleza A bordo tudo era alegria. Súbito um pavoroso estrondo! Era o choque com a linha que divide a terra – a latitude zero do Mundo.

A natureza revoltou-se. Ventos ciclônicos e ondas gigantescas açoitavam a nave. A pororoca convulsionou a enorme massa líquida. O chão se levantou e eis que aparecem gigantescas montanhas à entrada do canal pelo lado do poente - surgiram os Andes e o grande caudal passou a deslizar para o levante.

Estava, assim, formado o imenso Amazonas.

A real embarcação nupcial, com seus nobres passageiros e tripulantes aterrorizados, foi atirada a centenas de quilômetros de distância. Na trajetória pela floresta nunca violada, espargiu os ricos tesouros de uma preciosa carga.

Os deuses estavam vingados. O grande barco com seus tripulantes ficaram soterrados na selva, encantados no manganês da Serra do Navio.

Ao sopé da montanha, em margens de meta, passou a deslizar tranquilo o rio Amapary.

A CARTA

Texto de Ray Cunha

Chegara sua vez. O absurdo estalava-lhe nas têmporas. Estava cabisbaixo. O outro permaneceu calado. Até que Alexandre o olhou.

- Tu deverias primeiramente conversar com ela. O que não deves é tomar uma atitude precipitada.

Alexandre estava preso ao torpor da frustração. Sobre a mesa, a carta. Dizia num trecho: "Tu és, sobretudo másculo. Tens os músculos nos lugares certos, para nos mobilizar com força. Adoro aconchegar-me no teu regaço viril e uterino; sinto-me mais mulher no teu regaço voluptuoso. Quando o vi pela primeira vez meu coração pulsou descontroladamente. Isto é amor. Amor à primeira vista. Mais do que amor: é paixão".

Era a letra miúda e minuciosa de Carla. Sua letra, num crescendo, desnudava-a, entregava-a a seu amante, àquele homem ali descrito, detalhadamente, até os nervos. Era um homem invejável. Um cavalheiro; um homem de ação; jovem e velho ao mesmo tempo.

Em princípio, Alexandre supôs tratar-se de um original de Carla. Mas, não. Sua mulher criava sempre em papel de Xerox. Saíra, naquela manhã, às pressas. "Um encontro com o amante."

- Alexandre Acapu, trinta anos, nadador profissional e depois oceanógrafo, muito tempo passado no mar e pouco em casa, marido da escritora "- Carla Menescal de Adrianópolis, grande sucesso de vendas com o romance "As Amarras", 'agora desatadas, é... - ia dizer outra coisa, mas leu a recriminação nos olhos do seu amigo, a quem chamava de Velho. - É passado para trás. - Disse, num desabafo.

- Não será um conto, uma crônica, um capítulo de romance? - Velho perguntou.

- Ou memórias?

- Perguntas-lhe o que é. Não ficas te lastimando e nem te deixas enganar pela paranoia. Vais para tua casa e falas com ela sem fazer escândalo. Se for mesmo um amante, urge saber se ela gosta do outro. Então só restará a separação. Este manuscrito sem destinatário não quer dizer nada. Por que ela o deixaria tão visível?

- Nunca entro na biblioteca, que é onde Carla escreve. Tenho meus livros e apetrechos num quarto no quintal.

- Uma mulher, quando trai um homem, age com muita cautela, da Carla não mudou – disse Velho, triste com a desolação do amigo. - Temos algo em comum... Já passei por isso. Sou marinheiro e também sou casado com uma escritora... - voltou a falar, confuso com a prostração de Alexandre.

- É, meu velho. Só que teu caso ela te procurou e disse tudo. Tu aceitaste o jogo.

- Aceitei. A vida é um jogo, meu caro. A derrota é sabida, mas a vitória acontece durante o jogo...

