domingo, 29 de novembro de 2009

FLAMENGUINHO ESPORTE CLUBE E AS CANELAS TUÍRAS

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 29/11/2009.

flamenguinho 005 Primeira formação do Flamenguinho Esporte Clube: 1968/1969.

EM PÉ: Gainete, Zé Wilson, Fernando Canto, João Cabral, Quincas Semblano, Agostinho Tupinambá, Eugênio, Lulu, Barriga Mole, Seu Lima e Jorge Cabral.

AGACHADOS: Careca, Carlos, Chico, Vevé, Bolinha, Iran, Marinho, Nardo, Jonas, Valdenor e Nazaré.

Claro que um clube que não forma base não pode se desenvolver. Não era bem esse o caso do Flamenguinho que nem filiado era à matriz lá no Rio de Janeiro. Nascido no bairro do Laguinho sob a coordenação do empresário José Lima, um maranhense que no fim da década de 60 organizou o time, o Flamenguinho era formado por garotos bons de bola na sua maioria oriundos do Morro do Sapo, ali da Rua São José e arredores.

Um time apaixonado pelo Mengão que realizou dezenas de partidas sem perder para qualquer rival da cidade ou do interior. Um plantel - grupo de atletas selecionados - como diziam os locutores esportivos, feito por uma seleção de moleques que só queria mesmo era “bater bola” fosse aonde fosse: na piçarra solta, no campo de terra dura, na grama ou na lama. Em qualquer lugar lá íamos nós jogar com a camiseta hering branca, onde o escudo do time estava cuidadosamente pintado no peito em serigrafia, calção preto e... descalços.

Da minha parte lembro que joguei no time titular na posição meia-direita. Tinha um futebol razoável, mas ao ponto de barrar uns e outros que depois viriam se tornar grandes jogadores aqui  e em outros estados. O primeiro time do Flamenguinho realizou invicto, 56 partidas, graças ao talento de atletas como Zé Wilson Jucá, Bolinha e Vevé, de uma zaga em que estavam João Cabral, Careca, Jonas e Chico. No gol o titular era o Quincas Semblano e o Lulu era o reserva. Havia o Valdenor, o Marinho Louro, O Nardo Tupinambá, o Carlos e o Nazaré. Mais o Eugênio, o Raimundo “Barriga Mole” e o Agostinho (Mimim) Tupinambá. O Jorge Cabral era o assistente técnico e o Jorge “Gainete” era o treinador. Ah, o nosso mascote era o Iran, filho do treinador.

Ainda hoje há quem conteste bravamente os resultados da performance do time. Inclusive o Norberto Tavares, meu amigo, que estudou comigo no GM e depois jogou em clubes semi-profissionais como o Amapá e o São José. Mas isso é coisa do passado. Não vou discutir uma ou duas partidas que possivelmente o time perdeu. Na verdade joguei só essas partidas e venci, acho eu.

Agora vejo essas fotografias com a cara séria desses moleques atrevidos do Morro do Sapo. Meninos que tiveram trajetórias bem diferentes, mas que nunca deixaram de ser craques apesar da tragédia pessoal de alguns.

Não pertenci ao segundo time do Flamenguinho. Nessa altura tinha trocado a bola pelo violão e tocava no Grêmio Jesus de Nazaré e nas missas da juventude da igreja de São Benedito. Zé Wilson e Bolinha jogaram em grandes times locais; Everaldino, o Vevé, virou o “Índio”, atuando pelo Rio Negro de Manaus e Jonas foi um cracão do Esporte Clube Macapá. Eugênio, Chico, Marinho, Lulu, Quincas, Mimim, Nardo, Barriga Mole, Careca e Nazaré viraram funcionários públicos do mesmo jeito que o Gainete, os irmãos Jucá e eu. Carlos voltou para o interior e o Vevé sumiu de vez. Valdenor também. Ah sim, o mascote virou militar.

Decorridos cerca de quarenta anos chegam esparsas e não muito boas notícias sobre aqueles adolescentes de 13, 15, 16 anos. Dizem que Bolinha, com excesso de peso, se recusa a fazer cirurgia de redução de estômago, um e outro têm doença degenerativa, coisas assim.

O fundador e mantenedor do time, seu Lima faleceu ainda jovem, não tanto quanto o zagueiro Cabral que morreu de tiro num acampamento, aos 18 anos, justamente quando servia o Exército em plena zona de conflito armado no Araguaia, sul do Pará.

Na foto que tenho ninguém sorri. Calculo que é por causa do sol do meio do dia derramado sobre o capim seco do velho campo do América, onde um dia tivemos nossas vitórias e cansamos nossos pés em busca de um futuro cheio de glórias que se avistavam além da poeira do campo. E certamente multiplicamos nossos sonhos para mais longe ainda da pose estática da fotografia. Uma foto que “historiadores oficiais” esquecerão, mas que nós nos lembraremos rindo na nossa solidão, quando a voz materna nos mandava tomar banho, á tardinha, para lavarmos bem nossas canelas “tuíras” e cheias de cicatrizes.

2 comentários:

  1. Quem pensava que Fernando Canto jogador de futebol era piada, olha aí a prova.

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  2. Tu jura "otaro" que jogavas msm bola??...hehehehe...A foto tah bonita!!
    Abração parceiro!

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