terça-feira, 29 de setembro de 2009

É BIG! É BIG!

Zé Miguel e eu no show "Sou Ana", de Ana Martel.

Parabéns ao meu amigo e parceiro Zé Miguel. Muitas felicidades no seu aniversário.
Em sua homenagem inauguro MP3 no blog.
Que nossa banda "lerda" nos ajude a ouvir. Os felizardos do resto do mundo certamente agradecerão.

Eis a letra:

MEU ENDEREÇO

Letra de Fernando Canto
Música de Zé Miguel
Intérprete: Zé Miguel

Meu endereço é bem fácil

é ali no meio do mundo

onde está meu coração

meus livros, meu violão


meu alimento fecundo

A casa por onde paro

qualquer carteiro conhece

é feita de sonho e linha

que brilha quando anoitece

Na minha casa se tece

mesura na luz do dia

pra afugentar quebranto

na hora da fantasia
É fácil o meu endereço

vá lá quando o sol se pôr
na esquina do rio mais belo

com a linha do equador

domingo, 27 de setembro de 2009

A NOITE E A CRUZ DOS HOMENS

Publicado no jornal A Gazeta de domingo, 27/09/2009

Quantas histórias não contam sobre aqueles que morrem logo depois de se despedirem? Parece que sentem que foram sentenciados a cumprir a pena capital. Então suas histórias atravessam o tempo e se desenham no espanto de familiares e amigos.

Assim foi com Bazinho, o simples professor Erivan Batista. Simples no vestir e na modéstia, mas um esplendoroso pensador sobre as coisas da Amazônia, pois traduzia na prática diária a esperança de dias melhores para as crianças da Escola Municipal Roraima e as envolvidas nos projetos culturais da escola de Curralinho, da área do Quilombo do Curiaú.

Da labuta dos dias tirava a poesia das composições que estava prestes a gravar em um CD, projeto pessoal a que se referia recorrentemente. Falava do folclore, da natureza e dos homens como ele, oriundos de humildes aglomerados de afrodescendentes desta vastidão amazônica: produtos históricos de nebulosos eventos colonizatórios, de cruéis processos de construção e de abandono dos poderosos. Aos quarenta anos Bazinho tentava romper o estigma da educação formal ao levar, como professor, a música como irresistível instrumento educacional para as crianças da periferia da cidade, tentando oportunizá-las a terem sonhos mais amplos e mais bonitos.

Embora cantasse suas músicas nos encontros semanais com amigos, ninguém se preocupou em gravá-las. Apenas ele sabia as melodias do seu sonhado CD. Entretanto, a morte veio fazer-lhe a visita no meio da noite, engendrando em seus sonhos todas as angústias e o engano prolongado até à agonia do último alento. Veio envolta em uma cortina sombria, talvez a cavalo, pois certamente, lá fora, o barulho dos carros da cidade eram os tropéis equinos que ouvia nas pradarias das fazendas obidenses ou, quem sabe, alucinantes motores dos barcos que acompanham o Círio fluvial de Nossa Senhora de Santana. Na beira do Amazonas os fogos estariam a explodir, rasgando o véu da noite como estrelas diáfanas, efêmeras, mas que por belos momentos deixaram suas marcas nas íris dos fiéis. E ela veio rápida, incisiva e abrupta, para interromper a música da vida.

Nas vezes que esteve em minha casa falava sempre em nossa terra natal. E por duas vezes cantou e acompanhou ao violão os hinos da Santa na sua peregrinação à Macapá, onde inclusive, um dos mais alegres cânticos era de sua autoria.

Tive grande satisfação em encontrá-lo em Óbidos em minha visita de encontro com a memória, em julho. Estava na Praça do O em companhia do meu amigo Eduardo Dias. Daí em diante tornou-se companhia agradável em vários momentos de minha estada ali, como no baile da Arpa, na Alvorada e nos bingos da Barraca da Santa. Não posso esquecer quando subimos a Serra da Escama, juntos com Alacid e Eulice, pelo puro prazer de "explorar" um ponto quase inacessível da bela Cidade Presépio. E ele ali nos ajudando na subida íngreme; na chegada ao topo, onde repousam os canhões abandonados da Fortaleza Gurjão; e na descida, empurrados pela lei da gravidade. Depois a espera em vão da bajara contratada para nos buscar e a providencial canoa do menino que ouvira nossos gritos do outro lado do lago. Em seguida o andar equilibrado nas estivas até a recompensa de banhar-nos nas gélidas águas do igarapé Curuçambá.

Descubro mais tarde que esse topônimo pode ter seu significado nas palavras "curuçá", que era como os índios pronunciavam cruz, e em "abá", designação para o índio, o homem, a pessoa. Seria então, ouso dizer, "a cruz dos homens", aonde possivelmente uma história de dor tenha ferido aquele paraíso amazônico, onde todos nos banhamos e não fomos nunca mais os mesmos depois disso. No lugar, creio eu, rondam quebrantos e mistérios, entes, elementais, caruanas e anjos, estes que talvez tenham anunciado a chamada de Bazinho para o Oriente Eterno.

Então ele partiu para a noite insondável em busca do renascimento, cujo ciclo Buda comparou a uma chama sendo passada de uma vela para outra, em vidas que se iluminam sucessivamente, como o sol que se acende no horizonte; faz seu giro, morre em nuvens de sangue e volta triunfante em sua luz.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal A Gazeta de sábado, 26/9/2009

TERRITORIALIDADE

A sala do prédio novo da pós-graduação ficou lotada durante a defesa da dissertação de mestrado de Edivan Barros de Andrade, na terça-feira passada.

O ex-superintendente do Ibama, que agora é assessor da deputada Dalva Figueiredo, e mestre em Desenvolvimento Regional, apresentou o trabalho intitulado "Gestão Territorial na Faixa de Fronteira da Amazônia:o Caso do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque".

AÇÕES AFIRMATIVAS

A nova administração da Seafro vem se esforçando para implementar no Estado a Lei nº 10.639 que contempla o ensino de História Afrobrasileira nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental. Programa curso de especialização para qualificar professores do Estado, através de uma Universidade Pública, que poderá ser a UEAP ou a UNIFAP.

Enquanto isso coordena o "Amapá Afro", um programa de Governo que objetiva implementar Ações Afirmativas nas comunidades remanescentes de quilombos e projetos de infra-estrutura que visem melhorar a qualidade de vida dos afrodescendentes.

Na área cultural a Secretaria traz a proposta de editar e reeditar livros de autores amapaenses no intuito de preencher o vazio existente na produção literária local e de valorizar o que é importante para nossa literatura. No comando deste último projeto estão os escritores Manoel Bispo, José Pastana e Ricardo Pontes.

A SANTA EM SUA BERLINDA

A Comissão responsável pela acolhida da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na UNIFAP programou para os dias 28 e 29 de setembro a sua visita na instituição.

Haverá missa no auditório multiuso a ser celebrada pelo padre Paulo Roberto no dia 28, e no dia seguinte a imagem sairá para outra instituição. Embrapa, Hospital Sarah Kubitschek, Correios, Iepa e a Comunidade Jesus Bom Samaritano são os órgãos convidados.

Os fiéis pedem "que enquanto educadores e educandos é nosso dever proporcionar a claridade de que a sociedade tanto precisa para orientar-se com segurança em meio a realidade que nos cerca".

Espera-se que desta vez não soltem fogos (pistolas) no meio do Campus, pois no ano passado a empolgação de alguns fez provocar incêndio no cerrado, fustigando a vida de dezenas de caimbés, sucuúbas e frondosos paricás.

OVO DE DINOSSAURO

Sebastião Menezes conta em seu livro "Curiaú: resistência de um povo" (Sema: 2004) que: "Certa vez, João Pio e Antônio Breu foram caçar e apanhar açaí, levaram os cachorros. Assim que entraram na mata da várzea os cachorros começaram a correr e latir. Eles foram atrás e depararam com um grande ovo, segundo eles nunca tinham visto um assim. O local estava limpo, as folhas do açaizeiros estavam esfaceladas. Os dois saíram e se perderam no mato. Tentaram voltar e encontraram novamente o ovo. O velho Pio disse: Olha o ovo, Breu. Outra vez tentaram encontrar o caminho de volta e nada. Fizeram um outro pique e foram direto no rumo do ovo. Outra vez o Pio disse: - Olha o ovo, Breu. Como se alguma coisa os atraísse. O Breu disse: - Se nós voltarmos outra vez aqui eu vou atirar nesse ovo. Dessa vez encontraram o caminho. Aquele ovo estava sendo protegido por um ser invisível, mas hoje vendo reportagem pela televisão, se tem certeza que aquele ovo era de dinossauro, que poderia estar encantado, os homens eram vistos, mas não podiam vê-lo".

