sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fedeu Morreu - Prefácio


UM HOMEM E SEU CANTO

Antonio Juraci Siqueira

Difícil seguir os caminhos do homem sem perder de vista o rastro do poeta, sua pegadas de sombra e luz.

Separar a pedra e a pluma das palavras, sorver o mel e o fel dos poemas, decifrar o canto e o homem (com) fundidos no poeta é o desafio que lanço àqueles que ousarem mergulhar em seu mupéuas. Mas não se assustem que Fernando Canto conhece a difícil arte de escrever fácil. Seu jugo é leve, e claro o seu cantar. Claro suficiente para ofuscar a visão estrábica dos que vivem á margem da luz e, ao mesmo tempo, aclarar os passos dos que caçam caminhos nestes dias de breu.

Aqui um homem e seu canto diante dos homens e seus chapéus, seus nocivos poderes. Aqui a palavra incendiada de amor por uma terra e seu povo.  Aqui o Adelantado e sua fauna de tiranos. Aqui a submissão ao chapéu e a luta para conquistá-lo, pouco importando se coroa, mitra, cocar ou capacete. Basta o poder e o fascínio que exerce sobre os habitantes de Adelantado, entre eles muitos dos que se rebelaram contra os tiranos e que agora exibem as mesmas caras de pedra, as mesmas mãos de aço...

O poeta espia o jogo, empunha o canto e se abicora. Ele sabe da necessidade de cavar trincheiras nas manhãs equatoriais para proteger- se da sombra do chapéu. Tem a poesia, um canto, um ofício e as mãos repletas de esperanças. Por isso não abandona o jogo. Apenas se abicora na certeza de ver chegar a hora e a vez de gritar, a plenos pulmões, brandindo a lança da poesia: - “FEDEU, MORREU!”

FEDEU, MORREU!

“O poema está triste, pois quer ser seu e não pode”

(John Ashbery)

Para Antônio Corrêa Neto e Odilardo Lima


1

Não é muito

acreditar que os animais trafegam

                                                               à noite

atropelando- se entre machado e foice

os campos de abandono outrora uma cidade

 
Não é muito, juro, não é muito

pensar em seus tropéis alucinantes

em orgias de noites galopantes

aqui neste lugar

                               Ora, este lugar:

                sem muros, se  quadrantes

                cheios de virtude, não obstante

                o ranço

                o medo

                o sonho

                o cenho franzido de quebranto


2

Vento, vento, vento, vindo leste vindo

para todos que bem-vindos vieram adicionar

o sonho menos lúgubre do autóctone

(um rastro apagado em chuvas do futuro)

por engano, triste engano, cedo o sonho

                                                               feneceu num ato


Ali estão os autores da devassa

emantados de judas

coroados de silvérios

com fama e glória

em trono de raízes

(a escória a desafiar o revertério)

 
Ali estão as vítimas. - Desgraça!

Atadas em cordas de envira

embotadas em óculos de asfalto

tremendo e sem olfato

em caminhões de lixo e podridão

a roer chiclete da sola dos sapatos

 
3

Um odor de naftalina cobre a quadratura da                    

                                                                               Terra

As mesmas roupas de antanho vestem corpos

                                                                              abrasíveis

repelem os mesmos insetos que teimam em

                                                                              sobreviver

 
                               Ninguém sabe mais se o vento

                               será capaz de tirar

                               o cheiro de traque antigo

                               que se impregna no ar

 
                               Talvez pensando na morte

                ou na sorte de quem viveu

                é que tenhamos no norte

                a luz brilhando no breu

 

                               FEDEU, MORREU!

 

4

Aonde tu vais, assim, rapaz

Tão bonito, impecável dentro desse fato

Conquistar a moça do Laguinho com um

                                                                              extrato

Ou na mansão dos nobres pro jornal tirar

                                                                              retrato?

 

Onde vais, antigo companheiro de pelada?

