quarta-feira, 20 de junho de 2012

EQUINÓCIO


Crônica de J. Arthur Bogéa

Na minha geografia da infância Macapá era uma cidade noturna.
Passei muitas férias em Clevelândia e, frequentemente o voo Oiapoque-Belém, surpreendido pela noite, era obrigado a permanecer aqui. Não lembro a que horas da madrugada ou da manhã retornava às nuvens. Isso, talvez, tenha determinado o que tem sido sempre a minha certeza: aquele que chega, não aquele que parte. E, esta geografia lunar depois encontrei traduzida por um poeta: “cidade-noite”*.
Havia também uma magia no céu. As estrelas pareciam maiores do que em qualquer outro lugar, como nas pinturas de Van Gogh. Ao longe os postes exibiam fagulhas. Em frente ao hotel um trapiche tão comprido, onde as pessoas caminhavam contra o rumo da maré. E navegava nessa visão como nos versos que outro escreveu: “Igual ao barco ̸ tenho leme e vela”*.
O hotel não mais existe. Revejo o trapiche agora interditado e as gentes já não desafiam o avanço das ondas. E o poeta, insistente, reaviva lembranças: “Aporto-te de noite ̸ as pedras dessa fortaleza ̸ bebo o rio afoito” *.
É assim que desvio estas evanescências para retornar ao país da infância que Luly Rojanski Araújo esboçou em “Nina”. Com ela e o poeta como mestre embarco na “Ubá de (teus) sonhos”*.
*Versos de Fernando Canto in Os Periquitos Comem Manga na Avenida.

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