O Sapo continuava bom como sempre. Louis Armstrong inundava o quarto, por onde flutuavam também cheiros de Carla. Carla, um metro e sessenta e sete, quarenta.e oito quilos; um milhão de livro vendidos em três idiomas; trinta e seis anos. Terás encontrado um homem de vinte e um anos de idade, que é quando tinha que te conheci? Eu conquistara então o primeiro lugar na travessia do rio Negro, e tu, minha pequena Carla, publicaras teu primeiro livro de contos, "É Meia-Noite e Eu em Torno de Ti na Cama". Causou sensação no Rio e em São Paulo. Agora, estou chamuscado pelas águas dos mares. Sim, água do mar pode chamuscar nossa alma. Acho que já não te levo como antigamente, à loucura. Ser por isso; minha Carla, que terás encontrado outro homem? Voltarei ao mar e lá ficarei.

Ouviu Carla chegando, e depois a viu entrando no quarto. Era linda. Tinha boca de cupido, carnuda, e olhos grandes e verdes, e cabelos negros e esvoaçantes, e sorria facilmente. Sorria com os lábios e com os olhos.

Fazia calor. Carla chegou ao meio do quarto e desnudou-se de um só golpe. O vestido de seda branca, que tombou a seus pés, contrastava com a cor de canela da sua pele. Riu. Seu riso era mais um trinado. Avançou para ele, que estava sobre a cama empunhando o manuscrito.

-Ah! - exclamou, afastando a mão que empunhava o manuscrito. - É um conto que estou escrevendo. - E beijou-o. - Está faltando papel de xerox. Vim da gravação da entrevista para a televisão. Estava atrasada. - Ia dizendo as coisas de uma vez e beijava-o, e logo estava imergindo naquele delírio de tarde calorenta.

O ar que o comprimia por dentro saiu de um jato, como que deixa a pessoa possuída, produzindo o alívio que advém ao perigo finalmente esmagado.

O JULGAMENTO

Conto de Alcy Araújo

O juiz entrou com sua toga e sentou-se gravemente na cadeira negra de espaldar alto. Fez-se, então, um silêncio que podia ser cortado com uma faca.

Com a chegada do juiz, aconteceram as coisas mais comuns, já previstas em lei, como inquirição de testemunhas, etc, etc.

O réu, vestido com uma túnica azul, de asas e auréola dourada, parecia não prestar atenção a nada, salvo ao vôo de uma pequena borboleta amarela, que estava na sala há temos imemoriais.

O promotor levantou e fez a acusação, erguendo os braços para o alto. Outras vezes apontava o dedo nicotinado para o réu que olhava a borboleta. O juiz, muito grave, piscava por trás dos óculos. Os jurados fingiam muito interesse, enquanto, às escondidas, comiam pipocas. E quanto mais comiam pipocas, mais pipocas apareciam. Todas as pipocas do mundo estavam ali.

As palavras do promotor cerziam a acusação, saindo lisas e claras. Mas eram absorvida elo candelabro de cristal e desapareciam completamente. Cada qual à medida que escorregavam da barba do orador. Não ficou nenhuma na sala, por mais estranho que pareça. O advogado gordo, que lembrava um pato obeso, comia as folhas de um grosso processo, lentamente, sem pressa, durante todos os dias em que falou o promotor que, ao terminar a sua peça acusatória, tinha a roupa em tiras e os cabelos brancos e compridos.

Então o advogado, com o ventre cheio do processo, se levantou do saco em que estava sentado e falou ..Mas ninguém ouviu a sua voz. Foi um silêncio angustiante. Para quebrar o silencio um velho gritou nas galerias. Aí aconteceram muitas coisas inesperadas. Todo mundo gritou para apagar o silêncio.

O juiz com as listras verdes da toga, aparecendo mais acentuadas e emanando uma certa iridescência, cresceu na cadeira. E bateu com o malho na mesa. Pá-pá-pá! Até que o malho criou asa e saiu pelo forro.

Nem assim cessou a gritaria. O meritíssirno, sem malho, pegou um dos braços amputados que estavam sobre a mesa e começou a bater com ele, até que a mão se deteriorou e os dedos se espalharam entre os jurados e se misturaram com as pipocas e se multiplicaram. Com pouco tempo, havia tanto de pipocas como tanto de dedos. Aí o réu deixou de olhar a borboleta e falou aflito: Parem com isto, pelo amor de Deus!

