Por Ronaldo Bandeira
Eu quero a
minha pele na pele da pedra
Eu quero
meus poros nos poros da pedra
que
minh’alma é corpo e pedra
Que meu suor
penetre a seiva da madeira
e que eu
seja madeira e pedra secular
onde a vida
passqa ao largo
qual navio
rumo à Noruega
Na louca
alquimia meus olhos pétreos
veem
caminhar o dia para nada
onde
executivos constróem biografias marginais
Na demência
equatorial
abro todas
as portas cerradas deste mundo
A lua
desnuda e mormórea
vaga o dia
equatorial
quero meu
corpo nu a viajar dentro de mim
descobrindo
novas américas
desvendando
novos mundos
que dono sou
de todas as galáxias
Deito o
umbigo na terra quente
e escuto
loucos tropeis
e o trepidar
alucinado de todos os corações
volto a ser
mãe no abraço forte
do meu
falecido filho
Almejo meu
corpo livre
para que
ganhe asas e luzes
para que
voar possa
para bem
longe da razão
no
território dos mortos
Deito meu
corpo desnudo
na porta
fechada da igreja
(todas as
igrejas estão com as portas fechadas)
e a fé
percorre negros, sombrios labirintos
Não sou
nada, apenas um gato na madrugada
onde as luas
brilham suas luzes negras
iluminando
de sombras as pedras macias
Meus pés
pisam areias de diamantes
E a música
que vem das nuvens gera a preamar
Meu castelo
de insônia delira
morrer é só
um olhar para fora
e viver é um
desmemoriar-se
Salomão, com
toda a sua opulência
não sentiu o
vento na pele
Eu quero a
minha pele na pele do mar
Sou peixe
azul navegando o caos oceano
E só Deus
sabe onde hei de chegar
Navego sobre
arrogâncias nucleares
Domino
pororocas, domo os tornados
expulso
Poseidon de todos os mares
condeno
Hades ao fogo do inferno
assassino
Ares com mil punhais
sou Deméter,
maior que Zeus
e senhora de
todos os impérios
A minha fé
oculta o dia suicídio
nos meus
espelhos me vejo rainha
não divago,
habito o espaço do delírio
traduzo-me
na certeza que os dias passam
e eu fico,
para viver o frio, as pedras
a terra, o
fogo, o ar.
Belém, outubro de 1991/ Coluna
Ponto de Vista/ Diário do Pará
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