Viajo com nunca. Todos perguntam ou querem adivinhar minha origem e ainda especulam sobre meu modo de ser imprevisível. Por ser assim, e hábil em minha arte, recebo das mulheres e das crianças elogios que não sei se mereço, da mesma forma que percebo os olhares impiedosos dos medíocres.
Como eu mesmo, ninguém sabe meu destino porque ao partir fico e ao ficar parto.
Nunca revelo o segredo do partir nem o descanso imaginário do meio do caminho. Eu trago o grito desesperado das ariranhas no cio, o vôo agourento dos anuns e o desengonçado pouso do urubu-rei sobre a carniça. Meus defeitos estão à vista, não sou dado à perfeição porque ao ficar parto e ao partir fico.
Publicado no livro equinoCIO – Textuário do Meio do Mundo, Paka-Tatu, Belém-PA. 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por emitir sua opinião.