E todo mundo parou. O juiz viu que nada tinha afazer e esboçou um gesto para o advogado gordo. Ele também fez um gesto, que os jurados fingiram compreender, batendo das vestes os dedos e as pipocas.

A defesa foi feita de modo tranquilo, com o advogado falando em silêncio. Quando muitas luas tinham passado, os jurados se levantaram e se recolheram a uma sala de vidro, para deliberar. De fora, apenas, eram percebidos os seus gestos desesperados, durante dias e noites, em que cresceram os figos da figueira.

Foi preciso que o réu tomasse a deixar de olhar para a borboleta e falasse com a voz cheia de angústia: Vamos terminar com isto, pelo amor de Deus! Muito graves, com as suas roupas pretas, os jurados voltaram. Um deles, que aparentava ter entre sete e nove anos de idade, assumiu a universal postura de líder, e transmitiu o veredito: Culpado!

O teto rachou, no momento em que o jurado-líder pronunciou a palavra fatal e envelheceu quarenta anos. Uma porta se abriu e na moldura apareceu um homem sem braços. Olhou para os presentes, que imediatamente se transformaram em auditório do mutilado. Neste ponto ele bradou, com palavras roucas, que arranhavam a perplexidade geral: Que fizeram dos meus braços? Quem espalhou meus dedos pelo chão e o meu sangue pelos móveis?

Como ninguém respondesse, aproximou-se da mesa do juiz. Mandou que colocasse o braço no lado esquerdo. Já com o braço, pôs-se a juntar os pedaços do outro braço, os dedos e armá-los, como brincam com um quebra-cabeça. Quando o braço ficou inteirinho, com mãos dedos e tudo o mais, ele mesmo o colocou no lado direito. Ajoelhou-se e ergueu as mãos para Cristo, crucificado acima da cabeça do juiz.

Ouviu-se, de mistura com a prece do homem, a pergunta necessária: E agora? Vale ou não vale o veredito?

Vale! Gritaram uns. Não vale! Gritaram outros. Fez-se um tumulto dos diabos. Quando o cansaço de gritar fechou as bocas. O meritíssimo lavrou a sentença. O carrasco se aproximou, passou a corda sobre a' cabeça do condenado no exato momento em que o Cristo desceu da parede tomou pela mão o que ia ser justificado e desceu com ele as escadas que davam para a rua.

Como um serventuário queria varrer as pipocas pelo chão; todos foram embora, para contar lá fora o julgamento.

O DESFILE

Conto de Ezequias Ribeiro de Assis

Filha única e mimada tornou-se extremamente convencida depois que fez os 15 anos e os pais corujas lhe disseram ser a mais linda debutante da festa. Não considerava ela que a mãe e o pai tinham um conceito completamente diferente da beleza feminina. Castigados pela feiúra e mirando-se diariamente um ao outro, perderam o senso da estética e a filhinha desengonçada era para eles uma criatura perfeita, de quem faziam constante propaganda, sob o riso irônico dos conhecidos e, enchendo de alegria e de orgulho a pequenina megera.

Quando as colunas sociais anunciaram o desfile, a família toda se deslumbrou. Esta era a oportunidade de consagração do clã, de mostrar a todos que a filha dos Praxedes Fagundes era a mais bela da cidade. Sua inscrição foi providenciada com o colunista do maior jornal, que não pôde furtar-se a isso em virtude das constantes ajudas que recebia de madame, para as suas promoções. Madame era rica e generosa e não convinha desgostá-la. Discretamente informou que o desfile seria de maiô e as medidas que o júri levaria em conta para proclamar a vencedora, e nas quais não se enquadrava, nem de longe, a ossuda candidata. Disse que algumas casas tinham criado secções especializadas em "enchimento" e que agora estava na moda usar aqueles recursos para modelar as formas, muito embora reconhecessem ter a garota as medidas ideais, com categoria para brilhar em qualquer passarei a, desde que os juízes abandonassem a já padronizada preferência pelas candidatas de curvas exuberantes. Madame convenceu-se e resolveu adquirir alguns enxertos para a filha, dizendo para si mesma que somente o fazia para acompanhar o "chie" da moda e forçada pela burrice dos jurado.

