terça-feira, 30 de novembro de 2010

O RASGADOR DE LETRAS

letras-book Por RUBEN BEMERGUY (rubenbemerguy@terra.com.br)

Sou o único destinatário das coisas que escrevo e também das que não escrevo. As que escrevo, não leio. As que não escrevo, dedico tempo juntando letras imaginárias aqui e acolá, até ter ideia clara das cores predominantes em cada uma delas. Depois as rasgo. Elas gotejam, como padecessem de desmedida dor moral. Sinto que elas – as letras – não perdoam minha inclemência, mas é assim que me omito de mim e sofro um pouco menos exatamente por não me conhecer, gravado ou não em papel.

Ignoro-me não por pesar, mas por amor. Meu grau de proximidade comigo, um certo sentimento de tolerância mesmo, está na precisa distância que de mim estabeleço. Não sei de meus olhos ou do revestimento de minha pele. Acuso apenas a noção de minhas unhas. Delas, não posso prescindir. Não só por ser rasgador de letras, mas também pela necessidade de laminar frequentemente grande porção da vida.

Assim, dela, - da vida -, obstinadamente, dilacero de um tudo. De mim, sobra pouco. Esse resto trago empilhado na zona mais afiada das unhas, como se prestes a feri-lo ao mais tímido indício de remorso de ainda conservar algo de mim.

Nessa escuridão permanece o que de tenra idade ainda tenho: uma ginjeira uma rabiola, um bem-te-vi, a primeira sessão de domingo no cine Macapá, um pedaço de menta, uma revista do Tio Patinhas e outra do Mandrake, um conga azul e um vulcabrás preto, um gol perdido, uma monareta, o Seu Banha e um avião cruzeiro do sul, um pouco de extrato de alfazema, dois vinis: um Long Play e um Compact disc, um rabino distante e uma prece, alguns quebrantos, meio retrato onde não mais me pareço e um segredo. Isso é tudo que ainda me acompanha.

Compareço ao meu encontro a cada segundo. Arrumo e desarrumo na prateleira do vento isso tudo e depois, freneticamente, torno ao arquivo morto. Em seguida, volto ao ponto de partida. Sou assim.

Só não toco no segredo. Tenho medo. Ele, a ninguém deve ser dito. Muito menos a mim. Fico a imaginar se o descubro descalço e se seus pés decidem percorrer meu tronco em tênue intensidade?. Se o descubro sem túnica e se seu corpo é bordado e se me põe em cerco militar e se minha infantaria a ele adere e se ele me escraviza?. Se o descubro a articular outros segredos em meus ouvidos pastos?. Se o descubro Cacique e se ele em círculos me canta e se seu arco arremessa uma flecha e se a flecha me vaza e se, por um lapso, eu gozar?. Não. Nesse segredo eu não toco. Tenho medo.

O medo sincero é a mais gentil e sublime virtude de qualquer rasgador de letras. Mas não basta ter medo. É preciso também falar baixo. Bem baixinho, pra não excitar o segredo. Em mim, ele – o segredo - dorme, mas tem sono leve e isso é um risco permanente. Minha melhor porção o embala e o vigia, sem tréguas.

Sob o ângulo da vida, pareço louco. Ela – a vida – teima em nunca resignar-se a arquitetura dos que laceram letras. Dai, me quer em holocausto. Contra mim, imputa falsamente versos que nunca fiz, músicas que jamais ouvi, danças que nunca passei, beijos que não guardei.

Eu, na quietude da mais serena convicção, nada faço. Se o segredo dorme, me basta. À vida, apenas digo: não me doce, nem me salgue. Me alme.

Imagem disponível em: www.uhmporaki.blogspot.com

Governo, empresas e ONGs querem transformar Marajó em reserva global

ilha-do-marajo Por Daniela Chiaretti

O arquipélago do Marajó tem área maior que Santa Catarina ou o Rio de Janeiro e paisagens belíssimas de rio e floresta.  Por ali passam 25% da água doce do planeta e a região produz metade do açaí do mundo, que já foi vendido a R$ 18 o litro em Belém e enriquece empresas dentro e fora do país.

Mas algo deu errado no estuário do Amazonas.  Mais de 70% dos quase 500 mil marajoaras vivem na faixa da pobreza e 80% não têm água encanada.  A economia está em colapso, 80% da população adulta é analfabeta e as unidades de conservação não protegem as águas fluviais.  Agora há um esforço de governo, ONGs e empresas para reverter o quadro e fazer com que o arquipélago ganhe o selo de reserva mundial da biosfera, da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A ideia é dar visibilidade à região - que tem na ilha de Marajó sua estrela mais famosa - e perspectiva de um futuro sustentável ao arquipélago e seus moradores.  Existem mais de 560 reservas da biosfera no mundo - a ilha de Lanzarote, onde viveu o escritor José Saramago, é um destes lugares.

O Brasil tem seis reservas do gênero - a Mata Atlântica foi a primeira.  É uma maneira de proteger, promover o turismo sustentável, conservar e dar perspectiva econômica aos habitantes, acredita João Meirelles, um dos fundadores da SOS Mata Atlântica e hoje diretor-geral do Instituto Peabiru, que trabalha como facilitador entre os marajoaras e os interessados em implementar o programa Viva Marajó.

Marajó, famosa no passado pelos búfalos que herdou de um acidente com um barco que vinha da Guiana Francesa, perdeu metade do seu rebanho.  Há alguns anos, o Ibama fechou todas as serrarias de lá, todas ilegais, inclusive grupos americanos e japoneses, mas 5 mil pessoas ficaram sem trabalho.

A região tem 16 municípios, área maior que oito Estados brasileiros e riquezas únicas no planeta: é o estuário do Amazonas e do Tocantins, o que significa que por ali passa ¼ de toda a água doce superficial do mundo.  Tem alta biodiversidade (é a única região do mundo onde convivem o peixe-boi marinho e o amazônico, por exemplo), um dos patrimônios arqueológicos mais importantes do país, ruínas do período colonial, forte identidade cultural, belas paisagens.  Mas vive uma realidade social crítica.

Marajó importa, por exemplo, mais da metade da mandioca que consome.  Cerâmicas marajoaras são contrabandeadas sem nenhuma fiscalização.  O IDH é muito baixo e a insegurança fundiária, alta.  Quase 80% da população não tem acesso a água limpa, e metade não tem energia elétrica.  O rebanho bovino caiu pela metade, o turismo não tem expressão econômica e as unidades de conservação são frágeis.  Não há nenhuma área de preservação permanente entre elas.

"O Marajó ficou esquecido do poder público, é uma região abandonada", diz Meirelles, que está conduzindo uma enquete com a população para rastrear suas dificuldades e desejos, financiada pelo Fundo Vale.  Ele cita alguns números: Marajó responde por pífios 2,7% da economia do Pará, tem um PIB de R$ 950 milhões.  "É menos do que o empresário Eike Batista pagou de imposto no ano passado", disse Meirelles, durante seminário sobre os desafios para o desenvolvimento da Amazônia na próxima década, promovido pelo Fórum Amazônia Sustentável.  A renda média diária é de R$ 5, um terço da renda média do paraense.  Por sua vez, a renda média diária do paraense é menos da metade da média do brasileiro.

A candidatura ao Programa Homem e Biosfera da Unesco, para transformar a região em reserva da Biosfera Amazônia-Marajó, é uma iniciativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e tem apoio do ministério.  Uma das tarefas, agora, é fazer com que 5% da área da região seja de preservação permanente, um requisito do programa da Unesco.  "Temos que pensar a Amazônia em termos de identidade", diz Meirelles.  "E trazer urgentemente a agenda social para o Marajó, além da ambiental.  Aqui se vive uma situação social crítica."

Uma das vertentes importantes, acredita, é o açaí.  "A região do estuário do Amazonas é o maior produtor do mundo de açaí, Marajó responde pela metade disso, mas não se beneficia", diz Meirelles.  Segundo ele, há 80 empresas no Pará que beneficiam o açaí, três delas grandes.  "O açaí poderia acumular mais renda, virar um modelo mais democrático de distribuição de benefícios."  Outro ponto a ser explorado é o ecoturismo e o turismo cultural.  O arquipélago tem sítios arqueológicos únicos que não estão protegidos.

A jornalista viajou a Belém a convite do Fórum Amazônia Sustentável

Fonte: Valor Econômico

Link: http://www.valoronline.com.br/

Imagem disponível em: www.paratur.com.br

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

HISTÓRIAS DE MIGRANTES

portinari_retirantes Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 29/11/10

Sempre respeitei muito os migrantes que vão para determinado lugar em busca de oportunidade que a sua terra nunca lhes deu. Hoje, normalmente as pessoas se mudam com o propósito de vencerem na vida em novas fronteiras, em locais que possam lhes oferecer empregos com bons salários e qualidade de vida.

Até hoje as imagens das telas da série “Os Retirantes” de Portinari mexem comigo de forma indescritível, pois a paisagem do sol inclemente nos rostos desfigurados das personagens faz clamar o pedido de ajuda contra o flagelo da fome e da sede, numa caminhada interminável em busca da sobrevivência. Já devo ter lido umas três vezes o clássico “Vidas Secas” de Graciliano Ramos e junto a ele acompanhado o sofrimento de todos aqueles nordestinos que fogem da seca do sertão, inclusive o da cadela “Baleia”.

