domingo, 3 de janeiro de 2010

A EMBALAGEM E O CONTEÚDO DO GOVERNO LOCAL

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 04.01.2010

Guarita do baluarte da Fortaleza de São José de Macapá e Mercado Central enfeitados para o natal. Foto: Juvenal Canto.

Ao entrevistar Anthony Giddens para o programa Milênio, o jornalista William Waack, da Globo News inicia afirmando que “em política a embalagem costuma ser tão importante quanto o conteúdo. Ou até mais importante, quando falta conteúdo”. Por isso mesmo, arremata, é que todos procuram uma embalagem além do conteúdo.

Embora seja essa uma fórmula difícil de ser encontrada, posto as complexidades que regem ideologias hoje encravadas nas nuvens tênues das fronteiras do que chamavam de direita e esquerda, há quem afirme como Giddens, que uma terceira via moverá a sociedade política e socialmente, em avanços sucessivos.

De fato as mudanças causadas pela globalização e pela tecnologia impactaram os setores tradicionais da política em todos os níveis e em todas as partes, por isso mesmo há a necessidade da sociedade se adequar aos novos valores impostos pelos novos tempos, ainda que isso possa significar sacrifícios de ordem econômica, social e até cultural, principalmente para as nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento. Sem dúvida está ocorrendo um fenômeno com o nascimento e a estandardização de forças cada vez maiores, representadas talvez pelas organizações não governamentais que não param de crescer no mundo inteiro, com seus interesses comuns. E isso significa a valorização da globalização que é também um fenômeno da comunicação.

Nesse ponto a “embalagem” proposta pela chamada terceira via não é tão nova, visto que concebe valores tão amplamente debatidos pela esquerda democrática, do velho embate entre classes sociais e políticas. E esses valores são os da inclusão social e da solidariedade, da justiça e da igualdade social, do antirracismo e da antixenofobia.

Tudo isso me faz crer que embora os valores do conservadorismo estejam vivamente arraigados e adredemente vinculados à política, em um processo dialético imorredouro, a liberdade individual (que considero o maior bem do homem), ainda bem, permeia os passos, as decisões e os horizontes dos atores políticos e dos governantes.

Por ser um fenômeno, a globalização também lança seus tentáculos perversos sobre as culturas. Para que seus efeitos não sejam tão malignos é necessário, então, valorizar o que é local, dando ênfase a todos os aspectos sócio-políticos que uma sociedade exige dos seus governantes. Para isso, portanto, é preciso estar antenado com o mundo e com o futuro. Queira ou não agora todos somos cosmopolitas e por isso certamente temos mais ambições, conhecemos mais, viajamos mais pela rede mundial de computadores, nos comunicamos mais, vemos mais televisão e vídeos, somos outros seres em busca do melhor para nós e para a comunidade.

Ao colocar todas essas referências, não poderia deixar de me reportar que tais embalagens e conteúdos tão procurados, possivelmente encontrem seu nicho mais perto de nós do que pensamos, porque é muito mais fácil admirar a embalagem que o conteúdo nela guardada. Refiro-me a atuação do governo local, que em um ano estartou a energia do trabalho para reconstruir Macapá como unidade renovada, deixando de ser potência para tornar-se ato, de forma plenamente satisfatória e competente. Neste caso tanto a embalagem quanto o que ela contém são bons e importantes produtos. Uma exposição de conteúdo (ou essência) marcou o ano do prefeito que discursara em sua posse dizendo humildemente a todos que a campanha o tinha tornado “mais humano”. Diante dos fatos e das crises – o mundo nunca deixou de estar em crise – a administração de Roberto Góes me pareceu superar os problemas com a maestria de quem já estava exercendo o poder há anos. Da situação encontrada à realização de obras e ações sociais, o prefeito encontrou o apoio da sociedade e de uma Câmara Municipal “aparentemente” pluriideológica, e ainda a guarida financeira e técnica do governo estadual, que por ser do mesmo partido político não hesitou em programar ações políticas em conjunto para garantir o processo administrativo. Verdade que a isso também está inserido um rol de interesses suprapartidários, coletivos e individuais, agregados como em qualquer lugar que o poder se estabelece pelo voto. Mas mesmo assim a administração zelosa e o desejo enorme de fazer do município um lugar cada vez mais digno de viver e da cidade uma paisagem bela e de poucos problemas urbanos, fizeram do conteúdo político do prefeito um presente bom para a sociedade, onde a embalagem, ora a embalagem, foi até desnecessária.

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