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1745 – O naturalista
francês Charles Maria de La Condamine foi o primeiro europeu a descrever o
fenômeno da pororoca no rio Araguari.
Entre Macapá e o cabo do Norte, no local
onde o grande canal do rio se encontra mais apertado pelas ilhas, e, sobretudo
em frente à grande foz do Araguary, que entra no Amazonas pelo norte, o fluxo
do mar oferece um fenômeno singular. Durante os três dias mais próximos das
cheias e das luas novas, tempo das marés mais altas, o mar, em vez de levar,
cerca de seis horas para subir, chega à sua altura máxima em um ou dois
minutos: pode-se bem imaginar que isso não possa ocorrer tranquilamente.
Ouve-se a uma ou duas léguas de distância um ruído assustador, que anuncia a
pororoca. É o nome que os índios desses cantões dão a essa terrível vaga.
Na medida em que nos aproximamos o ruído
aumenta, e logo se vê um promontório de água de 12 a 15 pés de altura, depois
um terceiro e por vezes um quarto, a intervalos breves, e que ocupam toda a
largura do canal. Essa onda avança com rapidez prodigiosa e, ao passar,
destroça e arrasa tudo o que lhe resiste. Vi em alguns lugares um grande
terreno arrastado pela pororoca, enormes arvores arrancadas, devastações de
toda espécie.
Por toda parte onde passa, a margem fica
limpa como se tivesse sido varrido com cuidado. Os botes, pirogas, e até as
barcas não tem outro meio de se prevenir contra o furor dessa barre (é o nome
francês que lhe dão em Cayenna) senão fundear um local onde haja muita
profundidade.
Não entrarei aqui em maiores detalhes
sobre o fato, nem em sua explicação. Só indicarei suas causas, dizendo que,
após tê-lo examinado com atenção em diversos locais, observei sempre que aquilo
só acontecia quando a onda que subia e entrava num canal estreito encontrava em
seu caminho um banco de areia ou pouca profundidade, que constituíam
obstáculos; era ali e não alhures que começava o movimento impetuoso e
irregular das águas que cessava um pouco além do banco quando o canal se
tornava de novo profundo ou se alargava consideravelmente. La Condamine – Viagem ao Amazonas, 1735-1745, SP, Edusp/Editora Nova
Fronteira, 1992, Pag. 113.
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