A propósito do show Menestreis do Laguinho realizado no Centro de Cultura Negra (28/05), já não era sem tempo buscar esses valores que sempre estiveram tão perto de nós e não se dava a importância devida, a não ser sazonalmente no carnaval.
Queira ou não Osmar Júnior, apesar de novo ainda, e Francisco Lino da Silva são artistas com os nomes entranhados no bairro, pelo que fizeram e fazem pela música e pela cultura. E o “bairro moreno”, como foi apelidado pelos radialistas antigos, sempre teve pessoas que se destacaram na música e que foram verdadeiros menestreis, quando o preconceito contra eles era mais arraigado, num tempo em que sair com o violão na rua e ir fazer seresta era sinônimo de vagabundagem. Logicamente muitos deles eram cidadãos respeitados, que tinham suas famílias e seus empregos, mas nem por isso deixavam de se divertir, de tomar a sua bebida e mostrar o que sabiam tocar e cantar.
Muito antes das facilidades de gravação de discos, compositores e cantores amapaenses migraram para outros estados em busca de trabalho e de reconhecimento, como Aimorezinho Batista e Ronaldo Bandeira. Outros ficaram por aqui e sempre podiam ser vistos nas rodas de boemia nas casas dos governantes e nos bailes.
Quem não podia fazer isso por falta de relacionamento social ou por pura oposição aos ditadores da época fazia suas festas no pátio da casa dos amigos ou nos bares.
Não conheci o José Mendes Machado, violonista e cantor do bairro do Laguinho, mas cheguei a participar de rodas boêmias com os saudosos Ubiracy da Azevedo Picanço, o “Tio Bira”, professor de educação física e seresteiro apaixonado (Numa dessas rodas foi que conheci o Lino); com o ilustre locutor da Rádio Difusora Dorival Lemos, que usava o pseudônimo de “Amazonas Tapajós” e se notabilizava por cantar valsas, choros e sambas antigos de Noel Rosa, de Orestes Barbosa e de Pixinguinha; assisti, em 1970, ao cantor Agostinho Costa, imitador perfeito de Nelson Gonçalves, cantando “A Volta do Boêmio” em apresentação com a cantora Edna Fagundes no auditório lotado do ex-cine João XXIII, na primeira campanha do jovem professor Antonio Pontes que derrotou Janary Nunes para deputado federal; Tomei umas geladas com o violonista Lourival dos Santos Furtado, o “Louro” em rodadas inesquecíveis. Ele sabia emendar as cordas e tocava até faltando algumas.
Diziam que Martinho Ramos, filho do mestre Julião, arrasava na serenata com o seu vozeirão, mas eu só o conheci cantando ladrões de Marabaixo, no tempo em que Zé Pretinho “fazia miséria” no braço do seu “pinho”. Toquei no “Os Inimitáveis” com o Zé Crioulo, membro da banda da Guarda Territorial, “A Furiosa”, e exímio violonista de sete cordas e contrabaixista. Era engraçado aquele homem de cerca de 1,50m tocar um enorme baixo acústico no conjunto do seu Hernani Victor Guedes.
Não se pode esquecer a figura impagável do Edvar do Espírito Santo Motta, que até hoje apresenta o programa de rádio “A Grande Seresta” em que divulga as músicas que marcaram época e o cancioneiro popular brasileiro, valorizando os intérpretes e compositores antigos. Edvar tem ainda a dádiva de ser um tenor com excelente modulação vocal, que cheguei a ouvir muitas vezes quando ele cantava nas serestas.
Todos estes seresteiros tinham ou ainda têm uma ligação geográfica ou amorosa com o Laguinho. Dos que mencionei somente o Lino e o Edvar ainda estão vivos e, representam para mim expressões musicais do bairro que devemos sempre nos orgulhar.
Daí então que o show dos menestreis foi mais um evento de peso para a cultura macapaense, pois resgatou a tradição daqueles que têm o compromisso com a arte musical e procuram fortalecer a tradição laguinense de estar sempre em festa com os seus habitantes.
Foto: Juvenal Canto
Belo texto..Vou copiar...
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