terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PEIXE TIRADO DA TELA DO FUNDO DO AQUÁRIO



        O poema de José Edson dos Santos (Joy Edson) é o resultado das experimentações que o poeta vem desenvolvendo há muito tempo. Um trabalho cheio de êxito no que se refere às imagens memorizadas de quadros de artistas geniais, como Paul Klee. Edson escreve com o olhar. Olhar que transpassa o vidro do aquário na observância de uma tela real ou de um viveiro de peixes – moradia de sonho e de pesadelo.
       José Edson nasceu em Macapá em 26 de maio de 1955 e encontra-se em Brasília desde 1974. Arte-educador, trabalha no CEAN/Asa Norte. Publicou “Xarda Misturada”, com Ray Cunha e José Montoril (1972), “Latitude Zero” (1980), “Bolero em Noite Cinza” (1995) e “Ampulheta de Aedo” (2005). Livros inéditos “Uva Vulva” (poesia), “Loucura pouca é bobagem” (teatro) e “A anta e o violinista”. Participa de diversas antologias, como “Em canto cerrado”, “Aguagonia”, “27 porretas” e “Deste planalto central – Poetas de Brasília”, organizado por Salomão Sousa, Brasília, Thesaurus Editora, 2008. Os poemas abaixo estão no livro “Deste Planalto Central”.

O PEIXE DOURADO
Mar abissal subaquático
O peixe dourado de Paul Klee
Ilumina a cor da poesia submersa
Âmago amarelo brânquias
Nadadeiras
Cauda escarlate
Olho vermelho no anzol

Luminoso peixe
Feixes por entre plânctons
Algas selenitas cartilaginosas
Nenúfares da penumbra sensitiva
Peixinhos encarnados fogem
Do mistério que espreita
Mundo submarino natatório

Domínio da flor do abismo
Quebranto cor-de-sangue
Perscrutando grade olho
Aragem atlântica da fertilidade
Espanto azul no escuro do mar
Profundo púrpuro da cor
Sob peixe laser que brilha

Sombra obscura azulina-violácea
Aquarela aquática watercolor
Matizando origem da vida
Respira signos e cores análogas

O peixe dourado irradia mistério
Klee reinventa marinho estrelas do mar
Sargaços oceânicos do ser
Como criaturas da noite das águas
Onde dorme um azul aceso e inquieto

SOL BARDO
       Neste poema José Edson realiza outro exercício mnemônico, enclausurando um tempo macapaense à beira do rio Amazonas. Um sol poético e um jeito metafórico de volver ao vento que viaja desde o oceano balançando as árvores dos quintais da Vacaria do Barbosa ao Trem.
Depois do abacateiro
Beliscar teu céu
Conjugação dos elementos
Siderais do firmamento
A estrela do norte riscou
O silêncio do verso do avesso

Rumor do rio da infância
Preamar no olhar caboclo
Louca expiação da indolência
Engendrando flor de tucumã

Teu cheiro de pupunha no cangote
Engasga a boca de saudade
No decote aberto da manhã

Tosca vaidade de vampiro
Tatua signo secreto
Desmontado no vitral das horas
Ao resfolegar de um fagote
Sob sol bardo
Empapuçado e
Enfartante

QUATORZE DE JUNHO
        Poesia pura. No quase-escuro da cidade grande, velhos lobos dos bares adoçam a presa fácil. Também está no “Deste Planalto”

Fogos de artifícios
Iluminam a noite
Nas mídias dos edifícios

Acende a velas Ivan
Na nave dos quarentas
Quem ostenta barba por fazer
Demora desmemoriar minas

Traça o chocolate inteiro
Enquanto a cerveja chora

Se nunca viste um duende
Pede alpiste ao Silibrino
Ele te ensina o hino
Da insensatez
Na tez

Na idade dos lobos vorazes
Há necessidade de jugulares tenras

Acende a vela e
Não sopra
O vento está a favor

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