Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 04/07/2010
Penso sobre a música como uma arte universal que pode ser compreendida em qualquer parte e por todos que a ela tenham acesso. É uma cultura comum a todos os povos, assim como os folkways, a comunicação e os ritos. A exemplo da literatura e seus movimentos que ora na Amazônia os intelectuais vem revendo e debatendo de forma sistemática, é muito reducionista chamar uma literatura ou música amapaense, como se fôssemos menores e que nunca pudéssemos fazer parte de um contexto maior, mais brasileiro, como se assim fôssemos pensar que um Osmar Júnior não pertencesse ao Brasil e ao planeta como artista, mas que estivesse cativo numa área geográfica reduzida e cercada de peculiaridades que não pudessem ser vistas e ouvidas por outra pessoas do resto do mundo.
Nossa música é muito grande para ser vista somente como música amapaense. Nossos artistas – compositores, músicos, maestros, letristas, cantores – certamente interpretam nossa vidas, entre belezas e dores, entre amores e esperanças, e por isso mesmo se orgulham de pertencer a este torrão amapaense, onde moram, vivem, e provavelmente morrerão. Mas é verdade que muitos exageram nos termos e por isso, talvez, não ganhem a compreensão de quem escuta suas criações musicais.
Há algum tempo setores governamentais promoveram um tipo de música de poucos, que associavam a valorização das coisas amapaenses com o convívio político. Tanto exageraram que ficaram conhecidos como “minhocas”. O termo se popularizou e ganhou inúmeros adeptos, pois o trabalho por eles realizado era de excelente qualidade musical. Incluíram os ritmos locais como o Marabaixo e o Batuque, o Zimba e o Çairé em suas belas composições, fizeram excursões internacionais financiadas pelo governo, digo, pelo povo, mas quando deram conta estavam esbarrando numa cerca de aço chamada mercado fonográfico. Não é fácil pertencer ao mundo pop star sem prévio reconhecimento (talento), beleza, ineditismo e investimento pesado. É lógico que os setores que cuidam da cultura têm mais que investir no talento dos artistas locais e promovê-los sempre. Mas naquela época tudo era uma redoma só. Uns poucos artistas eram amigos do rei, podiam cantar e cantar. E tanto o fizeram cantando nossas coisas que hoje o povo – estudantes e o público da classe média – reconhece o trabalho desses valorosos músicos e intérpretes amapaenses – condição básica para o aumento da auto-estima e para o desenvolvimento de áreas como o turismo, onde se inserem a hospitalidade, a valorização de nossas potencialidades e culturas, etc.
Nada contra a minhocanização da música aqui produzida. Quero que todos possam competir e se globalizar, afinal, praticamente não há mais povo isolado, a internet está aí dizer que não estou mentindo. Há muitas saídas para sonhar com o reconhecimento do que se faz em qualquer lugar deste tão diversificado país.
Hoje, graças a um trabalho constante e a união dos músicos, o governo do estado, mesmo timidamente, um tanto longe do ideal, vem investindo nessa divulgação tão importante para que nos reconheçam e nos visitem, para que apreciem nosso folclore, nossos fazeres culturais e nossas riquezas cênicas que nos faz ímpar no Brasil, na Amazônia e no meio do mundo.
Isso mesmo. Já poderiam estar vendendo suas musicas pela internet
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