Amesenda - te, conversa, toma uma gelada

Diz- me dos sonhos planejados no infortúnio

Quando transformar o mundo e a nossa terra

Era o delírio nas repúblicas, nos bares

Era o desejo vital das noites de plenilúnio

- Barco e esmo navegando pelos mares

 

Aproxima - te, parente, não tenhas medo de mim

Não há ninguém a meu lado, mostra- me teu latim

Quero olhar fundo em teus olhos

Quero ver se existe o brilho

Do anseio equatorial

Quero ver se teu sentido só transparece no

                                                                              fundo

Se a pregnância da história mundiou a tua vida

   

5

Dagorinha me contaram

que te dão um anelzinho

(nada dizes a ninguém)

que licitas teu destino

a troco de um vintém

que teu critério de escolha

mudou para o “anambu”

que uma vez uma galinha

bonita, toda pedrez

botou um ovo de ouro

para tua corja de três

cair no poço, entretanto

com água pelo pescoço

é apenas besta discurso

de quem não tem o do almoço.

 6

Onde o velho sonho, onde?

                Dirás: Fedeu, morreu!

Onde o futuro acariciado, onde?

                Dirás: Fedeu, morreu!

Onde a miséria acaba, onde?

                Dirás: Fedeu, morreu!

Onde a ordem do destino, onde?

                Dirás: Fedeu, morreu!

  

C

   H

      I

       N

          O                     M      E                   U       U

             U      E    B   L   T   U        G    I   O     !!!

                              O       O                    Z

 

MORREUCOMOCANGULA

SEMCEROLNALINHAZERO

Nunca mais dirás: - Sou mero!

- Pira paz, pobreza não quero mais!

 
E pedes- me que cale, fale baixo...

Não, amigo (primeirão desde menino),

a segredos desse tipo eu me levanto

não te abicoro, te patrulho ou te espanto

Mas rebento minha dor goela afora:

 
- CALA-A-BOCA JÁ MORREU!

- CALA-A-BOCA JÁ MORREU!

Quem manda nela sou eu!

 

- Vai, trajano, minhas mãos tremem com a

vergonha de Cabral.     

7

Dos Congós ao Curiaú

o silêncio é como espuma

que absorve tudo

                               Exceto a angústia

 

Como pedra

o silêncio paira

nos bairros santificados

Como barro

                o silêncio plasma

Os rostos inesquecíveis

Como fulcro

                o silêncio apóia

a retida/coletiva ira

 

8

Do Oiapoque ao Cajari

Tumucumaque é a Cobra Adormecida

que impinge a sonolência temerária

 

Cruzar dos arquipélagos do leste até o Jari

é misturar à terra a água, os pés e a vontade

de expulsar a noite e a dor para o ocidente

e ver o pôr-do-sol da cor do sangue

existente apenas  no desejo:

 

                E vem pereba/mijacão

pano branco/erisipela

dor- na- pente/lombricóide

febre amarela/escoliose

frieira/barriga d’água

caída fica a espinhela

caganeira/filariose

esquentamento/coruba

Rondam os anofelinos

(- Aonde encontro quinino?)

 

Mãe Preta puxe a esquinência

dê chá pra constipação

papeira, tosse/ guariba

acabe com a panemeira

com banho de vendecaá

 

9

Não há remédio eficiente

nos postos do interior

(o único é o ataúde

que leva a saúde e a vida

só deixa saudade e dor

 

Na certa um velho malino

há de ensinar, meu menino

que água inglesa e bromil

biotônico, óleo  de fígado

de bacalhau e o escambau

curam a dor do Brasil

com elixir paregórico

permanganato/potássio

de dr. Ross: - ora, pílulas

- Viva este povo viril!

