quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DE NARCISO A PANDORA: A ILUSÃO DA POLÍTICA

Texto de Fernando Canto

narciso1 No mito de Narciso, segundo o poeta romano Ovídio, o jovem fica tão tomado por sua imagem refletida que ignora o mundo real à sua volta. Mas, e se, como muitos filósofos afirmaram, a “realidade” que acreditamos experimentar for ela mesma uma ilusão?

Sabemos que um objeto como o espelho é algo mais do que familiar no nosso cotidiano. Porém, de qualquer forma constitui-se algo enigmático, ainda que nem mesmo paremos para pensar sobre o que vemos. Quando paramos para isso podemos às vezes sentir o quanto é perturbadora a imagem que se reflete a nossos olhos, pela sua aparente inversão.

Assim, a ilusão da política parece estar povoando a mente dos candidatos aos pleitos eleitorais. Um engano dos sentidos faz com que cada ato mal pensado, colocado como meta real nas sessões midiáticas da propaganda eleitoral, não passe de falsa aparência incutida na mente dos próprios políticos despreparados, que com tal sonho deturpado da realidade não observam as consequências refletidas no céu do futuro.

Como se sabe o mito de Narciso, que inspirou grande número de pintores, músicos e escultores, tornou-se também o símbolo de egocentrismo, do amor próprio e da vaidade. Daí que o festival de presunção e de frivolidade que abunda o programa obrigatório (e “gratuito”) da TV, ser o cúmulo da expressão fútil, da tentativa de reter o curral não-pensante dos eleitores.

E nós vimos caindo sucessivamente nas conversas cínicas construídas por políticos cínicos como a que reza: “em política só não vale perder”, ao invés de “perdi, mas concorri sem me sujar”; em conselhos como: “não te mete em política sem dinheiro”, em vez de: “a democracia permite que qualquer cidadão concorra”, e em tantas outras expressões sujas. Por isso concordamos que “a política é a arte de convencer”, pois hoje não cabe mais governar pela força e todo ser social é um ser político. Não se vive sem ela, portanto podemos criticá-la e criticar os políticos, assim estaremos colaborando para o voto consciente, que certamente fará do nosso país uma democracia mais respeitável, sem os contínuos e recorrentes escândalos de corrupção nos governos.

Acompanhamos os últimos governos pós-ditadura, registrando uma sucessão de insucessos e de atos autoritários estampados nos rostos e nas mãos dos governantes; a inflação a galope; a traição do confisco da poupança; as tentativas de puxar o desenvolvimento do país para trás; a vaidade imanente do intelectual neoliberal e a obstinação do operário que se tornou presidente. Nesse ínterim o país sofreu uma reforma econômica e diversas tentativas de reforma política, fatos que sempre estiveram amarrados pelo corporativismo instalado na Câmara e no Senado. Ali os interesses primordiais dos detentores do poder infelizmente superaram os desejos dos eleitores brasileiros.

Agora estamos diante de nova empreitada. Os políticos ali, distantes do povo, apenas ligados em seus propósitos por uma caixinha brilhante e ilusória, onde se escondem segredos e perigos. A TV se assemelha à caixa de Pandora, que na mitologia grega foi a primeira mulher fabricada por Hefaístos com uma mistura de terra e água, tão má e preguiçosa como bela. Alguns dizem que ela recebera dos deuses todos os dons, e de Hermes o dom da palavra para enganar. Desposou Epitemeu, ao qual o irmão Prometeu enviou uma caixa que não deveria ser aberta em nenhuma circunstância. Porém, um dia, Pandora abriu o recipiente e todos os males abateram-se sobre a humanidade: a velhice, a doença, a loucura, a paixão, o vício, o trabalho. Felizmente a caixa ainda continha a Esperança, virtude reconfortante, que aconselhou suas irmãs a não destruírem a humanidade.

Então nós eleitores nos submetemos cotidianamente a um instrumento seminal, onde estão guardadas as origens dos males, mas também a firme esperança que não eclodam ovos espúrios e que se formem seres disformes e corruptíveis: aqueles que nos enganam com seus cantos de sereias e com suas estultices e fatuidades. Essa realidade refletida no espelho é a que não queremos. Nem a ilusão.

Imagem disponível em: www.semtidos.wordpress.com

Um comentário:

  1. oi!amei intensamente o vosso espaco!
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    Fiquem bem

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