sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ray Cunha autografa na Bienal Brasil do Livro em Brasília

BIENAL BRASIL DO LIVRO E DA LEITURA COMEÇA SÁBADO 14. RAY CUNHA AUTOGRAFA “O CASULO EXPOSTO” E “TRÓPICO ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS” NO EVENTO

Brasília: Acrílica sobre tela, de Olivar Cunha – 2011
BRASÍLIA, 13 de abril de 2012 – Brasília completa 52 anos, dia 21 de abril, um sábado. O ponto alto da sua programação de aniversário será a primeira Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília, de amanhã, 14, a 23 de abril, das 9 às 22 horas, na Esplanada dos Ministérios, dentro de uma estrutura coberta de 14 mil metros quadrados, dividida em quatro pavilhões, com 157 expositores, sessões de autógrafos, exibição de peças e filmes, seminários, debates, palestras e shows de música popular brasileira. Entrada franca. Os promotores do evento aguardam meio milhão de visitantes.

Estarão presentes 120 editoras e autores de todos os continentes. Nomes consagrados autografarão seus trabalhos, como o Nobel nigeriano Wole Soyinka, autor de O Leão e a Joia; o norte-americano Daniel Polansky, autor da trilogia Cidade das Sombras; o britânico Richard Bourne, autor da biografia Lula do Brasil; e o argentino Mempo Giardinelli, de Luna Caliente. Haverá também debates com escritores como a norte-americana Alice Walker, de A Cor Púrpura; e o chileno Antonio Skármeta, de O Carteiro e o Poeta. Entre os autores brasileiros convidados estão Milton Hatoum, Cristovão Tezza e Marçal Aquino.

No circuito alternativo da bienal, estarei autografando dois livros: O casulo exposto (LGE Editora, Brasília, 2008, 153 páginas, R$ 28) e Trópico Úmido - Três contos amazônicos (edição do autor, Brasília, 2000, 116 páginas, R$ 20), no estande da Cope Espaço Cultural, ao lado da Biblioteca Nacional e defronte ao estande da Livraria Arco-Íris. 
Ray Cunha, defronte ao Congresso Nacional - Foto de Ed Alves - 2009

Brasília como ela é  
A Brasília que emerge das páginas do livro de contos O casulo exposto é uma alegoria à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da Humanidade, a ninfa de Lúcio Costa, golpeada no ventre, as vísceras escorrendo como labaredas de roubalheira, luxúria, depravação e morte nos subterrâneos de Brasília. A fauna que transita na esfera política e chafurda nos subterrâneos da cidade-estado é heterogênea. Amazônidas que deixaram a Hileia para trás e tentam sobreviver nfotoa fogueira das vaidades da ilha da fantasia, jornalistas se equilibrando no fio da navalha, políticos daquele tipo mais vagabundo, que não pensa duas vezes antes de roubar merenda escolar, estupradores, assassinos, bandidos de todos os calibres, tipos fracassados e duplamente fracassados, misturam-se numa zona de fronteira fracamente iluminada. Contudo, a ambientação de sombra e luz tresanda também a perfume e romance.

“Ray Cunha trabalha, desde 1987, como jornalista, em Brasília, cobrindo amplamente a cidade e o Congresso Nacional. Seus romances e contos são, geralmente, ambientados na Amazônia, mas, como o escritor acaba envolvido ao meio onde vive, surgiu, assim, O casulo exposto” – diz a quarta-capa do livro, prefaciado pelo escritor Maurício Melo Júnior, apresentador do programa Leituras, da TV Senado. A capa é assinada pelo artista plástico André Cerino. 

Deu no Correio Braziliense 
LÚCIO FLÁVIO

Nascido em Macapá (AP), mas radicado em Brasília desde 1987, o jornalista e escritor Ray Cunha conhece como poucos as cicatrizes da capital brasileira. Experiência adquirida em mais de duas décadas como repórter de cidades e na cobertura intensa do Congresso Nacional. Por isso, não deixa de ser oportuno que o seu mais recente trabalho, o livro de contos O casulo exposto, chegue às livrarias justamente no momento em que o Senado passa por uma de suas piores crises.