ZUNIDOR

Finda setembro e as flores dos ipês amarelos começam a cair para renovar suas folhas e enfeitar a paisagem urbana. Nesta época veem-se muitos focos de fogo e muita fumaça saindo dos quintais. / Chegam as notícias tristes: morreu em Roraima o percussionista Joacy Mont'Alverne, antigo integrante de "Os Cometas". Faleceu na quarta-feira o professor da rede estadual e compositor Bazinho, conterrâneo de Óbidos-PA, um grande amigo. Que Deus os acolha bem./ Ocorre em São Paulo no período de 29 de setembro a 03 de outubro o XIV Encontro Internacional "As Melhores Práticas em Educação Continuada". Informações no site: www.vanzolini-ead.org.br/portais/reclabr. / O radialista Amistrong faz o maior sucesso nas tardes de domingo em uma FM da cidade. Gire o seu dial./ A Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia oferece Prêmio Jovem Cientista para as modalidades Ensino Médio e Ensino Superior./ Rafael Costa, filho da amiga Rachid e neto do seu Washigton, de Mazagão Velho, foi selecionado para ser o Tutor (professor) do curso Mídia na Educação, para funcionários da rede estadual, a ser gerido pela UNIFAP. Rafael é doutorando em Comunicação na UNISINOS, em São Leopoldo-RS./ Será de 26 a 31 de outubro a Semana Universitária de Educação Física –SUEF, com o tema: Possibilidades, tendências e perspectivas. Acesse: www.suef.com.br./ Você pode acessar www.igualdadedegenero.cnpq.br para se informar e participar do 5° Prêmio Construindo a Igualdade de Gêneros, um concurso de redações e artigos científicos da UNIFEM/CNPq, até 20 de novembro./ Está em Macapá o maestro, arranjador e excepcional músico Manoel Cordeiro./ Inderê. Volto na sexta.


sábado, 26 de setembro de 2009

TAVARES É DO PDT

Em animado jantar em sua residência ontem, 25/09, o reitor da UNIFAP José Carlos Tavares assinou ficha de filiação ao PDT. Tavares teve sua filiação abonada pelo presidente regional do partido, governador Waldez Góes, que na ocasião discursou saudando o novo pedetista.

Secretário Especial de Governo Alberto Góes também presente ao evento de filiação do reitor Tavares.
Na oportunidade rolou muito discurso e marabaixo quando Tavares e Waldez mostraram suas qualidades no toque da caixa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ESTRADA DO TEMPO

1981 - III Festival da AUAP - Associação dos Universitários do Amapá, na sede dos Escoteiros do Laguinho - Governador Barcelos entregando o prêmio de 1º Lugar a Fernando Canto pela música "Currículum Vitae". Esta música foi interpretada por Manoel Sobral que foi aclamado como melhor intérprete do Festival.
Ao fundo, Sobral abraçando Savina Canto, minha querida irmã.

1986 - Grupo de Dança "Peneiras", comandadas pela Professora Célia Rocha Cunha (ao centro, de pé), na Place des Palmites em Cayenne, Guiana Francesa, por ocasião do Festival Internacional do Plateau das Guianas. Este Grupo se apresentou durante muitos anos com o Grupo Pilão.

PILÃO 34 ANOS



Orivaldo Azevedo (percussão e voz) e Juvenal Canto (violão e Voz)




Fernando Canto (violão, cavaco e voz) e Eduardo Canto (percussão e voz)


Leonardo Trindade (violão e voz) e Bi Trindade (voz)

NOVE RESPOSTAS A POSSÍVEIS PERGUNTAS AO GRUPO MUSICAL PILÃO
Por Fernando Canto

  1. O Grupo Pilão surgiu em 1975, por ocasião do III Festival da Canção do Amapá, realizado no auditório da Rádio Difusora de Macapá, quando usamos na música “Geofobia” (de Fernando Canto e Jorge Monteiro) um Pilão como instrumento musical, tocado para marcar o ritmo. O Grupo foi formado por jovens oriundos dos movimentos católicos de juventude.
  2. Aconteceram em festivais de música e em escolas nos anos seguintes. O Grupo se estruturou a partir de 1980 quando realizou projetos culturais nas escolas da capital e do interior, além de shows eventuais de divulgação da nossa música.
  3. Não. Os primeiros componentes foram Fernando Canto, Bi Trindade e Juvenal Canto. Vários músicos e intérpretes integraram o Grupo, mas o os membros atuais estão juntos desde aproximadamente 1995. É formado por Orivaldo Azevedo (percussão), Eduardo Canto (percussão), Bi Trindade (voz), Juvenal Canto (voz e violão), Leonardo Trindade (violão) e Fernando Canto (cavaquinho e violão).
  4. A maioria das músicas gravadas pelo Grupo é de autoria de Fernando Canto. Outros compositores como Bi Trindade, Eduardo Canto, Sílvio Leopoldo e Manoel Cordeiro têm músicas gravadas nos três CDs que compõem a discografia do Grupo.
  5. Porque a idéia do Grupo sempre foi a de valorização da cultura local e popular em todas as suas manifestações. Acreditamos que com a pesquisa musical séria e a sua divulgação podemos dar mais valor a nossa identidade amapaense e amazônica, para fortalecê-la. Nesse contexto praticamente fizemos o mapeamento musical folclórico do Estado, promovendo as suas manifestações mais importantes e dando-lhes o (re)conhecimento e o retorno que merecem. Muito ainda precisa ser feito, pois o cancioneiro popular do Amapá é vasto e entrelaçado, devido ao alto fluxo migratório que traz para cá pessoas e culturas diferentes.
  6. Sim. Muitas músicas gravadas pelo Grupo trazem um teor ideológico de natureza política que reflete a preocupação de seus componentes com os diversos momentos da ocupação amazônica e as transformações econômicas, ambientais e sociais que o Estado do Amapá enfrenta. As músicas “Pedra Negra” (Fernando Canto) sobre a exploração do manganês na Serra do Navio,“Zanga dos Rios” (Silvio Leopoldo), “Tumuc-Humac” (Fernando Canto), “Saga” (Fernando Canto e Sílvio Leopoldo) e “Andareiro” e outras são alguns exemplos disso.
  7. “Quando o Pau Quebrar” participou em1974 do festival do SESC e TV Itacolomi em Belo Horizonte-MG e ficou em 2º lugar.
  8. Creio que é a vontade de mudar o que precisa ser mudado. È busca de liberdade e esperança em dias melhores. Tem a origem onomatopaica do cair de uma árvore, da arrebentação da pororoca, de um grande estrondo no céu, que pode significar uma grande confusão. Considero uma metáfora popular para expressar a necessidade do conflito e a mudança posterior a um fato.
  9. Por ser uma metáfora numa canção de protesto, “Quando o Pau Quebrar” simbolicamente é um desejo de luta contra a opressão que naquele momento histórico (1974) era representada pelo regime ditatorial dos militares. No contexto histórico estavam a Guerrilha do Araguaia e o episódio do “Engasga-Engasga” em Macapá, no qual fui envolvido e detido para interrogatório no quartel do Exército. A música também é uma expressão de raiva e esperança do compositor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

POESIA SONORA PARA RAUL SEIXAS


Na passagem de 2000 para 2001, concorremos, eu e Osmar Júnior, com uma música que ficaria gravada no CD e na memória dos que assistiram a final do IV Festival Amapaense da Canção - FEMAC, no Teatro das Bacabeiras. A música "Assim como Raul" levou cinco prêmios: primeiro lugar, melhor letra, melhor intérprete, melhor arranjo e música mais popular, em que pese quererem impetrar recursos no "tapetão" da antiga Fundecap. Não colou.

Este ano, em agosto, o velho Raul Seixas fez vinte anos de morto, após uma parada cardíaca causada por uma pancreatite aguda. Mas até hoje está sendo reverenciado pelos seus fãs em todo o Brasil.

Na época do festival, Enzo Rúbio, poeta amapaense de origem italiana que anda meio afastado do meio artístico, e vive como agricultor na localidade de Coração, assim comentou a música em um panfleto.

"Assim como Raul, antes de ser somente uma justa homenagem a Raul Seixas, retrata a situação da personagem que quer ir embora para conectar-se com os seres do infinito, após o cumprimento de sua missão no planeta terra. É um rock-balada-pop envolvente, lavrado com linguagem diferenciada e atual, original na temática que, mesmo simples, carrega elementos modernos de pura manifestação crítica (político-econômica) sobre a realidade".

"Fabricado na ante-sala do 3º milênio, é música-mística-epifânica que faz interface com os ícones sobreviventes da civilização ocidental. É como Raul porque traz códigos digitais e se confunde no espaço-tempo das mentes. É poesia imagética e sonora, leitura ambígua do mundo em transformação".

No dia da final do festival estávamos sentados esperando o resultado na frente do teatro quando falei ao meu parceiro que Raul ao contrário era Luar e Assim era Missa. Ele olhou a lua que acabara de surgir, parida do rio Amazonas, e me disse: - Nossa música é de uma "Missa ao Luar", Acho que ganhamos. Em seguida deu aquela sua risada característica.