Muito de perto também vejo o preconceito de gente recém-estabelecida em Macapá contra os que aqui chegam em busca de dias melhores para o sustento de suas famílias. Embora a cidade e o Estado não atraiam ainda grandes investidores nacionais e internacionais para implementar outras atividades econômicas, sabe-se que o fluxo migratório para cá é um dos maiores do Brasil. E todos os dias centenas de pessoas aportam em Santana e na capital para participarem de concursos públicos, e outras oportunidades de emprego que são oferecidos. Mas o preconceito não é só dos que já enriqueceram e se fixaram. Os chamados autóctones também lamentam a presença desses milhares de trabalhadores e suas famílias que aqui vêm concorrer com eles e seus filhos, no que fazem ser uma disputa discriminatória e injusta com esses brasileiros que também vivem sob o sol. A maioria dos migrantes são paraenses oriundos das ilhas circunvizinhas e em segundo lugar maranhenses, depois piauienses e cearenses. Todos estão respaldados pelo direito constitucional de ir e vir.

Quando da transformação do Amapá em Território, Macapá tinha menos de dois mil moradores e uma miséria que dava dó. No dizer de Álvaro da Cunha os habitantes tinham um ceticismo crônico e desanimador para com as autoridades e entravavam qualquer cooperação. Observavam o governador com ares de suspeita e temor. Interrogavam com medo: - O que esse capitão vai “fazê?” E procuravam antecipar qual seria a primeira atitude do governo “contra eles”. Só depois de muito trabalho começou, então, o desenvolvimento do Território, com a participação dos filhos dos moradores locais. Em pouco tempo o universo escolar de 7 escolas e 392 alunos de 1944 passou a 9.012 alunos e 105 escolas primárias, sendo 92 delas na área rural. E mais 615 alunos em outros cursos. Janary tinha como base de seu governo o trinômio “Sanear, educar e povoar”, objetos tangíveis que promoveram a colonização episódica do Território. Uma colônia agrícola modelar fixou 100 famílias de agricultores nordestinos e 30 famílias de japoneses. E deveria receber em, 1954, a primeira “leva” de agricultores italianos. Segundo o autor acima citado “Em Mazagão realiza-se uma experiência revolucionária de agricultura socializada, com o trabalho de 200 famílias de agricultores nordestinos, a maior parte delas procedente do chamado polígono das secas do nordeste brasileiro”. (Relações Públicas Governamentais no Amapá. I.O., Macapá,1954)

Coloco aqui estes dados por achar que a educação foi e continua sendo a fonte principal do pensamento para que haja melhores perspectivas de vida para todos. No meio disso dizer também que foram os migrantes que construíram esta terra, vindo de todos os estados deste país e que aqui deram o suor do seu trabalho para que tivéssemos o estado que temos hoje.

Imagem disponível em www.proa.org

Carteira de Estudante – Tadeu Pelaes

Tadeu Pelaes_cart estudante Prometo e cumpro! Eis ai a Carteira de Estudante do Tadeu Pelaes no Colégio Amapaense.

sábado, 27 de novembro de 2010

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS - zoth

zoth Alcy Filho, o Zoth, foi prestigiar o show de Osmar Jr. no Ceará da Cuíca.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS

mancha negra Charles Pereira, o Mancha, já prepara seu bloco “Mancha Negra” para o carnaval, mas vai desfilar no Piratinhas para homenagear o Bar do Abreu.

África Minha

fernando_macunaíma

Gravei vinheta para divulgação do enredo “Laguinho África minha: cantos e revoadas de dois poetas geniais” que Boêmios do laguinho vai apresentar no carnaval 2011. Na foto com Macunaíma, intérprete da Escola.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

 CONCERTO NO LARGO

Ana Martel e Erivaldo Fraga Termina hoje no Largo dos Inocentes (atrás da Igreja velha de São José) a programação da Semana do Músico que a Confraria Tucuju vem realizando em parceria com o Centro de Formação Musical Valquíria Lima. O encerramento será feito com um grande concerto.

Na ocasião o maestro Erivaldo Fraga, o regente Antonio Carlos e o trompetista Marcos Gonçalves, do Rio de janeiro, apresentarão o resultado das oficinas e mini-cursos ministrados na Semana. A cantora Ana Martel vai encerrar a programação com o seu belo show “Sou Ana”. Imperdível.

UM GRANDE SONHO EM CENA

A FIEAP e o SESI promovem a XIV edição da Mostra de Dança com o espetáculo “Para viver um grande sonho” no dia 30, às 20h00, no Teatro das Bacabeiras, projeto esse que tem por objetivo dar um retorno a sociedade dos conhecimentos adquiridos pelas alunas ao longo de 2010.

120 alunas iniciantes e iniciados vão se apresentar no espetáculo, que também “é uma declaração de amor à arte e à dança e retrata a busca de realização de um sonho de criança, exaltando a determinação, a dedicação, a fé, a paciência e a ética”. Ingressos e informações: 3084-8944.

GARAGEM UNIVERSITÁRIA

Hoje tem a terceira e última edição do ano do projeto Garagem Universitária no hall do anfiteatro da UNIFAP. Haverá a participação das bandas autorais de rock Godzilla, Seed Falls, Nova Ordem, Inadimplentes, LBR e Gás 11. Começa a partir das 18h30.

O coordenador Paulo Zab informou que haverá mais um workshop de guitarra para a garotada. Disse ainda que o projeto cresceu bastante, havendo necessidade de deixar de fora algumas bandas devido a demanda. Os shows do Garagem são direcionados para o público universitária na faixa etária de 16 a 30. Muita movimentação no campus Marco Zero.

SUMAÚMA DE CONTOS

Será lançada hoje à noite no Teatro das Bacabeiras a antologia de contos do projeto “Sumaúma – Poetas, Contistas e Cronistas do Meio do Mundo”, uma iniciativa de um grupo de escritores amapaenses que reúne 17 contistas em 29 textos ficcionais.

A obra é composta por escritores da lavra de Paulo Tarso Barros, Alcy Araújo, Manoel Bispo, Ângela Nunes, Sânzia Brito, Osvaldo Simões Filho, César Bernardo, Mauro Guilherme, Carla Nobre, Gilberto Pinheiro, Ricardo Pontes, Joseli Dias, Jonas Teles, João Barbosa, José Maria, José Pastana e Fernando Canto.

A coletânea é parte do projeto que pretende realizar mais dois livros: um de crônicas e mais outro de poesias de autores locais, objetivando disseminar a produção literária amapaense até então velada por falta de recursos financeiros que proporcionassem a publicação.

ESTAÇÃO CIENTÍFICA

Atenção pesquisadores: Os editores da revista Estação Científica comunicam que o prazo para submissão de artigos científicos para o primeiro número encontra-se aberto até dia 10 de dezembro.

A revista vai publicar artigos inéditos em várias áreas do conhecimento, artigos de revisão de literatura, ensaios, entrevistas, experimentação, grupos de estudo e de pesquisa, pontos de vista, relatos de experiência/caso, relatos de práticas pedagógicas e resenhas.

Os artigos devem ter entre 10 e 20 páginas, observar os critérios de publicação e deverão ser submetidos pelo site http://periodicos.unifa.br/index.php/estacao ou por meio do portal de periódicos da UNIFAP: http://periodicos.unifap.br .

MÚSICOS

Músicos do Amapá Os músicos amapaenses comemoraram no dia 22 a passagem do seu dia com grande programação realizada na sede dos subtenentes e sargentos, na rodovia JK, pela Associação dos Músicos e Compositores do Amapá – AMCAP.

Dia consagrado à Santa Cecília, padroeira dos músicos, também é comemorado pelo município, através de Lei Municipal do vereador Marcelo Dias.

A coluna registra a data e parabeniza tod@s @s coleg@s que contribuem e/ou já contribuíram para o desenvolvimento dessa arte em nosso Estado.

JUÍZES ESCRITORES

rui guilherme Saiu o resultado do Concurso de Contos dos Magistrados, promovido pela AMAAP. Ganharam respectivamente os drs. Rui Guilherme, Alaíde e César Augusto. O concurso, de alto nível literário, foi coordenado pelo dr.Mazurek e julgado pelo Paulo Tarso Barros, Mauro Guilherme e este colunista. Depois daremos mais detalhes.

ZUNIDOR

Nos dias 4 e 5 de dezembro a AMCAP realiza a gravação do 2º DVD dos cantores amapaense no TB. A entrada é um brinquedo para o Natal das crianças pobres.

semana_consciência Encerra hoje a programação da Semana de Consciência Negra, promovida pela União dos Negros do Amapá – UNA, no Centro de Cultura Negra, no Laguinho. A programação da abertura, dia 20 foi comovente. Muita religiosidade e apresentações musicais marcaram o evento, com grupos de cantores e músicos trajados ricamente com roupas coloridas

pilão O show do Pilão foi irretocável. Amanhã o grupo vai tocar na Paróquia Jesus de Nazaré em show beneficente na luta contra o câncer. No dia 07 faz o “Encantaria”, na UNA, comemorando os 35 anos de existência e atividades.

Tinha muito perna-de-pau jogando bola na festa dos músicos. Todos queriam ser goleiros, mas só dava para escalar dois por jogo.

Hoje faz 35 anos que a Polícia Militar do Amapá foi criada através da Lei no. 6.270, que depois foi regulamentada pelo Decreto no. 79.108, de 11 de janeiro de 1977.

A Revista Desenbahia está fazendo chamada para artigos até o dia 30 de novembro. Informações: revista@desenbahia.br.gov.br .

Osmar Jr. lança CD e DVD “Bar do Abreu” hoje à noite no Ceará da Cuíca. Mesas a 80 pilas com direito aos dois produtos.

Acessem o Blog “Canto da Amazônia” para ver a carteira de estudante do Tadeu Pelaes, do C.A.

Será no dia 17 de dezembro a confraternização natalina dos servidores da UNIFAP, às 08h00 no hall da reitoria. Detalhes do evento provocaram veementes protestos da amiga Elayne Batista: - Não aguento mais só cofee break ligth, disse ela, - Eu quero engordar, gente!

