sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ALACID E A CIDADE

macapa office

Macapá Office, localizado na Avenida Fab, esquina com a Rua Jovino Dinoá

Quem acompanha o desenvolvimento urbano de Macapá não pode ficar desatento às modificações estruturais na sua paisagem. A Avenida FAB, por exemplo, há um pouco mais de trinta anos mudou completamente de função, sendo que para ser a principal via da cidade precisou ser construída desde a transferência do velho aeroporto até se caracterizar como o centro das decisões políticas. Nela estão sediadas as principais secretarias de governo, o palácio do Governo, a Prefeitura, a Câmara dos Vereadores, a Assembleia Legislativa, o Ministério Público Estadual, O Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas, a Justiça Federal, sem contar os mais tradicionais colégios da capital, igrejas instituições particulares e praças.

Mas não é exatamente sobre isso que quero me reportar neste texto, pois mudanças históricas e urbanas ocorrem a toda hora. Quero mesmo é lembrar que ao lado de tantas construções civis umas se destacam das outras pelo excessivo mau-gosto dos projetos, mas também pelo nome daqueles que as projetaram. O bonito prédio da Secretaria de Infraestrutura tem a assinatura do famoso arquiteto Villas-Boas Artigas, assim como um certo edifício amarelo construído com seus seis andares num tempo em que nenhum governante municipal queria aumentar o gabarito das construções. O Macapá Office só pôde ser realizado após inúmeros argumentos sócio-urbanísticos que foram aceitos mediante o estrangulamento da expansão urbana constatado pelos técnicos da PMM, que se renderam aos fatos e realizaram o Plano Diretor - uma exigência do Ministério das Cidades. A Avenida FAB é uma das poucas vias da cidade que tem esgoto sanitário. E foi daí que veio a munição para o convencimento que culminou na decisão, já que menos de 5% de Macapá possui esgoto.

O jogo político existente por trás disso tudo tem o papel e a sagacidade de um empreendedor que ousou mudar a perspectiva de novas habitações macapaenses e dar a ela uma visão mais realista sobre a paisagem, e ainda no incremento de um processo econômico novo e promissor. Falo aqui do arquiteto Alacid Farias Canto, um empresário determinado, que antes de ser apenas um construtor, visualizou formas e possibilidades de habitação para inúmeras famílias de classe média baixa, para ajudá-las na concretização do sonho da casa própria. Sua empresa foi uma das primeiras a aquecer o mercado imobiliário local com a venda supernegociada de lotes, dinamizando, assim, esse mercado muitas vezes considerado cruel, por visar apenas o lucro e nunca o aspecto socioeconômico dos compradores.

Acompanho esse processo mais ou menos de perto e sei da sua importância para a harmonia da cidade, que mesmo nem sempre obedecendo as leis urbanas, vai se adequando com a aplicação de penalidades aos que transgridem essas leis.

Considero que da mesma forma que os arquitetos Oscarito, Chikahito Fujishima e Ubiratan Homobono mudaram a cara da cidade nos anos 80, com seus projetos residenciais para a classe média, o trabalho criativo de Alacid Canto também estartou a mudança da paisagem urbana de Macapá, mesmo enfrentando a limitações expostas atrás, onde a proibição de construção de edifícios altos se dava pelo critério mais político do que técnico. Era uma política desprovida da visão de desenvolvimento, que não acompanhava a condição de uma cidade amazônica de porte médio em franco crescimento.

Embora o processo capitalista se estabelecesse de forma rápida e avassaladora, o mercado imobiliário não acompanhou o ordenamento urbano e muitos prédios construídos assim – e fora do restrito centro urbano - ficaram sem esgotos. Têm apenas fossas, que por sua vez comprometem o lençol freático em vários pontos da cidade. Isso sem contar com os problemas que causam ao seu redor por não possuírem estacionamento.

No caso da Dumond Engenharia há um preparo integral de planejamento nas construções, ganhando destaque a escolha dos terrenos onde passa água e esgoto, pelo estudo de impacto ambiental, calçadas largas e acessibilidade ao público, estudo de sombreamento e ventilação, etc. Se todos os construtores assim o fizessem, certamente Macapá seria a realização do sonho arquitetônico de Gaspar João Gronfelts, o arquiteto alemão que traçou a primeira planta da então vila de São José, em 1763, com praças e arborização para amenizar o calor. Isto posto, quero me congratular com o arquiteto Alacid Canto e sua empresa pelo trabalho profícuo que realiza nestes 15 anos de empreendimentos sustentáveis, mesmo sabendo o quanto é difícil realizar trabalhos dessa natureza, onde nem sempre a burocracia possibilita que se implemente o correto, pela própria “natureza” de quem fiscaliza. (Texto de Fernando Canto)

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