domingo, 24 de janeiro de 2010

LAGUINHO EM NOSTALGIA

Publicado no jornal “A Gazeta”, de Domingo, 24 de Janeiro de 2010.

Boêmios do Laguinho 1960 Universidade de Samba Boêmios do Laguinho no Carnaval de 1962. Sabe quem é a passista? Me conta.

O bairro do Laguinho sempre se caracterizou pela intensa movimentação festiva de seus moradores. Para quem, como eu, perambulou pelas suas ruas, desde a sede dos escoteiros Veiga Cabral até o campo e a sede do América, passando pela Rua São José, onde ficava a sede do Sete de Setembro, jamais ficaria sem apreciar fabulosas e deliciosas histórias vividas pelos seus personagens.

Nesse quadro, naturalmente que ficava a nossa velha (nem tão velha assim, mas pioneira) Universidade com a sua sede de madeira, onde os boêmios iam exibir o que sabiam na pista. Pode-se dizer que aquela moçada sambava por instinto, guiada por uma espécie de ginga atávica, que morava no íntimo de seus genes africanos. Na época não havia televisão que pudesse mostrar os passos de dança do samba e raramente passava algum filme de carnaval nos cinemas da cidade. Tudo era transmitido por imitação adicionado à criatividade dos sambistas que às vezes trocavam alguma experiência com os rivais das escolas de outros bairros. Uns vinham de Belém ou de outras capitais onde havia a competição entre escolas de samba e aproveitavam a oportunidade para mostrar as novidades. Pareciam ser os novos passos de dança que os estudantes traziam nas férias para os clubes locais e a juventude logo absorvia.

boemios A nostalgia das quermesses da paróquia de São Benedito, que reunia uma juventude inquieta e crítica, protegida pelo inesquecível padre Paulo di Coppi, nosso mentor para atividades de cunho social, promotor e incentivador da música e de movimentos de base. Era um homem tolerante com nossos erros e comprometido até a alma em formar pessoas boas para o futuro do Amapá. Quase em frente à igreja, na Terceira Avenida do Laguinho, hoje Avenida General Osório, a sede dos Boêmios soltava e pipocava o som dos “Sonoros Caçula”, a aparelhagem do pai do Bacabal, “seu” Nascimento. Invariavelmente a famosa aparelhagem do “seu” Pecó também deixava a sua marca nas domingueiras da vermelho e branco. O som rolava enquanto o “seu” Bolão olhava desconfiado os estudantes que mostravam suas carteiras na porta, com o intuito de não pagar o ingresso e se divertir dançando com as morenas. Dona Isabel, no seu carrinho azul vendia seus croquetes de arroz e até o apreciadíssimo e ainda não proibido casquinho de muçuã, além de outras iguarias regionais muito procuradas pelos seus fregueses cativos.

boemios_ Quando o carnaval se aproximava a excitação da molecada era geral. Todos queriam fazer parte da bateria, mesmo quando os tamborins e outros tambores eram feitos artesanalmente de madeira e pele de cobra, pelo “seu” Sussuarana, pai do Biló e do finado Sassuca. Tudo isso tem um teor simbólico muito especial, pois representa a luta de uma escola de samba que evoluiu muito para se tornar a mais importante instituição do gênero do Amapá.

É inesquecível para mim e certamente para tantos outros a bandeira vermelha e branca desfraldada ao vento pelas ruas do bairro, conduzida pela Telma e pelo eterno Sucuriju, o gentil Mestre-Sala que a cortejava nos desfiles da Avenida FAB sob o aplauso da torcida e do olhar feliz de Falconery, nosso maior passista.

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