Terreno fértil na aproximação entre Portugal e o Brasil, a cultura é palco de dezenas ou centenas de eventos todos os anos. Mas quem está a ganhar mais com isso?
Jorge Horta
Lisboa – A cultura será, provavelmente, uma das áreas mais férteis das relações luso-brasileiras. E, mais ainda do que no plano económico, os intercâmbios culturais têm evidenciado que a Independência do Brasil nunca se traduziu num afastamento de Portugal. De um lado e do outro do Atlântico o consumo de cultura do país irmão está a crescer. Mesmo que por vias diferenciadas.
A Lisboa chegaram nas últimas décadas os enredos das novelas brasileiras, inspirando o modo de se fazer e de se consumir entretenimento televisivo em Portugal. E todos os anos, não sendo tendência recente, passam pelos palcos portugueses dezenas de músicos brasileiros, dos mais bem sucedidos aos pequenos nomes de circuitos mais alternativos.
E se é um facto que a cultura brasileira tem encontrado mercado em Portugal (quer entre a comunidade emigrante, quer entre os próprios portugueses), não deixa de ser verdade que, nos tempos mais recentes, muitos escritores lusos têm gozado de algum prestígio no Brasil, ainda que nem todos cheguem ao grande público.
Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal, sublinhou em julho, numa entrevista à revista “O Brasileirinho”, a importância de descentralizar a cultura brasileira que chega ao mercado luso, e que tem tido como destinos principais Lisboa e Porto. “Acho muito importante descentralizar a atuação da Embaixada, com o apoio de nossos consulados em Lisboa, Porto e em Faro. Este último começará a funcionar em breve. Também gostaria de forjar parcerias na Madeira e nos Açores em termos de divulgação cultural”, afirmou o diplomata.
“Como Portugal não é um país geograficamente tão grande e possui boa estrutura de transportes, não fica difícil levar atracções culturais para outras cidades. Já há iniciativas em outras localidades, como em Santarém, onde Pedro Álvares Cabral morou, e Belmonte, onde ele nasceu. Essas cidades estão mais afastadas dos grandes centros e seriam excelentes palcos para eventos ligados ao Brasil”, acrescentou Mário Vilalva.
Por Lisboa e pelo Porto passam, quase todos os anos, nomes como os de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Rita. Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Os meses quentes de junho a setembro, altura em que se concentram os maiores festivais musicais de Verão de Portugal, têm proporcionado aos nomes consagrados da música brasileira, mas também a novas promessas, oportunidades para se darem a conhecer perante públicos menos conhecedores.
O CASO DA MÚSICA
E ao contrário? A verdade é que a nova música portuguesa, se no mercado doméstico conquista dezenas de milhares de fãs, no Brasil parece ter mais dificuldade em vingar. Casos esporádicos de concertos em palcos brasileiros nos últimos anos incluíram músicos lusos como JP Simões, Mariza, Clã, The Gift, entre outros, mas nunca com a capacidade de assumir proporções de fenómenos no mercado brasileiro.
A expressão da música portuguesa no Brasil tem estado confinada aos pequenos espectáculos de fado para a comunidade da saudade, um público feito de emigrantes e seus descendentes à procura de pontos de contacto com um Portugal distante.
Ainda no passado mês de Julho, o novo ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, esteve em Brasília. A promoção da cultura portuguesa no Brasil praticamente ficou de fora da bagagem levada por Portas ao Brasil. “Sou muito focado em diplomacia económica. O essencial é construir uma excelente diplomacia económica e melhorar a percepção de Portugal no exterior”, afirmou na ocasião o governante português.
Mesmo assim, para 2012, o “Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal “, as expectativas são altas. O ministro disse desejar que os eventos que vierem a ser realizados “tenham nível, sejam exigentes”. Mas, questionado sobre as dificuldades financeiras em que se encontra o Instituto Camões - organismo responsável pela promoção e divulgação da língua e da cultura portuguesa no exterior -, Paulo Portas foi, neste caso, parco nas palavras de resposta: “melhorar com menos”.
Com uma história de independência de 189 anos e agora a atravessar anos de significativo crescimento económico, com um mercado interno cada vez maior e uma diplomacia mais ágil, o Brasil é já uma referência global. Os agentes culturais portugueses, aparentemente, ainda não tiraram daí o proveito que poderiam ter, na partilha de uma língua comum. Já os artistas brasileiros têm em Portugal um ponto de passagem obrigatório nas suas agendas de espectáculos na Europa, onde talvez os cachets sejam até mais generosos.
O ano 2012 poderá trazer alguma mudança na relação de proximidade e interdependência da cultura dos dois países. Para tal será necessária uma dupla alavancagem: o capital brasileiro e a vontade portuguesa de fazer melhor do que o que existe hoje. (Fonte: Portugal Digital)
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