Dançador, que segundo sua mãe não tinha salão de festa em Macapá que não conhecesse o solado do sapato dele, Zé Ramos foi informado sobre um bar recém-inaugurado que fazia música ao vivo, no centro da cidade. As pessoas iam lá para se divertir e dançavam até ao amanhecer sem que houvesse confusão. Disseram-lhe que os preços eram um pouco maior que o dos bares e dançarás do Laguinho, mas valia a pena frequentar. Chamava-se “Cabana do Pai Tomás” e era decorado com pequenas malocas de madeira e palha no quintal, próprias para quem queria privacidade. Lá dentro, na parte coberta, os casais dançavam “soltos” ao som de conjunto “Embalo 7”, curtindo Credence Revival, John Rivers e os Incríveis.
Zé Ramos foi lá e ficou encantado com a luz negra e o foco de pequenos canhões giratórios que faziam desenhos nas paredes. Animado que só, foi logo olhando as mulheres para tirar uma para dançar. Seus olhos bateram de frente em uma morena que se destacava das demais por usar um vestido curto branco e brilhante sob o efeito da luz negra. “É essa”, pensou. E partiu para cima. Ela foi simpática e aceitou dançar com ele porque achara lindos os seus dentes brancos no sorriso largo. Então ele chamou o Rato, um garçom simpático, mas conhecido na cidade por muito ladrão nas contas. Pediu o melhor tira-gosto e bebeu campari até os talos, sugerido pelo garçom. Lá pelas tantas, já “bacana”, o Zé foi dançar uma música romântica de rosto colado com a morena e de repente soltou aquele líquido vermelho nas costas da garota. Ela se assustou e deu um berro mais alto que os decibéis do conjunto. Acenderam as luzes. A moça estava caída embaixo do Zé, com o vestido branco todo manchado de vermelho. Os freqüentadores gritavam: “Assassino, assassino covarde!” E largavam a porrada nos costados do negão, até que a moça se levantou ainda tonta de susto, acompanhada pelos amigos.
O Zé foi levado para a delegacia do Igarapé das Mulheres e ali dormiu no cimento frio da cela. Acordou massageando os olhos e com muita dor nas costas. Na cela ao lado havia três prostitutas presas, com as quais conversou bastante. Para a sua surpresa a porta de sua cela estava aberta e ele viu uma rede atada na sala em frente ao corredor. Estendeu a mão pela janela veneziana e roeu uns vinte fios do punho. Ouviu um barulho e voltou para a cela até que o carcereiro apareceu com uma vassoura e um balde d’água. Teve que fazer a faxina do banheiro para poder ser solto.
Uma semana depois, serenando a festa dominical na sede dos Boêmios do Laguinho, fazendo pose na sua bicicleta Monark, que tinha até farolete e garupa estofada, viu umas meninas se aproximando com enxerimento, mas ele virou a cara, não reconhecendo nenhuma. Elas ficaram invocadas e gritaram na frente de todo mundo: - Fala Zé Ramos, roedor do punho da rede do delegado. Safado! Paga o campari que tu prometeste pra nós. E o Zé, olha, saiu com mais de mil na sua “magrela”, pedalando rua abaixo com a vergonha a lhe bater na cara.
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