quarta-feira, 5 de agosto de 2009

05 DE AGOSTO DE 1923: NASCE ÁLVARO DA CUNHA



O magistral prefácio de Alcy Araújo no livro "Amapacanto" de Álvaro da Cunha mostra toda a singularidade desse poeta. O "intérprete do verde incomum da Latitude Zero" faria hoje 86 anos. Certamente estaria tomando o seu Blood Mary no Hotel Macapá cercado de jovens admiradores.
Álvaro, militante das letras, intelectual que, com Alcy e Ivo Torres, fundaram revistas e jornais como "Rumo", "Mensagem", e "Latitude Zero". Eles se imortalizaram na bela antologia "Modernos Poetas do Amapá", de 1960, juntamente com poetas da lavra de Aluísio da Cunha e Arthur Nery Marinho. Seu primeiro livro de poesia "Pássaro de Chumbo" de 1951 foi editado pela Hipocampo, RJ.
Mas o poeta era apenas uma faceta de Álvaro. Ele escreveu inúmeros artigos e crônicas, uma monografia sobre "Relações Públicas Governamentais no Amapá" como resultado do curso que fez na Fundação Getúlio Vargas, em 1954; um livro polêmico chamado "Quem Explorou Quem no Contrato do Manganês do Amapá", foi presidente da CEA (será que se lembram disso?) e exerceu cargos de relevo na administração Territorial.
O Amapá e sua literatura devem a esse poeta e visionário, que desde os 23 anos, "viveu em Macapá os anos mais férteis e felizes de sua mocidade". Antes de partir para o Oriente Eterno, em 22 de fevereiro de 1995, Álvaro mandou-me 14 poemas inéditos, que um dia haverei de publicar. É dele o famoso poema "Mãe Luzia" e "Lua Minguante", que a seguir reproduzo.

"LUA MINGUANTE"


A lua minguante do Amapá
brilha mais que a lua cheia
de qualquer outro lugar








"MÃE LUZIA"


Velha, enrugada, cabelos de algodão,
fim de existência atribulada, cuja
apoteose é um rol de roupa suja
e a aspereza das barras de sabão.

Mãe Luzia! Mãe preta! Um coração
que através dos milagres de ternura
da mais rudimentar puericultura
foi o primeiro doutor da região.

Quantas vezes, à luz da lamparina,
na pobreza do catre ou da esteira,
os braços rebentando de canseira,
Mãe Luzia era toda a medicina.

Na quietude humílima do rosto
sulcado de veredas tortuosas,
há um clamor profundo de desgosto
e o silêncio das vidas dolorosas.

Oh, brônzea estátua da maternidade:
ao te encontrar curvada e seminua,
vejo o folclore antigo da cidade
na paisagem ancestral da minha rua.





Minha opinião: Este poema deveria ser gravado em uma placa com letras douradas e afixado no Hospital da Mulher "Mãe Luzia".

Desenhos de Herivelto digitalizados do livro "Amapacanto"/1986

Um comentário:

  1. Linda homenagem Fernando. Vou indicar a leitura no meu blog. Tenho cartas lindas do Alvaro para meu pai.

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