 
Sobrevive- se no espanto

com andiroba e mastruz

sobrevive -se ao quebranto

com a mãe-do-corpo e o encanto

 

10

De Heráclito o mesmo rio

passa em marés lançantes

- Insisto que sou DIÁTICO

                me separando das águas

sorvendo cachaça e sal

(estilo de vida é sopro

que acaba com o temporal)

 

Chuva, chuva, chuva apaga

Rastros que nascem sempre

Inacabáveis raízes

Indizíveis cicatrizes

Portanto, assim sou: cratera

O que me resta é um buraco

lar de um extinto minério

casa de fera acuada

circunscrita no espaço

 

Ah, olhar dentro a

                   olhar fera

Olhos de terra a

 olhar pouco     

Olhos do fundo a

                olhar torto         

OLHAR MORTO/Um aborto

 

11

Bala balou pipira

Manga-rosa do quintal

São Benedito castiga

meninos que fazem o mal

 

Mas bem ali  jaz um morto:

é um lúbrico jarana

voluntário do infortúnio

da sina de seus irmãos

pelo soldo da cruzada

pela saldo na carteira

pelo saco do patrão

 

Perguntaremos: - Meu nego

Onde o sonho de Ivo Torres

de Álvaro, Janary, de Maricota, João?

Onde o onirismo louco

do Silva, do Araújo, do Lima e da Raimundinha?

 

                Lá na beira do trapiche

                sonâmbulo, liso e leso

                um bêbado evoca os entes

                das águas do Rio- mar

 

- GALA-SECA NA CABEÇA!

- GALA-SECA NA CABEÇA!

Na primeira de copas

te mando pra caixa-pregos!

 

12

No Igarapé das Mulheres

Na ponta do cabo Orange

Carvão ou Sete Mangueiras

um sáurio-siáudio anuncia

a vinda dos guantes-mores

para algum discurso insosso

cuspido em boca-de -ferro

(palavras oxidadas em velha inauguração)

- Um oxímoro, presumo, no correr da narração

 

Lá no Banco da Amizade

na rua General Rondon

Sacaca ralhou com um mano

que ousou lhe desrespeitar:

 

- Alguns caem numa poça

Outros no precipício

Todos têm o seu fim

Mas poucos têm um princípio!

 

13

Não é muito acreditar

(Não basta crer no que é crível!)

no que se enceta na história

no destrinchar do nó górdio

que existe no labirinto

das ruas de nossa memória

 

Pois que o teor de uma agulha

é aço que tece a teia

 
É poeira que faz pedra

juntada a cada manhã

 
É tarde clara, é Setembro

do pino equinocial

 
É fogo que cliva a pedra

não é de gelo este afã

 


Maio / 92


 

FEDEU MORREU!

E outros poemas Incontidos


Fernando Canto


 

 

Para Euton Ramos, que ligou a partida no devaneio de uma mesa de bar.

 

“Construo, com os ossos do mundo,

uma armadilha; aprenderás, aqui, que o

brilho é vil; aprenderás a mastigar o

teu coração, tu mesmo”

(Ferreira Gullar)

Mudança no direito autoral mobiliza nata da MPB


Reunião na casa de Paula Lavigne, na terça, iniciou debate; Marta Suplicy peregrina com projeto entre grandes nomes da música


Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

A ministra Marta Suplicy iniciou uma ofensiva entre os medalhões da música popular brasileira para convencê-los da necessidade da fiscalização das atividades do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos (Ecad), além da mudança das regras que regem a instituição. Marta já procurou Caetano Veloso e a Gilberto Gil e deve prosseguir essa semana com as visitas.
Encontro na casa de Paula Lavigne
O primeiro resultado dessas incursões foi visível no domingo e na terça, numa reunião no Rio de Janeiro da qual participaram Djavan, Racionais MC’s, Emicida, Gaby Amarantos, Frejat, Fernanda Abreu, Jota Quest, Otto, Leoni, Caetano Veloso, Tim Rescala, Ivan Lins e até emissários do cantor Roberto Carlos.
Em sua coluna semanal no jornal O Globo de domingo, Caetano Veloso externou uma opinião diferente da que tinha habitualmente sobre o tema dos direitos autorais. “Os manifestos dos defensores da manutenção do modus operandi atual do Ecad são pouco ou nada técnicos — e são alarmistas”, ponderou o cantor.
Seu artigo fazia menção direta aos argumentos de uma carta-manifesto endereçada no início de abril aos filhos da ministra Marta pelo poeta e compositor Abel Silva – e respaldada por inúmeros outros militantes pró-Ecad, como Fernando Brant e Ronaldo Bastos. Abel escreveu: “Forças poderosas e nada ocultas convergem como tsunamis com tal furor que a casa que o povo da música construiu ao longo de décadas pode ruir! E não exagero. Tudo o que conquistamos se ergue sobre dois pilares : o direito autoral e o Ecad. Mexeu nisso e desaba tudo, simples assim, e os nossos inimigos sabem disso”. Caetano rebatia precisamente isso em sua coluna: “Não é ‘se mexer, desaba’; é ‘se não pode mexer, não anda’”.
A ministra Marta parabenizou Caetano pela exposição de sua opinião e pela defesa da nova legislação. “O Ecad tem que existir para arrecadar e o PLS 129 levará à transparência”, disse a ministra ontem. O PLS 129 a que ela se refere é o Projeto de Lei 129, oriundo da CPI do Ecad, que muda a estrutura do escritório e cria mecanismos para fiscalizar a gestão coletiva do direito autoral. Em tramitação no Senado em regime de urgência, o projeto tornou o clima em atmosfera de embate renhido. Marta tomou a dianteira das ações após as blitze dos defensores do Ecad.
O resultado imediato das suas incursões pela MPB já aconteceu na casa da empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano. Ela convocou um encontro realizado na terça com a maioria dos grandes nomes da música brasileira – incluindo assessores do ‘Rei’ Roberto Carlos. O cantor capixaba esteve representado por seu empresário e por três assessores (entre eles Sandra Santana, que cuida da parte de direitos autorais). A reunião não teve participação do Ministério da Cultura, mas foi convidado o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que foi relator da CPI do Ecad.
“Paula me convidou para que eu explicasse o que identificamos na CPI do Ecad”, disse Randolfe, que defendeu: “O sistema atual é anacrônico e acaba favorecendo a corrupção, pois não existe fiscalização”. Segundo Randolfe, que ficou na reunião entre as 21h e a 1h da manhã, o encontro sinalizou um início de debate. “A decisão agora é dos artistas, inclusive para fazer o PL 129 andar. É um debate que a classe tem de travar. Os políticos devem ficar afastados agora”.
O Ecad vê intervencionismo estatal na proposta da CPI do Ecad. “Toda essa conversa se desenrola em torno da questão da transparência, e o Ecad nunca se posicionou contra a transparência”, rebateu a advogada Glória Braga, superintendente do Ecad. “Ocorre que o PL129 e os outros projetos de lei que vêm sendo discutidos vão muito além da questão da transparência. Criam um organismo estatal que vai interferir naquilo que os autores têm garantido constitucionalmente. É esse ente estatal que vai determinar quais são os valores e as regras da distribuição, o que é inaceitável”, afirmou Glória.
O senador Randolfe Rodrigues disse que o PL 129 “não significa definição de preços, nem interferência, mas acompanhamento”. E afirmou que esse acompanhamento tanto pode ser feito por uma instituição dentro do Estado brasileiro quanto por uma reedição do antigo Conselho Nacional de Direitos Autorais.
Marta Suplicy esteve com Caetano durante o show dele em São Paulo. Depois, enviou um de seus assessores ao Rio de Janeiro, para conversar com Caetano e Gil. Sabia da resistência do primeiro à mudança. Em 2011, Caetano tinha assinado um manifesto com posição completamente diferente da que tem agora. O texto que ele subscrevia, junto com dezenas de outros compositores, dizia: “Somos capazes de criar e administrar o que nos pertence. Para isso, não precisamos da mão do Estado. Há dois lados na questão: o criador que quer receber e empresas que não querem pagar.”
No domingo, em O Globo, Caetano já mostrou avaliação totalmente diferente (e conciliatória) sobre o imbróglio. “Não creio que Abel (Silva) ou Fernando (Brant) estejam protegendo vantagens indevidas; tampouco creio que Tim Rescala e Ivan Lins estejam lutando pelo poder das emissoras de TV. Suponho que seja hora de amadurecer a conversa”, escreveu.
Ivan Lins é um dos que tem se posicionado firmemente contra a atual forma de gestão do Ecad. “Os critérios de distribuição são injustos, preguiçosos, incompatíveis com a tecnologia que é usada no mundo todo. O Ecad canta de galo, dizendo que usa as técnicas mais avançadas, mas na verdade, é tudo praticamente igual ao que se fazia há 20”, escreveu Lins. “ O Ecad é importante e necessário. Mas a administração que está lá tem que mudar. Os critérios de distribuição também têm que mudar, se modernizar e se tornar transparentes. Quem fica defendendo o Ecad, como está hoje, ou não sabe nada de direito autoral ou é mal intencionado”.

