terça-feira, 28 de junho de 2011

MINHA POESIA

Por Alcy Araújo

A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;

Dos homens que ouviram o rumor do mundo
pela primeira vez.
  
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso!

Ídolos, crenças, tabus, por quê?
Se os homens choram suor
na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
  
A minha poesia tem o ritmo gritante
das sinfonias dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a língua que se desprendeu,
do desespero sem nome

Da prostituta pobre e mãe,
do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão,

- Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia?

Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.

 - Cuidado, senhor, para seu automóvel não atropelar a menina!... 

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