| CÂNTICO 23º Amo-te amargurada e retumbantemente desde os ventos raiados nas auroras aluviais que turvam meu pranto teu. |
Autor: Fernando Canto Ilustrações: Chikahito Fujishima | CÂNTICO 24º Amo-te por teu grito, teu granito alucinado de justiça pão e bem-estar pois desde a tua estada no meu peito, ouço correr o verbo e o veneno de homens que te tiram o sangue. |
| CÂNTICO 25º Mas meu amor por ti não é contrito nem gito O meu amor é sem paredes embalsamado, é largo. Amo-te raiado e celular. Até protelo meu amor pra não cansar de ti. |
| CÂNTICO 26º Em tua paisagem refestelo mil carnavais e te acompanho no suor quente das toalhas das negras do marabaixo olhando personagens que em ti passam aborrecendo o teu cantar - Por isso que te quero branda ou brava. |
CÂNTICO 27º Hora do ontem um boi morreu Tempo de hoje um sol nasceu Sal do nada floresceu. | CÂNTICO 28º Eu te imagino imaginária numa projeção de luzes, cores e um altar de estrelas conduzindo a retidão de tuas virtudes numa ausência plena de pecados que ora germinam originais mas mortos de cansaço. |
| CÂNTICO 29º Mais perto das estrelas tu, Maca-Paba encanta a índole universal desses astros que entre outros mundos desabam signos mundanos todos os meses, todas as vezes pendurados na linha equatorial. |
CÂNTICO 30º De janeiro ao ano inteiro nascem tamarinos, mangas... o vinho e a carne sob uma artilharia de balas-chuvas e à inclemência raiada do sol. | CÂNTICO 31º Tua gente, minha lente secular em duzentos e vinte e sete anos de ousadia furtada fundou A vigília notívaga da tua foz E vozes cantam até hoje como o bem-te-vi que viu-te amanhecer. |
| CÂNTICO 32º Quando passo no teu peito quente o leite do teu Laguinho e as pernas Buritizais do teu corpo incendeiam o coração que quero morno neste amar homem-mulher que somos nós E haja Trens Pacovaleando sobre os Igarapés de tuas filhas que até agora andam lambuzadas de lua clara. |
CÂNTICO 33º As lúdicas manhãs de minha infância passeiam em cima de tuas praças transtornadas de saudade. E eu aqui E eu lá Onde for, canto, o meu e o teu sonho de prata pois é meio-dia a hora do nosso amor. | CÂNTICO 34º Como peixe eu nado eu nada junto a ti sou tudo nessa minha condição de peixe Ó meu mar! Minha ama (da) zônica e febril (pai) sagem |
| CÂNTICO 35º Haveremos de quebrar marés e romper mares Andorinhas nos fios elétricos da tua frente normalmente. Todos nós voaremos com luz própria acompanhando a legitimidade do líder porque é preciso bailar junto à fronte dos coqueiros. |
CÂNTICO 36º Carpinta o carpinteiro santo construindo ao lago d’ homem um barco de esperança e sonho pois de dor já basta a vida o prego e a ferramenta que essas mãos carregam calos e essa vos canta pela fé alimentando as almas. | CÂNTICO 37º Santos personagens santificam o abrir das ruas e benzem a frivolidade exemplar das formigas que labutam ao tempo. Santo São José aureolado estende a mão amiga nas turvas águas do mês março protegendo o pescador fiel e rouco de tantos pedidos nascentes para ter que um dia voltar e ver seus arraiais e festas singelais. |
CÂNTICO 38º Mesmo que preciso e fácil fosse me espraiar de amor jamais de olharia tirana ou plana ou planta desafogadora de cansaços nos quarenta e poucos teus desfiles de estudantes. | CÂNTICO 39º Andaria com a moça em troca de um passeio à praça bicicletando a amplidão do sonho de invisíveis movimentos em mil momentos sem igual. |
| CÂNTICO 40º Daria muitos treze dias treze sob a superstição do teu sol em seculares prestações de conta que me cobra o coração. |
CÂNTICO 41º Andas a locupletar-te por um mundo de cimento armado e eu de arma em punho te defendo concretamente ensaiando poesia – meu rio de iaras terra minha banda marcial no coração. | CÂNTICO 42º Vamos por aí cruzando estradas pedalando nas ladeiras em lúcidas manhãs. Tu prepararás entradas triunfais rebentando cercas e se alojando em frutíferos quintais intemporais de sal. |
| CÂNTICO 43º Naufrago em ti peremptório consolidando um grande amor tenaz audaz chuvento pra molhar tua pele de terra em troca de uma semente pois tanto ausente a necessito urgente. |
VISTA AÉREA (HOMENAGEM À MACAPÁ) Letra: Célio Alício/Música: Beto Oscar
ResponderExcluirManhã de aurora e brilho cálido
De um novo dia sob o Sol, por entre o véu
Da nave louca, doce moça, tu cidade
Jóia rara do quintal da Amazônia.
Do alto espio o tempo, a chuva, o anel da tarde
Num vôo rasante e lento, as asas de Pinzônia
De cima, enquadro tua anatomia
O meu remédio em teu mistério
O que te move e me vicia.
Contemplar-te o panorama
Nas matas de Pindorama
A costa norte, o anel da sorte
Teu negro olhar, tua alquimia
Das nuvens estacionadas no horizonte
Bebo da tela bucólica das enseadas
A tua gente, a tua alma
O rio gigante, o curso d’água
Quem te ama e quem te mata
Quem te cuida ou te maltrata
Bêbada noite, órbita do meu planeta
Ladrilhos e mosaicos nas gravuras dos cometas
No chão amarelado nessa festa, desta feita
Ensimesmados que te entendem
Desassombrados em tua receita
Ó mãe do meio do mundo inteiro,
Olhai teus filhos no terço primeiro
Estação Bacabeira, teus pretos te amam
Morada primeira, ameríndios te chamam
A chuva cinza se condensa e precipita
Na cavidade do sorriso, prima gesta
Via-L’Afritea, Macapaba prometida
Eis que, linda, só deslindas minha festa.
Júpiter-Ambé, Abaca-Marte da Pedreira
Mer-Curiaú, me batucas noite inteira.
Mar-Urano-Anum, feitiço das vilas
Soltas horas, vozes roucas, volta e meia
O rio-mar de têmpera e guache
O barro sagrado no chão de bom grado
Alinhando tuas casas à luz das estrelas
Refletindo no azul o solar das palmeiras.
Vista aérea, meninos alados
Ornamento de linhas, assoalho das aves
Abençoadas margens de igarapés de asfalto
E agora olha, e, então, vê
A tua face espelhada nas estrelas,
Bem pra adiante, o coração andante
No teu futuro refletindo essa grandeza.
Ao léu da sorte, no cais da vazante
Ao mar abaixo das caixas
Tens aberto o horizonte
Entre a lida e a morte
E o final de anteontem.
Palpitando em versos a tua gentileza
Entre a canoa e os carros,
O bálsamo, o cigarro
A corrente que espalha a tua beleza
Embala meus versos a firme certeza
De que um mantra de amor
Anoitece e adormece
A tua cândida natureza.