Reler Estórias da Amapá de Hélio Pennafort, é incontestavelmente aprender e apreender o Território em aspectos que o leitor talvez nem imagine que existam. O livro é uma seleção de reportagens escritas no decorrer de sua longa carreira como repórter de A Província do Pará, Voz Católica e da extinta Rádio Educadora São José de Macapá.
Os escritos são produto de várias reportagens e de uma grande vivência no interior, onde o autor buscou sempre a informação insólita, diferente, porém correta. Todo o livro tem uma carga enorme de descoberta psicológica, transcendental e lírica do nosso caboclo e de suas relações comunitárias, numa linguagem acessível para a satisfação de quem quer que o leia.
O linguajar do caboclo do interior, captado por Hélio Pennafort, é algo interessante e carregado de pureza, pois o seu próprio envolvimento com o objeto das matérias traduz a significação plausível e incontestável do modo de se expressar do interiorano, quando surgem as mais inusitadas estórias para a delícia do leitor.
O humor característico e os aspectos envolventes das experiências conferem ao livro de Pennafort um panorama de variação de sentimentos que nos levam a respeitar cada vez mais aquele modo de vida que jamais perde a sua identidade cultural, quase sempre ausente no meio urbano. Por que quase nunca nos detemos em expressões como “espírito de porco”, ou “semelhante a um tamaquaré no choco”? “Baixando a panemeira” e “a gente não pega nem cocô de visagem” são outras dentre tantas expressões saídas do cotidiano ambiental, lugares em que estão presentes a toda hora o modo de ser e de viver amazônico, onde sempre há uma relação ecológica e também o entendimento na comunicação, o qual é tantas vezes difícil para o morador da cidade.
Estórias como “Caçadas insólitas”, “Divulgações em noites avulsas” e “A feliz solidão do mutuacá” mostram o que não sabemos sobre o modus vivendi do interiorano. Sua sabedoria é grande demais. O amor que existe por pequenas coisas, seja por um cachorro – companheiro de caça – seja por um igarapé ou pela roça, tudo está repleto do mais alto e nobre sentimento.
Pennafort critica os críticos do caboclo, atacando, por um lado, os “sociólogos do asfalto”, e por outro, os tecnocratas do desenvolvimento, “que escrevem e falam que o caboclo da Amazônia é acomodado, indolente”. Defende o autor (com muita razão) “que Benedito não tem culpa se nasceu cercado de fartura e no centro da tranqüilidade”. Essas e outras posições do escritor propõem essencialmente uma revisão no pensamento desenvolvimentista dos técnicos regionais para que “inventem” uma metodologia de planejamento condizente com a realidade do nosso povo do interior.
Publicado no livro Telas & Quintais (Coletânea de textos sobre o Amapá)Imprensa Oficial/PA e Conselho Territorial de Cultura Belém - PA/Macapá – AP. 1987
Foto: Eu e Hélio Pernnafort. Acervo Pessoal
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