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Abro a porta do quarto do hotel, e lá está o jornal O Globo, num simpático suporte de couro, pendurado no trinco. Manchete: “MEC não vai recolher livro que aceita erro de português”. Pego o jornal, deixo-o sobre a cama e resolvo lavar o rosto, livrando-me dos humores do sono. Quero ler direito esse negócio, bem desperto.
Fico sabendo que foram comprados e distribuídos quase 500 mil volumes da obra Por Uma Vida Melhor, que, à diferença do que o nome sugere, não é um livro de auto-ajuda desses autores “cut-cut” que andam por aí, espalhando a sua “pedagorréia do amor”. Não! Trata-se de um livro de língua portuguesa, de autoria de uma professora chamada Heloísa Ramos. A professora Heloísa acredita ser “importante que o falante de português domine as duas variantes e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala”. Uma das variantes é o erro. Como cada um erra a seu modo, sem obedecer a um método, então tudo é permitido. Para esta senhora, há situações, então, em que o erro é preferível ao acerto. Com 500 mil volumes vendidos, ela está com a vida ganha.
Já expus aqui a teoria que subjaz a essa estupidez. No Globo, um representante do MEC diz que a pasta não recolherá os livros porque não é “o Ministério da Verdade”. De fato! Trata-se do Ministério da Boçalidade e da Delinqüência Intelectual. O talzinho que falou faz uma alusão ao livro 1984, de George Orwell, sugerindo que os críticos daquele lixo encadernado seriam pessoas autoritárias, defensoras de um regime totalitário.
Estúpida hipocrisia a dele!
O MEC, ele sim, remete a um regime discricionário nessa história toda. Para começo de conversa, uma equipe faz uma pré-seleção dos livros compráveis. Resta evidente que Por Uma Vida Melhor não passou pelo crivo em razão de seu amor pela Inculta & Bela — ou, fazendo piada, pela “inculta”, sim; pela “bela”, jamais! O critério foi unicamente ideológico, uma vez que a abordagem que justifica que aquela estupidez seja oferecida aos alunos nasce da suposição de que a língua espelha a luta de classes, de modo que se trataria, então, de respeitar “a expressão do oprimido”. Essa visão vagabunda do processo educacional ignora, ou finge ignorar, que a vida selecionará esses jovens brasileiros em futuro relativamente breve. Quem tiver mais domínio da norma culta leva vantagem. O livro da dona Heloísa incentiva a formação de ignorantes orgulhosos de sua condição. Quem conseguir se tornar presidente da República, bem… Quem não conseguir vai catar lata!
O dito-cujo quer brincar de 1984? Então vamos lá, valentão! O que se está ensinando aos alunos, nesse caso, é a “novilíngua”, em que “liberdade é escravidão, ignorância é força”.
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