sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

SÃO JOSÉ DE MACAPÁ – ROTEIRO POÉTICO parte II

Livro_

CÂNTICO 23º

Amo-te

amargurada e retumbantemente

desde os ventos raiados

nas auroras aluviais

que turvam meu pranto teu.

Autor: Fernando Canto
Ilustrações: Chikahito Fujishima

CÂNTICO 24º

Amo-te

por teu grito, teu granito

alucinado de justiça

pão e bem-estar

pois desde a tua estada

no meu peito, ouço

correr o verbo e o veneno

de homens que te tiram o sangue.

0012

CÂNTICO 25º

Mas meu amor por ti não é contrito

nem gito

O meu amor é sem paredes

embalsamado, é largo.

Amo-te raiado e celular.

Até protelo meu amor

pra não cansar de ti.

0013

CÂNTICO 26º

Em tua paisagem refestelo

mil carnavais

e te acompanho no suor quente

das toalhas

das negras do marabaixo

olhando personagens que em ti passam

aborrecendo o teu cantar

- Por isso que te quero branda ou brava.

CÂNTICO 27º

Hora do ontem

um boi morreu

Tempo de hoje

um sol nasceu

Sal do nada

floresceu.

CÂNTICO 28º

Eu te imagino imaginária

numa projeção de luzes, cores

e um altar de estrelas conduzindo

a retidão de tuas virtudes

numa ausência plena de pecados

que ora germinam originais

mas mortos de cansaço.

0014

CÂNTICO 29º

Mais perto das estrelas

tu, Maca-Paba

encanta a índole universal

desses astros

que entre outros mundos

desabam signos mundanos

todos os meses, todas as vezes

pendurados na linha equatorial.

 

CÂNTICO 30º

De janeiro ao ano inteiro

nascem tamarinos, mangas...

o vinho e a carne

sob uma artilharia de balas-chuvas

e à inclemência raiada do sol.

CÂNTICO 31º

Tua gente, minha lente secular

em duzentos e vinte e sete anos

de ousadia furtada

fundou

A vigília notívaga

da tua foz

E vozes cantam até hoje

como o bem-te-vi que viu-te amanhecer.

0015

CÂNTICO 32º

Quando passo no teu peito quente

o leite do teu Laguinho

e as pernas Buritizais do teu corpo

incendeiam o coração que quero morno

neste amar homem-mulher

que somos nós

E haja Trens Pacovaleando

sobre os Igarapés de tuas filhas

que até agora andam lambuzadas

de lua clara.

CÂNTICO 33º

As lúdicas manhãs

de minha infância

passeiam em cima de tuas praças

transtornadas de saudade.

E eu aqui

E eu lá

Onde for, canto, o meu e o teu

sonho de prata

pois é meio-dia a hora

do nosso amor.

CÂNTICO 34º

Como peixe eu nado

eu nada

junto a ti sou tudo

nessa minha condição de peixe

Ó meu mar!

Minha ama (da) zônica e febril

(pai) sagem

0016

CÂNTICO 35º

Haveremos de quebrar marés

e romper mares

Andorinhas nos fios elétricos

da tua frente

normalmente.

Todos nós voaremos com luz própria

acompanhando a legitimidade do líder

porque é preciso bailar

junto à fronte dos coqueiros.

CÂNTICO 36º

Carpinta o carpinteiro santo

construindo ao lago d’ homem

um barco de esperança e sonho

pois de dor já basta a vida

o prego e a ferramenta

que essas mãos carregam calos

e essa vos canta pela fé

alimentando as almas.

CÂNTICO 37º

Santos personagens

santificam o abrir das ruas

e benzem a frivolidade exemplar

das formigas que labutam ao tempo.

Santo São José aureolado

estende a mão amiga

nas turvas águas do

mês março

protegendo o pescador fiel e rouco

de tantos pedidos nascentes

para ter que um dia voltar e ver

seus arraiais e festas singelais.