Inderê! Volto zunindo na sexta.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SHOW “CANTIGA DE AMIGOS” COM SILVIO CARNEIRO E YAN FERNANDO NO SESC CENTRO

Cartaz cantiga Silvio Carneiro e Yan Fernando encontram-se no Sesc Centro na próxima terça-feira, 30 de novembro, no show Cantiga de Amigos onde interpretam canções consagradas no disco Cantoria 1, gravado em 1984 na Bahia. O show faz parte do Projeto Botequim e traz para o palco músicas de Elomar, Geraldo Azevedo, Xangai e Vital Farias que retratam a vida sertaneja cantada por autênticos nordestinos que traduzem o sertão brasileiro como poucos no show que deu origem ao disco. O sucesso do primeiro lançamento os levou de volta aos palcos para gravar o Cantoria 2, em 1988.

Os músicos- Os dois artistas comungam da mesma paixão por músicas brasileiras e a diferença de idade não impediu as afinidades.

silvio carneiro Silvio Carneiro tem 33 anos, nasceu na Paraíba é jornalista e chegou no Amapá em 2005. Tem a música como companhia desde a infância, cresceu ouvindo de clássicos eruditos a populares e aprendeu violão com amigos. Fã de Raul Seixas deixou que o rock entrasse em seu repertório na sua passagem pelo movimento estudantil. Integrou bandas de rock ainda no nordeste, mas a tendência pelo estilo progressista de Raul e Zé Ramalho levou Silvio para as rodadas de violão entre amigos acadêmicos onde fazia imitações de seus ídolos. Além de excelente intérprete, Silvio compõe e depois de alguns anos dedicados ao jornalismo, retornou em 2010 à música com o show “Raul Seixas-21 Anos Sem Luar”. Logo após apresentou no Sesc o “Nordeste Independente” e no Complexo Araxá, “As Aventuras do Maluco Beleza no Reino de Avohai”.

yan-fernando[2]Yan Fernando é um jovem amapaense de 19 anos que descobriu muito cedo a música. Assim como Silvio, Yan cresceu escutando músicas de artistas consagrados e se aventurou primeiro na percussão em festas particulares e ampliou esse conhecimento nas baterias de diversas escolas de samba no Amapá. Yan tenta unir o talento nato ao conhecimento acadêmico. Aos 8 anos entrou na Escola de Música Walkíria Lima mas o tempo dispensado com teorias não estava nos planos do garoto que já queria tocar instrumento. Desistiu, mas ao completar 15 anos retornou à Escola de Música onde decidiu se aperfeiçoar de fato em música estudando violão erudito. Aluno de Beto Oscar, Fabinho Costa e André Pantoja, Yan atuou como tenor na Orquestra Oscar Santos durante dois anos e participou de vários recitais da escola de música. Suas influências musicais vão de Villa Lobos à Paulinho Nogueira, Elomar, Chico Buaque, Belchior, Turíbio Santos e muitos outros. Em 2010 foi convidado por jovens artistas amapaenses para participação em shows, como a exemplo de Rebeca Braga e o próprio Silvio Carneiro.

O Show- Em Cantiga de Amigos a dupla vai interpretar músicas como Sete Cantigas Para Voar, Kukukaya, Ai Que Saudade D’ocê, ABC do Preguiçoso, Saga da Amazônia, Moça Bonita, Arrumação e outras que não fazem parte do repertório do disco, como as de autoria de Renato Teixeira, Almir Sater e Paulinho Pedra Azul. “Podemos definir este show como um resgate da música brasileiríssima de raiz”, fala Silvio.

SERVIÇO:

Data: 30 de novembro / Local: Sesc Centro / Hora: 22:00 / Entrada franca

Grupo Pilão apresenta o Show Musical “ENCANTARIA”

Por Sonia Canto

para blog_ O Grupo Pilão sobe ao palco no dia 07/12/10, no Centro de Cultura Negra, a partir das 23:00 para apresentar o show musical “ENCANTARIA”, que comemora seus trinta e cinco anos de atividade musical ininterrupta.

Formado por Eduardo Canto, Orivaldo Azevedo, Leonardo Trindade, Juvenal Canto, Bi Trindade e Fernando Canto, o Grupo Pilão se apresenta com a direção musical do Maestro Manoel Cordeiro e uma banda base formada pelos músicos Alan Gomes (contrabaixo), Fabinho (guitarra), Paulinho Queiroga (bateria) e Bibi (sopros).

Encantar significa exercer suposta influência mágica; seduzir; cativar; fascinar; agradar extremamente; provocar irresistível admiração. Para os entendidos em magia, Encantaria é produto da fusão dos cultos amerabas e cristãos e dos elementos da Natureza: Ar, Fogo, Terra e Água.

É com esta proposta de encanto e magia que o show “Encantaria”, será apresentado com um repertório mesclado de canções que já fazem parte do cancioneiro popular, e inéditas que vem sendo ensaiadas há dois meses.

As músicas inéditas que serão apresentadas ao público refletem o trabalho de pesquisa do grupo desde o lançamento de seu último trabalho, o CD Trevelê (1996), e trazem ritmos diversificados: batuque, guarânia, samba, guitarrada, boi bumbá, marabaixo, cacicó, samba-choro e xote.

Desde 1975, quando surgiu no III Festival Amapaense da Canção – FAC, usando o pilão como instrumento musical na música “Geofobia”, de Fernando Canto e Jorge Monteiro, o Grupo Pilão iniciou um percurso de valorização e divulgação da música local que influenciou definitivamente a criação musical do Estado. Nesse período realizou inúmeros shows e gravou três discos e representou o Amapá no Brasil e no exterior.

Tendo sobrevivido por mais de três décadas lutando bravamente em prol da nossa música, sua base de componentes continua a mesma juntamente com as idéias de valorização de nossas coisas, através da pesquisa e da preservação dos valores mais autênticos da cultura amapaense.

A produção executiva do Show “Encantaria” é de Sonia Canto Produções e a direção artística é assinada por Tomé Azevedo.

Serviço:

Local: CENTRO DE CULTURA NEGRA

DATA: 07/12/10 HORA: 23:00H

MESA: 50,00

Informações: 8138-9690/9149-9536

Osmar Jr. e Renivaldo Costa no Ceará da Cuíca

osmar_ O cantor e compositor Osmar Jr. volta aos palcos nesta sexta-feira, 26, no Ceará da Cuíca com o show “Osmar Junior ao vivo”. O espetáculo faz parte de uma série de apresentações que o artista pretende realizar até o final do ano, para lançar seu mais novo trabalho: um box com CD e DVD intitulado “Osmar Jr. no Bar do Abreu”.

O disco é uma coletânea com dez músicas onde ele apresenta novas canções e regrava antigos sucessos. Já o DVD reproduz o show que originou o compacto e traz entrevistas e making off. O CD foi gravado ao vivo no próprio Bar do Abreu no dia 7 de julho de 2008, durante um show que contou a participação dos músicos Cleverson Baía, Valério de Lucca, Beto oscar e Ceará da Cuíca. No estúdio Tarumã, onde o disco foi aperfeiçoado, houve ainda a participação dos baixistas Taronga, Alan Gomes e Odair.

De acordo com Osmar Jr. o disco é um tributo ao mais tradicional ponto de encontro da boemia amapaense. O local já foi classificado pelo saudoso jornalista Hélio Pennafort como “o espaço mais democrático do Amapá”. “Sou frequentador do Bar do Abreu há mais de 20 anos e vinha pensando neste projeto há bastante tempo”, confessa o poetinha.

Para a produção do CD, Osmar Jr. contou com o apoio de José Ronaldo Abreu, proprietário do bar, além do patrocínio de João Milhomem, José Carlos Tavares, André Barreto e Alejandro Cadena.

Dentre as faixas do disco esta a inédita “O abreu abriu o bar” (Osmar Jr.) além de regravações de Fernando Canto (“Pedra negra”, que venceu festivais no final dos anos 70 e foi censurada), Zito Borborena (“Ilha do Marajó”) e sucessos conhecidos como “Pedra do Rio” e “Kizomba”.

O lançamento do Box com CD e DVD será no Ceará da Cuíca, a partir das 22h, na Avenida Piaui, entre Jovino Dinoá e Leopoldo Machado. A mesa custa 80 reais e dá direito ao produto.

renivaldoNo mesmo local, será vendido o livro “Papo de boteco – contos e crônicas escritos no Bar do Abreu”, que a exemplo do mais recente trabalho de Osmar Jr também homenageia o Bar do Abreu. Com fotos dos personagens, a obra é uma coletânea de textos publicados na imprensa amapaense que contam histórias e estórias de “abreulistas”, desde os que já se foram, como os jornalistas Hélio Penafort, Alcy Araújo e Jorge Ernani, o escritor Carlos Cordeiro, o poeta Isnard Lima; e de quem ainda freqüenta o bar, bebedores ou não, como Bira, Fernando Canto, Emanoel Reis, Paulinho Lopez, os proprietários e até o autor.

Em 104 páginas, Renivaldo conta os “causos” divididos em 44 textos que deixam o leitor com impressão de que estão realmente no balcão do bar, escutando os ruídos típicos de copos e garrafas, ao som de música variada, convivendo com os personagens em diferentes níveis de embriaguês ou sobriedade, e participando das histórias reais porém com os exageros próprios dos que freqüentam balcões de bar.

A obra também está disponível na Banca do Dorimar, Banca do Ceará, Norte das Águas, Consultório do Dr. Jorge Alfeu e, claro, no Bar do Abreu.