Eis a letra da canção:

ASSIM COMO RAUL
Letra de Fernando Canto
Música de Osmar Jr

Alô parentes, ancestrais astrais
Além do céu dos aviões azuis
Desatem suas redes amarradas nas estrelas
E liguem, por favor, a nave mãe
Ancorada no invisível
- Quem pede é o capataz das nebulosas perdidas
Quero pôr o dedo nos anéis de gelo
Quero penetrar os buracos negros
E ter um infopapo com uns ETs legais
E cantar apaixonado as paixões universais
- Assim como qualquer viajante com saudade
Eu sou como Raul
E banhem-me de luz e venham me buscar
Pois eu não sou daqui, eu sou de lá... (bis)
Eu já cumpri com a minha parte
Influenciando as civilizações
Até causei as guerras das religiões
Enquanto no deserto um óleo negro
Em gás, em grana, em sangue se tornou
- Minhas sandálias gastas carregaram o pó da terra
Eu rebentei o mundo louco
Fornecendo aos poucos minhas invenções
Deixei pelas montanhas palavras em vão
De tanto apregoar aos sete ventos
O livro que vocês, parentes, me deixaram
- Na hora angustiante dos trovões
Eu sou como Raul
E banhem-me de luz e venham me buscar
Pois eu não sou daqui, eu sou de lá... (bis)
Eu quero ser feliz, eu quero ir daqui
E nunca mais voltar pra carregar a cruz


ASSIM COMO RAUL FOI A GRANDE CAMPEÃ DO 4º FESTIVAL AMAPAENSE DA CANÇÃO

A música, que é uma homenagem a Raul Seixas,
retrata o desejo de sair do planeta de um personagem


Osmar Júnior deu um show de interpretação e, junto com Fernando Canto, ficou com o primeiro lugar do 4º Femac

por ELIANE CANTUÁRIA

Com letra de Fernando Canto e música de Osmar Júnior, Assim como Raul retrata o desejo de ir embora de um personagem, após o cumprimento de sua missão no planeta Terra. Segundo Enzo Rúbio, a grande vencedora do 4º Festival Amapaense da Canção (Femac) é um rock-balada envolvente e de linguagem diferenciada, sem deixar de ser atual, já que trata elementos modernos como a informática de uma maneira simples e peculiar.


Ao todo, os autores de Assim como Raul levaram R$ 7.800, pois a música ganhou, além dos R$ 5 mil do primeiro lugar, os prêmios de melhor intérprete (Osmar Júnior), melhor arranjo (Osmar Júnior), melhor letra (Fernando Canto) e canção mais popular.

Foram três dias de muita agitação e participação do público, que movimentou não só a classe artística do Amapá mas a população que foi ao Teatro das Bacabeiras conhecer e comprovar o alto nível dos intérpretes e compositores do Estado. Assim, o 4º Femac conseguiu reunir, nas partes interna e externa do Teatro, pelo menos três mil pessoas em cada dia de apresentação. Do lado de fora uma estrutura com barracas, bares, mesas, cadeiras e telões foi montada para facilitar o acompanhamento das torcidas.

Mesmo com todos os esforços da equipe da Fundação de Cultura do Amapá em fazer deste o melhor festival, algumas reclamações do público devem ser levadas em consideração, como o atraso da programação, a falta de consulta da platéia para a seleção da música mais popular e a participação de artistas já conhecidos. "O festival é para descobrir novos talentos e não referendar aqueles que Macapá já tem e conhece", afirmou Alexsara Maciel, professora universitária.

Como acontece em vários festivais, nem sempre as músicas escolhidas pelos jurados correspondem às selecionadas pelo público, que entre palmas e vaias ouviu a divulgação das vencedoras pelos radialistas Humberto Moreira e Lígia Mônica, ambos da Rádio Difusora de Macapá.

As vencedoras

Em primeiríssimo lugar, com 78 pontos Assim como Raul, de Fernando Canto e Osmar Júnior, com interpretação e arranjo de Osmar Júnior; em segundo, com 75,5 pontos, Outro Trovador, de Floriano, com interpretação de Elaine Araújo e arranjo musical de Floriano; em terceiro, com 73 pontos, Um Beijo, de Ademir Pedrosa e Cleverson Baía, com interpretação e arranjo de Cleverson Baía; e, finalmente, em quarto lugar, com 72,5 pontos, Último Enredo, de Aroldo Pedrosa e Joel Elias, interpretada por Olivar Barreto e com arranjo de Edílson e Nelson Dutra.

Os jurados

O corpo de jurados da finalíssima do 4º Femac foi formado por: Mário Araújo (médico, violonista e guitarrista) e Fernando Chaves (músico, cantor, compositor e produtor musical) para o quesito música; Manoel Souza (professor de Teoria Literária e pró-reitor de Ensino da Unifap) e Elíude Viana (licenciada em Letras, escritora e poeta) para o quesito letra; José Olímpio Spíndola (licenciado em História, saxofonista com experiência na área musical) e Edison de Oliveira
(músico, saxofonista, clarinetista) para arranjo; Décio Rufino (juiz de Direito e cantor) e Lula Jerônimo (músico profissional, cantor e compositor) para interpretação.

Na presidência do júri a professora Ângela Nunes, licenciada em Letras e pós-graduada em Metodologiado Ensino Superior.

Som de primeira, acústica indiscutível, banda-base afinada e iluminação impecável. Desta forma os artistas avaliaram a estrutura física do 4º Femac, que aconteceu no período de 28 a 30 de dezembro passado.
*Publicado no site do jornal "Folha do Amapá"


IV FESTIVAL DA CANÇÃO AMAPAENSE*

Por DOMICIANO GOMES

A organização, o sucesso de público e a participação de grandes talentos e revelações da música regional e brasileira marcaram o IV Festival Amapaense da Canção/FEMAC, realizado pelo Governo do Estado no período de 28 a 30 de dezembro. A 4º edição do evento foi realizada no Teatro das Bacabeiras, que acabou ficando pequeno para o público participante. Ainda assim ninguém ficou sem participar do festival. A organização do evento havia colocado dois telões na área externa do teatro que asseguram participação do público.

Os resultados de público e critica mostram que o evento vem crescendo significativamente em organização e participação. Além das canções que estavam concorrendo, o festival teve grandes atrações como Belchior, Senzalas, Selma Reis, Zé Geraldo, Grupo Pilão e Banda Negro de Nós.

Das canções inscritas, 24 foram selecionadas para as duas eliminatórias que ocorreram nos dias 28 e 29. De cada eliminatória ficaram classificadas seis para a grande final realizada dia 30 quando saiu a vencedora. O cantor e compositor amapaense Osmar Junior em parceria com o escritor Fernando Canto foram os grandes vencedores do festival que teve o seguinte resultado:

1º lugar: Assim como Raul

De: Fernando Canto/ Osmar Júnior

Intérprete: Osmar Júnior

2º Lugar: Outro Trovador

De: Floriano

Intérprete: Elaine Araújo

3º Lugar: Um Beijo

De: Ademir Pedrosa/Cleverson Bahia

Intérprete: Cleverson Bahia

4º Lugar: Último Enredo

De: Aroldo Pedrosa/Joel Elias

Intérprete: Olivar Barreto

*Publicado no site do Governo do Estado do Amapá

Equinócio


Texto de J. Arthur Bogéa


Na minha geografia da infância Macapá era uma cidade noturna. Passei muitas férias em Clevelândia e, freqüentemente, o voo Oiapoque–Belém. Surpreendido pela noite, era obrigado a permanecer aqui. Não lembro a que horas da madrugada ou da manhã retornava às nuvens. Isso, talvez, tenha determinado o que tem sido sempre a minha certeza: aquele que chega, não aquele que parte. E esta geografia lunar depois encontrei traduzida por um poeta: "cidade – noite" *.

Havia também uma magia no céu. As estrelas pareciam maiores do que em qualquer outro lugar, como nas pinturas de Van Gogh. Ao longe os postes exibiam fagulhas. Em frente ao hotel um trapiche tão comprido, onde as pessoas caminhavam contra o rumo da maré. E navegava nessa visão como nos versos que outro escreveu: "Igual ao barco/tenho leme e vela" *.

O hotel não mais existe. Revejo o trapiche agora interditado e as gentes já não desafiam o avanço das ondas. E o poeta, insistente, reaviva lembranças: "Aporto–te de noite/porto mau/e meu/Porto do Céu" *.
Ao adormecer sabia que em algum lugar, dentro dos contornos da escuridão havia uma fortaleza erguida sob o signo da cruz e o golpe da espada. Sonhava com tiros de canhões e defesas heróicas contra piratas e aventureiros. Hoje o poeta ergue o verbo e interpreto como advérbio: "Como diariamente/as pedras dessa fortaleza/bebo o rio afoito" *.

É assim que desvio estas evanescências para retornar ao país da infância que Luly Rojanski Araújo esboçou em Nina. Com ela e o poeta como mestre embarco na "ubá de (teus) sonhos" *.

* Versos de Fernando Canto in "Os Periquitos Comem Mangas na Avenida".

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

BoconaAberta

CADERNO DO MEIO DO MUNDO - Macapá 2001
Três
Poemas

De Morte
E um Assombro
Inelutável
1. Pré–Munição
O poeta olhou pro céu e

viu araras negras resmungando no pedaço

Sentiu um calafrio taquicardia
Riso dor e dor
E teve um sonho cor de aço.
No hospital viu na TV:
"Osama nas hallturas pôs as asas pelos braços."
2.A Morte
Quem faz o fogo no escuro

Se um brilho se acende cedo

Pra cedo domar a noite e o frio que mora escondido nas dunas do Oriente?
A morte ronda montanhas
A morte rompe defesas
A morte rasga mortalhas de homens que foram gente.
3. O ar
Windows of world
Abram-se em ângulos azuis
Quero ver estrelas
War da arrogância ensimesmada de ENTULHOS God save América
Incensos e velas
Que os Orixás protejam os pequenitos de Allah!
Assombro
Crime
Ó! Bocona aberta!
Grito pelo rio de ondas verticais
Sons de ferramentas–grilos (cry cry cry) abafam tua angústia no banheiro
Hithcock passa como um Alfredo jardineiro num macacão de jeans molhando a grama vermelha.

