Foto de Fernando Canto
O rio diante de mim parecia um ser de barro
De cabelos avoantes e um hálito doce
A soprar minha face de criança atônita
O riO O riO O riO
Curso d’alma dentro d’água
(nele corriam todos os destinos
os desejos
os sentidos e uma direção)
II
A noite-breu vagava lume de estrelas
E os homens apontavam dedos verrugosos
Seguindo a trajetória dos satélites
Entre seres pequeninos que sonhavam luzes
E as ondas que embalavam as redes
Para o vai-e-vem dos devaneios
III
O medo era um peixe engolidor
Que se dissipou à vista da primeira paisagem
– Uma estranha construção de pedra
E um longo madeirame sobre as águas
Estava completada a travessia
(Ávida espera
Ânsia desritmada)
Meus pés, então, colaram à terra
Como planta que “pega-de-galho” em solo fértil
E nunca mais eu e tu fomos nós dois!
IV
Aprendi te amar nas madrugadas
Quando ainda eras um Adelantado
Decretado por reis mortos como Nueva
Andaluzia
Depois mundiei nos olhos do futuro
E construí só para ti um forte
Com meus braços de operário compulsório
–Ah, o sangue, a malária à espreita! A morte!
V
A ti devo o conceito de ser contra a corrente
À evidência do remanso
Porque não canso de aprender tua sábia natureza
Que some e surge como um tempo em espiral
Espraiando mitos e magias de Ianejar
O herói de Mairi dos Waiãpi
VI
E assim como o fogo estica o couro dos tambores
E a mão que toca a vida e seus amores
O canto encobre o som desses batuques
Que agitam saias e toalhas
Da gente do marabaixo
E a lembrança da senzala que nunca mais virá
VII
Por sob o gesto está toda a ossatura
A verve e a formosura dos seres calcinados
Frutos de paixões, azuis, amalgamados
Paridos de carbono e oxigênio
Envoltos sem querer num tempo-calendário
Voantes como flecha à caça do milênio
Com sua cosmogonia
E mitos vitimados pela História
VIII
Mas foi aqui que vi fincarem bases / desenharem
Formas
(Ousadas águas que o oceano anseia)
sob o grito inenarrável dos revéis sem planos
Enquanto a cobra-grande se movia
O riO O riO O riO
Segue então seu curso inexorável
IX
Agora há uma chama no horizonte
Iluminando o rosto dos mortais que se transformam
Em seres pregnados da certeza
Que luz não é fogo-fátuo esvanescente
Que sombra não é a aziaga forma de domínio
Mas decerto projeção da realidade
Sob o espelho das manhãs
X
Ah, eu quero um vir-a-ser da claridade
O incenso/o ouro/a mirra
A águA A águA A águA
O Ar
E a luz que vislumbrei na travessia
XI
Eu quero ser a chuva e o pranto da felicidade
Caindo sobre as folhas da floresta
E amarrar por fim esse tempo na retina dos olhares
XII
Eu quero alimentar o sonho e me emantar de ti
Pois só quem te AMA
palma
te AMA
nhá
te AMAPÁ
Te A M A P Á T R I A
De cabelos avoantes e um hálito doce
A soprar minha face de criança atônita
O riO O riO O riO
Curso d’alma dentro d’água
(nele corriam todos os destinos
os desejos
os sentidos e uma direção)
II
A noite-breu vagava lume de estrelas
E os homens apontavam dedos verrugosos
Seguindo a trajetória dos satélites
Entre seres pequeninos que sonhavam luzes
E as ondas que embalavam as redes
Para o vai-e-vem dos devaneios
III
O medo era um peixe engolidor
Que se dissipou à vista da primeira paisagem
– Uma estranha construção de pedra
E um longo madeirame sobre as águas
Estava completada a travessia
(Ávida espera
Ânsia desritmada)
Meus pés, então, colaram à terra
Como planta que “pega-de-galho” em solo fértil
E nunca mais eu e tu fomos nós dois!
IV
Aprendi te amar nas madrugadas
Quando ainda eras um Adelantado
Decretado por reis mortos como Nueva
Andaluzia
Depois mundiei nos olhos do futuro
E construí só para ti um forte
Com meus braços de operário compulsório
–Ah, o sangue, a malária à espreita! A morte!
V
A ti devo o conceito de ser contra a corrente
À evidência do remanso
Porque não canso de aprender tua sábia natureza
Que some e surge como um tempo em espiral
Espraiando mitos e magias de Ianejar
O herói de Mairi dos Waiãpi
VI
E assim como o fogo estica o couro dos tambores
E a mão que toca a vida e seus amores
O canto encobre o som desses batuques
Que agitam saias e toalhas
Da gente do marabaixo
E a lembrança da senzala que nunca mais virá
VII
Por sob o gesto está toda a ossatura
A verve e a formosura dos seres calcinados
Frutos de paixões, azuis, amalgamados
Paridos de carbono e oxigênio
Envoltos sem querer num tempo-calendário
Voantes como flecha à caça do milênio
Com sua cosmogonia
E mitos vitimados pela História
VIII
Mas foi aqui que vi fincarem bases / desenharem
Formas
(Ousadas águas que o oceano anseia)
sob o grito inenarrável dos revéis sem planos
Enquanto a cobra-grande se movia
O riO O riO O riO
Segue então seu curso inexorável
IX
Agora há uma chama no horizonte
Iluminando o rosto dos mortais que se transformam
Em seres pregnados da certeza
Que luz não é fogo-fátuo esvanescente
Que sombra não é a aziaga forma de domínio
Mas decerto projeção da realidade
Sob o espelho das manhãs
X
Ah, eu quero um vir-a-ser da claridade
O incenso/o ouro/a mirra
A águA A águA A águA
O Ar
E a luz que vislumbrei na travessia
XI
Eu quero ser a chuva e o pranto da felicidade
Caindo sobre as folhas da floresta
E amarrar por fim esse tempo na retina dos olhares
XII
Eu quero alimentar o sonho e me emantar de ti
Pois só quem te AMA
palma
te AMA
nhá
te AMAPÁ
Te A M A P Á T R I A
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