segunda-feira, 29 de novembro de 2010

HISTÓRIAS DE MIGRANTES

portinari_retirantes Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 29/11/10

Sempre respeitei muito os migrantes que vão para determinado lugar em busca de oportunidade que a sua terra nunca lhes deu. Hoje, normalmente as pessoas se mudam com o propósito de vencerem na vida em novas fronteiras, em locais que possam lhes oferecer empregos com bons salários e qualidade de vida.

Até hoje as imagens das telas da série “Os Retirantes” de Portinari mexem comigo de forma indescritível, pois a paisagem do sol inclemente nos rostos desfigurados das personagens faz clamar o pedido de ajuda contra o flagelo da fome e da sede, numa caminhada interminável em busca da sobrevivência. Já devo ter lido umas três vezes o clássico “Vidas Secas” de Graciliano Ramos e junto a ele acompanhado o sofrimento de todos aqueles nordestinos que fogem da seca do sertão, inclusive o da cadela “Baleia”.

Muito de perto também vejo o preconceito de gente recém-estabelecida em Macapá contra os que aqui chegam em busca de dias melhores para o sustento de suas famílias. Embora a cidade e o Estado não atraiam ainda grandes investidores nacionais e internacionais para implementar outras atividades econômicas, sabe-se que o fluxo migratório para cá é um dos maiores do Brasil. E todos os dias centenas de pessoas aportam em Santana e na capital para participarem de concursos públicos, e outras oportunidades de emprego que são oferecidos. Mas o preconceito não é só dos que já enriqueceram e se fixaram. Os chamados autóctones também lamentam a presença desses milhares de trabalhadores e suas famílias que aqui vêm concorrer com eles e seus filhos, no que fazem ser uma disputa discriminatória e injusta com esses brasileiros que também vivem sob o sol. A maioria dos migrantes são paraenses oriundos das ilhas circunvizinhas e em segundo lugar maranhenses, depois piauienses e cearenses. Todos estão respaldados pelo direito constitucional de ir e vir.

Quando da transformação do Amapá em Território, Macapá tinha menos de dois mil moradores e uma miséria que dava dó. No dizer de Álvaro da Cunha os habitantes tinham um ceticismo crônico e desanimador para com as autoridades e entravavam qualquer cooperação. Observavam o governador com ares de suspeita e temor. Interrogavam com medo: - O que esse capitão vai “fazê?” E procuravam antecipar qual seria a primeira atitude do governo “contra eles”. Só depois de muito trabalho começou, então, o desenvolvimento do Território, com a participação dos filhos dos moradores locais. Em pouco tempo o universo escolar de 7 escolas e 392 alunos de 1944 passou a 9.012 alunos e 105 escolas primárias, sendo 92 delas na área rural. E mais 615 alunos em outros cursos. Janary tinha como base de seu governo o trinômio “Sanear, educar e povoar”, objetos tangíveis que promoveram a colonização episódica do Território. Uma colônia agrícola modelar fixou 100 famílias de agricultores nordestinos e 30 famílias de japoneses. E deveria receber em, 1954, a primeira “leva” de agricultores italianos. Segundo o autor acima citado “Em Mazagão realiza-se uma experiência revolucionária de agricultura socializada, com o trabalho de 200 famílias de agricultores nordestinos, a maior parte delas procedente do chamado polígono das secas do nordeste brasileiro”. (Relações Públicas Governamentais no Amapá. I.O., Macapá,1954)

Coloco aqui estes dados por achar que a educação foi e continua sendo a fonte principal do pensamento para que haja melhores perspectivas de vida para todos. No meio disso dizer também que foram os migrantes que construíram esta terra, vindo de todos os estados deste país e que aqui deram o suor do seu trabalho para que tivéssemos o estado que temos hoje.

Imagem disponível em www.proa.org

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