“Embora seja todo ficção, o livro fala de um momento atual. Essa politicalha na qual estamos mergulhados vem do país inteiro, mas Brasília é a síntese", comenta o autor, que reúne 17 contos escritos desde 1989. "Nenhum dos meus trabalhos anteriores foram inspirados em ocorrências jornalísticas. Esse sim. Mas tudo o que acontece na vida de um escritor acaba entrando, de um jeito ou de outro, na ficção”, observa.

A unidade das tramas esbarra no submundo de Brasília. Ray Cunha, autor também dos romances A casa amarela e O lugar errado, explica que o título remete a utopia que se transformou na capital do país. Tal ideia está nitidamente expressa no primeiro conto do livro, por meio do encontro de dois homens, um guia e um engenheiro, num lugar onde, num futuro não muito distante, será construído o sonho de JK. “O senhor acha que vai dar certo, gente de toda parte se mudar para cá?”, pergunta o guia ao engenheiro. “Sim. Aqui, todos serão iguais”, responde.

“O desenho de Brasília também lembra o de uma borboleta. E a primeira passagem da vida de uma borboleta é o casulo. Um casulo que expõe suas vísceras que são os subterrâneos”, explica. “Uma Brasília engessada”, emenda.

A intimidade do autor com a cidade é denunciada não apenas por meio dos temas abordados - seja a política ou as mazelas da cidade -, mas também pela geografia desenhada em histórias que têm como personagens as vias da cidade como a W3 Sul e a W3 Norte ou um encontro aparentemente casual na Churrascaria Porcão. “Sou um observador privilegiado da cidade”, diz.

Ray Cunha, como ele é 

ALDEMYR FEIO, Jornalista

 Um breve bate papo com Ray Cunha, para os amigos do Jornal do Feio. Aldemyr Feio é um veterano jornalista que mora no famoso bairro belenense de Icoaraci, que batizou de Vila Sorriso, e pegou.

O que o levou a escrever O casulo exposto?
Costumo ambientar meus livros na Amazônia, especialmente Belém, minha cidade predileta. Porém vivo em Brasília, desde 1987. Do início de 1996 ao fim de 1997, voltei a morar em Belém, mas por questões profissionais retornei a Brasília. Uma estada tão longa nos leva a conhecer bem o ambiente onde vivemos; assim, é natural que comecemos a escrever algumas histórias com a geografia da cidade onde moramos. Em 2008, observei que já escrevera 17 contos ambientados em Brasília e com personagens que são, quase sempre, migrantes, que transitam nas ruas e nos meios jornalísticos e políticos da cidade-estado. Submeti os 17 contos à leitura do Maurício Melo Júnior, escritor talentoso e crítico literário bem-preparado. Ele escreveu a apresentação do livro e sugeriu que o levasse ao Antonio Carlos Navarro, diretor da LGE Editora, que resolveu editá-lo.

Maurício Melo Júnior, ao apresentar o livro, afirma que "O que interessa ao escritor são os resultados daquelas experiências, são os personagens que ficaram depois das epopeias”. Por que?
Um dos fios condutores de O casulo exposto são as personagens, em geral migrantes, às vezes frustrados ou duplamente frustrados. As epopeias a que Maurício se refere é a construção de Brasília - uma fase da cidade que já acabou. Restaram os candangos bem-sucedidos, como o empresário Paulo Octávio, dono de boa parte da cidade, e muita gente que mora em assentamentos e invasões. Migrantes continuam chegando, mas agora tudo está lotado. Os contos, portanto, não enfocam uma epopeia, mas a miudeza do dia-a-dia na capital da república.

Maurício também afirma: "Ray Cunha ainda lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até cruel". O que ele quis dizer com isso?
Algumas das personagens dos contos são tragicômicas. Outras, apenas trágicas. Creio que o humor cáustico a que Maurício se refere é o que costumamos chamar de humor negro, quando situações, apesar de dramáticas, ou trágicas, contêm, mesmo assim, viés risível.

