segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

COMO A CURIOSIDADE DA MULHER FEZ NASCER A LENDA DA SERRA DO NAVIO

Por Adálvaro Cavalcanti

Há muitos e muitos anos, quando a face do mundo era diferente de hoje, existia um grande canal lacustre que cortava o círculo máximo da esfera terrestre. Era um canal encantado.

Os navegantes daqueles tempos tão distantes que a história não conheceu seus nomes, jamais ousaram penetrar no mistério de suas águas.

Um dia, no mar que fica para o lado do nascente navegava um majestoso navio, conduzindo, de mares distantes, um casal de príncipes, de pele negra como ébano.

Era uma viagem de núpcias e, por isto, a guarnição da belonave era constituída de fidalgos daquela raça que se perdeu nos tempos. Após muitas luas de viagem o comandante da nau nupcial constatou que se encontrava na foz do canal proibido, cujas águas negras refletiam em prata os raios do luar. Imediatamente, ordenou a manobra de afastamento do canal tabu. O desusado movimento foi pressentido pela jovem nubente. Em breve relato ela tomou conhecimento de ser aquele canal encantado e que os que nele ousassem penetrar seriam petrificados.

Mas, deslumbrada pela beleza das águas e pela iridescência do luar, a princesa insistiu que a nau entrasse naquelas águas de extraordinário mistério. E tanto pediu, tanto implorou, com lágrimas que resplandeciam como pérolas em sua face núbia, que acabou por comover o enamorado príncipe, seu esposo, que não pôde resistir às súplicas da amada. Assim, a nau entrou no canal proibido pelos deuses, para satisfazer a curiosidade da mulher.

Tudo era encantamento: as águas... as margens magníficas... o perfume das flores... o temor da vingança dos deuses foi dissipado pela fascinante beleza A bordo tudo era alegria. Súbito um pavoroso estrondo! Era o choque com a linha que divide a terra – a latitude zero do Mundo.

A natureza revoltou-se. Ventos ciclônicos e ondas gigantescas açoitavam a nave. A pororoca convulsionou a enorme massa líquida. O chão se levantou e eis que aparecem gigantescas montanhas à entrada do canal pelo lado do poente - surgiram os Andes e o grande caudal passou a deslizar para o levante.

Estava, assim, formado o imenso Amazonas.

A real embarcação nupcial, com seus nobres passageiros e tripulantes aterrorizados, foi atirada a centenas de quilômetros de distância. Na trajetória pela floresta nunca violada, espargiu os ricos tesouros de uma preciosa carga.

Os deuses estavam vingados. O grande barco com seus tripulantes ficaram soterrados na selva, encantados no manganês da Serra do Navio.

Ao sopé da montanha, em margens de meta, passou a deslizar tranquilo o rio Amapary.

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