É verdade que demora um pouco, mas devagar a gente vai tirando a casca que fica com a prática da profissão. Uma camada fina e imperceptível se enrosca em muitas facetas construídas e solidificadas no dia-a-dia, em função das conclusões que chegamos num esforço profundo: o de tentar ser justo sobre nossas observações.
E a máxima socrática intervém somando-se à presença quase real dos dizeres encontrados no templo de Delfos da Grécia antiga: “eu sei que nada sei”. Mas paralelamente a isso cada qual vai se fartando de conhecimento, se faltando de erros na busca de novas reflexões que a profissão exige até mesmo para a compreensão da realidade de cada um, do que possui ao seu redor.
Ao professor cabe o pragmatismo da educação e uma trajetória profissional na produção acadêmica, na qual eles têm por missão desempenhar papel sócio-político e cultural como contribuição necessária à ordem do ensino, que é formar, ou quem sabe reformar cabeças de novos cidadãos.
A maioria dos profissionais crê que despojar-se do medo da atualização ou de velhos conceitos ideológicos são necessários, e se constituem uma forma de encarar a profissão sem a arrogância do sabe-tudo e, melhor, sem o estigma do radical militante. Reciclar-se também é importante, porque faz parte do negócio. E o negócio é mesmo a negação do ócio. Aliás, é bom que se pense que uma profissão bem exercida e bem conduzida é um caminho para o sucesso material ou financeiro.
Ninguém dá tudo de graça. É preciso merecer e estar bem preparado, porque em cada ramo de atuação todos mergulham, querendo ou não, nas amarras da cultura política, essa rede impressionante que prende e libera nossas ações sociais. Mateucci e Pasquino a definiram como “o conjunto de atitudes, normas e crenças mais ou menos partilhadas pelos membros de uma determinada unidade social”. Ela é composta, portanto, de um conjunto de subculturas presentes nas nossas atitudes, normas e valores, ou seja, no comportamento de indivíduos nas ações coletivas. Diria ainda, neste caso, nas ações dos profissionais que detém os conhecimentos a respeito de si próprios e de seus contextos, de seus símbolos e linguagens utilizadas. Essas culturas formarão novas culturas políticas.
O mestre Paulo Freire afirmou que quando falamos em uma nova cultura política estamos supondo que haja uma velha, o que nos obriga a refletir como se constitui o novo. Para ele toda novidade nasce do corpo de uma ex-novidade que começou a envelhecer. Como elas não surgem por decreto, há uma ligação entre as coisas que vão ficando velhas com as coisas que vão nascendo. Ele destaca que “uma das preocupações daqueles que pretendem transformar a sociedade é exatamente lutar pela novidade, e uma das formas de se engajar nessa luta é buscar diferentes formas de ajuizar a prática política”. (Freire, Paulo. A Constituição de Uma Nova Cultura Política; S. Paulo, Pólis, 1995). E dentre essas exigências cita a coerência entre o discurso e prática, a tolerância e a humildade na vida de todos.
Sem isso, acredito como Freire, que não há formação, ética profissional, educação, e consequentemente construção da cidadania.
Publicado no Jornal “A Gazeta” de domingo, 09.08.2009
domingo, 9 de agosto de 2009
A CASCA E A CULTURA POLÍTICA
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