Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 26/07/10
Aimoré Batista e os brotos (quem se arrisca a dizer quem são?), em 1969. Fonte: Revista Latitude Zero, nº 01.
O deus sol abre novamente suas asas de luz para abrigar a alegria e o contentamento que trazem as férias em Macapá.
Uma juventude radiante movimenta o corpo em dezenas de balneários espalhados por perto da cidade, ouvindo música e o som daqueles que riem e explodem em seus hormônios, crescendo como açaizeiros ao vento.
O velho Macapá Verão, que teimaram e depois desistiram de mudar o nome para “Festa do Sol” (nome importado de cidades nordestinas que não pegou bem), tornou-se um símbolo da cidade.
Antes dele o passeio aos domingos à praia de Fazendinha era uma tradição das famílias de classe média macapaense, mas não havia atrações, apenas um grande barracão que virava salão de dança e alguns bares sazonais. Quase todo mundo era “farofeiro”.
O programa começou em 1980, realizado pelo Departamento de Turismo, que àquela época era vinculado à Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral. Estávamos em plena ditadura militar e o governador era Annibal Barcellos, o secretário da SEPLAN era o economista Antero Lopes e o primeiro diretor do DETUR era o técnico em turismo Flávio Zírpolli, um pernambucano muito competente.
Lembro que a oposição ao Governo tinha um jornal que apelidavam de “Vermelhinho” - cuja memória sobreviveu ao próprio nome -, impresso por políticos de uma facção do PDS, o mesmo partido que apoiava o governo militar.
Esse jornal impinimava com o Flávio por duas coisas: primeiro por ele não ser amapaense e segundo porque na programação tinha eventos que eram considerados bizzaros, como o pau-de-sebo e a famosa disputa pelo prêmio de maior comedor de camarão. Alegava que o pau-de-sebo era uma brincadeira do nordeste e da quadra junina. Já o maior comedor de camarão era um concurso muito esperado pelos participantes e pela população de banhistas que se aglomeravam em torno dos concorrentes, só para vê-los se enchendo de camarão “com casca e tudo”. Mas o jornal “metia o malho” porque achava tudo aquilo muito nojento e primitivo.
Havia concursos de escultura na areia, miss Macapá Verão, e shows artísticos. As pessoas dançavam, uns faziam roda de samba, e ninguém reclamava do preço das comidas. Os professores do DEFER, órgão responsável pela programação esportiva e recreativa, faziam até concursos de canoagem com os caboclos ribeirinhos, enquanto o GRUCI (origem do Corpo de Bombeiros) disponibilizava salva-vidas para o local.
Mais tarde o arquiteto Chikahito Fujishima assumiu o lugar de Zírpolli no DETUR. Daí muita coisa foi tirada e acrescentada. E o Macapá Verão não parou mais de crescer. A Prefeitura Municipal de Macapá passou a realizar a programação e se instalou em algumas dezenas de balneários no interior do município: do Lontra da Pedreira à Vila Progresso no Bailique, do Maruanum a São Joaquim do Pacuí e Curiaú. Sem contar os diversos pontos da cidade como Araxá, Jandiá e Aturiá. As primeiras divulgações eram feitas através de spots transmitidos pela Rádio Difusora, cartaz em preto-e-branco e veiculação semanal no Jornal do Povo, onde trabalharam Valmir Botelho e Elson Martins, sob a batuta do jornalista Haroldo Franco. Por outro lado, em 2004, os banhistas de Fazendinha foram contemplados com show de artista nacional ao vivo (Nando Reis e Banda e artistas locais), transmitido pela TV Cultura.
A tradicional programação de férias dos macapaenses hoje continua a mesma, ainda que mais colorida pelo processo político que se acentua nos anos de eleição. Então vamos viver o nosso velho e querido Macapá Verão e pedir ao sol do equador mais luz para iluminar a cabeça deste povo que daqui a pouco vai ter que escolher seus governantes.
Adorei o texto. Era muito legal o Macapá Verão. Eu era daquelas que ia todos os dias para Fazendinha.
ResponderExcluirQuerida Alcilene. Acho que não há ninguém da minha geração que não tenha se "mandado" aos domingos pra Fazendinha, até mesmo de bicicleta.
ResponderExcluirNão havia muro de arrimo e a gente ia direto para a praia de areia natural do rio. A estrada não era duplicada, por isso meio perigosa. Mas Fazendinha era o lugar privilegiado. Pode ver nas crônicas de verão do poeta Alcy Araújo, que esbaldava em poesia sob o sol do verão do equador. Abs. Fernando
Levávamos óleo JOHSON para bronzear e vestido com tanga com cores de couro de onça, tremendo GATO
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