O fato que precipitou toda a discussão em torno de um novo sistema de arrecadação de direitos autorais aconteceu em março, quando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) condenou o Ecad e as seis associações representativas de direitos autorais que o compõem por formação de cartel, ao fixar preços para atividades do mercado musical. Também condenou o Ecad por fechamento de mercado. O órgão antitruste ainda aplicou multa total de R$ 38,2 milhões ao Ecad. Glória Braga informou ontem que o Cade ainda não liberou o acórdão do julgamento, o que está impedindo o recurso do escritório. 

CHERNOBYL – O ACIDENTE NUCLEAR FAZ 27 ANOS

Por Norbert G. Suchanek*

Eu me lembro muito bem os dias e meses seguidos ao dia 26 de Abril de 1986. Quando o acidente nuclear de Chernobyl começou, eu tinha 23 anos e morava na Bavária. Os ventos trouxeram as nuvens cheias de elementos radioativos do acidente nuclear, como césio-137, para mais de 3 mil quilômetros até a minha cidade Munique, onde eu trabalhava numa empresa farmacêutica. As chuvas radioativas caíram em cima de nossas cabeças, em cima de jardins de infância, em cima das caixas de areia para crianças brincarem e em cima dos campos de futebol. De um dia para outro foi proibido brincar fora de casa.

As caixas de areia, os campos de futebol lindos de grama verde, tudo foi radioativo e podendo criar câncer ou outras doenças ligas à radioatividade. Esta chuva também afetou as plantações de legumes, de milho e as pastagens das vacas.

Até meses depois da chuva, a Bavária, bem como partes da Áustria, Itália, França e Inglaterra produziram milhares de litros de leite radioativos. O que fazer com este lixo radioativo líquido? Esta foi uma grande questão política. Finalmente foram criados fábricas especiais na Bavária e outros lugares da Europa radioativa para diminuir este lixo. O que fizeram foi, na realidade, tirar a água do leite e criar um concentrado, leite em pó altamente radioativo, que finalmente foi exportado ilegalmente para países da África e América Latina. Este leite também foi vendido para o Brasil. Um ato altamente criminoso.

Quantas pessoas, quantas crianças brasileiras morreram ou contraíram câncer por terem sido alimentadas com leite em pó radioativo da Europa? Cem, mil, 100 mil? Ninguém sabe e ninguém foi condenado!

 A minha experiência pessoal com Chernobuyl foi um dos pontos porque quase 25 anos depois, em 2010/2011, eu resolvi criar junto com a socióloga Marcia Gomes de Oliveira o "Uranium Film Festival, o festival de filmes sobre energia nuclear. Acidentes nucleares como Chernobyl ou, como alguns anos antes, nos EUA em Harrisburg e agora em Fukushima não possam ser esquecidos. Porque os efeitos afetam milhares de pessoas e muita terra por um tempo indeterminado.