O desfile estava próximo e era necessário providenciar tudo. Foram comprados inúmeros potes de creme, sobrancelhas e unhas postiças, cabeleiras, pó Corega, esparadrapo e fita durex (os enchimentos não tendo curvas para se firmar, tinham que ser pregados), e muitos outros pequeninos subterfúgios da malícia feminina.

Durante os ensaios correu tudo mais ou menos, apesar dos risinhos zombeteiros das outras concorrentes e o atraso que a "miss-osso" causava com seus prolongados preparativos. A mãe cada dia mais se convencia da vitória da filha e não lhe poupava o uso de enxertos, nos lugares onde a natureza não lhe fora muito pródiga.

Até que chegou o grande dia. Nervosa, a filha dos Praxedes Fagundes aguardava a sua vez de desfilar, deslumbrada com os aplausos que eram dados às suas esculturais adversárias, não estando agora tão certa da vitória. Passava a mão de leve pelo corpo, temendo encontrar uma ponta de esparadrapo, solta pela tremedeira que lhe sacudia e aumentava à medida que o desfile prosseguia. Quando deu entrada no salão, um jato de luz ofuscou lhe e o silêncio da plateia deu-lhe medo. Os dentes tilintavam e faziam um ruído já dela conhecido. E agora, como iria sorrir? Haviam-lhe recomendado mil vezes que o sorriso é a principal arma da candidata. Pelo menos, daria um jeito de sorrir para os juízes. Com tremendo esforço, ajudando-se com a língua, abriu a boca. Milhares de gargalhadas transformaram o salão num inferno. Aos pés dos juízes estava a dentadura superior da filha dos Praxedes Fagundes.

No bilhete que a jovem suicida deixou, recriminando seus pais, ela afirmava que nunca os perdoaria por terem esquecido a latinha de Corega, o pó fixador de dentaduras postiças...

SINFONIA EM QUINTAIS

Texto de José Edson dos Santos

A janela da alma abre cedo para o encantamento dos sentidos e enquadra, como em um cartão postal, um jardim em primavera. Rosas, cravos, gardênias, crisântemos, hortênsias, gerânios, margaridas, narcisos e violetas esperam pelo olhar de um pintor impressionista com seu deleite por tanta cor, luz e poesia.

Borboletas e beija-flores bailam airosamente na música do vento. No vôo da imaginação, duendes elfos procuram o néctar da quintessência, camuflados na fragrância da manhã maravilhosa.

Debaixo de uma mangueira, um cachorro perdigueiro dorme sereno sob o calor vesperal. Azulões e bem-te-vis orquestram no ar. Na varanda da casa do outro lado, um gato angorá desvela o novelo do fio de tricô, lambe as suas patas e se espreguiça. Um pouco mais adiante, alguém na rede balança a esperança, lendo um livro de aventura ... Vivaldi é saudado com "As quatro estações".

Depois da cerca do quintal, galos altivos amolam esporões para cortejarem as galinhas. Um pangaré no pasto passeia com trote e fidalguia. No meio da folhagem, calango tango de tanta correria e susto.

Alhures, descendo uma ponte estreita, as águas do córrego cristalino murmuram. Uma menina franzina carrega a trouxa de roupa. Peixes pequenos dilatam as pupilas e fogem silenciosos por entre pedras e musgos. O sol brilha no infinito.

O cheiro bom de pomar lembra infância cheia de frutas multicores. Faunos e ninfas protegem o bosque da fantasia onde a magia da vida fica guardada, juntamente com a aura secreta das pessoas. Cordas e sopros ecoam do inusitado, abrindo o manto diáfano da vertigem.

Flores, animais, seres, córregos, rios, pomares, florestas e o bicho-homem. Todos pertencem à natureza. Tem vida, dão vida e por ela procuram um equilíbrio para viver em harmonia. O acaso, o caos, o maligno, o agouro, a fuligem das coisas Olho de besta das trevas tramam ardilosamente nos braços da feiúra.

