segunda-feira, 31 de agosto de 2009

TORCEDOR DO SÃO JOSÉ

A festa dos 63 anos do São José na quarta-feira passada foi mais um congraçamento entre cartolas, atletas e torcedores, categoria esta em que me situo com muito orgulho.

Laguinense que sou muitas vezes acompanhei o Sanjusa assistindo seus jogos no Glicerão e os treinos no campo da sede dos Escoteiros do Laguinho, sob o comando do Chefe Humberto Dias. Eu me dividia entre o violão e a bola, pois cheguei a jogar no Flamenguinho, time de adolescentes incentivado pelo saudoso "Seu Lima", um empresário maranhense apaixonado por futebol e morador do nosso bairro. Desse time saíram muitos craques que seguiram seus sonhos em outras agremiações.


O aniversário do clube contou com a presença maciça da imprensa e de torcedores que hoje integram a ala de quem não perde um jogo sequer; uma galera jovem que tem o compromisso de levar aonde o time for a garra e a vontade de vencer e mostrar aos adversários a cultura do Laguinho. O clube inovou ao levar o Marabaixo para os estádios e mostrar a pujança cultural do bairro. A garotada comparece e prestigia o Mais Querido. Uns "se mandam" do Jardim Felicidade e do Novo Horizonte de bicicleta, atravessando a cidade.


Mas no meu tempo a maioria dos torcedores era constituída de adultos. E ninguém ia ao estádio por não ter o que fazer aos domingos, apesar da televisão estar chegando a Macapá. O "campo" ficava cheio, principalmente quando vinha jogar um clube de fora. Muito time metido a bom pegava "peia" quando encontrava pela frente craques como Orlando Cardoso (Currú), Alceu, Moacyr Banhos, Odilon, Zé Roberto (no gol), Macaco Pennafort, Timbó entre outros, que se agigantavam nas partidas e recebiam os aplausos carinhosos dos torcedores.


Em um desses jogos, por não ter dinheiro para o ingresso, acabei fazendo o que não devia: tentei "furar" por cima do muro com o auxílio de outros penetras sem dinheiro, que faziam uma espécie de escada humana pelo lado de fora do muro. Na minha vez olhei para um lado e para outro e vi que a "barra" estava "limpa", como se dizia na época. Fiz mais um rápido esforço e pulei. De repente eu vi surgirem do nada dois guardas territoriais (Acho eu!) que me pegaram e me levaram para a antiga "Permanência de Polícia", no Trem, onde fiquei "detido". Essa palavra em nada suavizava a minha apreensão de estar lá dentro e sem saber o resultado do jogo contra o Remo. Só lá pela meia-noite, quando trocou o plantão do delegado, foi que me mandaram para casa. Fui embora à pé, pela ladeira da Eliezer Levy, muito invocado e jogando fósforo aceso nos cães do Trem, que rosnavam ferozes, tentando me atacar.


Próximo ao cemitério encontrei o velho poeta Galego, seu primo Julinho e o pintor Olivar Cunha. Vinham com um violão secando uma "meiota" de Cantagalo. Tinham mais umas duas garrafas na sacola e uma porção de cajus. Pedi um holywood e segui com eles até ao trapiche municipal, onde não fomos incomodados por cantar nossos protestos contra a ditadura e nem pelo Julinho soltar a voz interpretando os Beatles para os peixes e as ondas do rio. Até hoje eu nunca soube o resultado do jogo. Mas continuei torcendo pelo Sanjusa.


O aniversário do São José proporcionou um tipo de encontro meio nostálgico, desses em que surgem saborosas histórias, fatos inesquecíveis e lembranças que contam a história de sucesso do clube.


Antigos jogadores são personagens vivas que desfilam com suas glórias e encantam a todos com um gosto telúrico e um orgulho inebriante. São os verdadeiros heróis do passado que sem dúvida sabem que são reconhecidos e valorizados pelos que agora surgem.


Embora haja essa valorização, é necessário levar em conta que precisamos estar mais perto do Clube, torcer mais, vestir a camisa e não trocá-la por times de outros estados em detrimento do nosso futebol. Vicente Cruz, presidente e ex-jogador do Clube tem razão: parece que somos colonizados pela mídia. Então precisamos mostrar nossa cara e nosso amor pelo clube para fazer ressurgir o nosso verdadeiro futebol. Vamos lá, torcedor! Vista a camisa do Sanjusa!

Publicado no jornal "A Gazeta", de domingo, 30/08/2009

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