Phódrio Two
Tizingida cor em teu selo maisgentile
Corpo caseiro
Sem platéia ver–te–coito
Provisiona alimentos lacteos
Laticínios morticídios para bulimia anorexial pós–mortefambre de todos los Dias/Noches
Equilíbrio
Abraço os olhos na hora de deitar na cama
Minha muleta é meu olho.
Já meus pés não são tão confiáveis
Parecem pranchões acizentados de poeira
Onde grafo pelos dias/noches meus erros grama(ti)cais
Estes poemas foram publicados em nosso primeiro site em 2001

PRODUÇÃO DA ARTE AMAPAENSE

Texto apresentado por ocasião do Seminário de Arte Amapaense – SAPO, em 17.04.86 por Fernando Canto


Tela de R. Peixe. Acervo de Fernando Canto

"A arte é uma produção; logo, supõe trabalho".
(Alfredo Bosi)
"O homem tem na inteligência a possibilidade permanente para modificação."
(Câmara Cascudo)
"Sim, eu quero saber. Saber para melhor sentir, sentir para melhor saber."
(Cézzanne)

Eduardo Galeno, no início do seu famoso trabalho “As Veias abertas da América Latina” fala que na divisão internacional do trabalho existem dois lados: Os países que se especializaram em ganhar e os que se especializaram em perder. E, inevitavelmente, como latinos, trazemos o estigma da dominação, da espoliação conseqüente e da própria depauperação econômica, política e social que veio gerar o que chamamos de identidade cultural. Aliás, conceito hoje dado e usado a partir de um ponto de referência (exterior) que faz promover a diferença e nos caracteriza como povo, se bem que estejamos latentemente vestidos com roupas ufanistas para não admitirmos a condição de alienados e para alimentarmos estereótipos que nós mesmos criamos. “No Brasil somos um povo alegre”, dizem uns. “O brasileiro é malandro, gosta de samba e Futebol”, dizem outros. Porém é necessário aprender que não basta dizer simplesmente que somos diferentes, é importante mostrar em que nos identificamos.

Desta forma é que ao tentarmos abordar o presente tema, tomamos o cuidado de levar em consideração a questão da identidade cultural, pois, a nosso ver, todas as dificuldades encontradas para uma análise coerente da questão, estão pautadas na formulação de conceitos paralelos e na historicidade de fatos que nos leva a discutir pela primeira vez com seriedade e sem paixões as características principais da produção artística amapaense. Entretanto, falar em arte amapaense, também significa discorrer sobre a homogeneidade regional a partir das suas semelhanças históricas culturais e ecológicas, pois, a bem da verdade, somos, os amazônidas, o mesmo povo sofrido, abandonado, isolado e pobre, onde as ligações principais com o resto do País são apenas a língua e o infortúnio, porém unidos por símbolos patrióticos que nos tornam brasileiros, todos vítimas conscientes da propaganda e explorados nas nossas riquezas.

Embora nos esforcemos procurando um conceito que expresse a realidade, a arte amapaense continua existindo na paisagem como um detalhe obscuro, raramente percebido por algum observador atento.

Precisamos ser realistas. Somos uma placa cultural insignificante, afixada e pisada diariamente no vasto plano criativo do país.

Em que pese a crua realidade, a arte amapaense é mais um símbolo representativo da divisão do trabalho, existente em qualquer sociedade, do que um fazer, do que um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura.

Nessas condições é que procede a afirmação de que a produção local de arte é pequena, de baixa qualidade e carece de aperfeiçoamento. Não obstante os esforços individuais e as lições do passado, percebe-se a fragmentação de alguns setores artísticos gerada, sobretudo pela falta do aperfeiçoamento e de aprofundamento da identidade cultural, além da inércia, da megalomania e de um xenofobismo arraigado de artistas que se organizam em grupos com visível intuito lucrativo. De cima da escada, falsos artistas bradam suas conquistas, criando novas escolas, jactantes, mas que não percebem a necessidade de estender – se à universidade técnica, procurando também o aprimoramento intelectual a partir de novas visões de mundo, sem precisar ser essencialmente um freqüentador de academias ou um asceta. É preciso conhecer o "outro lado", como criticava os gregos Heródoto, ao constituir exemplo da emergência de consciência crítica. Outras visões de mundo são importantes, pois "não há teorias, dizia Lênin, mas visões de mundo".

No quadro geral, pensar e pesar são as medidas para que se busque o aprimoramento artístico e a conseqüente produção de obras respeitáveis. Se arte é um trabalho que exige a atenção de todos os sentidos, se faz necessário afirmar que no Amapá somos mais artífices que artistas, apesar de mascarados pelo status causado pela eterna competição do trabalho intelectual versus trabalho manual. Pouco pensamos. A sociedade, que também não despertou o inconsciente, avaliza a situação, pois ainda que reconheça a agudez do espirito do artífice (mais humilde), dá mais valor ao artista. E todos querem ser artistas, nunca artífices.

Não nos cabe falar da importância do papel que as artes desempenham no desenvolvimento da mente do homem, preparando – o para criar novos instrumentos, mas sim que é mediante as artes que a cultura se realimenta a partir da observação básica da existência do potencial de energia contido no inconsciente coletivo. Ao artista cabe o ofício de condensar essa energia.

Quem pesquisa para aprimorar sua arte? Quem se esmera para criar arte respeitável e receber um digno valor pelo seu trabalho? Quem? O artista plástico quer ver sua arte admirada, o escritor quer ver seu livro publicado, o músico quer audiência quando executa seu instrumento. Mas poucos artistas amapaenses vão à luta, aprimorando-se paralelamente. Enquanto isso, dentro de casa, a maioria torna-se cada vez mais provinciana e envolvida numa redoma.

Como modificar o quadro e condensar essa energia? Precisamos realmente refletir sobre a existência de uma arte amapaense. Acreditamos que para tanto temos que fazer uma retrospecção para tentar abstrair conceitos seguros.

É perigoso até entrarmos nessa questão pela possibilidade de cometermos injustiças sermos mal interpretados já que o assunto pode tanger a suscetibilidade de certos artistas. Mas como roupa suja se lava em casa e a nossa proposta é sermos sinceros e isentos de paixões, continuemos.

Nos fins do século passado, com a fundação do primeiro Jornal amapaense, o "Pinsonia", destacou-se um poeta de grande sensibilidade chamado Francisco de Mendonça Júnior que tinha o pseudônimo de Múcio Javrot. Na mesma época o poeta Vaz Tavares mostrava seu talento em Belém. Anos depois com a transformação do Amapá em Território o primeiro governador trouxe para cá intelectuais, artistas e trabalhadores para "construir uma civilização sob o equador". Entre eles figuravam o pintor Aloísio Carvão, os poetas Álvaro da Cunha e Arthur Marinho, o maestro Oscar e outros. Mais tarde chegaram Alcy Araújo, Ivo Torres, R. Peixe, Espírito Santo, Aracy Mont'Alverne, Nonato Leal, Amilar Brenha e uma gama de produtores de arte que aqui estiveram e participaram ou ficaram definitivamente.

O Amapá foi crescendo. Sua capital encheu- se de modernos aparatos urbanos. Os filhos dos pioneiros e dos nativos aqui estudaram e completaram seus estudos em outras regiões do país. Muitos voltaram para colaborar com o desenvolvimento da arte local, paralelamente às suas atividades profissionais. Quem achava que possuía talento tornava-se autodidata e era estimulado pelos que começaram a militar na imprensa. Formaram-se grupos teatrais com Cláudio Barradas e Creuza Bordallo, foram criados grêmios literários e Jornais nos colégios. Surgiram movimentos artísticos, com exposições de artes plásticas, lançamentos de livros, concertos musicais, espetáculos de dança, mostras de artesanatos, etc.

Alguns artistas de talento, reconhecidos nacionalmente como Manoel Costa, Vicente Souza e Aloísio Carvão, fugiram do diletantismo e da empolgação, se aprimoraram e se firmaram no cenário artístico nacional.

Assim procede a pergunta: Existe uma arte amapaense ou uma arte de amapaenses?

Com 43 anos de criação o Território do Amapá ainda é dependente, se bem que a história do isolamento geográfico não constitui a "grande barreira" do desenvolvimento cultural, mas sim um obstáculo política e administrativamente ultrapassável se levarmos em conta que todos precisamos nos aprimorar, nos libertando dos preconceitos de dominados e partindo para enfrentar a realidade mesmo que ela seja áspera, para que nos tornemos mais sérios, até que Macapá seja um centro cultural digno daquilo em que nos identificamos no contexto da Amazônia e do Brasil.