O tempo calorento, áspero e cinza estende um lençol de ansiedade sobre a paisagem inútil. Uma nuvem de piche e enxofre paira sobre a cabeça do bicho-homem como sentença e maldição. Indiferente, ele conspira com sua ambição, vaidade e insensibilidade cega. Levanta arranha-céus e shoppings, louvando o progresso e a prosperidade. Faz um cercado ameaçador com um aviso: "É proibido pisar na grama".

Domingo de verão. Feriado do bicho-homem. Um paquiderme arrogante e cínico faz piquenique com a sagrada família reunida. Por onde os bárbaros passam, o cenário fica deplorável, restos de comida, espinha de peixe, casca de banana, garrafas, plástico, farofa e entulho de besteiras vão emporcalhando a praia indefesa O suíno muito feliz se bronzeia ao sol causticante antes de arrotar que gosta de curtir a natureza todo o fim de semana.

O paquiderme da praia também faz parte da natureza do bicho-homem. Se diferencia de um ruminante porque pensa. Faz apologia às guerras como controle da natalidade. Polui o ambiente com sua presença adiposa e grotesca. Com o seu desmazelo, o planeta fica cinzento, triste e doente, mesmo quando blasfema em nome do poder, do lucro e do progresso.

Compactuar com a sordidez do paquiderme e da besta aniquilar O princípio do futuro pleno. Assinar a carta de comoção por um modo de ver a aurora da sensibilidade aflorando em cada cabeça.

Abrir a janela da alma ao semear a consciência ecológica como atitude política de ser. A plenitude pleitearmos diuturnamente como possibilidade de estar no mundo

Fauna, flora, as coisas, os seres, o bicho-homem e os elementos da natureza em equilíbrio e harmonia. Inteiros para serem eternos. Abrir a janela do mundo com a certeza do arco-íris da esperança. Sol de virtude, chuva de felicidade. Sobre a cidade o incenso da perseverança alcançando o gesto solidário da criança, acenando à paisagem humana que passa e transmuta os espaços. Receber o cartão postal da preservação, apesar do cimento. Distribuir a poesia da necessidade de resistência e proclamar um sempre verdecológicolhar na janela da vida. Lavar a alma na cachoeira na certeza do espírito redivivo. Luz, plenilúnio e quintessência. Água, terra e ar. A aurora do ser em comunhão com os seres e as coisas. Resistir unos e plenos. Sempre.

DE AMOR E DE FÉ

Texto de Ângela Nunes

- Eita, que até que enfim nós chegamos!

O paneiro com o pato, o saco com algumas mudas de roupas, chinelo, chapéu de palha e o cigarro compunham o visual que mostrava a barba sem fazer de Zé Alfredo, o romeiro.

A promessa era a causa. Haviam tentado de tudo. Até no 'dotor Arinardo' tinham ido, mas nada. Rezadeiras, mães-de-santo, pau-d'arco, andiroba, com alho e sebo-de-holanda, um santo remédio! -, esfregaço com chifre queimado no peito do menino, ao pôr-do-sol... Nada. Só a Virgem.

Ela, sim, a mãe de todos os ribeirinhos dera jeito no sem jeito, afastara o mal com o poder da fé.

Joana segura o braço do menino que puxa sua saia para não cair

Do barquinho "Nossa Senhora dos Anjos" uma leva de romeiros desembarca. Além da carga de fé, trazem os apetrechos necessários para o almoço tradicional do Círio: pato, tucupi, jambu. O importante, porém, é ver a Santa. É ir junto à Corda, ser içado, comprimido, é não estar fora do maior acontecimento religioso do Brasil, no Segundo Domingo do mês de outubro: o Círio de Nazaré.

Zé Alfredo, Joana e Zeca têm um longo percurso a seguir. Deixam, como amigo feirante no Ver-o-Peso, o bastantes trazido para o almoço depois da procissão.

Seguem direto para a Matriz, em Nazaré. Vão a pé, faz parte da promessa. Ainda são cinco horas da tarde do Sábado, mas precisam estar certos de que o menino conseguirá embarcar no Carro dos Anjos. Ele deverá seguir todo o trajeto com as outras crianças, ou a promessa não terá validade. Uma recaída será fatal.

- Cuidado com as asas, menino!

Não foi fácil conseguir todas as penas brancas, arranjadas pela redondeza e lavadas com carinho. Mas as asas estavam lindas, um trabalho de arte.

