quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O VOO DA LUZ

RAY CUNHA (*)

Talvez o maior objetivo da moda da roupa seja o da sensualidade, tanto na confecção de tecidos quanto na indumentária. Uma mulher vestida de modo a realçar a beleza física terá sempre os homens dominados pela loucura, pois nós jogamos fora todo o nosso verniz, toda a nossa racionalidade, toda a nossa liberdade, para nos aprisionarmos à passagem de uma potra vestida em seda; relinchamos, esmagados pelo perfume das virgens ruivas, fugaz como o gemer do acme.

A visão de nádegas se movendo sob seda, de blusas que mal encobrem mamilos grandes como jambo, de barriguinhas que surgem e desaparecem como fontes aos olhos sedentos e ao desmaio, são pedras preciosas que cravejam as ruas das grandes cidades e, assim, de Brasília também. Barriguinhas, sejam tipo tábua, ou renascentistas, levam, sempre, às avenidas da imaginação.

É da natureza feminina a ambiguidade. Elas querem, mas juram que não. Nem Freud explica. E a barriguinha é uma prova cabal disso. Elas puxam a blusinha para encobrir a barriga, ou as calças para tornarem o mistério de suas virilhas ainda mais agudo, e, no entanto, sabem que tudo isso é inútil, e que nossos corações disparam e, assim, nos matam, embora permaneçamos vivos.

A elas, só a beleza importa. São como as rosas que vicejam no jardim de casa. Minhas rosas são delicadas, perfumadas, lindas como mulher nua, e evanescentes, e me ignoram. Só querem saber de luz, que, afinal, as tornam ainda mais esplendorosas. Resigno-me, pois me basta que nasçam no jardim de casa. Sua presença é, simplesmente, o triunfo.

Quando as mulheres puxam, inutilmente, a blusinha para encobrir a barriga, elas nos insinuam um abismo de rosas, choramos em silêncio, e fechamos os olhos para não morrermos no voo da luz.

(*) Ray Cunha é escritor e jornalista sediado em Brasília - DF

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