O festival vai exibir este ano 2 filmes sobre o assunto Chernobyl, 3 filmes sobre o acidente nuclear em Fukushima, sendo dois deles estréia mundial no festival. Cerca de 50 filmes de 20 países serão exibidos neste encontro que acontece na Cinemateca do Museu de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, cujo pré-lançamento ocorre dia 26 de abril na Vila  Olímpica da Vila Isabel.

*Norbert G. Suchanek é jornalista e diretor-geral do Uranium Film Festival.

VÍTIMA DO ACIDENTE NUCLEAR EM CHERNOBYL ESTÁ NO RIO

Norbert Suchanek realiza, no Rio, o III Uranium Film  Festival, que já está em outras cidades do mundo.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
Por José Amoras*

O ACIDENTE

Dia 26 de abril fazem 27 anos o acidente nuclear de Chernobyl. É considerado o pior acidente da história nuclear civil. Fez liberação de 400 vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima. As mortes por câncer em virtude da tragédia nuclear de 1986 em Chernobyl podem se situar entre 30.000 e 60.000, segundo um estudo de cientistas britânicos, que multiplica por dez a cifra apontada num controvertido relatório da ONU, dizem os pesquisadores britânicos Ian Fairlie e David Sumner.

O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os agora separados países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde devidos ao acidente de Chernobil.

 
VÍTIMA

Uma das pessoas afetadas junto com milhões de outros europeus daquele dia, o jornalista Norbert Suchanek, hoje mora no Rio de Janeiro. Na época ele tinha 23 anos e afirma que “Os ventos trouxeram as nuvens cheias de elementos radioativos do acidente nuclear, como césio-137, para mais de 3 mil quilômetros até a minha cidade Munique. Foi uma chuva que afetou as plantações e as pastagens”. Meses depois da chuva, a Bavária, bem como partes da Áustria, Itália, França e Inglaterra produziram milhares de litros de leite radioativos. “ Fizeram um leite em pó altamente radioativo, que finalmente foi exportado ilegalmente para países da África e América Latina. Este leite também foi vendido para o Brasil. Um crime”, informa Norbert.

URANIUM FILM FESTIVAL

Agora no Rio, com essa experiência, Norbert resolveu criar em 2010/11 o primeiro festival mundial sobre Energia Nuclear  “Urânio em Movi(e)mento” junto com a socióloga e professora Marcia Gomes de Oliveira. O festival, conhecido no exterior, como Uranium Film Festival, vai ocorrer pela terceira vez no Rio de Janeiro. Será no período de 16 a 26 de maio na Cinemateca do MAM – Museu de Arte Moderna. Este é o único festival mundial de documentários, ficções & animações de curta e longa metragens sobre toda a cadeia da energia nuclear e dos riscos e acidentes radioativos. Da mineração de urânio às centrais nucleares e lixo radioativo, das primeiras bombas atômicas às armas modernas fortificadas com urânio, de Hiroshima à Fukushima. 
 O festival quer especialmente dar visibilidade aos vários diretores de filmes "nucleares" que muitas vezes arriscam suas próprias vidas para realizarem este trabalho. Um dos exemplos é o brasileiro Roberto Pires, autor de "Césio 137. O Pesadelo de Goiânia" (1989).  Roberto Pires morreu  de câncer, em 2001, provavelmente por causa da contaminação com o césio 137, durante a produção deste importante filme sobre o acidente com césio em Goiânia – O Chernobyl do Brasil. Depois do Rio de Janeiro, o festival já esteve em outras  cidades do Brasil e exterior, como São Paulo, Salvador, Recife, Berlin, New Delhi e  Mumbai, além de outras.
 
Norbert, diretor geral do festival, fará uma palestra sobre Chernobyl e o Uranium Film Festival durante o pré-lançamento do evento que ocorre nesta sexta-feira na Vila Olímpica Arthur da Távola, no bairro de Vila Isabel, às17horas.