Gravação do DVD da AMCAP

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O maior rio do planeta

Por Ray Cunha

rio amazonas O rio Amazonas, que nasce no rio Apurimac, na parte ocidental da cordilheira dos Andes, no sul do Peru, na América do Sul, e deságua no oceano Atlântico, é o maior rio do mundo, 140 quilômetros mais longo do que o africano Nilo - que nasce no rio Kagera, próximo à fronteira entre o Burundi e Ruanda, na África, e deságua no mar Mediterrâneo -, tido como o mais comprido do planeta durante muito tempo. A comprovação foi feita por uma das mais sérias instituições científicas do Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que utilizou dados obtidos em expedição à nascente do Amazonas e imagens de satélite. Segundo o Atlas Geográfico Mundial, a extensão do Nilo é de 6.695 quilômetros e a do Amazonas, de 6.515 quilômetros. Os livros de geografia precisam ser reeditados. Agora, o rio Amazonas mede 6.992,06 quilômetros e o Nilo, 6.852,15 quilômetros.

A equipe que chegou a essa conclusão, divulgada em julho de 2008, foi chefiada pelo geólogo Paulo Roberto Martini, 60 anos, da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe. Ele comentou que as medições anteriores foram feitas sem o uso de metodologias científicas: “Esse resultado mostra que, às vezes, as verdades mais bem estabelecidas têm de ser revistas porque podem simplesmente não ser verdade. Pelo menos desta vez não temos acho. Temos metodologia científica e, por essa leitura, por essa interpretação, você pode colocar nos livros que o Amazonas é maior do que o Nilo”.

Em junho de 2007, uma expedição, que incluía representantes do Inpe, do Instituto Geográfico Militar do Peru, da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já havia determinado a nascente do rio Amazonas. Desde o início dos anos 1990, cientistas do Inpe se debruçam sobre o gigante, por meio de sensoriamento remoto e geoprocessamento, tecnologias utilizadas no Programa Espacial Brasileiro. Foram usadas imagens dos satélites norte-americanos Landsat, distribuídas pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Os pesquisadores marcaram o traçado dos dois rios e com ajuda de um programa de computador calcularam a extensão deles da nascente à foz.

Em maio de 2008, o vice-presidente da Sociedade Geográfica de Lima, professor Zaniel Novoa, após 12 anos de investigação, confirmava a versão do explorador polonês Jacek Palkiewicz, que, em 1996, localizou a nascente do Amazonas e afirmou que o rio sul-americano era mesmo o maior do mundo. Até a segunda metade do século XX, os geógrafos apontavam o Nilo como o maior. Desde que o Amazonas foi batizado, em 1500, foram identificadas nascentes em vários pontos do Peru, contudo a nascente verdadeira se encontra a 5.179 metros de altitude, próximo do monte nevado Quehuisha, na região sul de Arequipa, no Peru.

O Amazonas foi chamado pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pizón, em 1500, de Mar Doce; o também espanhol Francisco Orellana mudou-o para Amazonas, em 1542. O colosso marrom, que no estado do Amazonas recebe o nome de Solimões e nos estados do Pará e Amapá, de Amazonas, é a espinha dorsal da maior bacia hidrográfica do mundo, formada por 7 mil afluentes, abrangendo uma área, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), de 6,110 milhões de quilômetros quadrados, no norte da América do Sul, banhando Peru (17%), Equador (2,2%), Bolívia (11%), Brasil (63%), Colômbia (5,8%), Venezuela (0,7%) e Guiana (0,2%). Só a bacia do rio Negro, afluente da margem esquerda do Amazonas, contém mais água doce do que a Europa.

Da nascente até 1.900 quilômetros, o Amazonas desce 5.440 metros; desse ponto até o Atlântico, a queda é de apenas 60 metros. Suas águas correm a uma velocidade média de 2,5 quilômetros por hora, chegando a 8 quilômetros, em Óbidos, cidade paraense a mil quilômetros do mar e ponto da garganta mais estreita do Amazonas, com 1,8 quilômetro de largura e 50 metros de profundidade.

Fora do estuário, a parte mais larga situa-se próxima à boca do rio Xingu, à margem direita, no Pará, com 20 quilômetros de largura, mas nas grandes cheias chega a mais de 50 quilômetros de largo, quando as águas sobem ao nível de até 16 metros. O Amazonas é navegável por navios de alto-mar da embocadura à cidade de Iquitos, no Peru, ao longo de 3.700 quilômetros. Seu talvegue, nesse curso, é sempre superior a 20 metros, e chega a meio quilômetro de profundidade próximo à foz. A bacia amazônica conta com 25 mil quilômetros de rios navegáveis.

A vazão média do rio-mar é de pelo menos 200 mil metros cúbicos de água por segundo, o suficiente para encher 8,6 baías da Guanabara em um dia. No Atlântico, despeja, em média, 400 mil metros cúbicos de água por segundo; chega, portanto, a despejar 600 mil metros cúbicos de água por segundo no mar. Num único dia, o Amazonas deságua no Atlântico mais do que a vazão de um ano do rio Tamisa, na Inglaterra. O colosso contém mais água do que os rios Nilo, na África; Mississipi, nos Estados Unidos; e Yangtzé, na China, juntos.

O Amazonas despeja também no mar 3 milhões de toneladas de sedimento por dia, 1,095 bilhão de toneladas por ano. O resultado disso é que a costa do Amapá está crescendo. A boca do rio, se escancarando do arquipélago do Marajó, no Pará, até a costa do Amapá, mede 240 quilômetros, e sua água túrgida de húmus penetra 320 quilômetros no mar, atingindo o Caribe nas cheias e fertilizando o Atlântico com 20% da água doce do planeta. O húmus despejado pelo gigante no Atlântico torna a costa do Amapá uma explosão de vida marinha, o ponto mais rico da Amazônia Azul, no Brasil mais mal-guardado pela Marinha de Guerra e menos estudado pela academia.

“O que me intriga, não apenas no conteúdo da educação fundamental brasileira, mas também na base de informações científicas e acadêmicas no Brasil, é a pobreza de informações ambientais e biológicas sobre essa região, batizada de Mar Dulce pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, em 1500, mesmo ano em que Cabral achava o Brasil” – comenta o oceanógrafo Frederico Brandini.

Ele lembra que, no Amapá, as autoridades estão pouco preocupadas com o estudo da Amazônia Atlântica, e as costas do Amapá e do Pará são um inacreditável banco de vidas marinhas, coalhado de piratas, que vão lá pegar, de arrastão, pescados, lagostas, camarão e outros frutos do mar. Pescadores paraenses já capturaram na altura da Vila de Sucuriju, no município de Amapá, marlim azul de meia tonelada. Nem Ernest Hemingway conseguia espadarte desse porte no Gulf Strean.

Foto: Sônia Canto

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O VELHO BARÃO

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 21/11/10.

grupo barão do rio brancoA emoção de entrar no prédio da escola Barão do Rio Branco depois de alguns anos me acendeu a memória e me revirou os sentidos.

191120105508 Ao chegar lá para dar depoimento, como ex-aluno, a um grupo de universitários do IESAP que fazia um trabalho sobre a pedagogia ali empregada, pude contemplar o busto de cimento do patrono da escola, José Paranhos da Silva, em um pedestal no início da escada à direita. Ele parecia sofrer com os olhos apertados mirando a outrora pacata Avenida FAB e a praça que leva seu nome em homenagem a grande vitória na questão do Contestado, a 1º de dezembro de 1900, o famoso Laudo Suiço.

191120105509O busto mostrava as cicatrizes do tempo, visíveis pelas emendas e consertos causados por acidentes, afinal milhares de crianças e adolescentes desceram e subiram as escadas com suas algazarras bem peculiares da idade. A seu lado o busto de Cabralzinho marcava presença como o elemento que determinou, com sua proeza, o início e o fim de um processo que há séculos se arrastava entre o Brasil e a França. Francisco Xavier da Veiga Cabral com seus vastos bigodes e cabelos partidos ao meio rugia em silêncio sua dor da incompreensão. Estava cego, pois algum estudante lhe pichou o olho direito. Contudo, continuavam ali, os dois, lado a lado, como guardiões daquele primeiro templo educacional, que ainda hoje carrega a fama de ser o mais importante educandário do Estado, desde os tempos de Território Federal.

foto fernando_grupo escolar Nessa hora o tempo se confunde e a gente se povoa de lembranças: vê o corre-corre da hora do recreio, o riso, as bochechas vermelhas e o suor na ponta do nariz; fecha os olhos para não sentir o olhar austero da professora Cecília Pinto de Azevedo Costa repreendendo quem deixou de fazer o dever de casa e aplicando palmadas com a régua de acapu na mão do aluno “relapso”; relaxa ao ouvir a voz amiga da professora Graziela dos Reis quando algum de nós “foi chamado à Diretoria”, e se satisfaz quando lembra que entendeu facilmente a operação matemática e as regras gramaticais tão bem explicadas pela mestra Cacilda Barreto.

Depois palpitam outras memórias, resíduos embandeirados de uma época. Moleques saem em bandos pelas ruas, descendo a São José num tempo que não havia ônibus nem trânsito perigoso, espirrando lama um no outro na rua de piçarra, mexendo com o vigia da Escola Industrial, declamando versos de sacanagem para ele: “Deu meio-dia/ Panela no fogo/ Barriga vazia/ ... E saem em desabalada carreira para chegar rápido em casa e pegar o “boião”. Ora, o leite “peidão” da Aliança Para o Progresso que o Tio Sam mandava para o governo brasileiro não dava “nem pro chibé”, não tinha assim tanta “sustança”. Ah, sim, o uniforme sujo de lama, o ralho da mãe e a seriedade imperativa da hora sagrada do almoço...