Seus romances e contos são, geralmente, ambientados na Amazônia. Qual a sensação de escrever um livro "candango", ou seja, produzido com as coisas que acontecem em Brasília?
É a mesma sensação de trocar pirão de açaí com dourada frita por pão de queijo, ou de trocar a Estação das Docas por shopping. São duas situações absolutamente diferentes. No meu caso pessoal, caio de joelhos por tudo o que diz respeito à Amazônia, mas também curto Brasília. Assim, sinto-me perfeitamente à vontade tanto na Amazônia como em Brasília.

"O casulo é uma alegoria à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da Humanidade..." mas "também tresanda a perfume, romance e esperança, nas luzes da grande cidade". Dá para explicar?
O casulo do título evoca o fato de que Brasília é reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade. Em termos práticos, não se pode mudar a arquitetura original do Plano Piloto de Brasília, que compreende o projeto do urbanista Lúcio Costa, excluindo-se as cidades-satélites. Então, o Plano Piloto é protegido sob uma redoma legal, um engessamento legal. É Patrimônio Cultural da Humanidade, mas nas suas ruas e nos seus subterrâneos não há romantismo, como em toda metrópole brasileira, inchadas e perigosas. Apesar disso, há contos de puro perfume, romance e esperança. O conto que encerra o livro, A Caça - que inclusive já foi publicado pela Editora Cejup (de Belém do Pará) -, quase no fim, refere-se às luzes de Brasília e termina no quarto de um bom hotel.

Você acha que o leitor vai entender as suas colocações contidas no Casulo?
Certamente que sim. A literatura, como qualquer arte, tem algo maravilhoso. No seu caso específico, as palavras remetem o leitor a mundos que são somente dele. O escritor é um mero porteiro. Lembrei-me de um caso que ocorreu com William Faulkner. Alguém o informou que leu duas vezes um livro seu e não entendeu a história. Faulkner sugeriu que lesse mais uma vez.

Nos "casos" relatados no livro você teve alguma participação ou foram vivenciados apenas superficialmente?
O senso comum mistura atores com personagens e acredita que ficção é o que conhecemos como realidade. Se assim fosse, quantos escritores não estariam atrás das grades por assassinato? O fato é que até nas autobiografias há mais ficção do que realidade. O escritor que faz seu trabalho com seriedade não está interessado em jornalismo. Estou certo de que pelo menos 75% do que os jornais publicam originam-se de interesses dos donos, de ideologia, de conjecturas, de boatos, ou de mentiras pura e simplesmente. Também o escritor não está interessado em si mesmo, pois todos os escritores são pessoas comuns e, muitas vezes, introvertidas. Qual a participação que um escritor pode ter numa história que se passa em outro planeta? Como Antoine de Saint-Exupéry criou O Pequeno Príncipe? Esta é a diferença: as antenas especiais com que os escritores nascem, o que permitiu, por exemplo, que Ernest Hemingway criasse uma mulher abortando, em Adeus às Armas, ou que John Steinbeck desse vida a uma mulher que acaba de perder seu bebê recém-nascido e dá de mamar a um ancião que está morrendo de fome, em Vinhas da Ira.

Quem é Ray Cunha?
Nasci em Macapá, na margem direita do estuário do rio Amazonas, cortada pela Linha Imaginária do Equador, em 7 de agosto de 1954. Fui educado na Amazônia. Conheço a Hiléia razoavelmente, por longa leitura e por ter estado lá. Vivo em Brasília por uma questão de mercado de trabalho. Aqui, consigo oferecer à minha família razoável padrão de vida, sustentado pela minha profissão, jornalismo. Literatura, para mim, é minha missão pessoal. Embora morando em Brasília, a internet me permite ficar ligado o tempo todo à Amazônia. Tenho ligação íntima com Belém, um dos meus grandes amores, e, naturalmente, com Macapá. Quanto a Brasília, já somos velhos namorados. Brasília me deu duas mulheres fundamentais: minha esposa, e minha luz, Josiane, e uma flor, minha filha Iasmim.

Um comentário:

  1. RAY.
    GALGAR DEGRAUS E DIVULGAR A PALAVRATEXTO PRODUZIDA POR AMAPAENSES ORIUNDOS, ADOTADOS,OU
    APAIXONADOS POR ESTE CHÃO.
    MERECE UMA LINDA PALAVRA.
    P A R A B E N S!

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