quarta-feira, 25 de maio de 2011

CRÔNICAS DO CALDO FINO

caldofino Com autorização, reproduzo aqui estas crônicas do livro “Caldo Fino – crônicas sobre o cotidiano do Amapá”, organizado pelas professoras Cláudia Maria Arantes Assis e Roberta Sheibe (Editora Virtual Books, Pará de Minas, MG, 2011). O livro traz textos de alunos e ex-alunos do curso de Comunicação Social da Faculdade Seama. Segundo as organizadoras “São historietas que, em sua maioria, resultam em crônicas de linguagem e formatos livres, repletos de coloquialidade e genialidade”.

“A crônica nada mais é do que um grande e fino caldo de tacacá (aqui no Amapá bom não é o caldo grosso, e sim o fino), que faz grandes misturas com ingredientes e resulta num sabor exótico. É o caldo do tucupi (molho de cor amarela extraído da raiz da mandioca) com jambu, goma, chicória e camarão. Tudo junto e misturado. Para completar é só jogar uma pimenta de cheiro”

[...] “Sinta-se convidado a tomar o caldo fino de nossas histórias. Adicione pimenta à vontade. Boa leitura.”

PORRE

Carla Helena

Na noite passada fui convidada para uma reunião com as “meninas”. Eu disse a meu “namarido” que estaria de volta à meia-noite. Mas as horas passaram rapidamente e a cerveja estava rolando solta.

Por volta das três da manhã, feito um gambá, fui para casa. Mal entrei e fechei a porta, o cuco da parede da sala disparou e “cantou” três vezes. Rapidamente, e percebendo que meu marido poderia acordar, eu fiz “cu-co” mais nove vezes...

Fiquei realmente orgulhosa de mim mesma por ter tido uma ideia tão brilhante e rápida (mesmo de porre) para evitar um possível conflito com ele.

Na manhã seguinte, meu “namarido” me perguntou a que horas eu havia chegado e eu respondi a ele:

À meia-noite!

Ele não pareceu nem um pouquinho desconfiado.

Ufa! Daquela eu tinha escapado! Então, ele disse: Nós precisamos de um novo cuco. Quando eu perguntei: por quê? Ele respondeu:

- Bom, de madrugada nosso relógio fez “cu-co” três vezes, depois não sei por que, soltou um “caraaaaallllhhooooo!”. Fez “cu-co” mais quatro vezes e espirrou. Fez mais três vezes, riu e fez mais duas vezes. Daí tropeçou no gato, derrubou a mesinha da sala, peidou, vomitou no tapete e voltou pra casinha dele...

O DEMOCRÁTICO

Clay Sam

Pense num lugar onde flamenguista senta no lado do vascaíno e ainda divide o mesmo tira-gosto. Oposição e situação sentam no mesmo balcão e ainda dividem opinião. Em suma, seria mais ou menos você ver o Bush tomando chopp com Fidel Castro e fumando um bom charuto cubano. Pois é, este lugar existe e está bem aqui no Amapá.

O Bar do Abreu ao longo de mais de três décadas tem sido palco de inúmeras cenas que são impossíveis de serem vistas em qualquer lugar deste planeta.

As histórias e papos que ocorrem por lá, é claro, são impublicáveis, só você indo até lá pra ter uma ideia do que se trata.

O ambiente funciona como uma espécie de ponto de encontro de intelectuais, jornalistas, políticos, artistas... Anônimos ou famosos têm o mesmo tratamento e desfrutam do mesmo atendimento. Há uma constante que quando alguém quer ficar sabendo de tudo o que está acontecendo na cidade, as últimas informações de um determinado caso, quem saiu com quem, o bar é o lugar ideal.

No Abreu são comuns as pequenas reuniões de jornalistas discutindo pautas ou analisando fatos que marcaram a semana. Outro ponto de destaque do bar são as partidas de futebol transmitidas pela TV. Há dezenas de monitores que retransmitem campeonatos de todos os estados e divisões. Chega a ser engraçado uma grande torcida fazendo o maior barulho e ao seu lado um único torcedor de um time de sua região. Mas esta é a tradição local. O bar é um espaço literalmente democrático em que prevalece o bom humor em todos os aspectos, e as diferenças são deixadas para trás após um gole e outro. O Abreu, ao longo de todo esse tempo, tem mostrado como se faz um espaço democrático.

Um comentário:

  1. Meu amigo Clay Sam é na verdade, uma versátil comunicador e músico, traduzindo com isso sua maneira fácil de interagir com pessoas diversas e, o Bar do Abreu é o cenário próprio. Concordo plenamente com essa viagem do Sam amapaense. Agora, me conta Clay, "quem saiu com quem", ultimamente. Êpa! No momento não estou no Bar do Abreu!Parafrasendo o zunidor Fernando Canto, INDERÊ pra ti.

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