Crônica de J. Arthur Bogéa
Na
minha geografia da infância Macapá era uma cidade noturna.
Passei muitas férias em
Clevelândia e, frequentemente o voo Oiapoque-Belém, surpreendido pela noite,
era obrigado a permanecer aqui. Não lembro a que horas da madrugada ou da manhã
retornava às nuvens. Isso, talvez, tenha determinado o que tem sido sempre a
minha certeza: aquele que chega, não aquele que parte. E, esta geografia lunar
depois encontrei traduzida por um poeta: “cidade-noite”*.
Havia também uma magia
no céu. As estrelas pareciam maiores do que em qualquer outro lugar, como nas
pinturas de Van Gogh. Ao longe os postes exibiam fagulhas. Em frente ao hotel
um trapiche tão comprido, onde as pessoas caminhavam contra o rumo da maré. E
navegava nessa visão como nos versos que outro escreveu: “Igual ao barco ̸ tenho leme e vela”*.
O hotel não mais
existe. Revejo o trapiche agora interditado e as gentes já não desafiam o
avanço das ondas. E o poeta, insistente, reaviva lembranças: “Aporto-te de noite ̸ as pedras dessa
fortaleza ̸ bebo o rio afoito” *.
É assim que desvio
estas evanescências para retornar ao país da infância que Luly Rojanski Araújo
esboçou em “Nina”. Com ela e o poeta como mestre embarco na “Ubá de (teus) sonhos”*.
*Versos de Fernando
Canto in Os Periquitos Comem Manga na
Avenida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por emitir sua opinião.