terça-feira, 25 de outubro de 2011

TÉRMINO DA QUINTA PÁGINA

Oavesso do espantalho Poema de Luiz Jorge Ferreira, do livro “O Avesso do Espantalho”, Scortecci, São Paulo, 2010

Olho para trás para tentar me ver;

E me vejo, no último Maio.

Pintando em Degradê no  fundo do prato de parede.

Com a invasão das formigas de asas

Perdi as digitais, enterrei a voz e engordei.

Eu sempre olho para trás.

Da estante, uns discos, uns livros, um sulco, um silvo, um uivo.

Acenam sutis.

As camélias estão na parte posterior dos ângulos.

Engulo Bons Dias e Boas Vindas. Em silêncio.

Não tenho hábitos.

- Eu gosto do mar sem sal, só a espuma no copo.

Um dia recordarei os pássaros, voando no bordado da cortina.

De noite os passos, as Bem Aventuranças,

E o Batuque do Marabaixo.

Moribundo ao lado dos grandes troncos que flutuam sem

Destino, na Baia de Macapá.

Olharei por cima de inúmeros Outonos.

E por fim, eu, construído de folhas, fotos e diagramas,

Terminarei próximo de mim.

Para a felicidade das formigas de asas.

Elas não precisam esperar o término da quinta página.

Para beber da chuva que ensopa minha pele.

Elas continuarão a invadir a tarde carregando asas sujas de nada.

São soberbas!

Como eu, voam como se transportassem vidas.

Como eu, vivem como se arrastassem voos.

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