 José Amoras é jornalista e acadêmico de Direito. Mora no Rio. Cel.: (21)8228 5549

 
 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

PARA QUE SERVE UMA RÁDIO UNIVERSITÁRIA

Talvez não fosse bem esse o termo para o título do presente artigo. Melhor seria “para quem serve uma rádio universitária”.

A ideia é esclarecer pessoas que vêem na futura emissora da UNIFAP um instrumento para a divulgação de suas ideologias políticas e/ou religiosas e que fingem não acreditar que a Universidade Brasileira é laica, assim como é o Estado, bem descrito em artigo Constitucional. Por outro lado, também existem artistas que a têm como veículo de suas criações musicais, e que acham que uma rádio universitária só deve tocar músicas produzidas no Amapá ou por amapaenses, mostrando um nativismo exacerbado, para não dizer xenofóbico. Não compreendem que o termo universidade é o mesmo que totalidade; que vem de Universo, portanto amplo e irrestrito, qualidade de universal.

Um dos objetivos das rádios universitárias públicas é ser laboratório para complementar a formação dos estudantes de comunicação e de cursos afins.

As rádios universitárias federais são determinadas a permitir e a garantir o debate de ideias heterogêneas dos mais diferentes segmentos sociais, num processo dialético e irrestrito, aquele que prima pelo conhecimento e pelas verdades dos paradigmas científicos ou de sistemas filosóficos vigentes, e sempre em choque, em evolução.

O sistema de radiodifusão brasileira categoriza as rádios universitárias, quer sejam públicas ou privadas, como educativas, porque as universidades têm competência para serviço de radiodifusão, embora a legislação não determine que papel as emissoras devam cumprir em relação as suas programações. Por isso os especialistas dizem que cada uma faz a formatação de sua programação que entende ser a melhor.

A Rádio Universitária da UNIFAP tem como consignatária a Empresa Brasileira de Comunicação S/A – EBC. Por ser pública, e ligada a uma IFES, não podemos reproduzir o que as rádios comerciais fazem, mas sim produzir novos conhecimentos e contribuir para a formação de novos profissionais de jornalismo e para que a Universidade e a sociedade sofram mudanças para melhor.

Entretanto, há experiências nacionais de que nenhuma rádio universitária se sustenta enquanto proposta teórica e educacional ou somente científica-erudita-cultural para transformar a realidade brasileira. Sua prática deverá ser conduzida para cumprir um importante papel na formação de alunos, na divulgação do conhecimento, na democratização da comunicação e da extensão universitária.

Por ser uma Rádio Universitária pública tem perspectivas laboratoriais e públicas. Por ser pública enseja que seu público são “Todos”, aqueles que estão ligados a condição da cidadania, com sua igualdade de direitos e deveres.

Daí, então, a pluralidade de sua programação e a diversidade cultural com que ela deve chegar aos diferentes públicos.

Como realidade, a Rádio Universitária da UNIFAP é um marco na comunicação do Estado porque chega antes do curso de Comunicação da instituição e por pretender, após sua liberação total pelos órgãos competentes de telecomunicações, pensar em públicos diferentes, com a nobre missão de informar, educar, entreter e estar a serviço do interesse público. Pensar, divulgar e enriquecer com isso a cultura regional e as coisas por nós produzidas, no Amapá, na Amazônia e no Brasil.

Não é meta, ainda, cobrir todo o território amapaense, até porque as rádios universitárias têm média potência, mas no futuro queremos atingir variados públicos, pois uma rádio universitária deve ser uma ferramenta contra o monopólio da informação e a serviço da sociedade.

Estamos em processo de instalação e por isso teremos um Regimento e um Conselho de Administração que regulamentarão a sua programação, pois uma Rádio Universitária que tem função social não pode ser direcionada para grupos privilegiados de ouvintes ou clubes, mas essencialmente para a sociedade, para Todos (Para melhor compreensão indico o texto de Sandra de Deus “Rádios Universitárias Públicas: compromisso com a sociedade e com a informação”. Rev. Em Questão, vol. 9, Porto Alegre, 2003).