quarta-feira, 25 de maio de 2011

O ABC CORRIDO DE J. ARTHUR BOGÉA

bogea A série Xumucuí – Literatura é uma criação de José Arthur Bogéa, paraense, ex-professor da Universidade Federal do Espírito Santo e professor visitante da Rijksuniversiteit te Utrecht (Holanda), jornalista, ator, crítico literário. Um criador. Comprometido com a cultura de sua terra, entusiasta da boa literatura produzida na região amazônica, sua intenção não é fazer do ABC uma biografia, mas com base na semiótica e na narrativa, remeter o leitor ao texto do Autor na sua inteireza. É provocar o leitor, deixá-lo ávido, ansioso por conhecer a obra referenciada (BOGÉA, J. Arthur. ABC Corrido, Editora Universitária da UFPA, Belém, 1993.

Verbete: RAPSÓDIA DA CHUVA (Páginas 42-4) – Segundo Lexikon , a chuva “É universalmente o símbolo das influências celestes recebidas pela terra, um símbolo da fertilidade e muitas vezes o agente fecundador do solo (As gotas de chuva equivalem ao esperma dos deuses); nesse sentido, é também um símbolo plástico das influências psíquicas e espirituais dos deuses sobre a terra” (1992: 56).

Os escritores mais representativos da Literatura paraense sempre cultuaram o fenômeno, embora o que se segue seja apenas uma amostra de uma pesquisa iniciada.

Inglês de Souza (1853 -1918) em O Missionário cita a “borrasca” (1987: 160), mesmo termo usado por Raimundo Moraes (1872 – 1941) em Igaraúnas (1938: 32);

Marques de Carvalho (1866 – 1910), em Hortência, considerado por Eidorfe Moreira o primeiro romance urbano, registra “tempestade” (19: 60);

Alberto Rangel (1871 – 1945) no Inferno Verde prefere “dilúvio amazônico” ( 1904: 32); Oswaldo Orico (1900 - ) em Marabaxo, associa “assai” + “sesta + “chuva” (1960: 32);

Cândido Marinho da Rocha (1907 – 1985) em Terra Molhada, aproxima-se do exagero de Rangel: “inverno inclemente das Ilhas do Norte (1958: 13);

Dalcídio Jurandir (1909 -1979) em Chove nos Campos de Cachoeira, relembra as grandes enchentes, quando “as montarias andavam pelos campos” (1941 – 17);

Nélio Reis em Os Rios Correm para o Mar relaciona “março + “chuva” (1941: 195);

Ildefonso Guimarães (1919) no conto Linha do Horizonte, une “dança” + “chuva” na tragédia da Negra Belarmina (1990: 108);

Benedicto Monteiro (1924) em Verde Vagomundo: “chuva” + “enchente” (1972: 147), como Dalcídio;

Haroldo Maranhão (1927) em Cabelos no Coração, “chuva” + “viagem” (1987: 124); Sant’Ana Pereira (1936) em Invenção de Onira, que tem como fator histórico a Cabanagem, tema a que Bruno de Menezes dedicou o soneto Revivendo os Cabanos, junta “vento” + “chuva” (1988: 157);

Agildo Monteiro (1938) em A Promessa: “chuvas” + “mangas” (1992: 37).

Os ficcionistas da nova geração não fogem ao tema:

Salomão Laredo (1949), em Marailhas, rememora o “tomar banho de chuva” (1991: 9);

Vicente Cecim em Viagem a Andara situa o tempo num “após a chuva” (s.d.: 178); Ronaldo Bandeira, Mais Infinito, Menos Infinito (1985: 19) coloca bem próximas “chuva” + “tristeza” (1985:19);

Orlando Carneiro (1943), Paraguases, “chuva” + “viagem”;

e Fernando Canto (1954), no conto O Homem Impassível, “chuva + “lua” (1990: 32).

BM (Bruno de Menezes) incursiona por várias dessas referências, a palavra isoladamente, chuva (s) (p. 13, 14, 18, 21 e 29) com adjetivo sempre posposto: grossa (p.13) e pesadas (p 34).

A palavra chuva evolui para chuvada (p. 17) – chuvarada (p. 14) – chuveirão (p. 18) e aparecem ainda aguaceiro (p. 14) e enxurrada (p. 19). O verbo chover aparece apenas uma vez (p. 29). O ponto de contato com Rangel está ligado ao verbo seguido do adjetivo diluvial (p. 29); o inverno de Rocha (p. 53); e com Reis, esclarece que as chuvas de março fazem florescer a lavoura. As águas deste mês são famosas na Literatura Brasileira através dos poemas de Cláudio Manuel da Costa – Vila Rica, Olavo Bilac – O Caçador de Esmeraldas e a composição de Tom Jobim.

Bruno de Menezes acrescenta que as chuvas de dezembro é que marcam o início do plantio (p. 33); ao duplo de Pereira acrescenta “noite” (p. 17); entra em (dês)armonia com Canto (Fernando) (p.29) mas com A. Monteiro junta duas coisas bem paraenses. À viagem de Maranhão e Carneiro acrescenta erotismo: “Na volta de uma dessas viagens, quando o caminhão tomou carreira, desabou repentina chuvarada, causando pânico entre os viajantes. (...) insensível ao clamor desesperado, o condutor do carro, talvez porque as mulheres, com roupas encharcadas, oferecessem aos olhos gulosos o espetáculo dos seis núbeis, apontando na chita dos vestidos, ou emuchercidos, de tanto haverem aleitado, não atende, nem pena, gozando a sua tara”. (p. 14).

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