Éramos muito jovens para fazer sexo.
Então, de mãos dadas e Havaianas trocadas,
Fomos aprender inglês.
Gastamos momentos de uma noite escura
“a ver a lua” beber água do rio.
Voltamos para casa molhados de suor,
chuva e saliva como em um frevo.
Eu vim pulando sobre a perna direita
fazendo “piruetas”.
Ela veio cabisbaixa pensando em usa Rimel
e diminuir a silhueta;
Eu pensei em Fevereiro ir morar no Rio
de Janeiro.
Ela queria ser aprovada na prova de
Admissão para a Escola Normal de Macapá.
Depois, ficamos grávidos.
Ela ganhou gêmeos.
Dois dias depois, eu ganhei um violão.
Obturei um dente que doeu.
Comecei a usar óculos e pisar errado nos
degraus corretos.
Um dia eu mudei, fui de Varig, achando
perto o imaginário.
Completei dezenas de aniversários.
As crianças já devem parecer com humanos.
Rasgados planos e panos.
Surtei casando avexadamente.
Perdi seu retrato no cinema.
Entre as coxas de Helena.
Que até o filme terminar, nunca mais
Largou de mim.
Hoje eu volto ávido.
Extremamente pálido. Já avô.
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Luiz Jorge Ferreira é paraense, médico e escritor. Tem fortes ligações com Macapá, onde passou a infância e parte da adolescência.
Este é o sexto livro de poesia do autor, radicado em São Paulo. Antes dele, foram publicados: Berro Verde, Tempos do Meu Tempo, Cão Vadio, Beco das Araras e Thyabum.
O Avesso do Espantalho mostra a sua poesia evoluindo consigo e em si. Espelhada com o que lhe cerca, incomoda, soma e subtrai. (Ed. Scortecci. São Paulo, 2010)
Publicado no jornal Correio do Amapá de domingo, 07/11/10
A poesia de Luiz Jorge é cheia de imagens e movimento.
ResponderExcluirUm mergulho abissal em um mundo surreal, verdadeiro bricabraque poético. Josyanne Franco
A poesia de Luiz Jorge até hoje me surpreende pela facilidade como nos mostra coisas belas e simples, tão simples que não as percebemos até que alguém como ele nos faça ver.
ResponderExcluirMuiito singelo esse livro! Adorei as poesias que são verdadeiros tesouros! E a capa também é muito linda!
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