- As asa tão 'pai-d'égua'!

- Joana sorri e a família segue. Zeca pára, quer mijar ao pé da mangueira centenária. Outra parada: - um copo d' água-pelo-amor-da- Virgem! Já é noite quando chegam. Decidem que a escadaria da Matriz é um bom lugar par repousar e aguardar a saída da procissão.

- Zé, e se nóis não conseguir pôr o menino com os outros anjinhos?

- Calma, mulher, a Virgem resolve.

Os atropelos, o empurra-empurra, tudo ficou esquecido quando viram o menino no carro, devidamente paramentado. Estava belo e destacava-se dos outros pelo brilho das asas.

- Fique direitinho, meu filho.

Nós vamos lá atrás, na corda. A corda. Outra dificuldade, e das grandes. Mas para quem havia saído da Ilha dos Porcos há cinco dias... Força, Fé e Determinação transformam os dedos calosos do homem nortista em garras ao segurar a Corda. Daqui não saio, nem morto.

Joana segue ao lado, sandália na mão, a imagem da Virgem de Nazaré e um coração de cera, simbolizando a doença de Zeca.

A multidão serpenteava pelas ruas de Belém, imensa sucuri com o ventre inchado por romeiros de todos os cantos, unidos pelo amor à Santa formosa.

"Oh, Virgem mãe amorosa..." Joana canta alto, em êxtase. Embalada pelo foguetório das várias homenagens, quase não sente o asfalto a queimar-1he os pés.

No canto do edifício Manoel Pinto, aconteceu.,. Sem aviso, silencioso, o tumulto começou. Uma onda dentro de outra: jovens não participantes do evento, vindo em sentido' contrário, teimavam em passar. Na confusão a seguir, pessoas desmaiavam, sufocadas pelo aperto e calor. Foi inevitável o empurrão no Carro dos Anjos. Zeca foi projetado longe.

Joana vislumbrou o acontecido. Ajoelhou-se e orou... Por entre lágrimas, viu o milagre. O menino, entre balões coloridos, papel picado e fumaça, muito lentamente, ruflou as asa e voou sobre a multidão.

A contista Ângela Nunes é poetisa e contista. Marajoara de Soure (PA), onde nasceu em 21 de julho de 1956. Vive em Macapá desde os seis anos de idade. É professora de português, literatura, redação e linguística.

A VIAGEM DOS CIGANOS NUMA ARCA DE FLANDRE

Lembranças de uma viagem ao Macacoari em 1985

Conto de Maria Benigna (Maria Bê)

Em mil novecentos e um dia qualquer, uns ciganos de tribos diferentes rebelaram-se e formaram uma nova tribo e partiram sem destino. E como eram ciganos muito, muito especiais, não viajaram de carro ou carroção, ou até mesmo a pé, como fazem todos os ciganos, viajaram em cima de uma enorme arca de flandre cheia de gelo, que tinha uma argola prateada e na qual não se sabe como estava amarrado o fio do sonho. E foram voando e puxando, puxando o fio do sonho, como meninos que empinam papagaio, até chegar no país do verde.

O país do verde era tão lindo, tão belo, que os ciganos, para o sonho não escapulir, amarraram a ponta de seu fio num enorme oleado azul estendido na relva e que tinha cheiro de luz, erva e mares ia, e dele tomaram posse.

Alguns deles pensaram: "Deve ser um pedaço de céu caído!" Alguns riram e eles disseram:

- Coisa muito natural! Há terra caída, espinhela caída, e por que não pedaço de céu caído? - Daí, todos concordaram solenemente.

Havia junto do oleado azul (ou pedaço de céu caído) um poço e as pessoas que moravam no país do verde disseram que nele morava a mãe d' água.