A arte amapaense pode aflorar do conhecimento dinâmico. Pode brotar com o beneplácito de todos, através do trabalho e da seriedade de uma luta organizada. Ninguém vai nos dizer que estaremos radicalizando se estivermos nos libertando, nos desalienando de uma conduta errônea e mal orientada. O homem e a natureza estão aí para serem observados e a inteligência do artista está funcionando numa perfeita harmonia com a natureza. Portanto, precisamos aliar a coragem do trabalho com o talento desprovido de farsas para buscarmos no futuro a existência de uma verdadeira arte amapaense, produzindo e consumindo algo mais que nossas próprias dores.

Agora podemos passar para a questão do apoio institucional, e perguntar sobre o papel do Estado no aperfeiçoamento do produtor de arte.

A atividade artística pode ser considerada uma atividade política. De um lado a partir da argúcia e do talento do artista. Toda vez que o Estado articula apoio à arte, está na realidade, manipulando uma relação de poder, de cujas teias o produtor de arte dificilmente sairá se não tiver a visão necessária para juntar os filamentos e condensar a energia vinda do social. É dever de a instituição Governo preservar a herança cultural de um povo. Nós aqui do Amapá, contudo, sabemos e sentimos o quanto a cultura tem se tornado mais um instrumento de conservação do que de transformação, pois o apoio financeiro e técnico tem sido tímido e a prática de estimular valores artísticos tinha sempre e caráter de dar alguma satisfação à sociedade e de preencher relatórios das Secretarias. O importante e vital apoio da administração amapaense à classe artística existe incipientemente. Há, também, um certo estímulo e boas intenções na maioria das vezes barradas pelos burocratas das Coordenadorias Setoriais de Planejamento que sempre dizem: - Não tem verba para isso... Como se não houvesse um planejamento orçamentário dos órgãos responsáveis pela cultura. Na verdade esses órgãos não têm autonomia e sofrem uma superposição política que castra as mais importantes iniciativas.

O favorecimento de alguns em detrimento de muitos talentos não é uma prática exclusiva do Amapá. Em toda parte existe tráfico de influência, barganha e negociações sub – reptícias no meio artístico. Aqui houve muito disso. O Governo quase sempre só beneficiava aos amigos ou aos que se submetiam às suas vontades.

Hoje, quando nos preocupamos mais vigorosamente com os problemas da arte no Amapá temos que levar em consideração a independência criativa que os novos tempos proporcionam e buscar fontes alternativas de produção das áreas artísticas, mas nunca deixando de nos aperfeiçoar, criando e criticando o que nos rodeia para que possamos nos orgulhar de ter uma genuína arte amapaense.

Bibliografia

BENOIST, Luc. Símbolos, Signos e Mitos. Belo Horizonte, Interlivros, 1976.

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre Arte. São Paulo, Ática, 1985

CASUDO, Câmara. Civilização e Cultura. Volume I, Rio, INL/José Olímpio, 1973

FURTADO, Celso. Criatividade e dependência. Rio, Paz e Terra, 1978

_______________. Cultura e Desenvolvimento em Época de Crise, Rio, Paz e Terra, 2ª Edição, 1984.

GALEANO, Eduardo. As Veias da América Latina. Rio, Paz e Terra, 20ª Edição, 1983.

GONZALES, Horácio. O que são Intelectuais. São Paulo, Brasiliense, 3ª Edição, 1982.

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo, Brasiliense, 1985.

Obs.: Este texto, escrito em 1986, descreve o panorama artístico que o autor percebia em Macapá. Muita coisa mudou. Mas será que foi tanto assim?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O POUSO DO ANJO VIAJANTE

Conto publicado no jornal "A Gazeta", de 20/09/2009

Anjo migrador anda silencioso pelo trapiche que ora aporta – barco de sonhos, nave de asas longas. O anjo tem a pele avermelhada como a de um de buriti flutuante ao sabor da maré, e ronda misterioso pela frente da cidade onde pousa. Parece ter medo ou desconfia que ela não o receba. Ele olha, então, o rio, uma grande dádiva de Deus, e sente o vento lhe arrepiar o corpo como um hálito frio da madrugada, uma brisa que levanta seus cabelos aureolados pela luz contraposta da lua minguante, nesta noite onde a viagem parece terminar.

Depois que o dia acende sua fogueira e o rio se prende num alguidar é que se vê o anjo em sua humildade: é velho e está nu. De suas minúsculas asas se soltam antigas penas que pegam penura e depois descem mansamente nas águas. Ele caminha pela ribanceira para se hospedar na primeira casa que encontrar.

– Bom dia, diz ao homem da primeira casa. – Tenho fome, me arranje o que comer.

– Bom dia nada, seu velho tarado. Vá tratar de se vestir que já-já minha família se acorda e eu não quero que ninguém lhe veja assim.

O anjo se magoa. Ah, nada como um anjo magoado pela malícia e a incompreensão dos homens comuns. Ele chora, abana as asas e voa, para o espanto do homem da primeira casa.

Ele desce. Limpa as lágrimas. Assua o nariz com as mãos. Não desiste. Bate na segunda casa. Pergunta à dona dela: - A senhora poderia me dar água?

A mulher, ainda sonolenta, despeja-lhe um balde d'água e lhe diz: – Vá tomar banho, miserável. Isso são horas de me acordar?

Ah, ele sofre de novo. E chora e sobe e rola nas nuvens cirros, lamentando a incompreensão dos seres humanos, para o espanto e a confusão que fez nascer na cabeça da mulher da segunda casa.

Mas ele pára e releva tudo. "São apenas seres humanos", pensa. Vai à terceira casa e uma criança lhe diz: – Entre vovô, deite na rede do papai que eu vou servir um café quentinho pra você.

A criança conversa como um adulto. Liga a TV, mas não pára de tagarelar. O anjo viajante fica abismado com a precocidade daquela criatura e se envolve em um diálogo onde não cabem tantas palavras e onde os gestos se rompem entre lágrimas retidas e rios de alegrias.

Perto do almoço o anjo sente o odor do peixe em cozimento. Gostosos cheiros de ervas desconhecidas para ele dançam no ar do ambiente. A criança lhe explica tudo, fala os nomes das coisas. Repete a toda hora: – Papai tá pra chegar, fique pro almoço. Ele saiu cedo pra pescar, mas já tá vindo.

Admirado, o anjo decide ir embora antes que o pai da criança chegue, pois não queria ser novamente ser incompreendido pelos adultos. Come a caldeirada de filhote, um manjar inusitado em sua desmemoriada vida eterna. Sai pé-ante-pé, saciado e contente, com as asas revigoradas empurradas pelo vento forte da maré.

Ao chegar lá em cima, começa a crescer tão desmedidamente que chega cobrir o sol. Olha para baixo: uma multidão de curiosos fere as retinas sob o sol. Todos querem ver esse prodígio.

O homem da primeira casa, que lhe negara comida e o escorraçara, a tudo assiste e lhe acena. A mulher que lhe negara água diz a todos os vizinhos que o saciara, mas que era um anjo ingrato. A criança da terceira casa – que lhe dera abrigo, água e comida – solta seus cabelos amarelos ao vento e ele então pára no ar, volta ao tamanho inicial e sorri. Faz um sobrevôo e de rasante rapta a criança e a coloca em cima das águas do rio. Ela anda sem medo e chama as pessoas para que a acompanhem. Todos vão a ela, exceto o pai, aflito, que acabara de chegar para o almoço.

O sorriso do anjo é forçado agora. Há de se notar que ele fora arrogante e não queria fazer o que fez. Mas está feito. As águas do rio se revoltam e todos nelas se afundam. Todavia o sol a pino se abre e raios brilhosos conduzem a criança a terra para os braços do seu pai.

Aí o anjo entra em seu barco alado, que agora parece uma bola de fogo, e parte levando em suas asas todos os cheiros, todos os gostos e todas as palavras ditas pela criança. Ouve-se um trovão e uma chuva amazônica desaba sobre a cidade.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Onde está Ane Karoline?


Recebi de meu amigo, o escritor Ray Cunha, o seguinte apelo:
Minha sobrinha, Ane Karoline Moreira dos Santos, uma bela jovem de 16 anos, foi para o colégio, terça-feira 15, de manhã, e não voltou mais para casa. Chegou a telefonar para a mãe, Jane Regina Moreira dos Santos, dizendo-lhe que não voltaria mais. Os traficantes são crueis. Peço-te encarecidamente divulgar o desaparecimento da Ane no ilimitado alcance do teu blog. O pai dela chama-se Mário dos Santos e o telefone da família é 3251-4922.

Novo "lugar bonito"

É no bairro do Buritizal. Que a comunidade do entorno da praça fique atenta aos maus cidadãos que já começaram a jogar lixo por lá.

Desfile do Grupo Pilão no dia 13/09 em Santana

Percussionista Orivaldo Azevedo

Cantor e Compositor Bi Trindade.

Visita de Ana Clara

Ana Clara visitando as novas instalações de Sônia Canto Produções.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal "A Gazeta", de 18.09.2009
CONVOCAÇÃO NACIONAL

Folder do Edital ARTE/EDUCAÇÃO

Saiu o edital destinado à convocação, em âmbito nacional, de instituições que lidam com arte/educação, cultura e cidadania. Será uma realização do MEC, MINC e Organização dos Estados Ibero-americanos.
A Convocação visa identificar as experiências que estão sendo desenvolvidas no campo da Arte/Educação (Artes Audiovisuais, Artes Visuais, Dança, Música e Teatro), com especial referência àquelas que promovem as diferentes culturas e a formação de cidadãos preparados para viver em sociedades multiculturais.
Inscrições até 30 de setembro, site www.oei.org.br/convocacao2009.

