Por Fernando Canto
Eu
te perdôo, ó peixe, pelo último olhar que me diriges, pelo salto viril preso ao
anzol e pelo cheiro denso das marés aderentes nas tuas guelras.
Eu
te perdôo, ó peixe, pelo sabor da tua saudável carne, pelas escamas raspadas de
tua pele escura, e pelas espinhas que não ousaram atravessar minha garganta. Eu
te perdôo pelo alimento que nutre meu corpo ávido de proteínas.
Como
um áugure li nas tuas entranhas que o teu mundo só se vinga em prantos, mas tu
não chorarias tuas lágrimas porque já vives nela todo o tempo.
São
os homens como eu que precisam da tua vida curta para seguir a evolução da vida
e se sentirem imersos nas nuvens dos deuses.
Eu
te agradeço, ó peixe, pelo teu nado predador nos rios correntes; pelo espalhar
das sementes das matas ciliares e pela liquidez do teu habitat onde és mais que
um animal, és ente da floresta, és alma, mas apenas corpo e sangue para os
homens que te matam e que te comem sem piedade.
Não,
não me perdoa, ó peixe, nem me agradeças. Eu sou apenas a tua extensão nas
minhas veias.
P... tinha que ser logo um tucunaré, preferido meu do Aporemanawassu, muquiado de meu pai Abel? Só com molho de limão, sal e malagueta, e farinha. E esse suspiro-Cantos de guelras Obidenses amazônicas.
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