terça-feira, 2 de outubro de 2012

COM PREÇOS BAIXOS, LISBOA SE REINVENTA COMO NOVO POLO ARTÍSTICO

lisboaEnquanto o bonde range ladeira acima, sacudindo as bifanas, tradicional sanduíche de bife acebolado no pão francês, o artista angolano Yonamine, 37, reflete.

Ele olha à volta, mira o céu e diz: "É a luz. Lisboa tem uma luz que não se encontra em nenhum outro sítio na Europa". Sítio, em português de Portugal, quer dizer lugar.

Sentada na varanda de um casarão do Bairro Alto, reduto da velha e da nova boemia, palco do fado nos anos 1930, a cineasta francesa radicada em Berlim Leila Albayaty, 30, acha que o borogodó está no cotidiano lisboeta. "Muita simplicidade, diferente da Europa fria", comenta ela. "Lisboa me inspira. Berlim é hoje um lugar só de artistas, mas não há personalidade, identidade."

Numa coisa os dois concordam: o baixo custo de vida, comparado às outras capitais europeias, é o atrativo concreto. E o fato é que está nascendo na provinciana Lisboa uma nova cena cultural, fecunda, independente e internacional.

A capital portuguesa vive dias paradoxais. Por um lado, o dinheiro sumiu. Até o salário mínimo acabou reduzido, de & 485 (R$ 1.270) para & 449 (R$ 1.170). Estima-se que 300 mil portugueses tenham deixado o país em 2011.

Pela primeira vez, trata-se da emigração da classe média. Profissionais com formação acadêmica que partiram em busca de trabalho. O desemprego atingiu cerca de 15%. Em junho do ano passado, o governo extinguiu o Ministério da Cultura. Agora, o assunto é decidido pelas câmaras de cultura, que funcionam como as nossas secretarias estaduais.
O orçamento do país para o setor baixou de ¤ 250 milhões (R$ 650 milhões) para ¤ 150 milhões (R$ 390 milhões), valor equivalente ao disponível para a Ópera de Paris. No Brasil, o Ministério da Cultura dispõe de R$ 2,1 bilhões.

COSMOPOLITA

Por outro lado, Lisboa nunca foi tão cosmopolita, tão fervilhante, tão cheia de novidades, com cafés, lojas, livrarias, ateliês, bares e discotecas (em Portugal, ainda se diz discoteca) pipocando em toda parte. Não há estatísticas para quantificar o movimento. Mas basta uma caminhada pela cidade para perceber a transformação em curso.
Cinco milhões de turistas passaram por lá em 2011. E, além dos que passam, a cidade vê a chegada de jovens artistas oriundos de várias partes da Europa.

A imigração começou há cinco, seis anos. A comparação com Berlim, ocupada por artistas ao longo dos anos 1990, quando vivia dias de abandono, é inevitável. "Lisboa é uma Berlim em progresso", diz Leila.
O ex-ministro da cultura e professor de filosofia contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, Manoel Maria

Carrilho, 61, dá um nome para o fenômeno: "europeização". Segundo ele, essa é a primeira geração de pessoas que entende a Europa como um lugar unificado. (Fonte: Folha de São Paulo)

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