E morava mesmo . Pois à noite, quando boiava a lua cheia(saiu exatamente do buraco que ficou no céu, quando caiu o pedaço que os ciganos chamaram "oleado azul"), a mãe d' água subiu majestosamente pelo balde improvisado pelos ciganos. E não só ela; o vento vinha trazendo o boto, uma cabocla cheia de dengues e malícias, uma coruja enorme, quase tanto quanto um arranha céu, um curumim com sua igara, alguns búfalos, um garoto vestido de vermelho que lembrava o Mogli (pequena rã), uma indiazinha chamada Pão de Mel, um cozinheiro florestal (que talvez fosse um duende disfarçado), um artesão e sua namorada, um pato esquisito que fazia quá, quá, quá a toda hora, uma estranha moça que fotografava sonhos, um viking, um poeta e uma viola.

Quando estavam todos juntos, o vento deitava no ar um cheiro de terra molhada e a magia da noite descia mais forte, misturada no clarão da lua cheia.

Os ciganos foram ficando (não tinham nem data e nem conheciam relógio) e morando no pedaço de céu caído (ou oleado azul) durante um enorme tempo. De dia rachavam lenha, puxavam água do poço (de noite traziam no balde a mãe d'água), cozinhavam, pescavam, sem nunca ficarem cansados. E a noite, ah! a noite! a noite era festa, o boto namorava a cabocla e de tão maroto que era, quando sumia deixava o chapéu. E a cabocla sorria e pensava: "Ele volta!" O viking chegava enorme e manso (dizem que era dissidente). O garoto de vermelho (e nem era chapeuzinho) servia pão e peixe. A viola derramava melodia. O poeta agasalhava-se nas asas de sua coruja e fazia poesia. A índia Pão-de-Mel (talvez por causa do nome) namorava o cozinheiro florestal. O pato começava muito lentamente seus quá, quá, quá e depois contagiava a todos e todos riam e eram felizes.

Um dia, sabe Deus como, alguém achou um velho relógio e os ciganos descobriram a hora. E num instante, como por encanto, o pedaço de céu caído sumiu no azul do céu e a lua deixou de aparecer e sem seu oleado azul e sem luz os ciganos já não podiam ficar. Voltaram bem devagar, cada um para suas antigas tribos, mas em cada um ficou um pedaço de sonho, feito cicatriz.

Hoje, quando eles passam e alguém comenta e duvida da aventura, eles dizem meio marotos e tristes: - A moça fotografou e um poeta documentou. Essa é a prova de que o país do verde existe.

ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES APRESENTA SUGESTÕES PARA O ENCENTIVO À LITERATURA

A Associação dos Escritores do Amapá apresentou, por meio do seu presidente Paulo Tarso Barros, uma série de sugestões para estimular a produção e circulação de livros e incentivar a leitura, junto ao seminário “Construindo o Programa de Literatura do Amapá”, promovido pelo Governo do Amapá/Escola de Administração Pública –EAP. São as seguintes:

- Parceria com a SEED e SECULT no sentido de incentivar a produção de obras dos autores locais, que seriam selecionadas para publicação e distribuição à rede de escolas, universidades e bibliotecas públicas através de editais, que normatizariam o conteúdo desses livros baseados nos critérios adotados pelo Governo Federal e seus órgãos.  

- Dentre as obras selecionadas e publicadas, parte da edição seria adquirida pelo GEA para distribuição nas escolas, universidades, bibliotecas públicas e outros espaços de leitura – e também enviadas para bibliotecas interestaduais através de intercâmbio.  

- As obras seriam preparadas, revisadas e impressas dentro dos padrões gráficos, editoriais e ortográficos – com ficha catalográfica, código de ISBN e código de barras, e não mais de maneira artesanal. 

- Instituir programas e projetos que facilitem visitas programadas de escritores às escolas em todos os municípios, e que os mesmos recebam ajuda de custo compatível por essa atividade, que seria considerada de grande valor educacional e cultural. 

- Organização de uma bienal do livro nos moldes das que são realizadas em muitos locais do país onde o autor local e o das demais capitais da região Norte teriam espaço adequado. 

- Promover, através de convênios, a tradução de obras de autores locais e sua distribuição.

- Dar condições para que os autores possam viajar e manter intercâmbios com outros escritores participem de feiras, festivais literários, seminários e outros eventos da área editorial, tanto dentro como fora do país. 

- Patrocinar oficinas de criação literária através de profissionais da área que também poderiam ministrar cursos e palestras para desenvolver e aprimorar a criatividade dos autores, aprendizado de técnicas de escrita etc.