Um dia depois de ter assistido a um filme de Tarzan, o Rei das Selvas, decidi ser como ele e pus-me a pular do muro ao galho da mangueira da frente da escola. Caí e fraturei o braço. De quebra ainda menti ao contar a versão de que caíra no pedestal da bandeira. Dei preocupação aos pais e professores, mas fui cuidado e enfaixado em gesso pelo eficiente enfermeiro japonês Harada, meu vizinho do Morro do Sapo, lá no bairro do Laguinho. Tempos depois levei uma surra do velho Antonio, meu pai, ao contar a verdade me vangloriando do feito infantil, mas estúpido.

Assisti muitas películas no cine Territorial que ficava contíguo à escola e não esqueço jamais o cheiro dos frutos da enorme mutambeira ao lado do prédio, pois foi sob sua sombra, quando fazia a quinta série e me preparava para a Admissão ao Ginásio, que o amor passou pela primeira vez na minha frente. Aqueles lábios arroxeados, o sorriso lindo e o andar rebolante da morena me fizeram sonhar uma eternidade num segundo. Por isso até hoje acho que o amor tem cheiro de óleo de mutamba.

Quando saí pelo portão, olhei para trás e lembrei que o único pé de pau-brasil que havia na cidade era o da frente do antigo Grupo Escolar. Era ali que história do Brasil se materializava para nós. Foi ali nesse lugar que me iluminaram de saberes e de certeza que os sonhos se realizam. Obrigado, velho Barão.

Fotos do acervo de Fernando Canto. A foto do prédio do Grupo Escolar Barão do Rio Branco é de 1965.

domingo, 21 de novembro de 2010

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Paulicada no jornal “A Gazeta” de 19/11/10

SANTANDER

121120105424O Grupo Santander inaugurou na semana passada, dia 12, a agência do campus Marco Zero do Equador da UNIFAP, com a presença de seu representante Marcelo Vulcano, que também veio à região Amazônica divulgar o programa de Apoio ao Ensino Superior. O programa do banco já investiu R$ 1,8 bilhão, com a concessão de mais de 70 mil bolsas de estudos, nos países que atua desde 1996.

No dia 30 de novembro o reitor José Carlos Tavares estará em Belém para participar, junto a outras universidades amazônicas, da assinatura de convênio com o banco, para o Programa Santander Universidade de Mobilidade Nacional, que oferece bolsas de estudo para alunos de graduação realizarem intercâmbio cultural em universidades do Norte a Sul do Brasil.

GRUPO PILÃO NA EXPOFEIRA

O Grupo musical Pilão, que este ano completou 35 anos de atividades, faz show hoje à noite no parque de exposições da Fazendinha. Amanhã toca durante as comemorações da Semana da Consciência Negra, no Laguinho.

Com a direção musical do maestro Manoel Cordeiro e a produção de Sonia Canto Produções, o conhecido grupo vai fazer o show “Encantaria” no dia 07 de dezembro (véspera do feriado de Nossa Senhora da Conceição), se preparando para a edição de novo CD e DVD.

LÍNGUA PORTUGUESA OU BRASILEIRA?

De 23 a 25 de novembro, no campus Marco Zero, ocorrerá o IV Seminário de Letras, uma realização da turma do curso de Letras 2008, com a participação de outras cinco Instituições de Ensino Superior que têm o mesmo curso.

O tema do encontro será a velha pergunta que até hoje se discute e ainda não se chegou a uma conclusão: “Língua Portuguesa ou Brasileira? Discutindo a Identidade Lingüística do Brasil”.

As informações podem ser obtidas no endereço: www.ivseminariodeletras.webnode.com .

SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

missa quilombos 2009 (2)Hoje, como parte da programação da Semana da Consciência Negra, a Seafro realiza na escola José Bonifácio, do Curiaú, o “Seminário da Diversidade”, e discute aspectos da Lei 139, que obriga as comunidades a implantarem a cultura africana em seus currículos escolares.

Amanhã, junto com a Fundação Palmares e COMIS-PMM, entrega na Ressaca da Pedreira a certificação das terras de remanescentes de quilombos. À tarde faz a 8ª Caminhada Zumbi dos Palmares e à noite, no Centro de Cultura Negra, reza na Missa dos Quilombos com o Padre Paulo Roberto, Pai Salvino e outros representantes das religiões de matrizes africanas. Depois todos dançam com os grupos folclóricos. (Foto: Marileia Maciel)

CONCURSO DA REVISTA LITERÁRIA

Até o dia 30 de novembro estarão abertas as inscrições ao I Concurso de Poesias Revista Literária – Edição 2010, que poderão ser feitas apenas por meio dos Correios.

A promoção é do Portal Revista Literária, do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal e da Scortecci Editora, para autores brasileiros maiores de 16 anos, residentes no Brasil. O tema é livre e a inscrição gratuita.

O prêmio será a edição de um livro com os 50 trabalhos selecionados, que divulgará os novos talentos da poesia brasileira. Informações: faleconosco@revistaliteraria.com.br .

AUMENTO POPULACIONAL

ibge

Os dados preliminares do censo 2000 x 2010 para o Amapá indicam que o Estado teve uma variação no período de 35,96%. Hoje somos 648.553 habitantes e a capital já possui 387.539, com um aumento de 36,79%.

Pedra Branca do Amapari foi o município que teve o maior aumento populacional: 149,54%, seguido de Pracuúba (55,73%),Tartarugalzinho (54,88%) e Oiapoque, com 54,75% (Fonte: IBGE).

PET PARA INDÍGENAS

joão batista_unifap

Foi aprovado o Programa de Educação Tutorial – PET - do curso de Educação Indígena, no qual vai se trabalhar a gestação de Núcleos Museológicos Indígenas em algumas aldeias do Estado.

O edital do PET está no site da UNIFAP e tem como proposta fortalecer a identidade cultural das aldeias indígenas por meio desses Núcleos, os quais atuarão na formação de profissionais para militarem nessa área do conhecimento. O programa é coordenado pelo prof. dr. João Batista Gomes de Oliveira.

ANTECIPAÇÃO DE LANÇAMENTO

Foi antecipado para hoje o lançamento do samba-enredo para o carnaval de 2011 dos Piratas Estilizados. Estava tudo certo para ocorrer amanhã, no Bar do Abreu, mas a diretoria da escola resolveu que esta é melhor data, pois recebe o cantor Paulinho Pontes, que levará o samba na Ivaldo veras. Paulinho é do grupo de intérpretes da Beija Flor de Nilópolis e de outras escolas do grupo de acesso do carnaval do Rio.

Na ocasião a famosa bateria nota 10 dos Estilizados estará presente para homenagear o Bar, que é o enredo do carnaval 2011. Depois o pagode vai rolar.

ZUNIDOR

O escritor José Saramago (“Ensaio Sobre a Cegueira”) completaria 88 anos no dia 16 passado.

Entreouvido no Calçadão do Valdir: Pedro: - Mas o Zé Ramos é uma constante vítima de arma branca. Joaquim: - Como já, então? Pedro: - É que a loura que ele anda vive dando facada nele.

O colegiado do curso de Artes Visuais promove de 30 de novembro a 03 de dezembro a Semana de Cultura e Arte da UNIFAP, coordenada pelos professores João Batista e Cristiana Nogueira. No projeto serão apresentados trabalhos/exposições artísticos/estéticos de alunos das turmas 2009 e 2010. Será na Galeria de Arte, Pavilhão L.

Já dizia o Ivan Preto no balcão do Abreu: - Bacana é o gato que não toma banho e só anda limpo.

fernando castro amoras

Fernando Castro Amoras, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNIFAP informa que o Livro Resumo do Congresso de Iniciação Científica, que já está nas mãos dos estudantes em versão CD-ROM, deverá sair impresso em 2011.

Inderê! Volto zunindo na sexta.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CIDADE LANÇANTE

Por Fernando Canto

Fotos: Juvenal Canto

Esta baía

é uma grande gamela de líquidas contorções, ondas que bailam sob a música do vento.

Esta baía

não guarda mais o sangue inglês do comandante Roger Frey que pereceu sob a espada implacável do capitão Ayres Chichorro a 14 de julho de 1632, um dia claro, aliás, de verão amazônico, quando o sol derretia naus e o piche dos tombadilhos. Nem o sol, nem o vento, nem o oceano lá adiante cogitavam que naquela mesma data, dali a 157 anos o povo francês tomaria a Bastilha.

Na margem

esquerda deste rio imensurável uma floresta úmida abrigava uns seres esquisitos, cabeludos e cheios de penas coloridas que os portugueses conheciam por Tucuju, Tikuju, Tecoju ou Tecoyen. Segundo ensina a mestra Dominique esse era um povo de origem Aruaque, ocupante da Costa Sul do Amapá que se tornou aliado dos holandeses, dos franceses e dos irlandeses. Por isso foi atacado impiedosamente por uma expedição do desbravador Pedro Teixeira no ano da graça de 1624. Sua história, no contexto da nossa, dá conta que após a façanha do capitão português esse povo procurou abrigo no Cabo do Norte, mas foi reduzido pelos jesuítas a uma missão no baixo Araguari e pelos capuchinhos no baixo Jari. É provável que um pequeno grupo tenha sobrevivido ao sul do município de Mazagão até o início do século XIX. Desse pequenino grupo restaram apenas as cinzas do tempo e um soluço quase imperceptível que morre a cada segundo na agonia de todos os silêncios.

Esta baía

guarda estranhos segredos: uns são contados em língua morta, quando o hálito da madrugada sopra depois que a lua assim determina. Esses são de difícil entendimento. Os outros pairam nos escaninhos dos tabocais ou na boca das pirararas. Dificilmente serão contados.

