quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O CABO CAMILO, PIONEIRO DO AMAPÁ

Cabo Camilo Hoje fazem quatro anos que o Cabo Camilo, meu sogro, partiu para outra dimensão. Este texto, escrevi por ocasião do seu falecimento e está publicado no meu livro Adoradores do Sol (Scortecci, 2010)

 

“Os filhos do Cabo Camilo não sabem da importância dele para o município de Amapá”. Com essa frase o ex-prefeito Leonel Nascimento buscou dar o mérito e a consideração ao ex-vereador e enfermeiro aposentado daquele distante local, falecido aos 88 anos no último dia 11. Leonel, que aos 84 anos continua lúcido e forte, também é dono de uma prodigiosa memória que surpreende os ouvintes de suas histórias pelos detalhes de nomes, datas e lugares. Contou-nos sobre vários episódios do Cabo Camilo como enfermeiro, das vidas que salvou e das pessoas que ajudou “naquela época brava do pós-guerra”, onde não havia médicos e quase nenhum medicamento, mas uma enorme capacidade de improvisação, principalmente quando se tratava de acidentes.

Camilo Rodrigues da Silva entrou para o Exército como padioleiro em 1936 e no ano seguinte fez o curso de saúde do Exército no Hospital Militar de Belém. Em 39 foi transferido para a 3ª Companhia de Porto Velho onde foi promovido a Cabo de Saúde indo um ano depois para o Pelotão da Vila Bittencourt, em Japurá, no estado do Amazonas. Ali ele conheceu a filha de um rico dono de seringal, a professora Alba Cavalcante da Silva, com quem se casou e teve doze filhos, dos quais onze no Amapá. Só em 1945, no final da Segunda Guerra, é que veio para a 4ª Companhia do Amapá, servindo até 1950, quando se licenciou da caserna. Ingressou nos quadros do Governo do Território Federal, em 1952, como enfermeiro para trabalhar na antiga Base Aérea, até se aposentar. Mais tarde entrou para a carreira política, sendo eleito vereador pela extinta Arena em 1976, como o mais votado. Participou de inúmeros seminários e congressos de vereadores por todo o país e contribuiu grandemente para o desenvolvimento do seu município em duas legislaturas.

Depois de salvar tantas vidas e curar tantas pessoas, infelizmente sua luta contra a cegueira foi em vão. A idade avançada e as mazelas decorrentes dela também lhe tiraram a força e a voz. Mas embora sofresse com a senilidade não perdeu a lucidez e conseguia se comunicar até o último alento nos braços de sua filha Suely, que dele cuidou com extraordinário carinho por longos anos, sem tirar o mérito dos outros irmãos.

A vida longa do Cabo Camilo não permitiu que muitos amigos fossem ao seu enterro porque só os mais novos é que estão vivos. Mas as lembranças daqueles que nos são caros sempre causam comoção no momento do ritual da despedida. Um enterro sempre conduz ao “nunca mais ver” o ente querido, e o real e o atual se transformam na breve virtualidade do odor das flores, emblemática visão de um adeus que inevitavelmente suscitará a eterna saudade.

Decerto as lágrimas derramadas serão o exemplo vivo do nosso perdão aos defeitos do morto. E elas terão que regar a terra pela qual passamos com nossos pecados particulares, no nosso trajeto diário em direção ao fim da vida e ao encontro do Criador. Requiescat in pace!

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