GRUPO PILÃO

Cena da Preparação do Desfile

Considerado um dos precursores da música popular do Amapá e um dos pilares da divulgação do folclore do Estado, o Grupo Musical Pilão foi homenageado pela Escola Estadual São Benedito, de Santana.
Convidado, participou dos desfiles comemorativos à Semana da Pátria no dia 13 de setembro, quando milhares de estudantes reverenciaram a cultura amapaense.
O Grupo Pilão, que ainda está na ativa, nasceu no dia 26 de setembro de 1975 por ocasião do V Festival Amapaense da Canção ao apresentar a música "Geofobia", de Fernando Canto e Jorge Monteiro, usando um pilão como instrumento musical.
Os componentes do Grupo sentiram-se honrados com a homenagem e foram muito aplaudidos no desfile, com a atenção especial para Bi Trindade, que durante 23 anos atuou no município como professor.

FESTA ADIADA

A festa de aniversário Bar do Abreu programada para setembro foi adiada para o dia 03 de outubro. De acordo com o Ronaldo, que não gosta de fazer nada de afogadilho, vai haver muita atração para os freqüentadores.

Seis bandas se apresentarão no palco a ser armado na Avenida FAB, mas o nome delas só será revelado próximo ao evento. No dia será distribuído um informativo que está sendo editado pelo jornalista Gabriel Penha. São 27 anos do bar itinerante que começou na esquina da Cobal com o Campus Avançado (Ernestino Borges com Odilardo Silva), em 1982.


FESTIVAL DOS ESTILIZADOS

Roberval Lima, presidente da Escola de Samba Piratas Estilizados e o cantor Leonan

A partir das 18h00 de amanhã, no Centro de Cultura Negra, os Piratas Estilizados estarão realizando o seu festival de samba-enredo para o carnaval de 2010.

Segundo Roberval Lima, presidente da agremiação, compositores de peso como Ademir do Cavaco, Vetinho, Neck, Cristina Sá, Robson do Cavaco e Nivito Guedes participarão do concurso.

O tema da Escola é: "No cantar afro-tucuju os Ramos de Alceu e Joaquina ecoam pela amazônica Pedreira e embalam os Estilizados no Carnaval do Meio do Mundo". Haverá apresentações de grupos de pagode e da Bateria-Show da Escola. O preço da entrada é um quilo de alimento não perecível.

NOVAS ACADEMIAS

Dr. Lopes da Comissão da Academia Amapaense de Medicina

Depois de estruturar a Academia Amapaense Maçônica de Letras, juntamente com o prof. João Lourenço e este colunista, fundada no ano passado, o Dr. Raimundo Lopes tem outra missão.
Atualmente exercendo o cargo de Corregedor do CRM-AP, o conhecido ortopedista faz parte da Comissão encarregada de organizar e estruturar a Academia Amapaense de Medicina, juntamente com a Dra. Maria das Graças Creão (Nefrologista) e o Dr. Domingos Nobre Lamarão (Cirurgia Geral), que a preside.
Os trabalhos já estão avançados na confecção dos estatutos e os patronos serão escolhidos a partir de nomes ilustres da medicina nacional e amapaense. Entre estes estão Acelino de Leão, Alexandre Vaz Tavares, Diógenes Silva e Alberto Lima.

JAMELÃO

O episódio abaixo se passou na quadra da Escola de Samba Unidos do Peruchi, em São Paulo, ano de 2003.

O carnavalesco Egídio, da Maracatu da Favela, encontrou com o cantor Jamelão, da Mangueira e lhe perguntou: - O senhor se lembra da Fifita e do Pelé, lá do Amapá? Jamelão respondeu: - Eu não me lembro nem da comida que eu comi no almoço imagina do teu Amapá e não sei o que mais. Egídio insistiu na conversa: - Mas a minha escola também é verde e rosa... E Jamelão: - Meu filho, minha bandeira é verde e rosa. Segura a tua bandeira que eu seguro a minha. Eu vou lá lembrar de uma escola dessas.

ZUNIDOR

Saiu ontem no D.O.U. a Portaria nº 717 do Ministério das Comunicações que institui a Rádio Universitária da UNIFAP. Reitor José Carlos Tavares ligou de Brasília feliz da vida. Não houve quaisquer interferências de políticos./ Sônia Canto Produções está funcionando em novo escritório no 2º andar do edifício Macapá Office, na Av. FAB./ Hoje os Concertos de Verão da Confraria Tucuju apresentam o Grupo Nuances de música erudita, no Largo dos Inocentes. Imperdível./ Amanhã é o Dia do Teatro./ A UNISUL oferece curso de mestrado em Ciências da Saúde. É reconhecido pela CAPES. Acessar ppgcs@unisul.br./ Muito boa a exposição da RDM no seu aniversário de 63 anos./ Iniciam na 2ª feira os cursos de idiomas para a comunidade acadêmica da UNIFAP. São 200 alunos inscritos para os cursos básicos de francês e inglês./ Programa "Movimento em Ação", com Heraldo Almeida no comando continua dando banho de audiência./ Hoje tem Lula Jerônimo no projeto "Canto de Casa", no SESC Centro./ 2º Congresso Nacional de Administração: 29 a 31 de 10 em Salvador: http://www.bjfeirasecongressos.com.br/ ./ Novo "lugar bonito" no Buritizal agora parece crescer na paisagem./ 61º Congresso Brasileiro de Enfermagem: 7 a 10.12 em Fortaleza. Acessar www.aben-ce.com.br/cbern /Neca Machado manda notícias da Alemanha. Passeia com o marido conhecendo museus e sente saudades da terrinha./ Hoje reinaugura a Praça Floriano, no Trem. Está linda. Parabéns PMM. Leia-se Heraldo Trindade. Vem aí o livro "Adoradores do Sol". / Inderê. Volto na sexta.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DESFILES NA AVENIDA FAB

Publicado no jornal "A Gazeta" de domingo, 12/09/2009

Banda de Música do GM - Ginásio de Macapá

Machado de Assis dizia: "há certas memórias que são como pedaços da gente, em que não podemos tocar sem algum gozo e dor, misturas de que se fazem saudades". Então saudade é uma lembrança boa, algo que queremos apalpá-lo para provar que vivemos, é desejo legítimo de recordar cenas episódicas, reviver aqueles instantes mesmo sabendo que o filme acaba.

Mas se um acaba outros começam. E essa legitimidade de penetrar no passado por certo suscita o intangível e apura a virtualidade do sonho. Os olhos riem de satisfação quando os rostos suados dos adolescentes enfrentavam o sol da manhã de verões duros que o vento do Amazonas amenizava. A fome, a sede, qualquer pendência se resolveria depois do desfile. O importante era o garbo e o compromisso de passar na frente do palanque da Avenida FAB, onde cabiam as autoridades e suas famílias. Mal sabíamos, na nossa santa ingenuidade, que da cabeça daqueles homens não só irradiava o sentimento de amor pela Pátria, mas também a satisfação de verem milhares de pessoas reunidas ali para apreciarem suas mãos de poderosos. E entre galardões e medalhas, sob o pálio, davam o circo ao povo.

Acordar às cinco da manhã para tomar café, vestir a farda de mescla azul (engomada cuidadosamente pela mãe na noite anterior), luvas e polainas, sempre dava nervoso. Afinal, um desfile era uma estréia, e valia pontos na eterna disputa intercolegial. Nós do Ginásio de Macapá levávamos certa vantagem porque tínhamos a banda do Mestre Oscar Santos que interpretava hinos patrióticos magnificamente, inclusive dobrados de compositores locais, como "O Artífice" do saxofonista Cícero Melo. Ao chegar ao ginásio mais um reforço de café, pão e o famoso leite "peidão". A caminhada para a concentração, o constante corre-corre dos inspetores e professores, que entre apitos estressantes e gritos de ordem tentavam organizar os pelotões. Mas só depois das oito, quando se encerravam as solenidades de hasteamento do Pavilhão Nacional na Praça da Bandeira é que o desfile iniciava. Não sei quem passava por primeiro, se os militares ou os colegiais, pois a gente, os mais altinhos da "turma da graxa" só queria mesmo mostrar que havíamos ensaiado bem e que nosso uniforme era impecável, bem como o garbo que caracterizava os estudantes do GM. É certo que vez por outra um aluno perdia o casquete azul na marcha contra o vento, mas jamais perdia a pose. Depois vinha a compensação pelo belo desfile: um refrigerante com a família, uma conversa com colegas de turma, uma volta pela praça no rescaldo dos acontecimentos e, quem sabe, um encontro tímido com a linda morena de olhos graúdos do colégio rival. Os olhos abaixados, porém cheios de paixão, corriam furtivos sob o sol do equador, num quase equinócio de desejo pela moça. Os rostos vermelhos de calor e agonia, a vontade de tocar naquelas mãos de anjo e a realidade da presença dos pais e irmãos que a conduziam para casa. Um último olhar para trás, todavia, parecia o convite para um encontro que se realizaria, talvez, num domingo qualquer na segunda sessão da tarde do cine João XXIII, ou em frente ao velho Macapá Hotel.