(Fonte: blog dos escritores do Amapá)

MINISTRO DO ESPORTE COLOCA SACI NA DISPUTA PARA SER MASCOTE DA COPA-2014

A mascote da Copa do Mundo no Brasil já tem um candidato forte. Para o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, o Saci é a figura ideal para representar o país no torneio.

O político planeja a participação da população na escolha, que tem a Fifa e o Comitê Organizador do Mundial de 2014 como principais responsáveis pelo tema. A decisão será tomada em meados do próximo ano.

O ministro comentou que onça e arara também têm chances nessa disputa. No entanto, em entrevista à rádio CBN, Rebelo deixou clara a sua preferência. Por outro lado, ele assegura que o governo não terá muita influência na escolha.

“O Saci, na mitologia brasileira, tem origem em São Paulo, com o grande escritor de Taubaté, Monteiro Lobato. Ele foi o criador do Saci para substituir, no imaginário das nossas crianças, aquelas figuras das fábulas europeias. Não havia na literatura infantil essa mitologia de origem nacional. Tenho grande simpatia pelo Saci e acho que ele é um contraponto importante a essa figura importada dos Estados Unidos que é o Halloween, o Dia das Bruxas”, opinou Rebelo.

A ideia do ministro é que a população seja consultada sobre o tema e participe da escolha. “Minha ideia é fazer uma consulta pública ampla, pela Internet, para que a população possa opinar. Outras sugestões, além do Saci, da arara e da onça, poderão surgir, e nós poderemos levar à Fifa, ao Comitê Organizador Local, como uma opinião da população brasileira”, completou.

Personagem do folclore brasileiro, o Saci usa gorro vermelho e cachimbo na boca. Com apenas uma perna, ele é famoso por aprontar com todo mundo. Suas travessuras favoritas são assustar os viajantes, esconder os objetos e dar nó na crina de cavalos. (Fonte: Uol Esportes)

Venda de bebidas alcoólicas só vale para Copa, diz relator na Câmara

O relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) sobre a Lei Geral da Copa sofreu uma alteração antes da apresentação nesta terça-feira (13) em uma comissão da Câmara, permitindo a venda de bebidas alcoólicas apenas durante o período do Mundial. Antes, o texto propunha a mudança do Estatuto do Torcedor e tornava permanente a autorização. A reunião foi suspensa pelo menos até a próxima quinta-feira (15).

Além da mudança para as bebidas alcoólicas, Cândido retirou os idosos do grupo que poderá comprar ingressos mais baratos, na faixa de R$ 50. Apenas estudantes, indígenas e beneficiários de programas de distribuição de renda poderão comprar os cerca de 300 mil ingressos por um preço menor que a média. A expectativa dos parlamentares é de que as alterações sejam definidas pela comissão na manhã de quinta-feira para o texto ser votado no plenário à tarde.

Cândido afirmou que as mudanças se deram “por questões de discussão democrática”, mesmo sendo ele o autor de uma lei em São Paulo para permitir a venda de bebidas em estádios. Se aprovado, o texto desagradará ao Corinthians, que esperava a autorização de bebidas para criar uma estrutura para estimular o consumo na sua futura casa.

A Fifa exige a permissão de venda de bebidas alcoólicas em estádios da Copa do Mundo, uma vez que tem marcas cervejeiras entre seus principais patrocinadores. Cândido propôs em seu texto a mudança do calendário escolar para 2014, permitindo que os alunos comecem o ano letivo mais cedo e ampliem as férias de julho – período durante o qual se realizará o Mundial. (Fonte: Uol Esporte).

sábado, 17 de dezembro de 2011

REVEILLON DO ABREU


Liete e Ronaldo Abreu

Balcão do Abreu

Célio Alício e Bolachinha
Vai ser neste sábado, 17.11.11, o já tradicional Reveillon do bar do Abreu, na Avenida FAB. Ronaldo e Liéte prometem muitas atrações para o evento. Bolachinha de novo? Nããããão! Pelamordedeus... Brincadeirinha, Bolacha. Seu show é nota 10.