hoje não sairemos tarde
automóveis batem no vidro
e nas grades do centro dos edifícios
difícil será romper o asfalto
teremos contudo ainda
segundos de elevador
onze choros piso a piso
o pavor se cai a ligação das redes
mas não desanime
azulejos não esfriam
dentro dos chuveiros
um primeiro espasmo pelas escamas das águas sei dos sopros nos olhos já sem as dores do mundo devorado dos timbres do medo e posso a luz de um mar sem grades / / no berço le parc / revoada no pulso da lâmina ou no ringue ou no chão enviesado de lentes rindo segredos de jardim / jatos de peixe prata feixes de ameba no metal e digo sempre explosão e contra no fogo e mais a cada hora ainda
ave eva
ave ave eva
nave mãe que me navega
nessa indomável cruzada
que se faz do nada ao nada
onde tudo desfeito se reagrega
assim eu satélite ou astro
em ti refeito e semeado
caminho contigo lado a lado
às vezes tímido às vezes vasto
ante a luz que emana ou se reflete
ave mãe leio em teus lábios
um rumo certo para minha era
e se teu leite alimenta a terra
é porque emanas o gesto sábio
de saber-nos todos no mesmo barco
por isso o arco da trajetória
que desenho hoje livre em asa
guarda em si o germe da nossa casa
sem que me pese a âncora da história
pois mãe és pássaro em minha hora
e se agora beijo a tua herança
com a boca em fruto e a mão em verso
é porque te amo intenso e terno
e amo em ti tua eterna esperança
que faz mais bela a nossa dança
soltos neste espaço que nos cerca
hai ku !
se abashô demais
um vento no bambuzal
frio no lago azul
(*) FALEIROS, ÁLVARO
– nasceu no Chile em 1972, e passou a adolescência em Brasília (1984-1990), voltando à cidade de 2000 a 2002 , quando se mudou para São Paulo e doutorou-se em Língua e Literatura Francesa, na USP (2003 ). É professor da Universidade de Brasília (UnB) desde 2004. Como tradutor publicou, entre outros: Latitudes: 9 Poetas do Québec (Noroît/Nankin, 2003 ); O Bestiário, de Guillaume Apollinaire (Iluminuras, 1995 ); Descabelados, de Yosano Akiko (Ed. UnB , 2007), com Donatela Natili; e Caligramas, de (Iluminuras, 1995 ); Descabelados, de Yosano Akiko (Ed. UnB , 2007), com Donatela Natili; e Caligramas, de Guillaume Apollinaire (Ateliê, 2008). Publicou os seguintes livros de poemas: Coágulos (Iluminuras, 1995); Amapeando (Nankin, 1997); Transes (França, 2000), O Retirante que Virou Presidente (Cordel, 2002 ); O Auto do Boi d’Água (cordel, 2003 ) ; e Meio Mundo (Ateliê, 2007) . Como compositor, lançou o CD Água Minha (2003).
http://www.slideshare.net/bnb_brasilia/antologia-salomao-presentation
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