O estuário

deste rio dadivoso acelera a corrente de 2,5 quilômetros por hora para jogar no oceano cerca de 220 milhões de metros cúbicos de água por segundo. O inacreditável é que apenas o desaguar de 24 horas daria para abastecer de água potável uma cidade superpovoada como São Paulo por quase 30 anos. Números são números, diria o matemático. Nessa foz está a redenção de nossa terra, diz o sonhador sem perder sua utopia. Do barro e dos detritos aluviais se faz a vida. E ela está ali dentro das águas à espera da sustentação das mãos trabalhadoras.

Esta baía

não se faz só de águas e barcos deslizando ao sabor das ondas. Ela abriga uma pequena jóia nascida sobre a várzea dos aturiás, velada há dois séculos por uma fortaleza plantada em cima de falésias.

Macapá,

velho pomar das macabas, carrega dentro de si a similitude de um éden tropical das narrativas dos antigos viajantes, até por ser banhada por tantos líquidos e cheiros advindos diariamente pela chuva refrescante e pela espuma das lançantes marés.

Macaba,

Maca-paba: gordura, óleo, seiva do fruto da palmeira, vida e princípio desta terra, posto que a sombra traz a ternura e contrasta com o benefício da luz que se espraia por glebas de esperança.

Antiga terra

da maleita e da febre terçã. Terra do “já teve” já não és. Mas alguns homens ainda jogam em teu traçado xadrez e, silenciosos, manipulam segredos e conspiram contra ti, a degradar-te e degredando teus verdadeiros sonhos e tua vocação para o abrigar da vida que se espera. Mesmo assim a felicidade bem insiste em se hospedar em ti.

Embora

batizada com nome de santo - especialíssimo no panteão católico - teus habitantes não ficam isentos dos perigos: pés se torcem ou se fraturam todos os dias nos buracos das ruas outrora bem cuidadas.

Agora

eu fico aqui me perguntando: por que quando te fundaram ergueram um pelourinho? - “Símbolo das franquias municipais”, dirão os doutos e sisudos professores. Ora, quantos homens não castigaram seus escravos até à morte após a partida do governador Francisco, porque estes aproveitaram para fugir durante a solenidade.

Um tralhoto

viu e contou ao Mucuim que diz-que o Ouvidor-Geral e Corregedor Paschoal de Abranches Madeira Fernando tomou um porre de excelente vinho do Porto ofertado a ele nesse dia pelo plenipotenciário capitão-general Mendonça Furtado, que daqui zarpou para o rio Negro para demarcar as fronteiras do reino, a mando de Pombal. Foi um dia de festa aquele 04 de fevereiro de 1758, porque nasceu naquele instante a vila de São José de Macapá.

E ela cresceu

e se fez linda e amada, pois os caruanas das águas vez por outra rondam em espirais por aí, passeando em livros abertos, nos teclados dos computadores, pelas portas e pelos filtros dos aparelhos de ar condicionado, nos protegendo das agruras naturais e das decisões de homens isentos do compromisso de te amar.

Da mão para a boca

da mão para a boca Por Ray Cunha ( http://raycunha.blogspot.com)

William Faulkner disse à dupla de entrevistadores da The Paris Review que o melhor emprego que já teve foi o de gerente de bordel. Dava-lhe liberdade econômica, deixando-o livre do medo da fome e de não ter onde dormir. Um prostíbulo é quieto de manhã, o turno de trabalho preferido dos escritores; e, à noite, se gostar de vida social, ele a terá. Dessa forma, um rendez-vous pode proporcionar segurança financeira, a solidão necessária para o ato de criar e diversão.

Um escritor de primeira categoria não precisa de nada disso, é claro. Escreverá na prisão, na sarjeta ou no Copacabana Palace. Como é de primeira classe, o ambiente não piorará, nem melhorará seu texto. Mas, de certa forma, dirigir um bordel representa o lugar ideal para o escritor, pois se a segurança financeira não influi no resultado da criação do artista, proporciona tranquilidade ao homem. E há a questão do silêncio pela manhã.

Inúmeros escritores foram artistas da fome na juventude, como o famélico personagem de Knut Hamsun. Viciados, fazem quase qualquer coisa para alimentar o vício, pois todo escritor classe A sabe que se não parir as personagens que o atormentam morrerá prematuramente; muitas vezes, louco. Então escrevem.

Escritores de primeira categoria só sabem escrever. Se nascem ricos, tanto melhor, do contrário penam durante muito tempo realizando todo tipo de trabalho para não morrer de fome. Gabriel García Márquez, o gigante de Cem Anos de Solidão, chegou a pedir esmola em Paris, onde outro monstro, Ernest Hemingway, teve que matar pombos, escondido, é claro, para se alimentar. Depois de O Sol Também se Levanta, Papa não precisou mais atacar pombos para saciar a fome.

Para muitos escritores classe A a briga inicial é manter o estômago aquecido. Outro tipo de tormento são as dívidas, pequenas, mas impagáveis, e às vezes grandes, que artistas da fome são obrigados a contrair. A angustiante falta crônica de dinheiro, a eterna corrida atrás de grana, os constantes pedidos de pequenos empréstimos aos amigos, as roupas puídas, os sapatos furados, são outras humilhações pelas quais passam os atormentados artistas da fome. Certa vez, convidado a um encontro num café com o diretor de uma revista na qual deveria assumir como editor, Gabriel García Márquez chegou antes do diretor e saiu depois dele, para que seu salvador não visse que o solado de um dos sapatos de Gabo estava solto, devido à absoluta falta de dinheiro para mandar consertá-lo.

Paul Auster foi outro que passou também pela falta de dinheiro. Auster é de Nova York. Tornou-se popular com Leviatã (1992). Incursionou pelo cinema. Foi o roteirista de Cortina de fumaça, Sem fôlego e O mistério de Lulu, que também dirigiu. A Companhia das Letras publicou, em 1997, Da mão para a boca - Crônica de um fracasso inicial (Companhia das Letras, 396 páginas, 1997). Da mão para a boca reúne 103 páginas de memórias; 49 páginas com três peças teatrais; 9 páginas sobre um jogo de cartas que Auster inventou para ver se ganhava algum dinheiro, mas não ganhou nenhum; e o romance policial A estratégia do sacrifício, com 205 páginas - algo na linha de Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Auster o escreveu na tentativa de ganhar algum. Ganhou. A princípio, pouco. Mas o suficiente para sentir o batismo de fogo, como diria o poeta amapaense Isnard Lima Filho.

Auster não é Faulkner, nem García Márquez. Num momento em que Faulkner não dava mais conta de sustentar a família com os livros que publicara, escreveu Santuário, um extraordinário romance de gangster que encheu seus bolsos. García Márquez já havia publicado meia dúzia de livros e devia a todo mundo quando escreveu Cem Anos de Solidão, que começou a vender como pão francês. Acontece que, para o artista da fome, ter um livro aceito por uma editora representa o mesmo que, para o alcoólatra, uma linha de crédito num bar - sem fiador, nem cheque pré-datado, nem limite. Um acontecimento único, embora improvável, na vida de um pé inchado.

Da mão para a boca narra as peripécias do artista quando jovem. Auster nasceu numa família da classe média, mas não deu pistas de que queria ser escritor, para não assustar ninguém. Apenas alimentava as baterias da criação e ia comendo o que lhe era servido à mesa, sem reclamar. Fez todo tipo de tarefa para aguentar-se, enquanto imergia no seu bordel particular, para trabalhar na Estratégia do sacrifício. Assim, Da mão para a boca é o dia-a-dia de um candidato a escritor.

Os iluminados não estão preocupados em obter carteirinha de escritor, nem com subvenções oficiais, nem em puxar saco de ninguém. Sabem que nada disso é capaz de aumentar seu talento. Sobrevivem aceitando quase qualquer serviço que lhes apareça. Não pedem muito, nem exigem coisa alguma que represente luxo. Só querem ter seu bordel particular, pois sabem que sem poder escrever serão alcoólatras a seco. Sem nem mesmo cachaça de Abaetetuba, uma das mais ordinárias do mundo, pois contém muita soda cáustica e água.

Neste Da mão para a boca, Auster mostra com precisão o drama de quem nasce com o dom de criar, pois para criar é preciso tempo, tempo que poderá ser precioso para a sobrevivência. A menos que se escreva logo de início algo como O sol também se levanta. Aí, dá até para viver em Paris.

Tudo é válido para o candidato a escritor, no seu esforço de criar; inclusive se expatriar no jornalismo. No caso de um escritor amazônida que sobrevive de jornalismo, em Brasília, e escreve sobre políticos, ele sabe que o encontro com a solidão, aquela solidão que só os estrangeiros sentem, desnorteante e seca como um soco na boca do estômago, é certa, mas sabe também que não há outro modo de chegar ao bordel. 

Brasília, 10 de maio de 2008

terça-feira, 16 de novembro de 2010

É BIG! É BIG!

carlos lobato Parabéns o amigo Carlos Lobato pelo seu aniversário. Sucesso.

CORNUCÓPIA DE DESEJOS

cornucopia Para Sônia, que comemora o seu aniversário no Dia da Proclamação da República.

Por querer expressar meu pensamento sobre as coisas em meu idioma, às vezes arrebato o próprio coração em sofridas angustiosidades e dissentimentos infaláveis.

É o caso do amor ensolarado que sinto agora, neste mirífico momento. Um assunto ressoante, uma prosa-cornucópia (onde abundância reina) a refratar-se sem a culpa do inexpressável parlar.

Não vejo como não ensopar-me de enluação nesta crônica de candura quase irrevelável, posto que o meu amor possa entender-me ou espumar-se para sempre para o inevitável espanto que a declaração enseja. Paresque um salto com a vara achada (depois de perdida) numa olimpíada de sonhos.

