quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Coluna Canto da Amazônia - Viagens

Por Josyanne Rita de Arruda Franco, (josyannerita@gmail.com)

Um amigo recente disse-me que escrevo sobre partidas, que estou sempre saindo em viagem... Creio que ele está coberto de razão: apesar de amar encontros, verso sobre despedidas, disfarçados adeuses cobertos de rimas. Ir e vir são minhas eternas viagens.

Hoje fiquei muito tempo ouvindo Lenine interpretar “Meio Almodóvar”. A sensação de que algo fica suspenso no ar e no sentimento me fez escolher o assunto que ora me acolhe em elucubrações despidas de absinto ou qualquer outra forma de anestesia emocional. Simplesmente viajo a bordo do mais intergaláctico e sideral ônibus espacial: o interior de mim mesma.

Ser prática e objetiva faz parte de uma parte da vida; a outra é ilusão, palavra que tem raiz no lúdico, no brincar. Melodia e ritmo completados por belo conteúdo em forma de letra, sempre me convidam a pensar, não ouço música por ouvir. Quero compreender o que ela provoca em mim, o que me incita fazer, por que me leva a chorar... Por que me faz dançar e sorrir. Ali existe um discurso, uma narrativa, não somente o que escuto de forma literal, mas o que me afeta de maneira inexplicável e revolve o essencial. A música e a poesia permitem que eu saiba mais sobre quem sou.

E assim me apaixono diversas vezes e também me desencanto: se alguns amores deixam cicatrizes indeléveis, certamente com elas estão música e poesia. Os amores passam e fica a trilha sonora, permanente, flamejante e provocadora como o tempo de antes, quando o querer impulsionava tudo e o sonhar preenchia o nada.

Viajo e me despeço enquanto a música toca, assim escrevo meus versos. Chego de novo, parto outra vez. Algo lento e passional me convida a repetir este ciclo de chegadas e partidas... Talvez o desafio de conhecer além do agora, de saber se fujo com a noite, se volto com o vento. De procurar o que não alcanço só para continuar buscando o momento que celebra o mistério, mas nunca o desvenda.

Ouço a voz de Lenine: “Foi só um ensaio/ Foi só um insight / Durou muito pouco / Doeu muito mais/ Foi trailler de filme/ Ensaio de orquestra / Foi jogo suspenso / No auge da festa”. Diz muita coisa com poucas palavras.

Sim, na imensidão dos dias que se repetem sem muito glamour nem tanta beleza, existe um refúgio às coisas mais caras que alimentam a emoção e produzem serenidade: é o universo criativo, um mundo que supõe imaginação e sensibilidade.

É claro que meu novo amigo tem razão, ele também é artista. Só os artistas percebem o que existe atrás do que se diz, do que se faz... Os artistas e os analistas, pois Freud disse algo mais ou menos assim: “Por onde quer que eu vá, qualquer caminho que escolha, um poeta passou por ele antes de mim.”

Um comentário:

  1. FICO MUITO FELIZ DE VER TEXTOS DESTA ESCRITORA AMAPAENSE RADICADA EM SÃO PAULO POSTADOS NESTE ESPAÇO
    REGIDO PELO FERNANDO CANTO.
    JOSYANNE DE QUEM SOU COMPANHEIRO E
    AMIGO, NA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICOS ESCRITORES, CRIA PROSA E VERSOS RIQUISSIMOS. COM ELA DIALOGO SOBRE O "NOSSO AMAPÁ" COMO SE DELE NUNCA HOUVESSEMOS SAIDO.
    DOCES FRUTOS, ORIUNDOS DA SAUDADE.
    L.JORGE.

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