sábado, 6 de outubro de 2012

PACTO (*)


            Poema de Fernando Canto

O hábito de ler
O lobo e sua presa
Como quem apressa o lóbulo
E aperta o seu pensar astucioso
Rende e amarra o pacto
De fome e seu impacto
Sobre sangue e fezes –
Restos de carcaça no deserto
            Lei da lei: sobreviver

Rousseau (de fato)
Desvendou tal pacto
Entre ele e a natureza
Ante inúmeras razões
E cânones gravados nos papiros
Para êmulos humanos
            E bestas primordiais

Um hálito divino
Anima a pérola e sua ostra
Aquela que guarda a dor
Congênita adrede a um mundo
De valores indomáveis
Sal e cor, dentes e desejos
            Entes da ambição do ter

O dedo risca a flor do tempo
Risca o diamante rebrilhoso e duro
E vale-se da luz que lhe concebe o sol
E tátil, enfim, o anel e o ouro
Emitem raios dentre as tranças da peneira
Filtram sons de ferros das gargantas roucas
            Nas manhãs sem prumo, desmedidas

Derradeiros pactos
Constroem a paisagem
Em dias de lobo
            Em olhos de tocaia


(*) poema publicado na Coletânea poetas, contistas e cronistas do meio do mundo – Poesias. Bispo, Manoel (Org.) Grupo Universo, Macapá, 2009.

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