Assim eu declaro: a cobra norato, o m’boitatá e as luzes do fogo-fátuo se expiram na noite. Teus olhos não! Teus olhos ternuram a medida do dia, solfejam histórias e cantam paisagens inescrutáveis para os sonostortos dos mortais. Eu sou o arauto deste cenário-testamento a castigar retumbantemente o couro dos tambores; eu anuncio a sublime compreensão do “amooor” que ecoa em gargalhadas sobre as ondas do rio. Eu declaro ainda: a pedra em sua bruta forma tem dentro de si os elementos primordiais que suprem tua sede de amar. Balance a pedra e sinta o gutigúti da sua oferenda. Lapide-a, pois ela provém da terra, e então perceberá o calor do fogo da paixão libertadora e o ar morno que movimentará o sangue pelas entranhas.

Num átimo, um áugure qualquer (que são muitos e banais) lerá tua sorte: dirá augúrios, claro. Um aúspice (que estão cada vez mais raros) dirá tua sina no vôo dos louva-deuses. E te auspiciará de boas-novas e de valores inequívocos.

Ora, dizendo isso afirmo que sou aquele que nem sabe discursar suas dores, inda que saiba do futuro, pois habito o limiar do tempo. Eu sou a timidez em prosa e verso, aluno de poesia, mas prenhe de pecados, porque ingiro virtudes nos bares da noite e não sei segredar projetos inexequíveis. Não sei, juro pueril e ludicamente (mas com toda a sinceridade de uma parlenda) pela fé da mucura, torno a jurar pela fé do guará, torno a repetir pela fé do jabuti, que não sei mentir ao sabor do vento dos ventiladores que me sopram fumaça de cigarro. Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua ternura. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas.

Mas é de ti que quero o conteúdo dessa bilha onde Ianejar e seus pareceiros se abrigaram do fogo ardente e do dilúvio. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra.

Por isso eu sei que te amo.

Por isso vago ainda em fluidos imemoriais sempre presentes, antes do esquecimento das vitórias que juntos comemoramos. Por isso a ternura há de ser o mais farto elemento da imensa cornucópia de desejos que realizamos juntos. (Fernando Canto)

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 15/11/10

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta” de sexta-feira12.11.10

IRÊ PEIXE

Depois da exposição “Artistas Brasileiros 2009 – Novos Talentos/Pintura”, realizada no ano passado no Salão Branco do Palácio do Congresso Nacional, a convite do senador José Sarney, a artista plástica Irê Peixe agora se prepara para uma mostra individual em Macapá.

Mais madura, e trabalhando configurações a partir de elementos simbólicos da nossa capital, a pintora há tempos explora esses elementos que dão um teor romântico e ao mesmo tempo lúdico ao seu trabalho. Dizem que filha de R. Peixe, peixinha é.

DESENCONTRO DOS TAMBORES

O pessoal do Laguinho andava de orelha em pé por ter circulado a notícia que o mais importante evento da negritude da região seria transferido para a Expofeira, em Fazendinha, e não mais ficar no Centro de Cultura Negra. Os brabões do pedaço diziam que seria um absurdo mudar o lugar da tradição só para se encaixar nas curtas verbas do governo estadual. É que pela primeira vez em 16 anos que os eventos coincidem.

Mariléia Maciel, assessora de comunicação da UMA, confirmou à coluna que a Missa dos Quilombos e outras manifestações da programação serão realizadas no CCN, a partir do dia 20.

MOVIMENTAÇÃO

Segunda-feira passada foi um dos dias mais movimentados do campus Marco Zero. O auditório multiuso estava cedido para a Polícia Militar que fazia a formação de novos cabos e soldados. No auditório da reitoria ocorria a abertura da 3ª Semana de Arquitetura e Urbanismo, e paralelamente também acontecia o seminário de Ciências Ambientais e o Congresso de Iniciação Científica, além das aulas normais.

Na abertura do SAU o reitor em exercício, professor Antônio Filocreão, disse que “eventos como este dão tesão à academia porque o aluno quer algo mais que as aulas e provas”.

AUDIÊNCIA PÚBLICA DE CULTURA

Quase um “chororô de arrependidos” foi a tônica geral dos discursos dos representantes de órgãos culturais do Amapá, na terça, dia 09. Mas como é final de governo valeu até chutar cachorro morto.

O cantor Zé Miguel, que na ocasião disse representar o governador eleito, falou que “antes tarde do que nunca”, sobre o papel de muitos artistas que só agora se manifestaram, depois de se banharem bem nos favores dos governantes. Falou sobre a condição dos participantes do Encontro dos Tambores, que vêm do interior e não são contemplados com alojamentos condignos, que o Teatro das Bacabeiras é um atraso, e concluiu convocando os produtores culturais a mudarem, em função de um novo ciclo que se aproxima, para assim poderem determinar uma cultura de qualidade no Estado.

CADÊ A EMENDA DE 400 MIL?

A nova diretora do Centro Cultural de Formação Musical Walkíria Lima, pedagoga Josiane Siqueira, após apresentar o quadro de dificuldades pelo qual passa a escola (que são inúmeros), informou ao público presente que havia uma emenda parlamentar do deputado Jurandil Juarez no valor de 400 mil reais para compra de instrumentos musicais em 2010.

Mostrando a cópia do documento de depósito do valor da emenda, perguntou: “- Onde estão esses instrumentos?”. Se ela, que é a diretora, não sabe...

ALUGUEL DE 35 MIL

No rol das denúncias, o diretor do Teatro das Bacabeiras, Disney, disse que até hoje a reforma do prédio do teatro não foi completada, e que a empresa que iria reformá-lo levou a bomba de refrigeração para consertar, mas nunca devolveu.

O compositor Cléverson Baía trouxe a baila novamente a criação do teatro municipal, cobrou o funcionamento do Conselho Municipal de Cultura e da escola de música Amilar Brenha que está entregue às baratas.

Já a escola de Artes Cândido Portinari, cujo prédio merece um estudo técnico melhor para se pensar em demoli-lo, funciona desde o ano passado em um edifício no bairro do Trem com o dono atrás do couro do governo, que deve há sete meses o aluguel de 35 mil por mês. Égua!

EDUCAÇÃO ESPECIAL

A professora Marinalva Oliveira, coordenadora do Núcleo de Educação e Cultura da UNIFAP, participou do IV Congresso de Educação Especial em São Carlos - SP.

Liderava o grupo de pesquisa sobre inclusão de crianças com Síndrome de Down, onde as mestrandas Rosinete Rodrigues, Maria do Carmo, Cleidenira Vieira e Zeildes Paiva, do MINTEG, também participaram.

No grupo estavam vários pesquisadores, além do vereador Clécio Luís, que se destacou pela presença atuante em todas as atividades, se atualizando das discussões em nível nacional e internacional, como forma de trazer idéias de educação inclusiva para o município de Macapá.

ZUNIDOR

A coluna lamenta o falecimento do padre Paulo Lepre, na Itália.

Amanhã e domingo acontece o 3º Encontro de LGBT, que tem como tema “Saúde: direito de todas e de todos”, no hotel Mara.

O vereador Clécio Luís informou que o orçamento da Prefeitura contemplou a cultura municipal com apenas 0,2% (um pouco mais de 1 milhão de reais) em 2010. O edil lamentou que a lei do Fundo de Cultura do Município, de autoria do vereador Marcelo Dias, não foi contemplada para 2011, mas garantiu que ainda há tempo de mudar o orçamento até a aprovação da lei orçamentária.

O multiinstrumentista Finéias Nelluty falou que “fumaram o som do TB”.

Zé Miguel, a quem atribuem a cadeira do futuro secretário de cultura do Estado, falou em seu discurso do interesse que os índios do Kumenê (Oiapoque) tem pelo ensino da música, que já é uma idéia de projeto cultural.

A presença de apenas seis parlamentares na audiência da cultura na CV mostrou o desinteresse político dos nossos “representantes”, inclusive dos que dizem defender a população e a cultura negra do município.

Inderê! Volto zunindo na sexta.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O CABO CAMILO, PIONEIRO DO AMAPÁ

Cabo Camilo Hoje fazem quatro anos que o Cabo Camilo, meu sogro, partiu para outra dimensão. Este texto, escrevi por ocasião do seu falecimento e está publicado no meu livro Adoradores do Sol (Scortecci, 2010)

 

“Os filhos do Cabo Camilo não sabem da importância dele para o município de Amapá”. Com essa frase o ex-prefeito Leonel Nascimento buscou dar o mérito e a consideração ao ex-vereador e enfermeiro aposentado daquele distante local, falecido aos 88 anos no último dia 11. Leonel, que aos 84 anos continua lúcido e forte, também é dono de uma prodigiosa memória que surpreende os ouvintes de suas histórias pelos detalhes de nomes, datas e lugares. Contou-nos sobre vários episódios do Cabo Camilo como enfermeiro, das vidas que salvou e das pessoas que ajudou “naquela época brava do pós-guerra”, onde não havia médicos e quase nenhum medicamento, mas uma enorme capacidade de improvisação, principalmente quando se tratava de acidentes.

Camilo Rodrigues da Silva entrou para o Exército como padioleiro em 1936 e no ano seguinte fez o curso de saúde do Exército no Hospital Militar de Belém. Em 39 foi transferido para a 3ª Companhia de Porto Velho onde foi promovido a Cabo de Saúde indo um ano depois para o Pelotão da Vila Bittencourt, em Japurá, no estado do Amazonas. Ali ele conheceu a filha de um rico dono de seringal, a professora Alba Cavalcante da Silva, com quem se casou e teve doze filhos, dos quais onze no Amapá. Só em 1945, no final da Segunda Guerra, é que veio para a 4ª Companhia do Amapá, servindo até 1950, quando se licenciou da caserna. Ingressou nos quadros do Governo do Território Federal, em 1952, como enfermeiro para trabalhar na antiga Base Aérea, até se aposentar. Mais tarde entrou para a carreira política, sendo eleito vereador pela extinta Arena em 1976, como o mais votado. Participou de inúmeros seminários e congressos de vereadores por todo o país e contribuiu grandemente para o desenvolvimento do seu município em duas legislaturas.

