Osmar Júnior, festejado cantor e compositor, reuniu amigos e admiradores na FAB, no final de junho para lançar seu CD do Bar do Abreu. O artista freqüenta o local há mais de duas décadas, sendo um acompanhante emérito do antigo bar itinerante e agora ponto boêmio mais tradicional da cidade.
De Zito Borborema trouxe de volta o sucesso dos anos sessenta “Ilha do Marajó”, aquela do “recebi um telegrama do meu velho pai/ me pedindo pra voltar”, que todos, surpreendentemente, sabem cantar por inteiro. Regravou “Pedra Negra”, do Grupo Pilão (Fernando Canto), com excelente arranjo e solo de guitarra do Cleverson Baía, interpondo um grito de indignação contundente no final da interpretação. Trouxe de volta composições suas, já gravadas, como “Kizomba”, “Pedra do Rio” e “Tarumã das Estrelas” e outras inéditas como “A Morada do Topo do Mundo” e “Sabiá Saudade”, além de “Blues Vinha D’alho” em parceria com o compositor paraense Walter Freitas e “A Brasileira” com Ronery.
A competência artística de Osmar jr. não se enquadra naquilo que equivocadamente chamam de regionalismo musical. Suas composições me parecem um esforço que procura extinguir o equívoco impregnado nesse rótulo.
A prova disso são as canções inclusas nesse CD, gravado ao vivo, onde o artista se expressa através de uma variedade de formas musicais de diferentes compositores e encontra o aplauso do público boêmio freqüentador do conhecido bar macapaense. Nesse trabalho o cantor-compositor se despoja de requintes para encontrar uma platéia fiel e contemplar no sorriso de seus fãs a satisfação de vê-lo cantando samba, marabaixo, xote e outras cantorias que a noite requer e chama. E vem acompanhado por grandes músicos locais que preenchem os espaços musicais com o poder dos seus talentos individuais, tais com o já citado Cleverson Baía, o Valério de Luca na bateria, Taronga, Alan Gomes e Odair, no contrabaixo (estúdio) e as participações especiais de Jeferson Silva no acordeon, Beto Oscar na viola e Ceará da Cuíca, que deram um “molho” fora do comum na execução das músicas.
Na canção “O Abreu Abriu o Bar”, um belo samba-bossa, Osmar mostra a realidade dos freqüentadores do local, retratando com a maior fidedignidade poética possível o que ali se sucede cotidianamente: os porres, os amores, os amigos, os poetas, a ilusão dos boêmios contumazes, o fiado, os jogos que passam na televisão e o apaixonado grito de gol do time do coração.
Suave, ótimo para ouvir e se deleitar, este CD é mais que um retrato do que se vem produzindo na música pelos nossos compositores e músicos: é, também, um ato de valorização das nossas coisas tradicionais – o próprio bar – já que tantos outros desapareceram e foram transformados sem que ninguém pudesse fazer alguma coisa. O bar Xodó, por exemplo, é apenas uma permanência na nossa memória, algo que fica porque representou um local da boemia macapaense que até hoje centenas de ex-frequentadores continuam festejando em réveillon, desde 1998.
Bom também será olhar o aspecto gráfico do produto. Um painel com caricatura dos proprietários e clientes, desenhado pelo artista plástico Alexandre Torres, procura retratar a o ambiente do bar, onde Osmar aparece em primeiro plano com seu violão.
A música de referência traz ainda uma homenagem póstuma aos poetas Alcy Araújo e Isnard Lima, citados nominalmente na canção, por serem também, como o compositor, insignes clientes do BA.
O CD “Osmar Jr. No Bar do Abreu” amplia o universo criativo do compositor, populariza ainda mais sua obra e representa uma ponte que reduz o fosso entre a música aqui produzida e a nossa vida amapaense.
Artigo publicado no Jornal A Gazeta, de 13/07/2009, disponível em http://www.jornalagazeta-ap.com/opiniao.htm
segunda-feira, 13 de julho de 2009
A MÚSICA ABRIU O BAR
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