As paradas de Macapá dos anos de Território Federal trazem mesmo essas lembranças tão férteis como o solo que adubamos para fazer nascer o que queremos plantar. Mesmo com o amor por esta terra "pegando de galho", como foi meu caso, o passado das manhãs de setembro não é feito de fotografias guardadas num álbum confeccionado na Imprensa Oficial pelo Sabá Ataíde. Continua sendo um filme de moto perpétuo, que apanho sempre na locadora da vida quando quero espantar a tristeza e reencontrar um mundo tão bom que eu nem sabia.

Ora, o mesmo Machado também diz com sabedoria que saudade não é nada mais que uma ironia do tempo e da fortuna. Para mim, nessa ironia cabe a sorte de vivermos as alegrias e os perigos da memória posto que relembrar com saudade só é saudável se valeu à pena não nos arrependermos de nossas ações.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

É O AMOR!

Parabéns e muitas felicidades ao casal Eduardo Canto (Dudu) e Sayori pelo casamento realizado hoje.
Foto: Isadora Canto

ESTRADAS DO TEMPO


Inesquecível professora e poeta Aracy Mont’Alverne entre mim e Sônia, na comemoração dos seus 80 anos, em Belém, no ano de 1993. Tive o prazer de escrever o prefácio de seu primeiro livro Luzes para a Madrugada.
Professora Aracy Mont’Alverne ladeada pelos seus filhos Ana Luiza, Ana Lourdes, Ana Lídia, Joacy, Ana Lúcia, José Jorge e José Sebastião.
Fotos do acervo de Fernando Canto

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal "A Gazeta" de sexta-feira, 11/09/2009

REITOR & MARINA



Prof. Dr. José Carlos Tavares, reitor da UNIFAP.

O reitor da UNIFAP, prof. José Carlos Tavares tem um encontro agendado com a senadora Marina Silva, em Brasília no próximo dia 16, quarta-feira.

Tavares, que ainda não se filiou a nenhum partido político e pretende se candidatar a deputado federal nas eleições do ano que vem vai à reunião com os deputados estaduais Zezé e Manoel Mandí, do Partido Verde.

GENTE DO CHORO

Ceará da Cuíca

Vai ser no dia 21 de novembro (sábado) o show com o grupo "Gente do Choro" composto por músicos do Bar do Gilson, de Belém. Quem informa é o Ceará da Cuíca que vai trazer músicos do quilate de Gilson (Cavaco), Adamor Ribeiro (Bandolim), Paulo Moura (violão), Geraldão (violão) Cardosinho (7 cordas) Mininéa (Pandeiro), entre outros.

A apresentação será na "Casa de Chorinho", na Avenida Piauí, no Pacoval. Quem quiser tem que reservar logo as mesas. Vai lotar.

CENTRO DA BIODIVERSIDADE


Na sua estada na capital federal, Tavares vai se reunir com a Secretária de Ensino Superior do MEC, Marina Paula Dallari e a Diretora de Desenvolvimento do Ministério, Adriana Waska, sobre a participação da UNIFAP no Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica.

O Centro (Universidade) terá cursos de graduação e de pós-graduação e deverá ser instalado em bases do Oiapoque e Laranjal do Jari. Na pauta de discussão estarão os cursos que serão implantados e a proposta da UNIFAP nessa participação, que será de 30 milhões de reais, através do MEC.

Lula quer que haja participação de alunos de outros países, além dos da França e do Brasil.


COLETÂNEA



Manoel Bispo, artista plástico e escritor.

Sairá nos fins de setembro a Coletânea de Poesias, parte integrante do projeto Sumaúma, de Poetas, Contistas e Cronistas do Meio do Mundo. Esse primeiro livro traz a poesia de Manoel Bispo, Paulo Tarso Barros, Alcinéa Cavalcante, Pastana, Osvaldo Simões, Herbert Emanuel, Ricardo Pontes e Jomasan, entre outros.

O próximo passo será a Coletânea de Contos, segundo o pintor e escritor M. Bispo, que coordena o projeto.

AMAPÁ EM CANTOS

Pessoal da AMCAP está esperando a liberação de recursos do MINC na ordem de 1,5 milhão de Reais para levar adiante a segunda edição do projeto "Amapá em Cantos", promovido pelo Governo do Estado, através da SECULT.

O projeto foi executado no ano passado no SESC Ypiranga, em São Paulo, e pelo que contam não obteve um resultado satisfatório de público, por ser o local muito longe.

Os artistas querem que seja realizado no SESC Pompéia, onde o público é garantido. E confirmada a liberação dos recursos (Uma grana!) o projeto deverá integrar a programação do Ano da França no Brasil.

PAU DO PECADO

É meio intrigante (mas muito fácil) como iniciam as apropriações urbanas. Neguinho chega na calçada do cemitério assim como quem não quer nada e vai logo construindo lanchonete pé-de-cachorro. Vem outro, olha para um lado, olha para outro, não vê fiscal e faz um restaurante com três pedaços de pau e um jirau na beira do canal fétido, e vai ficando.

Daí que eu quero saber como é que os padres da Igreja de São José fecharam a lateral esquerda da Avenida Mendonça Furtado e o conseqüente acesso dos transeuntes à Praça Veiga Cabral. Lá ficava a saída traseira do Cine João XXIII e o famoso "Pau-do-pecado", uma barreira de acesso a carros, não a pessoas. Assim é fácil ser dono da rua. Ei, PMM, fiscalização é para todos

PROFESSORA DO CACHORRINHO

Zeca Mont'Alverne, violonista dos bons, me contou que quando sua mãe, profª Aracy, era Secretária de Educação do extinto TFA acabou com uma singular, mas constrangedora prática das reuniões com o corpo docente do interior.

Na época chamavam os professores ao microfone para exporem seus problemas nas escolas. O apresentador da reunião dizia: - E agora a professora de Duas Bocas (Tartarugalzinho). E todo mundo ria, procurando a aberração. - E agora a professora do Cachorrinho (Serra do Navio), anunciava o locutor. E a "platéia" morria de rir. Depois chamava a professora do Curralinho (Macapá) e de outras paragens. Ninguém aguentava.

ZUNIDOR

É amanhã o aniversário do Bar do Abreu, na FAB. A festa foi transferida para o início de outubro./ Amanhã é a final do Festival SESI de Música no Malocão, às 21h00./ Hoje se casam meu sobrinho Dudu (Eduardo) Canto e Sayori. Felicidades/ Excelente o show do Projeto Pixinguinha no dia 03 passado. Em que pese os CD's não chegarem a tempo para o lançamento. Iluminação e cenário perfeitos. O som, como sempre falhando. De parabéns Joãosinho, Enrico e Patrícia./ Depois do sucesso em Belém, Nivito volta para lá no fim do mês para gravar o programa da TV Cultura "Cena Musical"./ Vem aí "Adoradores do Sol"./ Funciona na Casa do Chorinho a escolinha de música do projeto musical "Afinando os Sonhos". 140 crianças participam dos cursos de musicalização de flauta doce,/ Em breve entrará no ar a Rádio Universitária FM 96,9 MHZ. / Quem canta hoje no "Canto de Casa" é Maria Eli, no SESC Centro./ Radio Difusora faz aniversário hoje, com exposição fotográfica e BLT. Parabéns aos radialistas da "Velha Boa". / Hoje inicia no Parque de Exposições de Fazendinha a "Grande Vaquejada do Meio do Mundo"./ Acesse http://www.fernando-canto.blogspot.com/ .Inderê. Volto na sexta.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS

Fernando Bedran, Frank e Adriano, no Norte das Águas.
Minha querida professora da quarta e quinta séries do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, Cacilda Barreto. Cacilda é escritora e está em Macapá fazendo pesquisas históricas.

Momentos do Show Musical do Projeto Pixinguinha


Joãozinho Gomes, Patrícia Bastos e Enrico Di Miceli

Joãozinho Gomes, Lecy Brandão, Celso Viáfora, Nilson Chaves, Patrícia Bastos, Grupo Voz, Dante Ozetti e Enrico Di Micelli no final do show, com o Teatro da Bacabeiras lotado.
Joãozinho Gomes, iluminado
Patrícia Bastos
Patrícia Bastos e Lecy Brandão
Bi Trindade e Jomasan
Amigos Carlos Lobato e Juliele assistindo ao Show.
Fotos: Fernando Canto

FESTIVAIS DA CANÇÃO

Publicado no jornal "A Gazeta" de 06/09/2009
Premiação de Fernando Canto e Osmar Jr. no II Festival Amapaense da Canção de 1998 com a canção "Farras e Cimitarras". Ao fundo, o meu amigo Neck.

Festival é um termo que tem diversas conotações, mas sempre traz o sentido de algo grande, que denota movimento, sons e cores. E é dele que quero me reportar para lembrar o seu plural, que também enseja vanguarda e apresentação de coisas novas.

Desde 1971 participo de festivais de música, principalmente porque àquela época era o único meio de se saber quem compunha, escrevia ou tocava alguma coisa fora dos círculos sociais, onde pouquíssimos artistas freqüentavam. Estes, de alguma forma tinham uma relação com o poder.