Depois de salvar tantas vidas e curar tantas pessoas, infelizmente sua luta contra a cegueira foi em vão. A idade avançada e as mazelas decorrentes dela também lhe tiraram a força e a voz. Mas embora sofresse com a senilidade não perdeu a lucidez e conseguia se comunicar até o último alento nos braços de sua filha Suely, que dele cuidou com extraordinário carinho por longos anos, sem tirar o mérito dos outros irmãos.

A vida longa do Cabo Camilo não permitiu que muitos amigos fossem ao seu enterro porque só os mais novos é que estão vivos. Mas as lembranças daqueles que nos são caros sempre causam comoção no momento do ritual da despedida. Um enterro sempre conduz ao “nunca mais ver” o ente querido, e o real e o atual se transformam na breve virtualidade do odor das flores, emblemática visão de um adeus que inevitavelmente suscitará a eterna saudade.

Decerto as lágrimas derramadas serão o exemplo vivo do nosso perdão aos defeitos do morto. E elas terão que regar a terra pela qual passamos com nossos pecados particulares, no nosso trajeto diário em direção ao fim da vida e ao encontro do Criador. Requiescat in pace!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quase Diário, um poema de Luiz Jorge

Oavesso do espantalho[2]

Éramos muito jovens para fazer sexo.

Então, de mãos dadas e Havaianas trocadas,

Fomos aprender inglês.

Gastamos momentos de uma noite escura

“a ver a lua” beber água do rio.

Voltamos para casa molhados de suor,

chuva e saliva como em um frevo.

Eu vim pulando sobre a perna direita

fazendo “piruetas”.

Ela veio cabisbaixa pensando em usa Rimel

e diminuir a silhueta;

Eu pensei em Fevereiro ir morar no Rio

de Janeiro.

Ela queria ser aprovada na prova de

Admissão para a Escola Normal de Macapá.

Depois, ficamos grávidos.

Ela ganhou gêmeos.

Dois dias depois, eu ganhei um violão.

Obturei um dente que doeu.

Comecei a usar óculos e pisar errado nos

degraus corretos.

Um dia eu mudei, fui de Varig, achando

perto o imaginário.

Completei dezenas de aniversários.

As crianças já devem parecer com humanos.

Rasgados planos e panos.

Surtei casando avexadamente.

Perdi seu retrato no cinema.

Entre as coxas de Helena.

Que até o filme terminar, nunca mais

Largou de mim.

Hoje eu volto ávido.

Extremamente pálido. Já avô.

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Luiz Jorge Ferreira é paraense, médico e escritor. Tem fortes ligações com Macapá, onde passou a infância e parte da adolescência.

Este é o sexto livro de poesia do autor, radicado em São Paulo. Antes dele, foram publicados: Berro Verde, Tempos do Meu Tempo, Cão Vadio, Beco das Araras e Thyabum.

O Avesso do Espantalho mostra a sua poesia evoluindo consigo e em si. Espelhada com o que lhe cerca, incomoda, soma e subtrai. (Ed. Scortecci. São Paulo, 2010)

Publicado no jornal Correio do Amapá de domingo, 07/11/10

terça-feira, 9 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

BOI-BUMBÁ, Ê BOI!

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 07.11.10

camila_emanoelPara Emanuel e Camila, donos do “Boi de Ouro”.

“Abra a porta, acenda a fogueira/ Dona da casa, meu boi chegou/ Ele urra e estremece/ Que a boiada levantou”. Assim chegava o boi “Vem-te-ver” cantando o seu abre-alas nas portas das casas que o convidavam a exibir-se, sempre no início da noite nos bairros de Macapá antiga. E era tão grande o acontecimento que gerava grande expectativa na garotada, por serem tão pequenas as opções de lazer da época. No Laguinho, onde eu morava quando criança ficava apreciando aquele cortejo colorido dos trajes dos personagens, que vinham alegres cantando na rua, fazendo evoluções e apologias ao próprio boi, expressa nos cânticos fáceis e bem populares. À sua frente a figura clássica do dono do boi, o seu Gabriel, meio gordinho, baixo, de bigode a Clark Gable, com um grande chapéu e uma muxinga à mão. Ele encarnava também a figura do fazendeiro na representação do auto. A sátira, presente nas músicas e na atuação dos artistas, trazia um encanto indescritível.

O “boi-bumbá” é folguedo folclórico amazônico, réplica do “bumba-meu-boi” nordestino. Segundo Raimundo Morais (apud Vicente Salles), o “Boi-cordão Boi-bumbá é: certo número de homens e mulheres que, pelo tempo de São João, anda fazendo dançar o boi. Há o “boi-canário”, o “boi-laranja”, o “boi-estrela”. E, por ampliação, a “Ema”, o “Pavão”, a “Garça”. É um velho divertimento popular que parece oriundo da África”. Já Câmara Cascudo fala do “bumba-meu-boi” com nuances amazônicas. “O elenco do “boi-bumbá” inclui o senhor da fazenda, dona Maria, sua mulher, a moça branca, filha do casal, amo (feitor da fazenda), rapaz fiel (vaqueiro), dois vaqueiros, rapazes (vaqueiros auxiliares), Pai Francisco (preto velho, Mãe Catirina (sua mulher), Cazumbá, preto velho e seu companheiro, Mãe Guimá (mulher deste), “diretor” dos índios, que é o chefe da maloca, “doutor curador” e seu ajudante, um padre sacristão, um menino que serve de “rebolo” (segura os chifres do boi, rebolando-se enquanto Pai Francisco simula amolar uma faca para fazer o ”repartimento”), o “tripa” do boi (homem debaixo da armação, movimentando-a), maloca dos índios e roda de brincantes. Pai Francisco mata o boi para satisfazer ao “desejo” de Mãe Catirina e faz a divisão da carne e das vísceras. O fazendeiro manda prendê-lo pelos índios, previamente batizados por um falso sacerdote. O “doutor curador” ensina a Pai Francisco a técnica de espirrar em vários pontos do boi até despertá-lo (o sinal de cura é um peido). Bailados, desafios, saudações. O “boi-bumbá” outrora visitava as casas amigas e agora dança num local determinado para exibição, chamado “curral”: terreiro, barracão, tablado. Ajusta-se com outros folguedos como grupos figurando índios, bichos, pássaros, etc.”

Como a maioria dos folguedos juninos, antigamente a peça não era escrita, mas sim improvisada. O seu bom resultado ficava por conta da representação do artista popular, do seu talento, o que lhe dava grande responsabilidade de desempenho. Até hoje, nos lugares onde o folguedo subsiste, nem sempre as falas são obedecidas conforme os ensaios, o improviso pode ser a tônica do humor ou da dramaticidade que alguns quadros exigem.

Porém, antes de ser apenas um folguedo de divertimento popular o “boi-bumbá” também é, segundo V. Salles, um “brinquedo rural, da área pastoril que tem como principal motivação a luta de classes na sociedade colonial brasileira, de economia agrário-pastoril e regime escravista”. Leva-se em consideração aí, que desde 1850 já se tinha notícia escrita sobre o assunto, mas foi só depois que o tema foi abordado por vários escritores regionais, como Dalcídio Jurandir e na música por Gentil Puget e Waldemar Henrique

Por ser uma peça em que está presente a representação da morte, sua estrutura induz à reflexão religiosa ou totêmica diante de uma realidade social, pois o negro escravo tinha diante de si a busca da liberdade. Entretanto, por ser popular, era comum acontecerem as rivalidades entre esses cordões, posto que as prefeituras da região sempre promoviam concursos para a escolha do melhor boi, dando-lhes premiação que orgulhava o vencedor e estimulava o outro a vir melhor no ano seguinte. Por conta disso acirravam-se os ânimos nos encontros nas ruas e, assim, a pancadaria se generalizava e virava caso de polícia. Hoje esse antagonismo está mais para a espetacularização do folclore, que por sua vez virou atração turística, como no caso de Parintins, entre os bois “Garantido” e “Caprichoso”.

Infelizmente em Macapá esses cordões sumiram com a morte de seus promotores e por falta de incentivo. Vez por outra aparece um cordão que pouco se apresenta e não tem divulgação alguma pela imprensa. Talvez por ser satírico e caracterizado formal e literariamente como farsa, o folguedo já não pode competir com as peças de teatro e programas televisivos. Mas o “boi” ainda tem muito a ensinar. Em que pese os percalços e profundas mudanças do cenário social, os personagens continuam os mesmos, e continuam a satirizar e ridicularizar as ambições e as esquisitices dos poderosos de todas as farsas.

Gilcilene Oliveira 1º lugar no Festival SESI Música.

 

GILCILENE OLIVEIRA_INTERPRETAÇÃO

Gilcilene Oliveira, representando o estado do Amapá e a empresa Anglo American venceu em 1º lugar, na categoria Interpretação, a terceira edição do Festival SESI Música. Gilcilene competiu com 1.600 trabalhadores de mais de 700 empresas. 
A empresa Anglo American foi uma das vinte e seis empresas homenageadas na noite de ontem por investir na participação dos
trabalhadores em projetos culturais e estimular o talento dos empregados. A homenagem aconteceu no Teatro SESIMINAS, em Belo
Horizonte, durante o encerramento do Festival SESI Música.
As indústrias homenageadas se destacaram pela atuação em projetos culturais e o envolvimento dos funcionários nessas atividades.