Por Fernando Canto
Enganam-se os que pensam que a
área geográfica onde se situa o Amapá nunca tenha sido palco de lutas
sangrentas pela conquista da região amazônica. Durante séculos espanhóis,
holandeses, franceses e ingleses tentaram se fixar na região visando principalmente
a foz do rio Amazonas, caminho esse extremamente protegido pelos portugueses
que fundaram suas bases militares e comerciais desde o início do século XVII.
Segundo Cristóbal de Acuña, o autor de “Novo Descobrimento do Rio das
Amazonas”, que na expedição de descimento de 1639 foi o escrivão dessa viagem
comandada por Pedro Teixeira, um anseio no coração de Francisco Orellana o fez
entregar-se a uma viagem às correntezas desse rio. Foi no ano de 1540 que esse
episódio se sucedeu, tendo o rio recebido o nome do seu descobridor. Contente,
o rei Carlos V, da Espanha deu-lhe as terras da região denominando-as de
Adelantado de Nueva Andaluzia, tendo ordenado que dessem a ele três navios com
tripulação e tudo o que fosse necessário para que voltasse ao local e o povoasse
em seu régio nome. Mas sua tripulação não teve sorte. Foi morrendo no meio do
caminho. Quando chegou aqui teve que abandonar os navios e construir lanchas. É
provável que tenha morrido em luta contra os índios locais.
Em 1623, após combater
estrangeiros e índios e destruir a fortaleza de Gurupá, o Capitão-Mor Bento
Maciel Parente vai combater na “ilha dos Tucujás”, lugar que Antonio Baena
acredita ser a costa de Macapá, onde há muitos anos habitavam os índios
Tucujus. Entre os eventos dessas batalhas o autor de “Compêndio das Eras da
Província do Pará” narra que uma nau de porte em socorro dos batidos surge no
rio, próxima da área dos combates: “Marcha imediatamente o Capitão-Mor com as
forças: ataca a nau ao raiar do dia, e de tal maneira que os inimigos não
querendo ser aprisionados praticam o último arrojo a que pode chegar a extrema
desesperação, lançando fogo ao navio, o qual como matéria tão disposta é
tragado brevemente pelo incêndio, e tudo o mais que no seu bojo encerra, menos
um rapaz, que arremeçando-se ao mar obtém salvamento”.
No ano de 1630 corre no meio do
povo do Pará que os holandeses, coadjuvados por 500 ingleses estão “fazendo
assento na ilha dos Tucujus”. E em janeiro de 1631 o capitão Jacome Raimundo de
Noronha, com 36 canoas bem guarnecidas de fuzilaria e frecharia chegam ao
local. É feito o ataque e todas as medidas tentadas pelos inimigos são
neutralizadas. Baena diz que “No dia da última peleja quando a noite no céu
todo espalhava as pardas sombras foge em um lanchão e duas canoas a maior parte
dos adversários com seu chefe Thomas, homem acreditado pelo seu valor nas
campanhas da guerra de Flandres: e rendem-se com promessa de lhes salvar as
vidas os que não desampararam o Forte: o qual é demolido até os alicerces”.
Feliciano Coelho, filho do
governador e Capitão General do Maranhão e Grão-Pará, Francisco Coelho de
Carvalho, que chega a Belém revestido da autoridade de Vice-gerente do
governador logra várias vitórias em pouco tempo: Reforça Pedro da Costa Favela
no combate a ferozes ingahibas insulanos da foz do Amazonas. Na noite de 9 de
julho de 1632 o Capitão Pedro Baião de Abreu ataca os ingleses no forte Camaú,
construído por eles aos pés dos fortes Torrego e Felipe, demolidos pelos
portugueses. Os soldados se rendem, mas o comandante Roger Fray, que estava
regressando da foz do rio à espera dos 500 homens de Londres é abordado pelo
Capitão Ayres de Souza Chichorro, que sob as ordens de Feliciano Coelho, ataca
a sua nau “desferindo sobre ele golpes tão poderosos que lhe levam de remate a
vida”. (A.Baena). No ano seguinte é avistado o navio que Fray esperava.
Ao longo do tempo, inúmeros outros conflitos são descritos
em correspondências oficiais, principalmente ocorridos entre portugueses e
estrangeiros, estes que em 150 anos antes da fundação de Macapá não lograram
êxito em suas conquistas.
Baena, o historiador, também foi governador interino da
Praça de Macapá em 1821, na Província dos Tucujus, o mesmo lugar que chamara de
“theatro constante de bellicos conflictos”.
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