Nesse tempo, romper o bloqueio de músicos e intelectuais como Isnard Lima, Amilar Brenha, Nonato Leal, Alcy Araújo, Ezequias Assis, e outros, não era fácil. Praticamente eles faziam de tudo. Inclusive trabalhavam como promotores desses primeiros festivais e se redobravam como divulgadores, jurados e, até mesmo como compositores. Não dá para esquecer que nesse ano de 71 (quando inscrevi o samba "Laguinho, Laguinho, Laguinho", em parceria com Odilardo Lima, poeta do nosso bairro que se transformou em delegado e esqueceu a poesia), a música vencedora foi "Balada de Amor e Dor" de Isnard Lima e Venilton Leal. Canção magistralmente interpretada por José Maria Santos, que viria a tornar o famoso Jomasan, que depois se radicou na Guiana Francesa e fez sucesso como cantor, mas que agora está de volta à Macapá. Nesse ano acompanhei ao violão a música "Maria" de Hernani Vitor Guedes, violinista e líder do conjunto "Os Mocambos", que integrei mais tarde. O detalhe desse festival foi que se descobriu depois que a canção vencedora era de autoria do presidente da comissão julgadora e não de seu filho. Isso praticamente desestimulou a produção do seu Hernani como compositor, segundo Nivito Guedes, seu herdeiro musical e meu parceiro hoje.

Normalmente os festivais de música trazem a suspeita de fraude, de protecionismos e de vínculos de camaradagem, onde estão presentes os afagos culturais de uns e relações políticas de outros. Nem sempre a competência vence, mormente se o autor, o intérprete ou a banda não fazem parte do chamado "esquema".

Lembro que em 79, no festival da canção da Associação dos Universitários, quando apresentei "Pedra Negra" com o Grupo Pilão, e perdi no final, o jornalista Antonio Corrêa Neto publicou no falecido jornal Marco Zero um relato do quase eterno jurado Antonio Munhoz. Munhoz denunciou a manobra dos organizadores do festival para não deixarem a minha música vencer, posto que eu tinha sido expulso da AUAP e era considerado subversivo, além do que a canção falava mal de uma empresa local e não se sabia COMO ela havia passado pela censura dos federais. Mas este desabafo não pára aí.

Em 1971, nós do Laguinho, fomos desclassificados do Festival por causa da palavra "cachaça", que segundo os jurados, feria a moralidade da época. No ano seguinte concorri com "Devaneio" que ficou em segundo lugar e perdeu para uma tal "Morte do Rei Sapo", de Azarias Neto. Depois se constatou que a tal "Morte" era plágio de uma história de um livro infantil. Essa música sumiu e "Devaneio" veio a se tornar o primeiro sucesso fonográfico do Amapá, gravado pelo grupo "Os Mocambos" na voz de José Maria Santos, o atual Jomasan.

Essas são apenas pequenas histórias dos ditos festivais, que para uns ficam na memória como uma coisa competitiva e boa, e para outros, algo nojento e ruim. Para mim apesar dos percalços consegui vencer quatro festivais em Macapá e ser premiado em Minas e São Paulo, tentando mostrar na raça e no talento um pouco da nossa vida amazônica e dizer sobre o que poderíamos fazer para tentar mudá-la. E festival que se preza não busca apenas revelar talentos, mas valorizar o que se tem de melhor. Também.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no Jornal "A Gazeta", de 04/09/2009

ELEIÇÕES NA UNIFAP

Com a perspectiva da saída do professor Tavares para se candidatar a um cargo eletivo no ano que vem, começa a movimentação para sucedê-lo na reitoria da UNIFAP. As eleições serão realizadas em março e a posse do novo reitor será em junho.
Entre os cotados está o professor José Alberto Tostes, vice-reitor atual, que pelo jeito quer continuar o trabalho de Tavares e já vem falando em "unidade na diferença", buscando costurar sua candidatura.
Outros prováveis candidatos são os professores Ricardo Ângelo e o atual reitor da UEAP, José Maria da Silva. Ricardo ficou em terceiro lugar na última eleição e José Maria perdeu para o professor Brasão, quando este sucedeu Paulo Guerra em 2006.

FUNDO DO TEATRO DAS BACABEIRAS


Painel dos artistas Robert Laurent, francês e Dekko, amapaense, pintado em 1999.

O painel hoje, desbotado. Nossa memória urbana se esvaindo. Quem tomará as providências para a restauração?

Dificilmente quem passa pela Rua São José, próximo à Biblioteca Elcy Lacerda, não nota que o tempo desbotou os painéis artísticos da parede de trás do Teatro das Bacabeiras.
Pintados pelo artista amapaense Dekko e pelo francês Robert Laurent, os painéis somam 230m² de área e foram feitos para selar a Cooperação Cultural Amapá/ Guiana Francesa.

Mesmo tendo passado por reformas o Teatro não contemplou o projeto de Dekko, que visa a transformação dos painéis em mosaico, como o que foi realizado por ele no Centro Cultural Amapá-França. Dekko obteve a autorização verbal de Laurent para transformar sua pintura, antes do seu falecimento há alguns anos.

O conjunto de painéis, reaceso e em mosaico, certamente seria mais uma intervenção positiva no cenário urbano de Macapá.
SETEMBRO



Foto cedida pelo meu amigo Ronaldo Bandeira, acervo de família.

Desfile de 07/09/1972 - foto publicada na Revista Latitude Zero, nº 8


Setembro sempre foi pródigo em festas. Tempo de equinócio, de sol e de vento. Tempo das paradas escolares e dos desfiles militares que ainda hoje povoam a memória do povo amapaense.

Há quem chore ao se lembrar desses eventos tão esperados por todos na Avenida FAB, principalmente aqueles aludidos ao "Aniversário do Território".

Parece até que fica o sabor de uma época em que os sonhos eram projetados para além do rio Amazonas, quando as marcas dos amores impregnavam os sorrisos de quem um dia pensava em voltar.

OSCARITO
O arquiteto Oscarito Antunes do Nascimento defende logo mais na UNIFAP a sua dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Regional denominada "A Paisagem Urbana de Oiapoque e as Implicações Relativas à BR-156, à Ponte Binacional e à Fronteira".

Professor militante da área, Oscarito faz parte de uma equipe de pesquisadores da UNIFAP que há alguns anos vêm trabalhando com a arquitetura e o urbanismo da Amazônia, produzindo estudos temáticos, principalmente sobre as sedes dos municípios amapaenses.
O grupo se prepara para implantar o Plano Diretor de Oiapoque, com a agenda de um Seminário para os dias 25 e 26 de setembro.

ESPÍNDOLA E O SAX

O projeto Concertos de Verão da Confraria Tucuju, apresenta hoje às 20h00, no Largo dos Inocentes, o show do saxofonista José Espíndola.
O músico tem 40 anos de música instrumental e já tocou em diversas bandas amapaenses, acompanhando grandes intérpretes locais. Em 2003 gravou o CD "Tua Luz" e três anos depois lançou o segundo, denominado "Eu e Você". Vale ouvir o artista, um dos melhores músicos da terra.

HIAN VENCEU O 2º FEMINSAP

Finéias, líder do quarteto Amazon Music


O músico e produtor Finéias está muito contente com os resultados do II Feminsap – Festival de Música Instrumental do Amapá, feito em agosto. Durante o evento ocorreu um work shop de bateria, contrabaixo e piano, respectivamente com os músicos Cuca Teixeira, Tiago Espírito Santo e Vitor Gonçalves, fato que concorreu para o aprimoramento dos instrumentistas tucujus.


O vencedor do festival foi o baterista e compositor Hian Moreira com a música "Verde Estrada". Hian vem de uma família de músicos: é filho de Aldo e Claudete Moreira e levou seis mil reais como prêmio. Em segundo lugar ficou o violonista paraense Nego Nelson com "Cochichando na Coxia" (R$4 mil) e em terceiro, empatados, Jacinto Kawage e Tom Campos, que dividiram o prêmio de dois mil.



ZUNIDOR

Osmar Junior e Cleverson Baía, estão em Brasília, terminando as gravações do CD "Piratuba, a Cantoria no Lago", sob a batuta do Maestro Joaquim França./ As inscrições do Mestrado em Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Uberlândia ocorrem no período de 05 a 07 de outubro. Site: site http://www.pgpsi.ufu.br/./ O conjunto Instrumental Amazon Music, após gravar um clip que está rebentando na TV Tucuju, agora vai realizar o seu primeiro CD. O líder da Banda, Finéias, informa que as músicas trabalhadas são retiradas do folclore regional, como o Marabaixo e o Batuque. Elas recebem o trato dos arranjos e ganham uma linguagem "jazzíztica", como em "Rosa Branca, Açucena", do clip./ Acesse: http://www.fernando-canto.blogspot.com/./O livro "Cheiro da Terra" da escritora Lucília Junqueira de Almeida Prado, publicado pela editora Scortecci está concorrendo ao 51º Prêmio Jabuti 2009 na categoria Contos e Crônicas./ Entre 18/09 e 18/11 estarão abertas as inscrições para o Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul. Site: http://www.unisc.br.ppgdr/./ Vem aí o livro "Adoradores do Sol./ Inderê. Volto na Sexta.