CÂNTICO 38º

Mesmo que preciso e fácil

fosse me espraiar de amor

jamais de olharia tirana

ou plana

ou planta

desafogadora de cansaços

nos quarenta e poucos

teus desfiles de estudantes.

CÂNTICO 39º

Andaria com a moça

em troca de um passeio à praça

bicicletando a amplidão

do sonho de invisíveis movimentos

em mil momentos

sem igual.

0017

CÂNTICO 40º

Daria muitos treze dias treze

sob a superstição do teu sol

em seculares prestações de conta

que me cobra o coração.

CÂNTICO 41º

Andas a locupletar-te

por um mundo de cimento armado

e eu de arma em punho te defendo

concretamente

ensaiando poesia – meu rio de iaras

terra minha

banda marcial no coração.

CÂNTICO 42º

Vamos por aí cruzando

estradas

pedalando nas ladeiras

em lúcidas manhãs.

Tu prepararás entradas triunfais

rebentando cercas

e se alojando em frutíferos

quintais

intemporais

de sal.

0018

CÂNTICO 43º

Naufrago em ti

peremptório

consolidando um grande amor

tenaz

audaz

chuvento

pra molhar tua pele de terra

em troca de uma semente

pois tanto ausente

a necessito urgente.

Um comentário:

  1. VISTA AÉREA (HOMENAGEM À MACAPÁ) Letra: Célio Alício/Música: Beto Oscar

    Manhã de aurora e brilho cálido
    De um novo dia sob o Sol, por entre o véu
    Da nave louca, doce moça, tu cidade
    Jóia rara do quintal da Amazônia.
    Do alto espio o tempo, a chuva, o anel da tarde
    Num vôo rasante e lento, as asas de Pinzônia

    De cima, enquadro tua anatomia
    O meu remédio em teu mistério
    O que te move e me vicia.
    Contemplar-te o panorama
    Nas matas de Pindorama
    A costa norte, o anel da sorte
    Teu negro olhar, tua alquimia

    Das nuvens estacionadas no horizonte
    Bebo da tela bucólica das enseadas
    A tua gente, a tua alma
    O rio gigante, o curso d’água
    Quem te ama e quem te mata
    Quem te cuida ou te maltrata

    Bêbada noite, órbita do meu planeta
    Ladrilhos e mosaicos nas gravuras dos cometas
    No chão amarelado nessa festa, desta feita
    Ensimesmados que te entendem
    Desassombrados em tua receita

    Ó mãe do meio do mundo inteiro,
    Olhai teus filhos no terço primeiro
    Estação Bacabeira, teus pretos te amam
    Morada primeira, ameríndios te chamam

    A chuva cinza se condensa e precipita
    Na cavidade do sorriso, prima gesta
    Via-L’Afritea, Macapaba prometida
    Eis que, linda, só deslindas minha festa.
    Júpiter-Ambé, Abaca-Marte da Pedreira
    Mer-Curiaú, me batucas noite inteira.
    Mar-Urano-Anum, feitiço das vilas
    Soltas horas, vozes roucas, volta e meia

    O rio-mar de têmpera e guache
    O barro sagrado no chão de bom grado
    Alinhando tuas casas à luz das estrelas
    Refletindo no azul o solar das palmeiras.
    Vista aérea, meninos alados
    Ornamento de linhas, assoalho das aves
    Abençoadas margens de igarapés de asfalto

    E agora olha, e, então, vê
    A tua face espelhada nas estrelas,
    Bem pra adiante, o coração andante
    No teu futuro refletindo essa grandeza.
    Ao léu da sorte, no cais da vazante
    Ao mar abaixo das caixas
    Tens aberto o horizonte
    Entre a lida e a morte
    E o final de anteontem.
    Palpitando em versos a tua gentileza
    Entre a canoa e os carros,
    O bálsamo, o cigarro
    A corrente que espalha a tua beleza
    Embala meus versos a firme certeza
    De que um mantra de amor
    Anoitece e adormece
    A tua cândida natureza.

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