segunda-feira, 10 de setembro de 2012

NOVOS POEMAS DE JOSYANNE FRANCO (*)


PROCELAS (**)
Deixa que a dança nos leve
Por todo o espaço da cama
Da casa, do palco, do drama
De certo volteio que exclama
Além da fronteira do beijo!

Somos ambos vis poetas
Perdidos nas ruas do amor!
Sarjetas sem colorido
Mergulho rápido, abismo
Que prometendo o infinito
Vai desnudando outra dor.

Somos amantes volúveis!
A cada dia, distantes.
Querendo o inalcançável
Buscamos hoje no ontem
Caminhando no insondável
Deserto de vãos horizontes.

Poetas de tantas palavras
Estetas das horas de amor
Endossos de antigas promessas
Colossos de paixão e ardor
Somos bons velejadores
Fingindo procelas de amor...

(**) Segunda Menção Honrosa do Prêmio Bernardo de Oliveira Martins 2010-2011


FADA
Tu és a fadaQue bate as asasE abate o tempo!Condão de prataTrazem teus dedosSem sofrimentos...De outros deusesSêmem cevadoConsentimentos!Ventre de fadaEngravidadaDe sentimentos...

INFINITUDE

Ah, eu quero amar de mansinho,
não com a urgência da fome
que inebria amores furtivos
e deixa vácuo, redemoinho,
abismo com cheiro de rosas!

Eu quero amar com beijos suaves,
adocicados e ternos,
com corpos entrelaçados
que se roçam devagar,
ousando em mãos espalmadas,
indecentes, suarentas,
alisando sem receios,
querendo um amanhã cheio de planos
agora perdido entre seios.

Eu quero um amor que pede outro amor,
que curte as dores, que dá às cores
novo matiz, novo teor.
Aquele amor que fareja tudo,
que sabe tudo e finge nada saber
só para buscar delícias,
fazer carícias... e mais viver!

Amor que deixe meu coração
mundano e sem dono,
sentindo a eterna falta
desse mesmo amor que anseio,
feito sem pressa nem pejo,
revigorado no beijo
que me esquadrinha a boca
do assoalho até o céu,
sem nunca encontrar estrelas,
no visgo de cada recanto
que a língua alcança e almeja.

Doce viagem de encantos
só faz o corpo que anseia
o calor do corpo-encanto
no colo que traz acalanto,
nas brumas que o mar pranteia...

Inebriada em desejos,
eu quero amar de mansinho
lá, aonde a noite não chega.
Lá, aonde o dia não termina!
No universo do teu corpo
eu construí minha sina
e vou fazer deste mundo
a tua casa...e a minha.

NOITE DE LUZ
Natal da minha infância... Bombons de chocolate Embrulhados em festivo papel.
Castanhas e fantasia, E a figura esperada e querida De um velho Papai Noel.
Ah, saudade morna e perfumada Dos sinos tocando e a igreja lotada Em bênçãos e muitos sorrisos,
Na linda noite encantada. O sono que me rondava -qual pó de pirlimpimpim!-
Trazia de terra distante e gelada, De entre duendes e fadas, Um sonho com anjo e clarins.
Na manhã que despertava, Ao abrir os olhos, contente, Eu via na caixa dourada O tão esperado presente!
Natal de noites felizes e ambíguas sensações, Que entre sedas e vernizes Lembrava-me os infelizes Sem nenhum pedaço de pão.
Natal é a Virgem Maria Olhando o pequeno menino No bercinho repousar...
É o sonho e a vontade, É o gosto e a saudade Do que não pode voltar..!
GIRÂNDOLAS

Qual é a minha cidade?
É um espaço no meu pensamento,
É um sonho que se disfarçou
No sentido do meu sentimento?
Cadê a minha cidade?
Vive cercada de folguedos
Que me adornam as lembranças,
Camuflando os meus segredos?
Em que galáxia está?
Na constelação de mil flores,
Nos aromas divinais,
no deslumbrar de mil cores?
Será que deixou de existir
Ou nunca passou do desejo
De um cigano a suplicar
Um rumo, um norte, um cortejo?
Não sei mais onde ela está,
Só sei que me olha e eu a vejo
Cá dentro do peito a gritar
Que é o porto seguro de um beijo!

(*) Josyanne Rita de Arruda Franco é amapaense e atual presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do estado de São Paulo (gestão 2011/2012).

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