domingo, 31 de janeiro de 2010

A COMIDA DA ZINOCA

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo 31/01/2010

zinoca Sendo a culinária um patrimônio intangível ou imaterial, nela estão patentes processos históricos revelados nos saberes e na memória coletiva e individual. Estudiosos dizem que essa memória é olfativa, tátil, visual e gustativa, e ao mesmo tempo artística e fabril. Isso conduz para que os povos e lugares tenham características próprias e singulares. E até mesmo para fazer a diferença no aspecto turístico.

Naturalmente que as primeiras influências no estabelecimento de uma culinária tradicional no Brasil deveram-se aos colonizadores e viajantes, que num processo de adaptação tiveram que se submeter às condições impostas pela natureza e às necessidades de produção e trabalho. E assim foram surgindo os mais variados alimentos e modo de preparo. Realizaram-se intercâmbios porque da mesma forma que os brasileiros não conheciam o arroz, o feijão e o café, os europeus não tinham idéia do tomate, do chocolate, do milho e da mandioca. Por se relacionar com a natureza, o homem tem na alimentação a sua própria história, pois do território ocupado e do modo de produção vai depender sua sobrevivência, ou pelo menos dependeria, visto as condições sociais hoje impostas, e as alternativas industriais para o consumo de alimentos.

Infelizmente não temos um inventário da culinária local que registre a grande variação de pratos, levando em consideração ciclos históricos e as migrações de diversos períodos. Que tipo de alimentação predominava durante a ocupação dos portugueses na Amazônia? E o que comiam os soldados, engenheiros e escravos durante a construção da fortaleza de São José de Macapá? Claro que em função da produção regional a alimentação variava, ainda que se saiba que milhares de arrobas de farinha da mandioca eram consumidas anualmente pelo contingente de trabalhadores, e que havia uma grande produção de arroz e milho na região. Mas, e os açorianos que vieram para cá antes mesmo da elevação de Macapá à categoria de vila? Com certeza trouxeram os seus conhecimentos culinários e os adaptaram às condições locais e aos costumes indígenas, modificando ou implantando maneiras de pescar, de caçar e de plantar. Assim também deve ter acontecido com as famílias marroquinas que foram trazidas para Mazagão e Macapá. Mas o que restou disso tudo? Mazagão ainda usa comida de origem árabe?

Creio que o mais importa neste momento é essa busca para redescobrir receitas, adaptar e criar pratos que a nossa diversidade de alimentos possibilita todos os dias. Graças à inventividade de artistas culinários oriundos de todo o país, num misto imprescindível da sabedoria e do molho amapaense.

Este texto, na verdade é um pretexto para homenagear a querida Zinoca Lacerda, pelo seu aniversário e pela contribuição que dá, graças a Deus, à culinária local com seus pratos saborosos, usando na sua composição a riqueza plena e ampla de alimentos e ervas amazônicas, temperados pela suas divinas mãos. A mesma Zinoca que vi ser elogiada por autoridades e chefs da Guiana Francesa, que já cozinhou para cardeais e para o papa no Rio de Janeiro e representou nossa cultura em diversas feiras e eventos dessa natureza, ainda hoje realiza jantares para grupo seletos. Seu trabalho é visto como uma extraordinária representação da cultura imaterial regional que orgulha o povo do Amapá e nos deixa mais hedonistas e ansiosos para cometer o pecado da gula. Um brinde e longa vida. Desejamos eu e Sônia.

Um comentário:

  1. Um beijo meu pra Zinoca, que pratica e ama a arte da culinária amazônica. Zinoca é Show.

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