Domingo passado o escritor e jornalista (porque um cara desses não pode ser apenas uma coisa) Ray Cunha completou 57 anos, empatando comigo, apesar da diferença de cinco meses. Em trecho de sua crônica sobre a idade que fez, diz que “não sinto mais o fluir da vida no tempo, mas como o grande rio, que escorre, ininterruptamente, para o Atlântico. A Terra, a lei da gravidade, aos poucos dá lugar à luz, portal entre o mundo fenomênico e a dimensão espiritual. Ouço murmúrios na tarde, Mozart, e caminho para a noite” (...).
“Meus cabelos ainda não negros - há quem pense que os pinto -, mas são cada vez mais ralos. Minha pele, aos poucos, vai sofrendo a oxidação de maracujá de gaveta e os desconhecidos já me olham desconfiados, pois normalmente confiamos em pessoas de até 30 anos. Já não bebo mais, nem vinho, depois de 43 anos mergulhado no álcool, como uma poça que se avolumou e começa a secar. Ouço, agora, o silencioso som da madrugada, emociono-me ao ver crianças, choro de alegria no jardim prenhe de rosas, e voo no riso da minha filha e da mulher amada, e de todos que eu amo”.
“Já não tenho mais apego e não quero nada que não seja meu, e tudo o que é meu está guardado num relicário, no meu coração. Minha riqueza é imensa, pois à minha passagem os jardins florescem, as crianças riem e a Luz triunfa”.
Não lembro de ter lido, em meus 54 anos de vida, algo tão... profundo! Tão belo! Meu caro Ray, o Amapá precisa (re)conhecer você!
ResponderExcluirFERNANDO, ESTE TEXTO AGUÇADO DESTE
ResponderExcluirCOMPANHEIRO SENSIVEL E CRIATIVO, OBSERVADO NESTE CREPUSCULAR DA "EXISTENCIA" COMUM A TODOS NOS.
VEM A TEMPO. TODOS NOS EM ALGUM INSTANTE PENSAMOS DESTE MODO. MUITOS NÃO CONSEGUEM TRADUZI-LO.
ELE COM ESTE TEXTO.CONSEGUIU.
PARABENS.
LUIZ JORGE.
O Ray, irmão do Olivar Cunha, ambos meus contemporaneos, [o Ray, estudamos no CA e Ele escrevia um jornal[zinho, estencio] já com ideias sempre opositoras, a qualquer coisa referente a ditadura, Eu [Diniz] ilustrava o Tal "O Rosa" [anos 70, ~72/73]. Enquanto mantinha dialogo na arte com o Olivar parceriava com o Ray na [já, então] arte de escrever e saber opinar. Tempo, tempo, como passamos e não o percebemos...
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